quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Sai Emanuel, entra Rouse

Como esperado, Rahm Emanuel, o actual Chief of Staff da Casa Branca, abandonará Washington para concorrer ao cargo de Mayor de Chicago. Amanhã, o Presidente Barack Obama comunicará oficialmente, num anúncio a partir da East Room da Casa Branca, a saída de Emanuel e a sua substituição por Pete Rouse, o que também não representa qualquer surpresa.
Pete Rouse ganhou notoriedade como chief of staff de Tom Daschle, na altura líder da maioria democrata no Senado. Contudo, em 2004, com a derrota eleitoral de Daschle, Rouse foi contactado para ser o chefe de gabinete do recém eleito senador Barack Obama, o que concedeu ao político em ascensão uma maior credibilidade entre os seus colegas mais experientes. Quando Obama considerou uma candidatura presidencial, foi Pete Rouse que redigiu um memorandum com os prós e contras de uma eventual corrida à Casa Branca. Depois de ter estado envolvido na vitoriosa campanha de 2008, Rouse foi um dos responsáveis pela equipa de transição da nova administração. Já na Casa Branca,  foi um dos três colaboradores presidenciais (os outros foram David Axelrod e Valerrie Jarret) a receber o título de Senior Adviser to the President
Agora, Pete Rouse, como Chief of Staff da Casa Branca, assume um dos cargos mais importantes e influentes na política americana - há quem o considere o segundo mais poderoso dos Estados Unidos - mas tem também, muito provavelmente, o emprego mais difícil de Washington. O que ainda não se sabe é se Rouse é uma escolha definitiva, ou se é apenas temporária, estando Obama a aguardar pelos resultados das eleições intercalares de Novembro para, depois disso, e já na posse dos resultados, avançar para um novo chief of staff.

Castle fica de fora

Uma das corridas para o Senado que mais tinta tem feito correr é a do Delaware, onde está em disputa o lugar que, até 2008, era ocupado pelo agora Vice-presidente, Joe Biden. Esta era uma eleição que parecia garantida para os republicanos. Porém, nas primárias de 14 de Setembro, Christine O'Donnel, apoiada pelos Tea Party e por Sarah Palin, derrotou o favorito do establishment republicano. Dessa forma, a escolha de uma política extremamente conservadora em detrimento de um moderado num estado que vota, por norma, nos democratas praticamente entregou a eleição aos democratas.
Depois da derrota nas primárias, Mike Castle colocou a hipótese de concorrer na eleição geral como candidato write in. Ou seja, o nome do concorrente não aparece no boletim de voto, mas os eleitores podem escrever o nome do candidato no boletim e, dessa forma, o voto será considerado válido. Como se percebe facilmente, esta  forma de concorrer dificilmente dá bons resultados a quem a utiliza. Aliás, o último a conseguir ser eleito para o Senado como um candidato write in foi Strom Thurmand, em 1954. Depois, a candidatura write in traz ainda outras complicações, decorrentes de serem os próprios eleitores a escreverem o nome da figura em questão. Um desses problemas está a ser visto no Alasca, com a candidatura da senadora Murkosky, que também perdeu a nomeação nas primárias republicanas. Ora, Murkosky não é propriamente um nome fácil de soletrar e isso está já a causar polémica no estado mais a norte dos Estados Unidos.
Assim, não admira que Mike Castle, um político histórico no Delaware - foi Lieutanant Governor,  Governador e congressista do estado - já com 71 anos de idade, tenha optado por não concorrer, de modo a não comprometer o seu legado e a sua reputação numa eleição que dificilmente venceria, como o prova esta sondagem, onde surgia com apenas 5% das intenções de voto. Além disso, a sua candidatura viria abrir novas brechas na conturbada relação entre a ala mais conservadora e a mais moderada do Partido Republicano, o que só beneficiaria os democratas.

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Uma história americana

O conceituado repórter da Time, Joe Klein, está a fazer uma road trip pelos Estados Unidos, para sentir o pulso à população americana nas vésperas das eleições intercalares de Novembro. E no Arizona, onde mais do que em qualquer outro sítio a questão da imigração ilegal está na ordem do dia, deu de caras com a interessante história de um jovem estudante imigrante ilegal que gostava de se poder alistar nas forças armadas americanas. Ele e outros amigos reuniram-se, então, junto aos escritórios de John McCain, em Phoenix, para protestar contra o voto negativo do senador do Arizona aquando da votação do DREAM act no Congresso. Relembre-se que esta proposta - que teve como um dos primeiros proponentes o próprio McCain - proporcionaria um caminho rumo à cidadania para os descendentes de imigrantes ilegais que quisessem frequentar a universidade ou alistar-se nas forças armadas.

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Um péssimo dia para os democratas

Após a vitória de Christine O'Donnel nas primárias republicanas do Delaware, o que praticamente entregou aos democratas o lugar no Senado em disputa nesse estado, parecia que estava completamente tapado o possível caminho do GOP rumo ao controlo da câmara alta do Congresso americano. Porém, as últimas sondagens têm sido terrivelmente negativas para os democratas. Hoje mesmo, foram divulgados diversos resultados que fazem antever uma verdadeira hecatombe para os democratas na noite eleitoral de 2 de Novembro, com a possibilidade de perda da maioria no Senado a voltar a estar de pé.
As más notícias
Pennsylvania: Toomey (R) 49%, Sestak (D) 41% - No início da campanha, esta corrida parecia ir ser bastante equilibrada. Contudo, com o passar do tempo, o candidato republicano foi-se distanciando progressivamente. Na luta das primárias face a Arlen Specter, o democrata Joe Sestak provou ser muito forte na ponta final, mas nem isso lhe deverá permitir lutar pela vitória. Status da corrida: likely republican.
New Hampshire: Ayotte (R) 46%, Hodes (D) 32% - Apesar do grande número de indecisos, a vantagem parece ser grande demais para que Hodes possa disputar a eleição com Ayotte. Quando  se considera ser esta a melhor possibilidade que os democratas possuem para "roubar" um lugar aos republicanos, está tudo dito em relação às perspectivas do partido de Obama para este ciclo eleitoral. Status: strong republican.
Washington: Murray (D) 48%, Rossi (R) 47% - Depois de várias sondagens indicarem uma vantagem confortável para Pat Murray, esta vem colocar novas dúvidas em relação a esta corrida. Pode tratar-se de um outlier, mas é mais um motivo de preocupação para os democratas. Status: (ainda) leaning democrat.
Illinois: Kirk (R) 42%, Giannoulias (D) 40% - Continua apertada a disputa pelo lugar no Senado que pertenceu a Barack Obama. As últimas sondagens têm dado sucessivas vantagens, se bem que residuais, ao republicano Kirk. Contudo, neste caso, será a afluência às urnas a decidir o desfecho da eleição. Se os democratas conseguirem motivar o seu eleitorado, em grande maioria neste estado,  Giannoulias tornar-se-á senador. Status: toss-up.
Colorado: Buck (R) 47%, Bennet (D) 43% - A situação no Colorado parece algo estacionária, com Ken Buck a manter sucessivas vantagens, mesmo que reduzidas, nas sondagens. Bennet tem o handicap de não ter sido eleito para o Senado, mas sim nomeado. Além disso, falta-lhe carisma e à vontade para ter sucesso no trilho da campanha. Status:Toss up, mas com tendência a mudar para leaning republican. 
Ohio: Portman (R) 51%, Fisher (D) 42% - Nada de novo no Ohio, onde o candidato republicano continua bem à frente nas intenções de voto. Status: likely republican.
Wisconsin: Johnson (R) 52%, Feingold (D) 44% - Parece confirmar-se o cenário indicado pelas últimas sondagens e o senador Feingold corre mesmo sérios riscos de ser expulso do Senado americano pelos seus constituintes. Status: leaning republican. 
As péssimas notícias
West Virginia: Raese (R) 48%, Manchin (D) 46% - Inicialmente, Joe Manchin parecia imbatível e com lugar assegurado no Senado. Porém, a distância foi encurtando até que, segundo esta sondagem, o republicano Raese ultrapassou o seu opositor. Num estado que sempre torceu o nariz a Obama (desde as primárias democratas de 2008), nem mesmo o popular governador Manchin parece capaz de inverter a grande impopularidade do presidente e dos democratas. Status: toss-up.
Connecticut: Blumenthal (D) 49%, McMahon (R) 46% - Num dos estados mais liberais da União, não deixa de ser surpreendente que Blumenthal, até há pouco tempo bastante popular no Connecticut, esteja perto de ser alcançado pela sua adversária republicana. Este apertar da corrida obriga os democratas a gastarem mais recursos e fundos numa eleição que em qualquer outro ciclo eleitoral venceriam por larga margem. Porém, é ainda cedo para se afirmar que poderá estar em formação um novo upset como o que sucedeu no Massachussetts, quando Scott Brown foi eleito. Status: leaning democrat.

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

O futuro de Obama

O Politico revelou hoje uma grande sondagem que faz antever um futuro complicado para Barack Obama, em especial no que diz respeito às suas perspectivas de reeleição. Segundo os resultados divulgados, apenas 38% dos inquiridos acham que o actual presidente merece ser reeleito e somente 46% vêem favoravelmente o seu trabalho à frente dos destinos do país.
É preciso, porém, ter alguma cautela ao analisar estes resultados. Barack Obama vai a meio do seu mandato e é natural que esse período, marcado por grandes iniciativas legislativas, como a reforma da saúde e do sistema financeiro, dê azo a uma maior fricção entre o eleitorado, sempre céptico em relação a grandes mudanças. A partir de agora, e à medida que Obama começa a preparar o terreno para a reeleição, vai certamente investir em medidas mais populares e menos conflituosas. Se voltarmos atrás no tempo, também Bill Clinton (o caso de George W. Bush não é comparável, devido ao 11 de Setembro), o último presidente democrata, a meio do seu primeiro mandato e sofrendo uma grande derrota eleitoral nas midterms de 1994, sofria de baixos índices de aprovação do seu trabalho. Contudo, na eleição presidencial de 1996, venceu o republicano Bob Dole folgadamente.
O principal problema de Obama prende-se, ainda e sempre, com a economia. A recuperação da crise de 2008 está a ser mais lenta e difícil do que os americanos esperavam, os níveis de desemprego continuam em níveis históricos e o défice nacional é astronómico. Se desejar ser reeleito, Obama terá de enfrentar estes problemas e torná-los a sua principal prioridade para os próximos dois anos. Contudo, e como Obama faz e continuará a fazer questão de lembrar, foi o seu antecessor que aumentou exponencialmente a dívida pública ao envolver o país em duas guerras longínquas ao mesmo tempo que promovia o maior corte de impostos desde os tempos de Ronald Reagan. A táctica do blame Bushi pode não explicar tudo e já não faz milagres como em 2008, mas ainda relembrará os americanos que o regresso ao passado não será a melhor solução.
Obama tem ainda vantagem do seu lado quando olha para as eleições de 2012. O campo de potenciais candidatos republicanos, apesar de extenso e diversificado, não contém nenhuma verdadeira ameaça. De um lado, as figuras mais conservadoras e que entusiasmam as bases republicanas, como Sarah Palin ou Mike Huckabee, têm grandes dificuldades em penetrar no eleitorado independente. Por outro, políticos mais moderados, como Mitt Romney, Tim Pawlenty ou Mitch Daniels, farão os Tea Party e os republicanos mais conservadores franzir o sobrolho.
Por tudo isto, e apesar de Barack Obama não estar na situação que o próprio desejaria, penso que é muito cedo para escrevermos, desde já, o obituário do futuro político do 44º presidente americano. Até Novembro de 2012 muita água vai passar debaixo da ponte e a história política americana é fértil em grandes e surpreendentes recuperações e reviravoltas.

domingo, 26 de setembro de 2010

Agradecimento

Ao Delito de Opinião e ao José Gomes André por terem escolhido para blogue da semana o Máquina Política. Seguir a política norte-americana é um hobby e uma paixão, mas é sempre gratificante ver o nosso trabalho ser reconhecido. Pela minha parte, esta máquina continuará oleada e em pleno funcionamento.

Thune 2012

Esta semana, a revista conservadora The Weekly Standard dedicou o seu artigo de capa a John Thune. Pelo artigo, fica bem explícito que o senador republicano pelo Dakota do Sul irá candidatar-se à presidência americana em 2012. Desde o início do ano, quando se percebeu que Thune iria concorrer à sua reeleição ao Senado sem adversário, ficando assim com muito tempo e dinheiro livre,  que se especulou que o senador do GOP poderia pensar numa corrida presidencial. E, agora, esse cenário parece confirmar-se.
Thune será sempre um candidato a ter em conta. É um senador popular e com bons contactos no establishment republicano, tendo mesmo já recebido o apoio por parte do líder da minoria no Senado. É também um verdadeiro fiscal conservative, tendo votado contra os pacotes de estímulo à economia, e, a nível social, é pro-choice e opõe-se ao casamento entre pessoas do mesmo sexo. Por fim, tem uma boa figura, o que é sempre uma vantagem nas campanhas presidenciais americanas.
Contudo, Thune está há seis anos no Senado. Antes disso, passou outros seis na Câmara dos Representantes e, entre 2002 e 2004, trabalhou como lobbyist. Assim, numa altura em que o sentimento anti-Washington é mais forte do que nunca, especialmente entre o eleitorado republicano, John Thune terá algumas dificuldades para se distanciar da política que se faz na capital americana. Depois, tem ainda um perfil relativamente pouco conhecido a nível nacional e falta-lhe também um tema forte que defina a sua mensagem - está, porém, a começar a focar-se na redução do défice.
Se John Thune, com apenas 49 anos e boas perspectivas de futuro no Partido Republicano, avança já em 2012, é porque a disputa pela nomeação republicana está mais aberta do que nunca e porque Barack Obama parece vulnerável e possível de derrotar no fim do seu primeiro mandato. Desta forma, este passo em frente do senador do Dakota do Sul pode despoletar maiores movimentações no interior do GOP, em particular depois das eleições intercalares.

sábado, 25 de setembro de 2010

Mudanças na Casa Branca


Larry Summers, o principal conselheiro económico de Barack Obama anunciou, este mês, que irá abandonar esse cargo para regressar ao ensino, na Universidade de Harvard. A saída de Summers, apesar das razões invocadas, terá muito a ver com a tímida recuperação económica do país e com a demora da administração Obama em conseguir baixar os números do desemprego. O Secretário do Tesouro, Timothy Geithner, continua, até ao momento, em funções, mas tem-se especulado que pode ser a próxima baixa da equipa económica de Obama, especialmente se os resultados das eleições intercalares forem muito negativos para os democratas.
Nos últimos dias, também  se tem falado com insistência acerca de eventuais saídas e de mudanças de funções no staff da Ala Oeste, o pessoal que trabalha directamente com o Presidente e implementa a sua agenda política. Entre estes elementos, a principal questão prende-se com a substituição do Chief of Staff de Obama, já que é quase certo que Rahm Emanuel, o actual detentor do cargo, deixará a Casa Branca para concorrer ao lugar de Mayor de Chicago. Entre os principais nomes que têm sido apontados para lhe suceder encontram-se Ron Klain, Chief of Staff de Joe Biden, Valerrie Jarret, conselheira e uma das mais próximas amigas de Obama, ou Pete Rouse, um discreto mas experiente assessor do presidente. Qualquer uma destas escolhas representaria uma certa noção de continuidade, visto que já todos fazem parte do staff presidencial. Se, por outro lado, Obama optar por ir buscar alguém "de fora", isso poderá significar que pretende "abanar" um pouco as coisas na Casa Branca.
Perto de concluir a primeira metade do seu mandato, Barack Obama tem, também, de começar a preocupar-se com a sua campanha de reeleição. Nesse sentido, será expectável que David Axelrod, o seu principal conselheiro e o grande mentor da sua candidatura presidencial em 2008, abandone a Casa Branca e volte para Chicago, para aí começar a preparar a campanha de Obama para 2012. No sentido inverso poderá estar David Plouffe, director da campanha de 2008, que, segundo o próprio Axelrod, deverá passar a fazer parte do núcleo duro de conselheiros de Obama na Casa Branca. Todavia, estas e outras possíveis mudanças no staff presidencial, à excepção da saída de Rahm Emanuel, deverão ter de esperar pelas midterms, porque só depois de conhecidos os resultados eleitorais poderá Barack Obama ter uma melhor noção do que terá de enfrentar na segunda metade do seu mandato e que "ferramentas" necessitará de ter ao seu dispor.

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Sarah Palin admite candidatar-se à Presidência

Pela primeira vez, a antiga governadora do Alasca, Sarah Palin, admitiu vir a concorrer à presidência americana, se, segundo ela, mais ninguém o fizer. É difícil dizer em quem estará Palin a pensar (se é que está a pensar em alguém), até porque a sua relação com Mike Huckabee, o potencial candidato mais próximo das suas posições ideológicas, não é a melhor. De qualquer forma, e depois da visita ao Iowa (o primeiro estado a votar nas primárias presidenciais) na semana passada, começa a ganhar força a  ideia de uma candidatura de Sarah Palin à Casa Branca.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

A Este e a Oeste

Com populações, territórios, e PIBs dignos de grandes nações mundiais, a Califórnia e Nova Iorque são dois gigantescos estados federados americanos em extremos opostos dos Estados Unidos. Assim, interessa manter especial atenção às eleições para o cargo de governador nestes dois locais. Até porque os mais recentes desenvolvimentos vieram trazer um inesperado destaque à corrida noviorquina, que parecia, à partida, praticamente decidida a favor dos democratas. Já a disputa pela mansão do governador da Califórnia seria sempre uma das mais renhidas e equilibradas deste ciclo eleitoral.
E o equilíbrio tem sido mesmo a nota dominante na campanha do golden state, onde a republicana Meg Whitman e o democrata Jerry Brown concorrem para substituir o Governator Arnold Schwarzenegger na capital do estado em Sacramento. Whitman, uma estrela em ascensão no Partido Republicano, é uma conceituada businesswoman norte-americana (foi CEO do Ebay), contando com uma vantagem financeira assinalável, proveniente da sua enorme riqueza pessoal (é a quarta mulher mais rica da Califórnia) e tendo já gasto nada menos do que 100 milhões de dólares na sua campanha. Por seu lado, Jerry Brown conta com um grande historial ao serviço dos californianos, tendo já desempenhado diversos cargos no estado, desde governador (entre 1975 e 1983), até Secretário de Estado, sendo, actualmente, Attorney General. Ainda hoje, duas sondagens traduzem a indefinição sobre o vencedor desta corrida: a Field Poll coloca os dois candidatos empatados com 41% das intenções de votos, enquanto a SurveyUSA atribui uma vantagem de três pontos percentuais, mas dentro da margem de erro, a Brown.
Em Nova Iorque, o actual Attorney General, Andrew Cuomo, que concorre pelo Partido Democrata, continua a ser o grande favorito para suceder ao Governador David Paterson, que, devido à sua impopularidade, decidiu não procurar a reeleição. Porém, sondagens recentes, da Rasmussen e da Quinnipiac, indicam que o candidato republicano, Carl Paladino, está a aproximar-se perigosamente. Porém, estes estudos apresentam uma falha importante: não apresentam aos entrevistados a possibilidade de  voto em Rick Lazio, que, depois de perder a nomeação republicana para Paladino, irá, ao que tudo indica, concorrer pelo Partido Conservador, que tem uma razoável implantação no estado de Nova Iorque. Com Lazio no boletim de voto, é provável que o eleitorado conservador se divida entre este e Paladino, facilitando, de sobremaneira, a vitória de Andrew Cuomo. De qualquer forma, e independentemente desta falha dos pollsters, Paladino parece mesmo estar a diminuir a diferença para o favorito Cuomo. Por isso, será importante seguir com atenção redobrada o desenrolar dos acontecimentos no estado de Nova Iorque.

Obama's Wars

Na próxima Segunda-feira, vai para as bancas o primeiro livro de Bob Woodward sobre a administração Obama, com o título Obama's Wars. O jornalista do Washington Post ganhou fama mundial quando, nos inicio dos anos 70, juntamente com o seu colega do Post, Carl Bernstein, investigou e denunciou o caso Watergate, que levaria à demissão do Presidente Richard Nixon. Desde então, Woodward, que conta com um acesso sem igual aos corredores do poder de Washington, tem escrito vários livros, todos best-sellers, sobre as diferentes administrações dos Estados Unidos, particularmente sobre a de George W. Bush, que foi objecto de quatro obras  do conceituado repórter.
Neste novo título de Bob Woodward, e segundo os excertos que têm sido "lançados" antes do lançamento oficial, o grande destaque é a condução da guerra no Afeganistão. E há já alguns pontos interessantes e polémicos, como o alegado desejo de Barack Obama em pressionar os seus conselheiros militares para que encontrassem uma estratégia de saída do teatro de guerra afegão, o que é de estranhar se pensarmos que Obama sempre prometeu concentrar as suas atenções neste conflito em detrimento do Iraque. Mas há mais: segundo o relato de Woodward, o presidente americano não pensa no envolvimento americano no Afeganistão como uma situação clássica de vitória ou derrota e não tenciona ficar muito tempo nesse território nem gastar tempo e dinheiro na árdua tarefa de nation-building.
Contudo, e até porque a Casa Branca, na figura do Press Secretary, Robert Gibbs, já apoiou o livro de Bob Woodward, o melhor será mesmo esperar pelo lançamento oficial da obra para se ter acesso ao conteúdo integral deste Obama's Wars. Depois de o encomendar e de o ler, darei aqui as minhas opiniões acerca do novo livro do mais incontornável autor sobre a vida política americana.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Ainda não foi desta

O Senado americano chumbou, ontem, a proposta de lei que terminaria com a política, em vigor desde 1993, que regula o acesso dos homossexuais às Forças Armadas dos Estados Unidos, o don't ask, don't tell. Com apenas 56 votos favoráveis, a liderança democrata ficou longe de conseguir os 60 necessários para ultrapassar o bloqueio republicano, a que se juntaram os dois senadores democratas do Arkansas.
Assim, continua bastante complicado o cumprimento de uma promessa eleitoral de Barack Obama que, na sua campanha presidencial, prometeu terminar com a discriminação dos gays e lésbicas que pretendem servir nas Forças Armadas. Mas, agora que a proposta fica em suspenso e existem dúvidas se ainda será possível a sua passagem nesta sessão do Senado (recorde-se que, a 2 de Novembro, 38 assentos vão a votos), as organizações e activistas dos direitos dos homossexuais não poupam o Presidente nas suas críticas, acusando-o de se ter envolvido pouco nesta questão e não ter feito tudo o que podia para garantir que cumpria a sua promessa.
Porém, é o líder da maioria no Senado, Harry Reid, que mais tem estado debaixo de fogo. Por um lado, os democratas acusam-no de ter "afugentado" os republicanos mais moderados e que podiam votar do seu lado ao recusar a apresentação de emendas à proposta por parte de senadores do GOP. Por outro, os senadores republicanos, com John McCain à cabeça, criticam Reid, que enfrenta uma dura batalha pela reeleição, por tentar obter ganhos políticos através da apresentação de legislação que motivasse e atraísse o voto gay e o voto latino nas eleições intercalares. Isto porque, além de linguagem que acabaria com o "don't ask, don't tell", faz parte deste pacote legislativo o DREAM act, que concederia a cidadania americana aos filhos de imigrantes ilegais que servissem nas Forças Armadas ou que frequentassem a universidade. 
Na minha opinião, este é um daqueles casos em que uma medida, além de good politics, é também the right policy. E depois, se é verdade que Harry Reid pode estar a tentar obter pontos políticos desta questão, também os republicanos, ao bloquearem estas propostas (alegando este "jogo" de Reid ao invés de apontarem os defeitos da legislação), estão a incorrer no mesmo pecado que apontam ao líder da maioria do Senado.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Tsunami republicano em formação

Com as eleições intercalares ai à porta, passarei a dar um cada vez maior destaque e atenção às várias sondagens que vão saindo sobre as inúmeras corridas que vão decorrendo um pouco por todo o lado nos Estados Unidos. Hoje, foi dia de um grande número de estudos de intenção de voto virem a público e quase todos trouxeram notícias muito preocupantes para as perspectivas democratas para o dia 2 de Novembro, no que diz respeito à batalha pelo Senado. Mas passemos, então, aos números propriamente ditos.
Nevada: Angle (R) 46%, Reid (D) 45% - Numa das disputas mais renhidas do ano, o líder da maioria do Senado mantém-se em empate técnico com a sua opositora democrata. Há algumas semanas, parecia que Harry Reid se ia distanciar de Angle, mas, nos últimos tempos, a candidata insurgente apoiada pelos Tea Party ganhou novo fôlego e já lidera a corrida, mesmo que dentro da margem de erro.
West Virginia: Raese (R) 46%, Manchin (D) 43% - Confirma-se o cenário que vinha a anunciar-se nos últimos tempos. Pode tratar-se de um mero outlier (a Rasmussen dava, há dias, uma vantagem confortável a Manchin a Joe Manchin), mas Obama e os democratas são extremamente impopulares neste estado e esse pode ser um factor importante. Além disso, neste caso, a popularidade de Joe Manchin enquanto governador da West Virginia pode jogar contra si, já que é possível que os eleitores considerem que Manchin servirá melhor os seus interesses continuando à frente do governo estadual do que em Washington, no Senado.
Pennsylvania: Toomey (R) 48%, Sestak (D) 40% - Esta corrida parece levar o mesmo destino da do Ohio, com a vantagem do candidato republicano a aumentar à medida que se aproxima o acto eleitoral. Tendo começado como toss-up, a luta por este lugar no Senado pode agora ser caracterizado como likely republican.
Wisconsin: Jonhson (R) 52%, Feingold (D) 41% - Segunda sondagem consecutiva a colocar o republicano Ron Jonhson com uma vantagem confortável face ao Senador Feingold. A confirmar-se este resultado, poderá morar no Wisconsin um dos grandes upsets da noite eleitoral de 2 de Novembro.
Depois da nomeação de Christine O'Donnell no Delaware, era convicção quase geral que os republicanos tinham, praticamente, hipotecado as suas hipóteses de retirar o controlo do Senado aos democratas. Contudo, o GOP aparece competitivo ou em vantagem em quase todos os battlegrounds, como se viu pelas sondagens de hoje. Vale a pena continuar a seguir estas eleições intercalares de 2010, elas estão ao rubro!

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Jon Stewart contra-ataca

Depois do evento "Restoring Honor" de Glen Beck, um dos símbolos da direita americana e do movimento Tea Party, ter juntado uma grande multidão em Washington D.C., no dia do 40º aniversário do épico discurso "I Have a Dream" de Martin Luther King, agora é a vez do famoso apresentador do "Daily Show", Jon Stewart, anunciar que também ele irá organizar um grande comício no Mall da capital americana.
No seu programa televisivo, Stewart satiriza frequentemente bastiões do movimento conservador, como Beck ou a Fox News. Agora, parece querer levar essa disputa para outro nível, respondendo ao "Restoring Honor" com o seu próprio evento, apesar de o estar a publicitar como uma acção de protesto contra o extremismo dos dois principais partidos políticos americanos. Aliás, Stephen Colbert, que até 2005 fazia parte da equipa do Daily Show, anunciou uma "March to Keep Fear Alive", numa clara sátira  ao evento de Beck.
A escolha da data, 30 de Outubro, a apenas três dias das eleições intercalares, também não é inocente. O objectivo de Jon Stewart passará por mobilizar e motivar o seu público, maioritariamente jovem e liberal, para votar nas midterms. Se o conseguir, estará a prestar um grande apoio ao Partido Democrata, já que os jovens são um dos grupos que mais tendência tem para se abster nas eleições intercalares. E em 2010, quando se antevê uma avalanche republicana, os democratas precisam de todos os votos e de toda a ajuda disponível.
Este envolvimento de Jon Stewart num momento tão importante da campanha eleitoral pode marcar um ponto de viragem na política americana. Apesar de os democratas contarem com meios de informação tendencionalmente liberais, como a MSNBC ou o New York Times, a verdade é que não têm nas suas fileiras personalidades fortes e capazes de influenciar e motivar o eleitorado, como Beck ou Rush Limbaugh o fazem no lado republicano. E este novo "campo de batalha" político, nas televisões e nas rádios, é cada vez mais importante, particularmente numa época em que os eleitores desconfiam e se afastam do sistema político-partidário tradicional.

sábado, 18 de setembro de 2010

Palin abre caminho

Sarah Palin fez ontem a sua primeira grande aparição no Iowa, o primeiro estado a ir a votos nas primárias presidenciais americanas, realizando o principal discurso no Ronald Reagan Dinner, um evento organizado pelo Partido Republicano do estado. Esta presença mediática de Palin no Hawkeye State, pode tratar-se de uma importante indicação de que a ex-governadora do Alasca estará mesmo a considerar candidatar-se à presidência americana, já em 2012.
No seu discurso, Sarah Palin lembrou que as primárias já terminaram e que, agora, é tempo do GOP se unir, tendo em vista uma grande vitória nas eleições intercalares de Novembro. Apesar de não ter abordado directamente a questão de uma eventual candidatura à Casa Branca, Palin saiu deste evento como a grande representante do movimento insurgente no interior do Partido Republicano, mas também como a maior representante e símbolo do GOP a nível nacional. Contudo, isso não significa que a candidata à vice-presidência em 2008 seja a grande favorita para conseguir a nomeação republicana daqui a dois anos.Logo à partida, a grande popularidade de Sarah Palin entre o eleitorado conservador e a sua posição actual de kingmaker dentro do GOP, seria seriamente afectada por uma derrota eleitoral nas primárias ou na eleição geral de 2012. Por isso, Palin terá muito a perder se decidir avançar. Por outro lado, o caminho para a nomeação é um percurso longo, tortuoso e de final incerto. 
A história política americana diz-nos que um candidato presidencial tem de vencer um dos dois primeiros momentos das primárias (os caucuses do Iowa e as primárias de New Hampshire) para poder sonhar com a vitória. E em nenhum desses estados Sarah Palin pode contar com o seu estatuto de super estrela para ter bons resultados nas urnas. As populações do Iowa e do New Hampshire  levam muito a sério o seu papel de testar os aspirantes à presidência do país e a campanha nestes estados é feita porta-a-porta, com contacto directo com os eleitores. Assim, Palin terá de descer do altíssimo pedestal a que subiu para disputar essas corridas fundamentais.
Para já, a antiga running mate de John McCain parte atrás de Mitt Romney no New Hampshire e de Mike Huckabee no Iowa. Ambos disputaram as primárias de 2008 e já têm uma forte implantação no terreno. De qualquer forma, as hipóteses de Palin no New Hampshire são residuais e, por isso, tem de concentrar os seus esforços no Iowa, à imagem do que fez, com sucesso, Barack Obama, há dois anos. Se vencer aí, então tudo é possível.
É provável que, por esta altura, Sarah Palin ainda não tenha feito a sua decisão final. E não necessita de se apressar. Como é uma figura altamente conhecida do público americano, pode entrar na corrida mais tarde do que os seus concorrentes. Dessa forma, terá tempo para ver como se desenrolam as midterms e que clima político lhes sucederá e, quando e se optar pela candidatura, contará certamente com um grupo de activistas numeroso e entusiasta que a poderá ajudar a ganhar algum momentum e a a atenuar o défice de presença e organização no terreno dos seus adversários.
Mesmo com a influência, peso e impacto dos movimentos Tea Party nas eleições primárias republicanas, como se tem assistido no presente ciclo eleitoral, Sarah Palin terá sempre enormes dificuldades para conseguir a nomeação. Depois disso, o passo seguinte seria o de enfrentar e derrotar Barack Obama que, apesar dos seus índices de popularidade negativos, será sempre o grande favorito à vitória, especialmente frente a Sarah Palin, que conta com grandes problemas de implantação junto do eleitorado independente. Assim, certamente que Obama e os democratas estarão a torcer por Palin nas primárias republicanas.

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Mais uma ronda pelas sondagens

Depois de ontem ter feito uma previsão (algo optimista para o lado democrata) relativamente às eleições para o Senado, hoje convém fazer um resumo das últimas sondagens que saíram (Sexta-feira é tradicionalmente um dia fértil) sobre a emocionante disputa pela câmara alta do Congresso que está a ser travada por democratas e republicanos, com especial atenção, como sempre, para os estados decisivos.
Delaware: Coons (D) 53%, O'Donnell (R) 42% - Depois da bombástica vitória de Christine O'Donnel nas primárias do GOP, este lugar parece cada vez mais seguro na coluna democrata. Porém, será importante ir prestando atenção a esta corrida.
New Hampshire: Ayotte (R) 51%, Hodes (D) 44% - Para já, vantagem relativamente confortável para Kelly Ayotte, depois da vitória in extremis nas primárias do seu partido. Ainda assim, talvez seja esta a melhor oportunidade de os democratas "roubarem" um lugar ao GOP, o que é sintomático da inclinação das eleições deste ano.
Arkansas: Boozman (R) 51%, Lincoln (D) 34% - No estado dos Clinton, os democratas perderão, sem margem para dúvidas, um lugar no Senado, pois a Senadora Lincoln não tem sequer condições de discutir a corrida.
Washington: Murray (D) 51%, Rossi (R) 46% - Corrida cada vez mais inclinada para o lado democrata. Com Murray já acima dos 50% nas sondagens, dificilmente Rossi conseguirá alterar a situação.
Illinois: Kirk (R) 39%, Giannoulias (D) 36% - Aparentemente, más notícias para os democratas, numa das mais renhidas corridas deste ciclo eleitoral. Contudo, tenho algumas razões para desconfiar desta sondagem, devido ao grande número de indecisos, à empresa que a conduziu e ainda pelo candidato do Green Party surgir com 4% dos votos. Para mim, o Illinois continua o toss-up dos toss-ups.
Ohio: Portman (R) 55%, Fisher (D) 35% - Pela diferença entre os dois candidatos, esta sondagem é, quase de certeza, um outlier. Ainda assim, a disputa por este lugar no Senado parece já fora de alcance para os democratas, que deviam pensar em deslocar os seus recursos para outras corridas mais competitivas.
Wisconsin: Johnson (R) 51%, Feingold (D) 44% - Do conjunto de sondagens de hoje, esta é, para mim, a grande surpresa. Mesmo sendo a empresa conservadora Rasmussem a responsável pelo estudo, estranho a grande diferença entre os dois candidatos, bem para lá da margem de erro. Caso não se trate de um outlier, estes números são péssimas notícias para Feingold e para os democratas.

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Senado: uma previsão

Azul (D); Vermelho (R); Cinza (Sem eleição)
Tendo terminado o processo das primárias, onde os dois partidos escolheram os seus candidatos para as eleições gerais, é tempo de fazer um balanço da situação. A mês e meio das midterms de 2 de Novembro, o cenário continua favorável para os republicanos. Porém, surgiram alguns dados que podem indicar que estas eleições poderão não ser tão catastróficas para os democratas como se previa há pouco tempo atrás. No Senado, em especial, o partido de Obama viu as suas perspectivas melhorarem consideravelmente devido à ajuda improvável do próprio Partido Republicano, que, em alguns estados, nomeou figuras tão controversas que colocam essas corridas ao alcance dos democratas, com o caso do Delaware a ser o mais recente exemplo.
E é em relação ao Senado que faço a minha primeira previsão. A uma tão grande distância do dia das eleições, é um exercício meramente especulativo, tendo como base as sondagens que vão sendo conhecidas, mas também uma certa dose de feeling pessoal em relação a cada uma das corridas. Assim, como se pode observar pelo mapa no topo do texto, a minha previsão indica que os democratas perderão cinco lugares no Senado, vendo a sua maioria diminuir de 59 para 54 senadores, mas mantendo o controlo da câmara alta do Congresso. 
Se em muitos estados o resultado é previsível, já nos chamados swing states, a minha tarefa foi mais complicada, mas também serão essas as corridas a decidir as eleições. Assim, penso que o Missouri, o Ohio, o Kentucky e a Florida dificilmente escaparão aos republicanos. Na Pennsylvania, no Colorado e no New Hampshire, os democratas ainda poderão ter uma palavra a dizer, mas, para já, a situação não lhes é favorável. Todos estes estados ficam, então, a vermelho, a cor do Partido Republicano.
Por sua vez, prevejo que os candidatos democratas vençam no estado de Washington, na West Virginia e no Connecticut, com maior ou menor dificuldade. Já nos casos do Nevada, do Wisconsin e da Califórnia a vantagem democrata é residual, mas, de momento, vejo estes estados a inclinarem-se para o lado democrata. Por fim, a situação mais difícil foi a do Illinois, que me parece ser a corrida com desfecho mais imprevisível. Contudo, como se trata de um estado profundamente democrata e dado o peso e influência que Barack Obama pode ter nesta eleição (ou não estivesse em causa o seu antigo lugar no Senado) a cor escolhida foi o azul, dos democratas.
Um resultado deste género representaria uma espécie de empate, porque, por um lado, os republicanos ganhariam um importante número de assentos aos democratas, mas, por outro, não conseguiriam a esmagadora vitória que muitos analistas prevêem para estas eleições. De qualquer forma, e como se diz por cá em relação às sondagens, as previsões valem o que valem, porque os resultados que interessam só saberemos depois de milhões de eleitores americanos votarem, no próximo dia 2 de Novembro.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Ayotte segura a vitória. Mas a que custo?

Kelly Ayotte já foi declarada a vencedora das primárias republicanas no New Hampshire e irá disputar com o democrata Paul Hodes um lugar no Senado americano, nas eleições gerais de Novembro. Porém,  e como a diferença para o seu opositor foi inferior a 1,5%, ainda pode haver uma recontagem dos votos, se Lamontagne, o derrotado, assim o entender.
Com este resultado, o establishment republicano respira um pouco de alívio depois da vitória da insurgente O'Donnel no Delaware. Sendo Ayotte a candidata republicana, o GOP fortalece as hipóteses de manter este lugar no Senado. Contudo, esse objectivo poderá não ser tão fácil como se antevia. Isto porque Ayotte, para se defender de Lamontagne nas primárias, teve que ajustar o seu discurso de modo a aliciar o eleitorado mais conservador, distanciando-se, assim, da sua posição mais tradicional, no centro do espectro ideológico. Por exemplo, o apoio de Sarah Palin à sua candidatura, apesar de ter sido certamente uma vantagem nas primárias, onde são os eleitores republicanos a votar, poderá ser um handicap na eleição geral, especialmente no New Hampshire, um estado onde Palin tem um baixo índice de popularidade. 
Uma sondagem hoje divulgada, parece vir apoiar esta teoria, ao colocar Ayotte com apenas quatro pontos percentuais de vantagem sobre Hodes. Estes números podem ser apenas um outlier, mas podem também indicar que a corrida do New Hampshire ainda está em aberto e merece ser seguida de perto. Se assim for, é mais um ponto de interesse neste louco ano eleitoral de 2010.

A vitória dos Tea Party... e dos democratas

Christine O'Donnel celebra a vitória (Foto NYTimes)
Ontem à noite, na última e decisiva ronda de primárias antes das eleições gerais de Novembro, confirmaram-se os piores receios dos republicanos mais moderados e pragmáticos, tendo-se assistido a um verdadeiro tsunami por parte dos candidatos apoiados pelos Tea Party, para prejuízo dos políticos conectados com o establishment do GOP.
E a vitória das franjas mais conservadoras do Partido Republicano foi praticamente em toda a linha, faltando apenas saber se, no New Hampshire, Lamontagne conseguiu ou não derrotar Kelly Ayotte.  Com cerca de 15% dos votos para contar, ainda não se sabe quem é o vencedor desta corrida. Contudo, o facto de estarmos a assistir a uma disputa tão renhida já é uma grande surpresa, visto que, até há pouco tempo, ninguém preveria que Ayotte  fosse sequer incomodada no seu rumo até à nomeação. 
No Delaware, Christine O'Donnel assegurou a nomeação republicana, após uma recta final impressionante em que conseguiu ultrapassar o super-favorito Mike Castle. Com este resultado, os democratas passam a ser os grandes favoritos para a vitória na eleição geral, o que não aconteceria se fosse Castle o nomeado. Em Nova Iorque, na corrida para o cargo de governador, aconteceu outra surpresa, com a vitória de Carl Paladino, também ele apoiado pelos Tea Party, frente a Rick Lazio, o candidato do aparelho partidário republicano. Porém, neste caso, o triunfo de Paladino não trará grandes consequências, pois o democrata Andrew Cuomo seria sempre praticamente impossível de derrotar.
Depois desta onda de derrotas dos candidatos mais moderados frente a outros muito mais conservadores, a tarefa do GOP complica-se dramaticamente. Com O'Donnel, o Delaware passa a estar quase certo na coluna democrata e o mesmo pode acontecer no New Hampshire, se Lamontagne for declarado vencedor. Depois do Nevada e do Kentucky (estados em que as chances eleitorais do Partido Republicano saíram prejudicadas depois da nomeação dos candidatos), as notícias são péssimas para o GOP que, para sonharem com o controlo do Senado, precisam, agora, de jogar num tabuleiro ainda maior, tentando vencer corridas em que as suas hipóteses são mais remotas, como no Connecticut ou na West Virginia.
Além disso, estas vitórias de candidatos extremamente conservadores podem ajudar os democratas a construir uma narrativa, fazendo passar a mensagem de que o Partido Republicano foi tomado de assalto por extremistas. Assim, é possível que os resultados de ontem tenham repercussões a nível nacional e prejudiquem as ambições do GOP noutras eleições para o Senado, mas também para a Câmara dos Representantes. No fim de contas, estas divisões no seio do Partido Republicano, outrora um partido conhecido por ser pragmático e escolher os candidatos mais facilmente elegíveis, só vêm beneficiar os democratas.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Grandes decisões no fim das primárias

Hoje, nos Estados Unidos, é o último grande dia de primárias para as eleições intercalares do próximo dia 2 de Novembro. Apesar de ainda ficarem a faltar as primárias do Hawaii e uma segunda volta no Louisiana, hoje terão lugar as derradeiras grandes decisões até às eleições gerais no que diz respeito às nomeações dos candidatos pelos dois grandes partidos americanos. 
Serão oito os estados onde, hoje, os eleitores se dirigirão às urnas para votar e todos, à excepção do Wisconsin, se situam no Nordeste dos Estados Unidos. Mas, entre todas estas corridas, destacam-se as duas primárias republicanas para o Senado no Delaware e no New Hampshire. O cenário, muito semelhante nos dois casos, prende-se com a possibilidade de os candidatos insurgentes, mais conservadores apoiados pelo Tea Party, poderem derrotar os concorrentes moderados do establishment republicano, alterando radicalmente o panorama para as eleições gerais contra os democratas. 
No Delaware, Mike Castle, antigo governador do estado e congressista durante muitos anos, parecia estar a cumprir um percurso imparável rumo ao Senado americano, no lugar que foi de Joe Biden até este se ter mudado para a Casa Branca. Contudo, o Tea Party Express, uma organização conservadora, apostou forte na sua opositora, Christine O'Donnell, que conta também com o apoio de Sarah Palin e, agora, as sondagens indicam que a corrida está too close to call. Assim, hoje decide-se praticamente quem ficará com este lugar no Senado pelo estado do Delaware. Isto porque se Castle for o vencedor dificilmente será derrotado por Chris Coons, o candidato democrata, Coons, por sua vez, será o grande favorito à vitória no caso de ser O'Donnell a nomeada republicana.
Esta situação repete-se no New Hampshire, mas, aqui, uma vitória do candidato mais conservador não se afigura tão provável. Kelly Ayotte ainda é a grande favorita a conseguir a nomeação do GOP, mas, nos últimos tempos, as sondagens têm mostrado uma aproximação do seu opositor, Ovide Lamontagne. Lamontagne é apoiado por vários grupos Tea Party e por figuras do movimento conservador americano. Porém, Sarah Palin optou por apoiar Ayotte, a candidata mais moderada, talvez a pensar numa retribuição do favor quando chegarem as primárias do New Hampshire para a presidência. Como no Delaware, se uma surpresa acontecesse e Lamontagne derrotasse Ayotte, o grande favorecido seria o democrata Paulo Hodes que, ao contrário do que aconteceria se fosse Ayotte a nomeada, teria excelentes hipóteses de sucesso contra Lamontagne.
Hoje à noite no Estados Unidos (e já de madrugada em Portugal) dar-nos-ão a reposta a estas e outras questões que prometem ser cruciais para o desfecho das eleições intercalares deste ano. Se os candidatos republicanos moderados saírem vencedores, então as chances republicanas para "roubarem" o controlo do Senado aos democratas aumentam substancialmente. Se, pelo contrário, forem os políticos mais conservadores a saírem vencedores, tal cenário não passará de uma hipótese marginal.

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

"Going Rogue"

Li finalmente a obra autobiográfica de Sarah Palin, "Going Rogue", mas na versão portuguesa, cujo título foi traduzido para "Cortar a Direito". A tradução é competente, mas ao ler o livro fiquei com a impressão que a editora não se quis dar ao trabalho de pagar a um revisor, já que os erros são abundantes, sejam gramaticais, semânticos ou palavras em falta.
Este tipo de publicação, onde o autor conta a sua história de vida e anuncia as suas ideias políticas e ideológicas, é praticamente um pré-requisito para qualquer político americano que se preze. Normalmente, os livros são lançados pouco antes de uma eleição importante para que o seu autor tenha direito a algum destaque na imprensa e surja num ou noutro talk-show. Contudo, este "Going Rogue" foi um autêntico fenómeno de popularidade e de mediatismo, aliás, à imagem da sua autora. Com o sucesso do livro, Palin gozou de uma espécie de segunda campanha eleitoral ao realizar uma tournée nacional de apresentação da obra,  que serviu para aumentar o seu perfil político a nível nacional e contactar directamente com os cidadãos.
A nível de conteúdo, esta obra pouco oferece. O início até é prometedor, com Palin a fazer uma engraçada narrativa sobre os seus primeiros tempos no Alasca, com algumas histórias interessantes e que ilustram o que é viver no maior e mais inóspito estado americano. Porém, quando a ex-candidata à vice-presidência começa a entrar no âmbito político, a obra perde consistência. No que diz respeito a ideias, Sarah Palin pouco ou nada oferece neste livro. Limita-se a debitar alguns chavões habituais (o direito à vida, a diminuição do peso do Estado,o mercado livre, a segurança nacional e pouco mais) como as suas grandes bandeiras, além  de citar e a referir Ronald Reagan até à exaustão, como é da praxe para qualquer conservador. 
Durante as 420 páginas do livro, Palin defende-se de muitas das acusações que lhe foram feitas durante a campanha, como o caso do guarda-roupa milionário ou do troopergate. Mas são também notórios os seus esforços para se distanciar da imagem de ser pouco culta ou informada e de não estar preparada para servir ao mais alto nível, pois abundam as citações de personalidades das mais diversas áreas ou referências literárias de todo a espécie. No que diz respeito à campanha de 2008, onde foi a running mate de John McCain, Palin usa esta obra para trucidar os responsáveis pela campanha presidencial de McCain, acusando-os de a gerirem mal e de a utilizaram como bode expiatório para a derrota (o que não deixa de ser verdade).
Como é óbvio, este "Going Rogue" é uma objecto de promoção pessoal e serve para Palin contar a sua versão da história. Aconselho a sua leitura aos mais interessados na política dos Estados Unidos, aos grandes admiradores de Sarah Palin ou a quem estiver a pensar visitar o Alasca. Se não for o caso, então não vale a pena darem-se ao trabalho. Finalmente, confesso que a minha parte preferida foi quando Palin sugeriu que a campanha vitoriosa de Barack Obama foi inspirada na sua corrida à governação do Alasca. É caso para dizer: gotcha!

sábado, 11 de setembro de 2010

Hoje é 11 de Setembro

Há exactamente nove anos atrás, o mundo mudou. A Al-Qaeda de Bin Laden orquestrou e levou a cabo um ataque a solo americano, desviando quatro aviões comerciais para os fazer embater contra edifícios símbolos dos Estados Unidos da América. O World Trade Center e o Pentágono foram atingidos e a Casa Branca (ou o Capitólio) apenas foi poupado devido à acção heróica de um punhado de passageiros do voo 93. No total, entre Nova Iorque, o Pentágono e a Pennsylvania, onde se despenhou o voo 93, erca de três mil pessoas perderam a vida.
Na América, o dia de hoje será dedicado a homenagens às vítimas e a assinalar uma data que para sempre será recordada nos Estados Unidos e no mundo. Apesar de toda a polémica que tem envolvido o nono aniversário dos atentados, serão várias as cerimónias que irão ter lugar nos locais habituais. No "Ground Zero" estará o vice-presidente Joe Biden, enquanto o Barack Obama irá marcar presença no Pentágono, o mesmo local onde esteve o ano passado, depois de, em 2008, ter estado na big apple.  Por fim, na Pennsylvania, estarão Michelle Obama e Laura Bush a prestarem a sua homenagem aos heróis que evitaram que, há nove anos atrás, a tragédia tivesse sido ainda maior.
Nove anos depois, as relações entre os americanos e o Islão estão mais tensas do que nunca. As controvérsias relacionadas com a construção de um centro islâmico nos arredores do "Ground Zero" e a intenção de um pastor da Florida de queimar exemplares do Corão vieram atirar ainda mais lenha para o lume. Porém, pode ser que a "celebração" de mais um aniversário do 11 de Setembro sirva de expiação e que proporcione um clima mais calmo e uma maior tolerância religiosa.

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Nate Silver anuncia: o GOP vai recuperar a House

Nate Silver, o especialista em estatísticas que se notabilizou durante as eleições presidenciais de 2008 (onde previu correctamente os resultados em 49 dos 50 estados), lançou  o seu novo modelo de previsão dos resultados relativos à Câmara dos Representantes nas  eleições intercalares de 2 de Novembro, depois de ter feito o mesmo para o Senado e para as eleições para os governos estaduais. 
Os primeiros valores hoje apresentados são muito negativos para os democratas: Nate Silver estima que os republicanos ganhem entre 45 e 50 representantes ao Partido Democrata, o que será suficiente para que o GOP passe a ser o partido maioritário na câmara baixa do Congresso. Segundo o seu site, o Partido Republicano tem 67% de probabilidades de recuperar o controlo da House, que perdeu para os democratas em 2006.
O espaço de Nate Silver, o 538 (número correspondente ao total de votos eleitorais nas eleições presidenciais), lançado durante a fantástica disputa pela presidência americana de 2008, está agora englobado no gigante New York Times, o que confere ainda mais credibilidade a Nate Silver, um talentoso analista político e que, apesar de ser assumidamente um liberal, é capaz de manter a imparcialidade. Para quem gosta de sondagens e de estatísticas, ou simplesmente de política americana, o seu site é de visita obrigatória.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Cartoons: A queima do Corão


A lunática ideia de um obscuro pastor de uma pequena igreja na Florida, cuja melhor forma de assinalar o 11 de Setembro que se lembrou foi a organização de um dia internacional de queima do Corão,  está a incendiar os ânimos nos Estados Unidos e um pouco por todo o mundo. Contudo, esta polémica teve pelo menos o condão de colocar do mesmo lado da barricada figuras que costumam ser adversárias. Tanto os democratas Barack Obama e Hillary Clinton, como os republicanos Mitt Romney e Sarah Palin já vieram criticar esta demonstração de intolerância  religiosa. Este cartoon, de David Fitzsimmons, do Arizona Star, sublinha as consequências que podem advir desta péssima maneira de marcar o 9º aniversário do trágico dia de 11 de Setembro de 2001.

Com 2012 em pano de fundo

Por agora, as eleições intercalares de Novembro são o grande ponto de interesse no que diz respeito à política norte-americana. Um pouco por todo o país, várias centenas de candidatos já deram início às suas campanhas que, tradicionalmente, arrancam a todo o gás após o feriado do Labour Day, que tem lugar na primeira Segunda-feira de Setembro. Contudo, em plano secundário, outra disputa começa a desenrolar-se: a das presidenciais de 2012.
No campo republicano, os dois principais nomes, Mitt Romney e Sarah Palin, agendaram, recentemente, visitas ao estado do Iowa, onde, no início de 2012 decorrerá o primeiro momento das primárias republicanas, com vista à escolha do nomeado presidencial do GOP. E, como sempre acontece em eleições presidenciais, os potenciais candidatos são obrigados, desde cedo, a marcar presença nos estados decisivos, principalmente o Iowa e New Hampshire. Romney tem sido presença assídua nestes estados desde que deu início à sua falhada candidatura de 2008, mas para Palin, à excepção da sua tournée de apresentação do seu livro, esta viagem ao Iowa representa o primeiro grande indicador de que está mesmo a considerar correr para a presidência.
Além destas deslocações, os candidatos a candidatos presidenciais jogam ainda no tabuleiro das midterms, jogando uma complexa partida de xadrez, concedendo o seu apoio oficial a certos candidatos em estados-chave. Dessa forma, esperam apostar no "cavalo" certo de maneira a que esses políticos, uma vez no poder, devolvam o favor e sejam seus aliados quando chegarem os momentos  decisivos da disputa pela nomeação republicana, em 2011 e 2012.
Mas, se Mitt Romney e Sarah Palin são os nomes mais falados no que a este tema diz respeito, a verdade é que a batalha pela nomeação do GOP parece mais aberta do que nunca. Uma straw poll (uma sondagem informal) que se realizará no fim deste mês, organizada por uma organização ligada ao Partido Republicano, tem no boletim de voto nada menos que 17 políticos para consideração dos votantes. E, ainda assim, alguns nomes, como John Thune ou Haley Barbour, ficaram de fora. 
Não é normal que, no fim do primeiro mandato de um presidente, surja um tão grande número de potenciais opositores, mas, com Obama a parecer vulnerável, muitos dos políticos do GOP que pensariam lançar-se apenas em 2016, põem, agora, seriamente a hipótese de avançar já em 2012. Porém, com tamanha indefinição no lado republicano, teremos de esperar pelo fim das eleições intercalares, e provavelmente por 2011, para se começar a ter uma melhor noção de quem serão os grandes candidatos a enfrentarem Barack Obama no Outono de 2012.

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Rahm Emanuel de saída?

Hoje, o mayor de Chicago, Richard Daley, anunciou que não concorrerá a um novo mandato nas próximas eleições, em Fevereiro de 2011. Esta notícia, mesmo estando relacionada com uma das maiores cidades americanas, teria pouco impacto mediático ou relevância nacional não fossem as consequências, a nível da Casa Branca, que podem resultar desta decisão de Daley.
Isto porque Rahm Emanuel, Chief-of-Staff da Casa Branca de Obama, nunca escondeu o seu desejo de um dia vir a chefiar os destinos da windy city. Agora, com Daley fora de cena, Emanuel tem o caminho aberto para concorrer e, apesar de faltarem apenas cerca de seis meses para as eleições é bem possível que o antigo congressista pelo Illinois tente a sua sorte na luta pela City Hall de Chicago.
Por outro lado, a saída do chief-of-staff (um dos mais proeminentes membros das administrações nos Estados Unidos) poderia ser uma forma de Barack Obama responder ao clima de insatisfação relativamente à sua governação entre os americanos e à previsível grande derrota eleitoral em Novembro deste ano, fazendo rolar algumas cabeças, mostrando que está disposto a "abanar" as coisas, de modo a reaproximar-se do rumo desejado pelos cidadãos. Além disso, Emanuel não é tão próximo de Obama como outros nomes do staff presidencial (David Axelrod ou Valerie Jarret, por exemplo) e, durante a sua estadia na Casa Branca, já fez surgir algumas polémicas.
Rahm, famoso pelo seu feitio complicado, foi contratado num cenário em que os democratas mantinham confortáveis maiorias no Congresso e parecia a pessoa indicada para manter os democratas na linha. Contudo, actualmente, perspectiva-se um panorama totalmente diferente para a segunda metade do mandato de Obama e Emanuel, com grandes anticorpos entre os congressistas republicanos, teria mais dificuldades para trabalhar numa situação em que o compromisso e o diálogo com o GOP seja uma condição necessária para a governação. Assim, colocar uma cara nova (e com quem os republicanos se sintam mais à vontade para se relacionarem) como Chief-of-Staff parece ser uma boa aposta para Obama.
Por fim, a retirada de Rahm Emanuel não causaria uma grande surpresa em Washington já, que é sobejamente conhecida a grande exigência e desgaste do cargo de Chief-of-Staff, o que faz com que quem desempenha esta função não o faça, por norma, por mais que dois anos. Por tudo isto,  parece-me que Barack Obama e Rahm Emanuel teriam aqui uma saída airosa para ambas as partes.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

A estratégia democrata

Como se tem dito insistentemente, as perspectivas democratas para as próximas eleições de Setembro não poderiam ser mais negras: poderão perder o controlo das duas câmaras do Congresso (uma probabilidade no caso da Câmara dos Representantes e uma possibilidade no caso do Senado) e   de importantes governos estaduais. Contudo, é óbvio que o Partido Democrata não se deixará derrotar sem prestar uma réplica, pelo menos a possível, à "onda" republicana que se avizinha.
Ontem, no programa "Meet the Press", o director da campanha presidencial de Obama e o actual responsável da Casa Branca pelas midterms, David Plouffe, deixou algumas pistas relativamente à estratégia que será utilizada pelos democratas para minimizar as perdas nas eleições que se aproximam. Nessa entrevista, Plouffe afirmou que os actuais líderes do GOP são Sarah Palin, Rush Limbaugh e Glen Beck e caracterizou o Partido Republicano como sendo intolerante e extremista. Ao fazê-lo, o objectivo de Plouffe é claro: tentar "assustar" o eleitorado moderado e independente, sugerindo que as franjas mais conservadores do GOP tomaram de assalto o partido, encostando-o à direita.
E, de facto, tal não deixa de ser verdade. A influência do Tea Party no interior do Partido Republicano já trouxe mesmo alguns dissabores ao establishment do GOP, em particular no Nevada e no Kentucky, dois estados onde os republicanos eram favoritos à partida, mas que estão, agora, em jogo. Também noutros estados, como no Alasca e no Utah, a ala mais conservadora do GOP conseguiu afastar candidatos menos próximos da sua plataforma política, mas, aqui, sem consequências eleitorais. Além disso, políticos outrora vistos como moderados e com quem os democratas podiam contar para iniciativas bipartidárias, tiveram de "fugir" para a direita, de modo a assegurarem o seu futuro no Partido Republicano, com John McCain a ser o melhor exemplo deste fenómeno.
Assim, se os democratas apostarem num ataque a nível nacional contra esta espécie de "sequestro" do GOP pelas suas alas mais radicais, podem conseguir alguns ganhos entre o eleitorado independente e, ao mesmo tempo, motivar e mobilizar as suas bases, que parecem pouco envolvidos neste ciclo eleitoral. Entretanto, os republicanos já se devem ter apercebido desta ameaça, o que  explicaria a moderação de Glen Beck no evento que organizou a semana passada na capital americana, denominada "Restoring Honor", de modo a não providenciar citações polémicas que os democratas pudessem utilizar nas campanhas deste Outono.
De qualquer forma, com esta ou qualquer outra estratégia, os democratas serão sempre derrotados no dia 2 de Novembro; porém, a dúvida ainda subsiste em relação à dimensão dessa derrota. Se os democratas  conseguirem conter os danos, mantendo o controlo da House e perdendo apenas 4 ou 5 lugares no Senado, então poderão cantar vitória. Mas, por agora, esse cenário parece difícil de se concretizar.

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Senado: Sondagens

A dois meses das eleições intercalares de 2010, importa ir espreitando as sucessivas sondagens que surgem sobre as corridas mais importantes, sejam para o Senado, para a Câmara dos Representantes. ou para os governos estaduais. Hoje, o destaque vai para o Senado e para as disputas mais renhidas e que decidirão qual o partido que ficará no controlo da câmara alta do Congresso, após as midterms. E, neste capítulo, segundo os últimos estudos de opinião, há boas e más notícias para os dois lados. Senão vejamos:
Califórnia:  Fiorina (R) 48%, Boxer (D) 46%
Florida: Crist (I) 34%, Rubio (R) 34%, Meek (D) 17%
Illinois: Giannoulias (D) 34%, Kirk (R) 34%
Kentucky: Paul (R) 43%, Conway (D) 37%
Nevada: Reid (D) 50%, Angle (R) 47%
Ohio: Portman (R) 45%, Fisher (D) 38%
Washington: Rossi (R) 50%, Murray (D) 47%
Vistos os números, ficam evidentes os excelentes resultados de Carly Fiorina no maior estado da União, onde, caso se venha a verificar uma vitória republicana, pode residir a maior surpresa da noite eleitoral. Depois, ainda mais motivos para o GOP sorrir em Washington, normal terreno democrata, e no Ohio, onde parece cada vez mais improvável uma ameaça democrata. Por outro lado, o partido de Obama consegue resultados animadores no Nevada, onde Harry Reid continua a sua recuperação às custas da candidata escolhida pelos republicanos, e no Illinois, onde os dois concorrentes surgem empatados, depois de várias sondagens que davam vantagem ao republicano Mark Kirk. Além disso, o Kentucky parece ainda ao alcance dos democratas, apesar de Rand Paul manter ainda uma margem relativamente confortável.
Por fim, a Florida, a eleição mais interessante e complexa deste ano, onde Crist e Rubio surgem neck-and-neck com o democrata Keek bem atrás. Aqui, como já tenho referido, os democratas terão um complicado jogo de equilíbrio para fazer, entre o apoio oficial ao seu candidato e a ajuda à vitória do moderado Charlie Crist sobre o conservador Marco Rubio. Mas, para já, o desfecho continua totalmente imprevisível.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

O virar de página

O discurso do presidente dos Estados Unidos da passada Terça-feira, transmitido directamente da Sala Oval (recentemente renovada a gosto dos Obama), serviu para o Chefe de Estado americano selar uma das principais promessas que fez durante a campanha presidencial: a retirada do Iraque. Apesar de ficarem ainda cerca de 50 mil homens e mulheres das  forças armadas americanas naquele país do Médio Oriente, as operações militares terminaram oficialmente e Obama concentra agora todas as atenções no Afeganistão, o palco de guerra onde sempre prometeu continuar a batalha contra a Al-Qaeda de Bin Laden.
Esta comunicação à nação, onde o presidente disse ser altura de virar a página, foi também aproveitada, de forma inteligente, para clarificar ao país que, agora (já o devia ser há muito), a principal prioridade será a recuperação económica e financeira dos Estados Unidos. Além disso, Obama, não deixou de lembrar que o estado das finanças públicas se deve, em grande parte, ao enorme esforço financeiro realizado, durante sete anos, no Iraque. Dessa forma, voltou a culpar, algo implicitamente, o seu antecessor pela crise que a nação atravessa.   
Foi um bom discurso de Obama, que lhe poderá valer a subida de alguns pontos percentuais nas próximas sondagens. Exaltou os valores americanos e elogiou as forças armadas, cumprindo à risca o seu papel de Commander-in-chief. Mais: o teor da mensagem foi susceptível de agradar tanto a democratas, como a republicanos, pois Obama foi de encontro ao exigido pela esquerda americana, ao terminar o conflito no Iraque, mas, ao mesmo tempo, não se desviou do rumo seguido por Bush desde o "surge", engendrado por Petraeus, em 2007.
Porém, Barack Obama não perdeu tempo a envolver-se numa nova grande empreitada diplomática na mesma zona geográfica. Agora, tenta levar a bom porto o processo de paz do Médio Oriente, algo que todos os últimos presidente americanos tentam, sem sucesso, conseguir (apesar de Bill Clinton, com Rabin e Arafat, ter estado muito perto). As negociações, com os líderes de Israel, da Palestina, da Jordânia e do Egipto, sob a égide do presidente americano, já começaram, mas o seu desfecho é, como sempre, incerto. 
Se Obama conseguir que as partes envolvidas se entendam e cheguem a um acordo sólido e com possibilidades de se manter (o que é algo de muito complexo), então terá conseguido justificar, plenamente, o seu Nobel da Paz de 2009. Caso contrário, será mais um presidente "queimado" por esta questão. O que não é certo é se os americanos concordam com esta nova grande intervenção americana, logo depois de o seu presidente ter prometido concentrar as suas atenções no interior das fronteiras do país.