segunda-feira, 26 de julho de 2010

O incrível Alvin Greene

O caso mais caricato desde ciclo eleitoral está-se a desenrolar na corrida por um lugar no Senado pelo Estado da Carolina do Sul. Aqui, o interesse reside não na disputa pela vitória, pois o senador incumbente, o republicano Jim DeMint, é o mais que provável vencedor, mas sim no seu opositor, Alvin Greene, que, surpreendentemente conseguiu a nomeação pelo Partido Democrata.
Greene, um total desconhecido de 32 anos, é um ex-militar no desemprego e com cadastro criminal. A visibilidade da sua candidatura à nomeação democrata era praticamente inexistente, não tendo sequer um site oficial. Contudo, devido à elevada abstenção no acto eleitoral, ao grande desinteresse pela corrida e ao facto de o seu nome ser o primeiro na boletim de voto, o improvável candidato venceu mesmo as primárias do seu partido com 59% dos votos.
Imediatamente a seguir à sua vitória surgiram acusações de que Greene fazia parte de uma estratégia republicana que visava a ridicularização do Partido Democrata e uma fácil reeleição para DeMint. Segundo essas teorias, o GOP teria pago o montante de apresentação de candidatura de Greene (cerca de 10 mil dólares) e incitado os seus eleitores a votarem nas primárias democratas a seu favor, aproveitando-se do facto de as primárias no Estado serem abertas. 
Apesar de não parecer provável que os republicanos estejam directamente envolvidos na candidatura de Alvin Greene, a verdade é que este é já uma dor de cabeça para o Partido Democrata, devido à fama que já alcançou no Estados Unidos esta insólita corrida ao Senado. Para piorar a situação, Greene tem proferido algumas declarações perfeitamente surreais, como quando sugeriu que, para melhorar a situação económica do país, uma solução seria o de vender cartazes da sua cara. Para ilustrar toda esta curiosa confusão na Carolina do Sul, aqui fica o vídeo de uma das famosas entrevistas de Alvin Greene à Comunicação Social.


quinta-feira, 22 de julho de 2010

A luta pela Câmara dos Representantes

No que diz respeito às eleições intercalares que irão ter lugar no próximo dia 2 de Novembro, tenho dado especial destaque às corridas em que se disputam lugares no Senado americano, mas tenho-me abstido de fazer grandes referências à disputa pela Câmara dos Representantes. Isto porque, ao contrário do Senado, onde apenas estão em jogo um terço dos lugares, a câmara baixa do Congresso irá a votos, na sua totalidade perfazendo 435 diferentes eleições. Assim, torna-se impossível seguir um tão elevado número de situações e, além disso, o cargo de Senador tem uma importância e um destaque que o de Representante não tem, levando os media e os analistas a focarem a sua atenção nas corridas ao Senado.
Mas enquanto que no Senado dificilmente os republicanos conseguirão destronar os democratas da maioria, já na House a situação é-lhes mais favorável. Apesar da larga vantagem com que os democratas contam, não é de todo impossível que o GOP consiga vencer os cerca de 40 lugares que chegariam para passarem a controlar a Câmara dos Representantes. Se tal vier a suceder, repetir-se-ia o cenário das eleições de 1994, quando os republicanos, a meio do primeiro mandato de Bill Clinton, conseguiram uma estrondosa vitória, "virando" 54 assentos. 
Como não é possível haver sondagens para cada eleição, o método utilizado para se seguir a disputa pela House é a intenção de voto a nível nacional. E, segundo a média do Pollster, os republicanos levam vantagem, se bem que uma recente sondagem da conceituada Gallup tenha atribuído vantagem ao Partido Democrata. Contudo, é preciso ter em conta que os números nacionais não passam de um indicador, e as ilações que deles podem ser retiradas são muito limitadas. Além disso, como a distribuição dos círculos eleitorais é prejudicial aos democratas, é usual considerar-se que o empate real entre os dois partidos corresponde a uma vantagem de dois pontos percentuais dos democratas. Desta forma, só quando o Partido Democrata surge com vantagem superior a 2% nas sondagens nacionais é que terá ganhos reais em número de representantes eleitos.
Para já, o cenário para Novembro está totalmente em aberto. É quase certo que os republicanos irão conseguir recuperar assentos no Congresso, mas se vão conseguir destronar Nancy Pelosi como speaker é algo que permanece uma incógnita. Se o conseguirem, isso significará que teve lugar um verdadeiro vendaval do GOP, e traduzir-se-á numa grande vitória republicana. Por outro lado, os democratas, mesmo vendo a sua maioria reduzir-se, poderão cantar vitória se, depois das eleições, continuarem a controlar o Congresso. 
Assim, a luta pelo Congresso define-se não só pelas disputas eleitorais, mas também pelo jogo de expectativas. Com o clima político a prometer ser bem mais favorável aos republicanos, não é de admirar que o lado democrata tenha começado a  subir as expectativas para os resultados do GOP, enquanto desce as suas. Desta forma, será mais fácil declararem-se vitoriosos depois de contados os votos dos americanos, ao mesmo tempo que eleva o nível de exigência para uma vitória republicana. 
Seja como for, esta é uma luta que se prevê animada e disputada até 2 de Novembro, passando muito por aqui a declaração de vitória nessa longa noite de importantes decisões.

terça-feira, 20 de julho de 2010

A importância da eleição no Nevada

Há bem pouco tempo atrás, quando se fazia a antevisão das eleições intercalares de Novembro deste ano e se analisavam as corridas mais problemáticas para os democratas, surgia, no topo da lista, a previsível derrota do líder da maioria no Senado, Harry Reid, cuja reeleição no seu Estado do Nevada parecia, então, muito complicada. Reid, há 23 anos no Senado, é uma figura que polariza o eleitorado e, além disso, a sua postura e actuação durante algumas das mais duras batalhas na câmara alta do Congresso garantiram-lhe muitos anti-corpos, alguns mesmo dentro do Partido Democrata.
Contudo, os republicanos do Nevada fizeram um favor a Reid e aos democratas e, nas primárias do seu partido, nomearam Sharron Angle - que tinha, em 2006, concorrido, sem sucesso, à Câmara dos Representantes - como a sua candidata. Acontece que Angle é uma figura com ideias bem fora do mainstream político americano. Defende, por exemplo, o abandono da ONU por parte dos Estados Unidos, a extinção do Departamento da Educação e de programas como o Medicare ou a Segurança Social. A concorrente escolhida pelo GOP acredita ainda que o aquecimento global não passa de uma fraude e chegou mesmo a falar em voltar a ilegalizar as bebidas alcoólicas, no que seria um retorno à famosa "lei seca".  Além das suas ideias políticas, Angle também tem atraído diversas polémicas, como a que se geraram em torno da sua suposta adesão à Cientologia e da sua proposta de conceder programas de massagens aos presidiários do Nevada.
Assim, não admira que, agora, várias sondagens atribuam a Harry Reid vantagem na corrida frente a Sharron Angle. É ainda previsível que, à medida que os eleitores do Nevada vão conhecendo melhor a candidata republicana e que a vantagem financeira de Reid se acentue, esta diferença entre os dois aumente ainda mais. A confirmar-se uma vitória do líder democrata em Novembro, esta será um exemplo raro de uma má escolha republicana nas suas primárias, pois os eleitores do GOP são, habitualmente, práticos e pragmáticos nas suas escolhas, elegendo o candidato que mais garantias lhes dá numa eleição geral contra o Partido Democrata. 
Porém, é possível que este caso não seja um fenómeno isolado, mas sim um sinal do crescente peso das franjas mais conservadoras, com destaque para o Tea Party, no interior do Partido Republicano, o que pode empurrar o GOP para a direita do espectro político, com óbvia repercussão nos candidatos escolhidos nas primárias do partido. Se for o caso, tratar-se-á de uma óptima notícia para os democratas, que sairão, com toda a certeza, a ganhar de um cenário deste género.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Um tweet polémico

Mesmo depois de, surpreendentemente, se ter demitido do cargo de Governadora do Estado do Alasca, Sarah Palin nunca mais abandonou a arena mediática americana e mesmo mundial. Para se manter, então, debaixo dos holofotes, a candidata vice-presidencial de John McCain contou com diversos veículos, como a tournée de lançamento do seu livro, "Going Rogue" ou o seu programa na Fox News. Contudo, um dos métodos que mais eficazmente tem utilizado para divulgar as suas mensagens e pensamentos ao povo americano tem sido o recurso às redes sociais, como o Facebook e o Twitter.
A sua mais recente mensagem via Twitter causou muita polémica. Referindo-se aos planos de construção de uma mesquita perto do "Ground Zero", o local onde estavam situadas as Torres Gémeas, Palin apelou à rejeição de tal projecto, considerando que este constitui uma provocação desnecessária e prejudicial à recuperação das relação dos norte-americanos com o Islamismo, gravemente afectada pelos atentados de 11 de Setembro de 2001. Opinião contrária teve o Mayor de Nova Iorque, Michael Bloomberg, que decidiu aprovar a construção da mesquita precisamente com o objectivo de melhorar essas mesmas relações inter-religiosas.
Além do conteúdo do tweet, também a forma fez furor, pois Palin utilizou uma palavra que não consta do dicionário inglês - "refudiate" - para incitar à recusa da mesquita. É mais uma gaffe que prejudica a imagem nacional de Sarah Palin, já muito "queimada" por anteriores deslizes que contribuíram para que grande parte da população americana a veja como incapaz de vir um dia a ocupar a presidência. Mas, por outro lado, o destaque concedido a este simples tweet demonstra (se mais provas fossem ainda necessárias) que Palin é mesmo uma super-estrela da política americana, apenas comparável ao próprio Presidente Obama.

sábado, 17 de julho de 2010

Cartoon: Miranda Rights

A discussão em torno dos "Miranda Rights", a lista de direitos que a Lei americana obriga que seja lida no momento da detenção criminal (e que tantas vezes vemos nas séries e filmes provenientes da América), caricaturado pelo cartoonista do Politico. Recorde-se que se debate, actualmente, nos Estados Unidos, se estes direitos devem ser ou não lidos aos suspeitos de terrorismo.

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Reforma financeira aprovada!

O Senado americano aprovou, ontem, a reforma financeira que se transforma, assim, na segunda grande vitória legislativa da administração de Barack Obama, após da reforma do sistema de saúde. Depois do diploma ter passado nas duas câmaras do Congresso, espera-se que o presidente americano promulgue, muito em breve, o documento, transformando a proposta em Lei e cumprindo mais uma das suas principais promessas eleitorais.
Ainda assim, a passagem com sucesso desta reforma pelo Senado foi mais complicada do que era previsível há alguns meses atrás, quando se iniciou a sua discussão no Capitólio. Apesar do apoio popular que as sondagens atribuem a uma reforma do sistema financeiro dos Estados Unidos, os republicanos uniram-se para tentar impedir a sua aprovação e mesmo entre as fileiras democratas houve algumas dissidências. De facto, o senador democrata Russ Feingold votou contra a reforma, afirmando que esta não seria suficiente para impedir uma nova  crise económica. Este voto negativo, combinado com o lugar deixado vago pela morte do senador Robert Byrd, obrigou a liderança democrata a encontrar três votos "sim" do lado republicano. Após negociações e algumas cedências, as duas senadoras republicanos do Maine, Olympia Snowe e Susan Collins, e o senador Scott Brown do Massachusetts concordaram em permitir a passagem da reforma.
Na verdade, Scott Brown desempenhou um papel fundamental para a aprovação da reforma financeira, fazendo a ponte entre os democratas e os republicanos mais moderados que podiam, eventualmente, quebrar as fileiras partidárias e votar no lado democrata. Não deixa de ser irónico que Brown, cuja eleição representou a maior derrota e humilhação pública da actual administração, tenha sido um dos veículos principais grande vitória da Casa Branca de Obama.
À imagem do que aconteceu após a aprovação da reforma da saúde, os republicanos já vieram a público clamar pela revogação desta reforma, cujo objectivo, segundo os seus proponentes e defensores, será o de regular o sector financeiro, de modo a proteger os cidadãos americanos e evitar novas crises financeiras. Se esta diploma será capaz de o fazer, é algo que só o futuro dirá. Mas uma coisa é certa: com mais esta histórica vitória, Obama não pode ser acusado de nada ter alcançado e realizado durante a sua presidência, que, recorde-se, ainda nem a meio vai.

terça-feira, 13 de julho de 2010

É tempo de contar os votos

Aproximam-se duas importantes votações no Senado norte-americano: a primeira, que terá lugar provavelmente ainda esta semana, sobre a reforma do sistema financeiro americano e a segunda, adiada hoje para a próxima semana, relativa à confirmação da nomeação presidencial de Elena Kagan para o Supremo Tribunal. Em qualquer uma destas situações os democratas precisam de atrair votos de senadores republicanos para que consigam obter uma maioria à prova de fillibuster
Neste momento, e ao que tudo indica, o Partido Democrata já conseguiu reunir os votos necessários para poder cantar uma dupla vitória e, desta vez, ao contrário do que aconteceu na polémica reforma da saúde, conseguindo o selo de uma decisão bipartidária, pois deverá contar com votos de senadores da oposição. No caso da reforma financeira os democratas devem conseguir os voto favoráveis da Senadora Olympia Snowe e do Senador Scott Brown, dois republicanos moderados e que serão suficientes para contrabalançar o surpreendente Senador Russ Feingold, um democrata que é habitualmente um voto fiável para os liberais mas que tem manifestado a intenção de se opôr a esta reforma.
No que diz respeito à confirmação de Elena Kagan, a nomeada por Obama para ocupar o lugar no Supremo Tribunal deixado vago pelo Juíz John Paul Stevens, os democratas têm a hipótese de amealhar um voto "sim" de um republicano no Comité Judiciário do Senado, pois o senador Lindsey Graham, da Carolina do Sul, já deu a entender que poderá aprovar a nomeação daquela que será a terceira mulher na mais alta instituição judicial do país, aliás à imagem do que fez em 2009, quando votou ao lado dos democratas para confirmar a nomeação da juíza Sottomayor, também para o Supremo Tribunal.
Estas duas vitórias, a confirmarem-se, serão importantes para o lado democrata, especialmente quando se aproximam as férias do Congresso e as eleições intercalares de Novembro. Com a lenta recuperação económica dos Estados Unidos, serão realizações como as reformas da saúde, do sistema financeiro e a ambiental (que será o ponto seguinte da agenda democrata) e a suave confirmação de duas nomeadas para o Supremo Tribunal que os democratas poderão utilizar para mostrar obra feita durante os dois últimos anos em que controlaram a Casa Branca, o Senado e a Câmara dos Representantes. Depois, em Novembro, serão contados não os votos de meia dúzia de senadores, mas sim o de vários milhões de americanos.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Um balanço da luta pelo Senado

Faltam menos de quatro meses para as decisivas eleições intercalares de Novembro, onde irá a votos a totalidade da Câmara dos Representantes e um terço do Senado, além de várias eleições estaduais. Porém, de entre todas estas decisões que irão ser tomadas pelos eleitores americanos, aquela que mais importância e atenção mediática tem merecido é a referente ao Senado. Isto acontece porque o cargo de Senador é bastante mais conceituado e relevante do que o de Representante, visto que o mandato destes é mais curto (2 anos contra os 6 de um político eleito para o Senado), e porque existem apenas 100 senadores comparativamente aos 435 lugares na House. Já as escolhas dos governadores estaduais, apesar de importantes, são, na maior parte dos casos, apenas relevantes a nível dos Estados, sem grandes repercussões nacionais.

Actualmente, os democratas possuem uma clara vantagem no Senado, com 59 senadores (incluindo dois independentes) contra os 41 do GOP. Assim, e recordando que o empate não lhes serve - nesse caso, cabe ao vice-presidente o voto decisivo - os republicanos necessitam de "virar" 10 lugares para se tornarem na força maioritária da câmara alta do Congresso. A possibilidade de conseguirem tal proeza, e apesar de faltarem quase quatro meses até os americanos se deslocarem às urnas, existe, mas é improvável. Se tal acontecesse, isso significaria que o Partido Republicano tinha conseguido uma esmagadora vitória a nível nacional, de dimensões superiores à de 1994.

Mas vejamos o panorama actual: é praticamente certo que os republicanos vão conseguir retirar quatro dos 36 lugares em disputa aos democratas - Indiana, North Dakota, Arkansas e Delaware. Além destes, existem outras corridas por lugares controlados pelos democratas onde as sondagens indicam um empate técnico - Illinois (o antigo lugar de Obama), Colorado, Pennsylvania e Nevada. Depois, os republicanos têm ainda hipóteses de conseguir vitórias na Califórnia e em Washignton, mas aqui as suas possibilidades são mais remotas. Em resumo, os republicanos têm 4 Estados democratas assegurados, com boas hipóteses em outros 4 e relativas possibilidades em outros 2. Isto perfaz um total de 10 Estados, que seriam, então, suficientes para conseguirem uma maioria de 51 senadores e constituírem-se como a maioria no Senado.

Contudo, os democratas estão também a lutar por conseguir conquistar lugares actualmente ocupados por republicanos. A sua melhor possibilidade é no Ohio, onde são mesmo ligeiramente favoritos, mas também no Missouri e no New Hampshire existem eleições ao seu alcance. Em menor medida, as disputas na North Carolina, no Kentucky e no Arizona podem tornar-se corridas mais disputadas do que parecem actualmente. Por fim, há o caso especial da Florida, onde o (agora) independente Charlie Crist parece bem lançado para a vitória. Caso tal aconteça, é bem possível que, no Senado, opte por se juntar aos democratas. Assim, este seria um lugar, actualmente nas mãos do GOP, que passaria para a coluna democrata.

Concluindo, para passarem a ser a maioria no Senado, os republicanos necessitam de vencer todas as corridas em que têm possibilidades de destronar um democrata, além de terem de defender com sucesso todos os seus lugares em risco. Depois, caso Rubio não consiga derrotar Crist, precisariam de fazer as pazes com este para evitar que o actual governador da Florida se juntasse aos democratas. Assim, parece claro que o Partido Republicano necessitaria de uma "tempestade perfeita" para conseguir o controlo do Senado. O que não quer dizer que, a manter-se o actual clima político, essa tempestade não se possa mesmo vir a formar. 

quarta-feira, 7 de julho de 2010

A 2ª emenda

A segunda emenda à Constituição dos Estados Unidos da América é o aspecto mais controverso do documento histórico que foi a Bill of Rights. Nesse aditamento, os founding fathers americanos estabeleceram o direito à posse e porte de armas de fogo, de forma a manter-se uma "milícia bem regulada, necessária para a segurança de um estado livre".

Apesar de na altura a medida parecer razoável como forma da nova nação americana manter uma força militar considerável, enquanto não formava um exército regular profissional estabilizado, a verdade é que ainda hoje (quase) todos os americanos têm o direito de possuir armas de fogo, a maioria deles sem qualquer tipo de regulação ou mesmo necessidade de registarem as suas armas - apenas 6 dos 50 Estados da União têm leis que obrigam ao seu registo. Depois, a definição da palavra "guns" é, actualmente, bastante mais larga do que há 220 anos, abrangendo, agora, armas de assalto, algumas delas com lançadores de granada que, obviamente, muito dificilmente poderão ser consideradas armas de defesa pessoal.

Estas questões dividem a sociedade norte-americana, mas a maioria dos cidadãos dos Estados Unidos defende a manutenção da liberdade garantida pela 2ª emenda. A nível político, os democratas tendem a favorecer medidas restritivas ao porte de armas, enquanto os republicanos defendem a liberdade de se possuir armas, como forma de defesa das famílias. Assim, não admira (apesar desta não ser a única razão) que os Estados Unidos sejam o país com mais mortalidade (entre homicídios, acidentes e suicídios) relacionada com armas de fogo, a larga distância da concorrência neste ranking infeliz.

Depois, há uma grande panóplia de pequenas questões em redor deste tema, como as variantes na liberdade de porte de arma visível ou escondida. Recentemente, aconteceram alguns casos caricatos, como os activistas de defesa da 2ª emenda que frequentavam os cafés da cadeia Starbucks com a sua arma bem à vista ou com a aprovação, hoje mesmo, de uma lei no Estado do Lousiana, assinada pelo Governador Bobby Jindal que permitirá o porte de armas de fogo nos locais de culto religioso, com a justificação que esta medida irá auxiliar os crentes que vivem em locais mais perigosos a deslocarem-se até à sua igreja, mesquita ou sinagoga.

Para nós, europeus, este é um dos aspectos mais estranhos e singulares da sociedade americana, como o são o basebol ou a fast-food, mas é preciso contextualizar este fenómeno com a história da América (veja-se o seu processo de independência da coroa britânica) e com a identidade cultural dos norte-americanos, tradicionalmente desconfiados do poder do Estado e contando consigo mesmos para zelar pelos seus interesses e pela sua própria defesa pessoal.

terça-feira, 6 de julho de 2010

De regresso: Petraeus e Byrd

O Máquina Política está de volta, prometendo manter-se activo mesmo durante a silly season que assola o nosso país nos meses de Verão. De qualquer forma, com o aproximar das férias do Congresso americano, é natural que o volume de dados merecedores de destaque diminua ao longo das próximas semanas. Mas, em contrapartida, continua a contagem decrescente para as eleições intercalares de Novembro e os senadores e congressistas em luta pela reeleição irão aproveitar as férias para fazer campanha junto dos seus constituintes.

Durante as últimas duas semanas, em que o Máquina Política gozou merecidas férias, a actualidade americana não foi propriamente muito profícua em motivos de interesse. Ainda assim, a substituição do general Stanley McChristal pelo general David Petraeus e a morte do senador Robert Byrd foram assuntos em destaque e que merecem, agora, a minha atenção, de modo a colocar o blogue em dia.

Depois das polémicas declarações de Stanley McChristal à revista Rolling Stone, não restava a Barack Obama outra solução que não a demissão do comandante das forças americanas e da NATO no Afeganistão, o teatro de guerra que o actual presidente americano sempre assumiu ser a sua principal prioridade militar. Contudo, Obama conseguiu sair desta situação (que, à partida, parecia muito complicada, por tocar com a sempre sensível instituição militar) de forma graciosa e determinada ao substituir McChristal por David Petraeus, a maior estrela das forças armadas americanas depois de ter sido o líder e mentor da estratégia militar no Iraque que conseguiu controlar os insurgentes.

Uma notícia mais infeliz foi a do falecimento do senador democrata pela West Virginia, Robert Byrd, que, aos 92 anos de idade, bateu todos os recordes de longevidade no Senado americano, ao qual pertencia há 58 anos, desde 1952. Byrd era um verdadeiro peso-pesado da política norte-americana, tendo uma curiosa evolução ideológica. De membro do Klu Klux Klan e segregacionista convicto no início da sua carreira, transformou-se num dos mais fiáveis votos liberais na câmara alta do Congresso americano, tendo-se, inclusive, oposto à guerra no Iraque, em 2003. Assim, os democratas perdem um dos seus mais históricos senadores, mas também um lugar no Senado que terão, certamente, muitas dificuldades em manter.