sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

The Vice-president

Ainda na cimeira de ontem, entre as discussões mais sérias, também houve tempo para alguns fait-divers. Uma delas envolveu o Vice-presidente, Joe Biden. Biden, famoso pela sua língua afiada e pela propensão para as gaffes, foi apanhado pelos microfones das câmaras do C-SPAN, numa conversa informal, a dizer a um dos participantes da sessão que ser vice-presidente "é fácil"e que "não tem de fazer nada".
Colaboradores do vice-presidente já vieram assegurar que Joe Biden estava apenas a brincar e que as afirmações não devem ser levadas a sério, lembrando a apertada agenda do nº 2 da Administração, repleta de grandes responsabilidades.
Brincadeira ou não, a verdade é que Biden repetiu apenas uma ideia generalizada na política americana. A própria Constituição não atribui funções ao cargo de vice-presidente, excepto a substituição do Presidente, aquando da impossibilidade ou morte do Chefe de Estado. Lembre-se, também, que, inicialmente, o segundo candidato mais votado nas eleições presidenciais tornava-se o vice-presidente. Ora, isto fazia com que o VP não fosse do mesmo partido do Presidente e não tivesse, assim, a sua confiança política. Com o abolir desta situação, os vice presidentes foram ganhando mais importância e visibilidade. Veja-se, por exemplo, Al Gore e Dick Cheney, os dois últimos vices, que foram muito influentes nas administrações Clinton e Bush, respectivamente.
Porém, ainda resiste a ideia que o vice-presidente é uma figura essencialmente cerimonial e decorativa, existindo mesmo várias anedotas sobre o assunto. Para terminar, deixo aqui uma das minhas preferidas: "Uma mãe tem dois filhos. Um parte para o mar, o outro torna-se vice-presidente. Depois disso, a mãe nunca mais ouviu falar de nenhum deles."

Uma ponte longe demais

Ontem, da muito antecipada cimeira entre Obama, democratas e republicanos do Congresso sobre a reforma do serviço de saúde americano, não saíram, como era esperado, resultados práticos. Parece cada vez mais provável que uma eventual ponte de entendimento entre os dois partidos esteja, já, fora de alcance.
Em sete longas horas, os dois lados esgrimiram os argumentos já conhecidos, mas aqueles que ainda tinham algumas esperanças em ver surgir um acordo ou qualquer espécie de entendimento entre as duas facções, saíram deste evento desiludidos. Barack Obama ainda afirmou que esperará semanas, se assim for necessário, por uma proposta por parte do GOP que permita a negociação, mas é duvidoso que isso venha a suceder.
No evento de ontem, ao contrário do que tinha acontecido há umas semanas no encontro com os republicanos da Câmara dos Representantes, Obama não conseguiu dominar a discussão, nem saiu como grande vencedor neste confronto com os republicanos. Desta vez, os republicanos fizeram os trabalhos de casa e, até pela disposição dos lugares e pela estrutura da reunião, impediram que Obama os reduzisse, praticamente, à insignificância, como sucedeu no encontro anterior.
Em resumo, esta confrontação resultou, essencialmente, num empate entre as duas forças políticas. É certo que Obama e alguns democratas conseguiram boas intervenções, mas o principal objectivo dos liberais, que seria o de conseguir catalogar os republicanos como bloqueadores, pouco razoáveis e incapazes de serem construtivos, parece não ter sido atingido. Isto porque os representantes do GOP, apesar de continuarem a recusar qualquer tipo de acordo ou aproximação com os democratas, conseguiram uma prestação disciplinada e coerente.
Mas, apesar das aparências de cordialidade e responsabilidade dos responsáveis republicanos,a verdade é que o GOP apresenta uma posição irredutível, que passa pelo recomeço de todo o processo e o desperdício de tudo o que foi conseguido até agora. A proposta republicana que foi ontem apresentada apenas cobriria 3 milhões de cidadãos actualmente sem seguro, o que representa apenas uma décima parte dos 30 milhões que seriam abrangidos pelo plano democrata. Ora, isto não me parece uma posição razoável.
Desta forma, parece claro que será impossível qualquer tipo de pacto bipartidário nesta matéria tão importante, o que deixa ao Presidente e aos Democratas apenas uma saída possível para a aprovação desta reforma tão importante: o método de Reconciliação.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

A luta pelo Senado

As eleições intercalares para o Congresso americano aproximam-se rapidamente e são, sem dúvida, o grande destaque do ano político nos Estados Unidos. E, nestas midterms, o maior ponto de interesse serão as eleições para o Senado, onde existe a possibilidade de o GOP voltar a ser a força maioritária. Analisemos, então, as corridas mais importantes desde autêntica batalha pelo Senado:
Arkansas - Este é um dos Estados onde um incumbent democrata está seriamente em risco. A Senadora Blanche Lincoln enfrenta uma muito complicada luta pela reeleição e, segundo as últimas sondagens, deverá mesmo perder o seu assento no Senado.
Pennsylvania - O actual detentor do lugar, Arlen Specter, que em 2004 concorreu e venceu como republicano, mas que, em 2009, mudou para o Partido Democrata, procura agora a reeleição. Porém, o mais provável é não o conseguir, já que tudo indica que o candidato republicano, Pat Toomey, que em 2004 perdeu, por uma pequena margem, a nomeação do GOP para Specter, será capaz, desta vez na eleição geral, de o derrotar.
Colorado - Mais um Estado em que um incumbente democrata tenta a reeleição. Michael Bennet, que substituiu Ken Salazar quando este assumiu o cargo de Secretário do Interior, enfrenta uma dura batalha, mas onde tem hipóteses de vencer. No actual cenário político, o GOP leva alguma vantagem, mas, na minha opinião, este é um verdadeiro toss-up state.
Delaware - Aqui, os democratas teriam hipóteses de manter este lugar que, até Janeiro de 2009, foi de Joe Biden se o seu candidato fosse o filho deste, Beau Biden, Porém, como tal não sucedeu, o GOP deverá conquistar este assento.
Illinois - Nesta eleição disputa-se o lugar que Obama ocupou de 2005 a 2009. A sua perda representaria um rude golpe para o presidente e para os democratas, mais não fosse pela simbolismo. Num Estado fortemente democrata, uma vitória parece estar ao alcance do GOP, numa eleição aparentemente renhida entre o Representante Mark Kirk (R) e o tesoureiro do Estado, Alexi Giannoulias (D).
Missouri - Neste swing-state, é um republicano que se retira, nomeadamente o Senador Kit Bond. Num clima político mais favorável aos democratas, estes teriam uma excelente oportunidade em ganhar o lugar. Mas, com o cenário actual, o favoritismo recai para o GOP. Ainda assim, uma eleição a seguir atentamente, até porque é um dos raros casos onde o Partido Republicano tem de defender um seu assento no Senado.
North Dakota - Esta não será uma verdadeira luta, já que, com a retirada do Senador democrata, Byron Dorgan, o lugar mudará facilmente para as mãos do GOP.
Nevada - Provavelmente a eleição que será mais observada e comentada, dado que se trata do lugar do actual líder da maioria democrata no Senado, Harry Reid. Reid, com índices de popularidade muito negativos, tem uma tarefa muito complicada pela frente. A sua enorme vantagem financeira poderá ser uma mais-valia, mas a melhor notícia para si seria uma candidatura de um tea-partier, que dividiria a Direita e lhe permitiria, muito provavelmente, vencer a eleição.
Indiana - O maior upset Democrata até ao momento. O Senador Evan Bayh decidiu não se recandidatar e deitou por terra as esperanças do Partido Democrata em manter o lugar, que, através de Bayh, parecia ao seu alcance. Assim, o GOP não terá grandes dificuldades em vencer esta corrida.
Ohio - O Senador republicano George Voinovich anunciou a sua retirada do Senado e colocou algum interesse nesta disputa num tradicional battleground state. Porém, o candidato do GOP, Rob Portman, parece o claro favorito para suceder a Voinovich. Os democratas poderão dar alguma luta e tentarem eleger um Senador por este Estado, mas, para já, os republicanos partem à frente.
New Hampshire - Mais um Estado onde se retira um Senador republicano. De qualquer forma, o GOP deve manter este lugar, já que o candidato democrata, Paul Hodes, aparece, nas sondagens, muito aquém do presumível concorrente republicano, Kelly Ayotte.
Kentucky - Aqui também sai de cena um Senador do GOP, neste caso o controverso Jim Bunning. Quem já anunciou que irá concorrer para este cargo é o filho de Ron Paul, Rand Paul. Os democratas têm aqui um long-shot de recuperar um lugar aos republicanos, mas não é um cenário totalmente inverosímil.
California - É um dos Estados mais liberais da América, mas, mesmo assim, a democrata Barbara Boxer não tem a reeleição assegurada. As primárias republicanas serão muito disputadas e só depois de se conhecer o nomeado do GOP é que se poderá ter uma melhor visão do que será a corrida no golden state. Ainda assim, o favoritismo tem de ser atribuído a Boxer.
Flórida - Uma das eleições mais interessantes, mas principalmente pelo que se passa no lado republicano. Com a retirada do Senador LeMieux, o Governador da Flórida, Charlie Crist, avançou para a corrida. Porém, Marc Rubio, Speaker of the House do Estado e bem mais conservador, posiciona-se como o favorito para conseguir a nomeação republicana. O vencedor desta disputa deverá ser o novo Senador do sunshine state.
Nova Iorque (B) - A actual detentora do cargo, Kirsten Gilibrand, não tem a reeleição assegurada, mas, a não ser que o seu opositor do GOP seja o antigo Governador George Pataki, deverá manter-se em funções.
Wisconsin - O Senador Russ Feingold não teria, à partida, grandes dificuldades em conseguir um novo mandato como Senador deste Estado. Porém, no actual panorama político, poderá ter dificuldades acrescidas. Ainda assim, uma derrota de Feingold seria uma enorme surpresa.
North Carolina - O Senador republicano Richard Burr parece ser um incumbente vulnerável e, neste Estado onde Obama venceu surpreendentemente em 2008, a demografia começa a favorecer os democratas. Porém, seria necessária uma campanha praticamente sem erros para colocar em perigo Burr.
Nos restantes Estados em jogo, não haverá novidades, salvo uma monumental surpresa ou escândalo. Assim, as corridas no Idaho, Utah, Arizona, Alasca, North Dakota, South Dakota, Kansas, Oklahoma, Iowa, Lousiana, Alabama, South Carolina e Geórgia ficarão na coluna vermelha do GOP. Já os democratas não deixarão escapar os Estados de Washington, Oregon, Maryland, Hawai, Nova Iorque (A), Vermont e Connecticut.
Vistas todas as disputas pelo Senado, percebe-se que o caminho do GOP para uma eventual maioria não é impossível, mas é, pelo menos, bastante improvável. Apesar de ainda faltarem cerca de oito meses até ao acto eleitoral, a minha previsão é que os Democratas continuem a representar a maioria, mas diminuída, pelo menos, em cinco ou seis lugares.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Obamacare

Barack Obama anunciou o seu próprio plano, no valor de 950 biliões de dólares nos próximos dez anos, para a reforma do serviço de saúde americano. O presidente dos Estados Unidos, ao lançar a sua proposta no dia de hoje, tenciona marcar e dominar a agenda da cimeira de Quinta-feira, cujo propósito é discutir esta temática polémica e que tem dividido o espectro político americano. Além disso, o seu plano - dentro do que tem sido a sua estratégia desde o Estado da Nação - apresenta pontos para agradar a cada um dos partidos.

Porventura o aspecto mais importante desta proposta é a não inclusão da opção pública - um seguro de saúde gerido pelo Estado em concorrência com os privados -, que é uma questão essencial para muitos democratas (como Nancy Pelosi), mas que Obama já tinha dado a entender não ser uma prioridade. Esta decisão pretende agradar aos moderados, mas também há "rebuçados" para os liberais, como os impostos sobre os seguros dos muito abastados.

Com esta jogada, Obama faz passar a bola para o campo do GOP, incentivando-os a apresentar a sua proposta. Porém, os republicanos têm afirmado que pretendem começar o debate do zero, deitando os planos já aprovados nas duas câmaras do congresso, literalmente, para o caixote do lixo. Esta posição do Partido Republicano não me parece razoável, pois após meses de trabalho, nunca se esteve tão perto de uma reforma na saúde do país. O GOP aposta tudo num bloqueio sistemático das propostas democratas, conscientes do momento negativo que estes atravessam nas sondagens e na opinião pública.

Quinta-feira será um dia importante para a resolução (ou não) desta questão fundamental para a política americana, mas, mais que isso, para milhões de americanos sem acesso à saúde. Ainda não se percebeu se a cimeira, que contará com a presença de Obama, dos democratas e dos republicanos terá uma real importância ou se não passará de uma manobra política. O que é certo é que, em questões tão importantes como esta, nenhum dos lados devia jogar à política. Porque com a saúde não se brinca.

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Reconciliation or not

A reforma do serviço de saúde americano está num impasse. Isto porque a vitória de Scott Brown na eleição do Massachussets acabou com a maioria à prova de filibuster que os democratas possuíam no Senado e trouxe um novo problema aos liberais.
Depois de duas propostas de lei diferentes terem sido aprovadas pela Câmara dos Representantes e pelo Senado, esta menos ambiciosa que aquela, é necessário fundir estas dois documentos num só, mas Harry Reid e Nanci Pelosi serão capazes de o fazer sem criar grandes clivagens no interior do partido Democrata. Depois disso, a passagem da legislação na House of Representatives não será um problema, dada a grande maioria democrata nesta câmara.

Visto isto, o verdadeiro desafio é mesmo o Senado, onde os 59 senadores do caucus democrata não chegam para ultrapassar o já anunciado bloqueio republicano. Assim, tem-se falado, cada mais com mais insistência, na possibilidade de Obama e os democratas passarem a reforma da saúde no Senado através da medida de Reconciliação. Porém, este procedimento não faz jus ao nome, já que de reconciliatório nada tem. Consiste na permissão da discussão e votação de uma lei sem a possibilidade de filibuster, o que permite aos democratas fazer passar a reforma da saúde com uma maioria simples.

A escolha deste caminho por parte do partido de Obama teria vantagens e desvantagens. Por um lado, permitiria aos democratas a concretização de uma longa promessa eleitoral e representaria um feito notável na história do país, dando-lhes algo concreto com que pudessem mostrar trabalho e fazer campanha. Por outro, seria uma acção totalmente partidária e contrária à aparente vontade de Obama em chegar a um entendimento com o GOP.

É uma escolha difícil para a liderança democrata. Mas, caso se mantenha a intransigência republicana em impedir um compromisso razoável nesta matéria, talvez Barack Obama decida que a reforma da saúde do país é um tema demasiadamente importante para ser travado por meras razões políticas. Poderia estar a prejudicar as suas possibilidades de ser reeleito em 2012, mas certamente que o colocaria na história dos Estados Unidos da América.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Obama e o Dalai Lama

Barack Obama encontrou-se, ontem, na Casa Branca, com o Dalai Lama. O líder espiritual do Tibete não teve direito a uma recepção de chefe de Estado, mas o seu encontro com Obama também não foi como nos tempos de Bill Clinton, quando este, para evitar reacções chinesas como esta, arranjava verdadeiros estratagemas para o receber. Obama optou por uma reunião pessoal, mas discreta, sem direito a grandes alaridos, mas que não evitou os veementes protestos de Pequim, como sempre acontece quando um presidente americano recebe o Dalai Lama.
Para piorar as coisas, este encontro ocorreu numa altura em que as relações diplomáticas entre os Estados Unidos e a China não são as melhores. Depois das polémicas com a Google, devido ao velho tema da censura da internet pelo governo chinês, e com a venda de armamento americano a Taiwan, esta reunião vem crispar ainda mais os ânimos de Pequim que se vê obrigada a salvar a face internamente, ao mesmo tempo que se sente incomodada com a interferência externa em assuntos que considera ser do seu foro interno.

No fim de contas, Obama pode vir a ter alguns problemas com Pequim, mas, provavelmente, perderia mais, a nível interno, se não recebesse o líder religioso tibetano, já que daria a impressão de estar a ceder perante o colosso asiático e pareceria "soft on human rights". A recepção ao Dalai Lama pode ser uma boa jogada política e humanitária, mas falta ainda compreender, na totalidade, os custos que acarretará.

O Tea Party

Ainda não me tinha referido, aqui, ao já famoso e polémico Tea Party movement que está a revolucionar a política americana e que já se transformou numa das vozes mais efusivas na contestação a Barack Obama e aos Democratas.
O Tea Party - nome baseado no Boston Tea Party que antecedeu a Revolução Americana (no tax without representation) - é um movimento politico-social, formado por cidadãos americanos, que, no início de 2009, protestavam contra os pacotes de estímulos à economia por parte do governo federal. Mas o grande boom deste movimento deu-se no Verão do ano passado, aquando da grande vaga de protestos contra a reforma do serviço de saúde americano. Este grupo, conotado com a ala mais conservadora do Partido Republicano, tem como pilar principal da sua ideologia a luta contra o peso e tamanho do governo, que dizem ser excessivo e uma intromissão na vida dos cidadãos.

Quem se parece estar a assumir como líder deste movimento é Sarah Palin, que foi, inclusive, a principal oradora na recente convenção do Tea Party. É natural que Palin utilize esta agremiação ultra-conservadora para conseguir notoriedade política e colocar-se numa posição que possibilite uma eventual candidatura presidencial, já que não é propriamente uma figura que conte com o apoio e o suporte do establishment do GOP.

Porém, isso não deverá significar que o Tea Party se constitua como uma alternativa ou uma concorrência efectiva ao Partido Republicano. A sua estratégia deverá partir por, gradualmente, ir ganhando espaço e voz dentro do GOP, tentando "arrastar" o partido mais para a direita. Para isso, poderá apresentar ou apoiar candidatos mais conservadores em primárias republicanas, já que a estratégia de concorrer directamente em eleições gerais não faria mais que beneficiar enormemente o Partido Democrata.

A verdade é que o Tea Party conseguiu, em pouco tempo, agitar e alterar o panorama político americano. Mas apenas o futuro dirá se este movimento, profundamente conservador, está aqui para ficar ou se, com o tempo, se irá diluir na sociedade americana que é, maioritariamente, centrista.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Um país dividido

A decisão de Evan Bayh em não se recandidatar a um terceiro mandato como senador do Indiana tem provocado um verdadeiro furacão político nos Estados Unidos. Esta opção surpreendente, por parte de um político centrista, levanta questões sobre o estado actual do panorama político-partidário no país do Tio Sam.

Actualmente, assiste-se a uma maior polarização entre democratas e republicanos e este extremar de posições tem consequências para os políticos moderados, como Bayh, que são obrigados a "desviarem-se" mais para a esquerda, no caso dos democratas, ou mais para a direita, se forem republicanos. Assim, o centro perde espaço e tende a desaparecer em favor das alas mais duras e doutrinárias.

E este facto não se verifica apenas no Partido Democrata. Também no lado republicano se assiste ao mesmo fenómeno. Em Novembro do ano passado, vimos como a candidata do GOP a um lugar de Representante pelo Estado de Nova Iorque foi ultrapassada pela direita por um concorrente conservador. Em 2010, candidatos moderados do GOP também não terão a vida facilitada. Exemplos disso mesmo são John McCain, que enfrenta um opositor nas primárias, ou o Governador da Florida, Charlie Crist, que deverá mesmo perder o lugar para um republicano mais conservador, Marc Rubio.

Este clima fraccionário afecta, também, o presidente. Obama, na sua vencedora campanha presidencial, apontou ao centro e tentou ser abrangente, o que lhe valeu o apoio da esmagadora maioria do eleitorado independente e mesmo de alguns republicanos mais moderados. Mas, agora, é atacado pela direita, que o acusa de ter uma agenda demasiadamente liberal, e por alguns sectores da ala mais esquerdista do seu próprio partido que o acusam de não estar a ser suficientemente ambicioso nas suas propostas.

Costuma dizer-se que é no meio que está a virtude. Se este ditado for verdade também na política, então os americanos terão razões para estarem preocupados , já que o seu país parece cada vez mais dividido politicamente.

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Surpresa: Evan Bayh retira-se

Explodiu hoje uma bomba na política dos Estados Unidos. O Senador Evan Bayh, eleito pelo Estado do Indiana, vai anunciar hoje que não irá tentar a reeleição no acto eleitoral de Novembro.
Bayh, um democrata centrista, que esteve na shortlist para ser o vice-presidente de Obama, dá mais uma péssima notícia aos democratas que terão, desta forma, grandes dificuldades em manter este lugar no Senado. O Indiana, onde Obama ganhou, em 2008, por escassa margem, é, historicamente, um Estado tendencialmente republicano. Apesar disso, Bayh era o grande favorito para vencer a eleição e surgia nas sondagens com uma vantagem confortável para os potenciais concorrentes do GOP.

Ainda não se sabem as razões que levaram Evan Bayh a tomar esta decisão. O senador, com 54 anos e há 12 no Senado, é um político em ascensão no Partido Democrata e as suas ideias moderadas podiam fazer dele uma figura reconciliadora no panorama político actual, muito polarizado e dividido entre liberais e conservadores.

Este inesperado anúncio pode suscitar especulações em relação a uma eventual candidatura de Bayh em 2012, desafiando Obama e atacando o Presidente pelo centro. Não seria um caso virgem - Bobby e Teddy Kennedy desafiaram Johnson e Carter - mas seria inesperado e, a meu ver, com poucas probabilidades de sucesso. Esta decisão de Bayh vem é, certamente, tornar ainda mais negro o cenário dos democratas para as eleições intercalares deste ano.

domingo, 14 de fevereiro de 2010

Duelo de vices

A ronda de talk shows deste fim-de-semana, em programas como o Meet the Press ou o This Week, foi dominada por dois pesos-pesados da política americana: nada mais nada menos do que Joe Biden, o actual vice-presidente, e Dick Cheney, o seu antecessor.
Desde a tomada de posse de Obama, que Cheney tem sido uma das vozes mais interventivas do GOP, não se coibindo de criticar a nova administração, particularmente na sua áreas de especialidade - as relações externas e a guerra ao terrorismo. Dick Cheney que foi, lembre-se, um dos mais poderosos vice-presidentes da história americana - provavelmente mesmo o mais poderoso. Já George Bush tem mantido uma postura mais moderada, abstendo-se de comentar a actuação do seu sucessor, procurando, assim, melhorar a sua imagem junto do público e proteger o seu já muito conturbado legado.

Desta vez, a Casa Branca não perdeu tempo a responder e jogou ao ataque, enviando o próprio vice-presidente em representação da administração. Biden, antigo presidente da comissão de relações externas no Senado, é uma voz conceituada e respeitada nestas matérias e um dos mais aptos para fazer frente a Cheney que, além de vice-presidente, foi também Secretário de Defesa e chief of staff da Casa Branca.

O duelo foi duro e intenso, com acusações de parte a parte. Cheney usou a estratégia habituado dos republicanos, tentando catalogar Obama como sendo soft on terror, ao criticar a sua resposta à tentativa de atentado do Natal e alertando para o perigo de um novo ataque terrorista do género do 11 de Setembro. Biden respondeu, dizendo que Cheneu está errado e mal informado, ao mesmo tempo que defendeu as acções da administração a que pertence, considerando que a estratégia no Iraque está a resultar e lembrando que a reacção ao atentado de 25 de Dezembro foi igual à resposta de Bush aquando do atentado do "terrorista do sapato" em Dezembro de 2001.

Este duelo de titãs pode não ser muito favorável aos GOP. É verdade que Cheney é um expert em matérias de defesa e segurança, mas a sua impopularidade não diminuiu com a sua saída da Casa Branca. Além disso, as sondagens indicam que os americanos estão agradados com a forma como Obama tem lidado com o terrorismo e as relações externas. Esta "cruzada" do anterior vice-presidente permite ainda aos democratas retomarem um dos seus temas preferidos: a crítica aos erros e excessos cometidos durante os anos de Bush e Cheney.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Shutdown em Washington

Washington D. C. está sob um dos maiores nevões da sua história e estas condições atmosféricas dantescas têm paralisado o governo federal americano. Contudo, não é apenas o snowmaggedon - como já é conhecida nos Estados Unidos esta intempérie - a bloquear a administração, já que também o Congresso americano aparenta estar em estado de hibernação. Só que este adormecimento do órgão legislativo por excelência do país não está relacionado com o Inverno intenso, mas sim com factores meramente políticos e eleitorais.
Durante os primeiros meses do seu mandato, Barack Obama tinha índices de popularidade muito altos, mas, durante o Verão de 2009, os seus números começaram a descer. Na altura, parecia um fenómeno normal em todas as presidências, ou seja, o fim do período de "lua-de-mel" entre o presidente e a população. Porém, nesse Verão, começou a surgir um forte sentimento de insatisfação e preocupação dos eleitores em relação à reforma no serviço de Saúde e muitos congressistas, ao voltarem para os seus Estados, durante as férias, viram-se confrontados com forte oposição dos seus constituintes em relação ao processo. Desde aí, os seus índices de aprovação não têm parado de descer...
Esse facto, aliado às derrotas eleitorais dos democratas nos Estados do Massachusetts, New Jersey e Virginia, mudaram completamente o panorama político americano. Desde 2006 que os democratas só conheciam a vitória, mas agora é o GOP que parece estar nas graças do público.
Assim, os republicanos acham ser boa política rejeitarem toda e qualquer medida vinda de Obama e dos democratas, pois os eleitores estão, aparentemente, a penalizar as políticas do partido no poder. Ao mesmo tempo, os democratas do Congresso, em ano de eleições, parecem com medo de fazer o que quer que seja, com receio de serem penalizados nas intercalares de Novembro.
Isto resulta numa espécie de auto-suspensão governativa, com um partido de bloqueio e outro a minimizar ao máximo a sua agenda. Mas, no fundo, quem sai a perder é o país, que, nos tempos conturbados que vive, necessitava, mais que nunca, de uma governação activa, responsável e empenhada em resolver os problemas da nação americana.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

A bitter McCain

John McCain construiu uma sólida e honrada carreira no Senado americano. Era um dos republicanos mais queridos do público e da imprensa, junto de quem possuía a fama de nunca deixar uma pergunta por responder. Em 2000, esteve mesmo muito perto de roubar a nomeação a George Bush, mas a campanha ultra-negativa e de baixíssimo nível montada pela máquina de Karl Rove, antes das primárias da Carolina do Sul, arruinou as suas hipóteses de ser o candidato do GOP, nesse ano.
McCain obteve a alcunha de maverick dentro do Partido Republicano, por ser alguém que não seguia rigidamente as linhas orientadoras do partido, mas antes delineando o seu próprio caminho. As suas posições, em dissonância com o establishment republicano, como em relação à reforma das campanhas ou à utilização da tortura, nunca o fizeram muito popular entre ala mais conservadora do GOP. Porém, nas eleições de 2008, onde o legado Bush prejudicaria qualquer republicano que concorresse à Casa Branca, McCain, dadas as suas credenciais de independência, parecia ser a melhor hipótese do partido.

Contudo, durante a campanha, algo parece ter mudado no senador do Arizona. Organizou uma campanha cinzenta e sem entusiasmo. Depois, e contrariando o seu passado de político responsável e verdadeiro, realizou algumas manobras que foram autênticos golpes políticos. A escolha de Sarah Palin como sua running mate, minando a sua estratégia de criticar a falta de experiência de Obama, ou a sua resposta errática e desesperada à crise económica foram excelentes exemplos disso mesmo.

Mas o pior ainda estava para vir. Após a derrota, de regresso ao Senado, McCain parece uma pálida sombra do que foi em tempos. Deixou de ser o senador bipartidário e preocupado em servir o povo e tornou-se em mais um apologista do "não" de bloqueio à administração. Aparentemente, alterou as suas posições em quase todas as matérias, pois, agora, vota contra propostas que já defendeu.

É certo que perder uma eleição nacional é duro. Voltar à normalidade depois de dois anos debaixo dos maiores holofotes do mundo não deve ser uma experiência nada fácil. Porém, já teve muito tempo para se readaptar à sua vida normal e outros políticos houve que conseguiram regressar e continuar a ser homens de Estado (John Kerry é um bom exemplo). McCain tem de pôr de parte o azedume e a frustração de ter falhado a presidência. O Senado americano não é propriamente um lugar qualquer e certamente que o GOP e o povo americano necessitam de um John McCain no seu melhor, em vez desta versão de menor qualidade, que parece ainda perdida, à procura de encontrar novamente o seu rumo.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Obama assume o jogo

A Casa Branca anunciou que Barack Obama pretende realizar um encontro, com direito a transmissão televisiva, com a liderança democrata e republicana. O tema: a reforma no serviço de saúde - o assunto que tem dominado a agenda desde o início do seu mandato e cuja aprovação pelo Congresso tem-se tornado progressivamente mais difícil.
Obama parece querer aproveitar o momentum que conseguiu com o discurso do State of the Union e com a sua positiva prestação no frente-a-frente com os republicanos da Câmara dos Representantes. Na verdade, este evento vem na senda desse encontro, onde Obama conseguiu dominar a discussão e vencer o debate. Assim, depois de ver os senadores republicanos recusar um encontro do mesmo género com o presidente, Obama virou-se para uma reunião bipartidária e especificamente sobre o tema mais polémico no Estados Unidos.

Obama continua a utilizar a sua nova estratégia de se envolver mais directamente nos problemas que tem em mãos. Depois de ter deixado a condução da reforma no serviço de saúde aos líderes democratas do Congresso, parece agora querer mostrar o seu empenho e a sua dedicação a esta causa, colocando todo o peso da Casa Branca por detrás desta reforma e assumindo ele próprio a liderança do processo. O facto deste encontro ser televisionado não é pormenor nem coincidência. Obama é um político que sabe tirar partido das câmaras, enquanto alguns dos legisladores do Congresso têm mais dificuldades em conseguir bons desempenhos televisivos. Desta forma, Obama espera que a presença das câmaras o ajude a dominar a discussão e a superiorizar-se aos seus opositores.

Com esta iniciativa, Obama demonstra poder de iniciativa para resolver os problemas da América, mostra-se bipartidário ao juntar democratas e republicanos e dá acesso directo aos cidadãos, através da transmissão televisiva. Reúne, assim, todos os ingredientes para uma receita de sucesso. Mas ainda é cedo para cantar vitória, porque, e em política especialmente, nunca se sabe quando um tiro sai pela culatra...

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

2012 já mexe!

Parece que pouco tempo passou desde as eleições presidenciais de 2008, mas já se aproximam a grande velocidade as de 2012. A campanha começará logo depois das intercalares e durará durante todo o ano de 2011. Mas será ainda este ano que os candidatos terão de começar a apalpar terreno e a pôr em andamento as suas máquinas políticas.

É óbvio que isto sucederá apenas no lado republicano, já que, salvo uma enorme surpresa, o candidato democrata será o actual presidente, Barack Obama, que, em princípio não terá adversários nas primárias do seu partido. Mas, se os democratas não terão uma corrida interessante - depois das primárias mais equilibradas e interessantes de sempre em 2008 -, no lado do GOP está tudo em aberto e começam as movimentações de potenciais concorrentes. Por esta altura, os candidatos de quem mais se fala são os seguintes:

Sarah Palin - É o nome que anda, desde 2008, nas bocas do mundo. A jogada seguinte natural de um candidato vice-presidencial seria concorrer no topo do ticket. Porém, Palin é tudo menos uma política convencional. Depois da derrota de McCain, abandonou o cargo de Governadora do Alasca, lançou um livro e juntou-se à equipa da Fox News. Um percurso atribulado que não permite tirar conclusões sobre as suas intenções. Palin é altamente popular entre os conservadores, o que a beneficiaria nas primárias, mas, como é uma figura altamente polarizadora, penso que teria muitas dificuldades em vencer uma eleição nacional.

Mitt Romney - Derrotado por John McCain nas primárias de 2008, Romney parece decidido a voltar a concorrer. Este ex-governador do Massachussetts é um republicano mais moderado, o que o pode favorecer junto dos eleitores independentes do que um conservador de linha dura. Além disso, suas credenciais como homem de negócios de sucesso podem favorecê-lo num cenário de crise económica. Contudo, realizou uma campanha medíocre em 2008 e as suas mudanças de posição em temas como o aborto ou o serviço de saúde incitarão, certamente, as acusações de ser um flip-flopper.

Mike Huckabee - Outro repetente de 2008, onde se assumiu como a maior revelação desse ciclo eleitoral, dando uma boa réplica a McCain pela nomeação do GOP. Nessa campanha, o antigo governador do Arkansas mostrou uma excelente perfomance a fazer campanha e motivou a ala evangélica do partido republicano. Porém, como Palin, é muito conservador, o que o prejudicaria na eleição geral contra Obama.

Newt Gingrich - O seu mandato como Speaker da Câmara dos Representantes, repleto de disputas épicas com a Casa Branca dos Clinton, fica para a história como um dos mediáticos de sempre. Foi o grande responsável pelo ressurgimento do partido Republicano após a vitória de Bill Clinton em 1992, mas encontra-se afastado da política activa há muito tempo, o que o pode prejudicar. Além disso, os seus números de popularidade entre os americanos continuam na zona negativa.

Tim Pawlenty
- O único desta lista que exerce, actualmente, um cargo político. Pawlenty é governador do Minnesota e uma estrela em ascensão dentro do GOP. Em 2008, foi mesmo um dos nomes mais ventilados como candidato a vice-presidente de McCain. É um moderado, eleito por um blue state, mas é ainda pouco conhecido pelo grande público.

Esta é apenas uma possível lista dos candidatos a candidatos. 2012 ainda está longe e não sabemos quem vai ou não concorrer e que outros nomes irão surgir até lá. Não percam, então, as cenas dos próximos capítulos, que prometem ser emocionantes!

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

O GOP ataca o Senado

Até há poucos dias atrás, o Partido Democrata possuía uma super maioria no Senado americano, contando com 60 senadores, o que tornava a sua vantagem à prova de fillibuster. Contudo, agora, o caso mudou de figura. Os republicanos conquistaram um lugar na eleição no Massachusetts - o tal que, durante décadas, pertenceu a Ted Kennedy - e acabaram com este domínio total dos democratas no Senado.
Mas, após as eleições intercalares de Novembro próximo, as coisas podem ficar ainda mais feias para o partido de Obama. Nesse acto eleitoral, onde a votos um terço do Senado, os democratas têm muitos assentos em risco. É praticamente um dado adquirido que os liberais irão perder lugares na câmara alta do Congresso. Deverão manter a o controlo do Senado, mas a hipótese de uma maioria republicana já não é cenário totalmente impossível de suceder.

Claro que ainda faltam oito meses até às midterms e já se sabe que, em política, oito meses são uma eternidade. Actualmente, os democratas têm vários problemas em mãos, mas que podem ainda ser resolvidos em tempo útil para as eleições. Podem e devem conseguir aprovar a polémica reforma no serviço de saúde, o que lhes proporcionaria algo concreto com que pudessem fazer campanha. Depois, se bem que isso não dependa unicamente deles, podem beneficiar de uma eventual melhoria nas condições económicas do país, porque, hoje em dia, os números do desemprego atingem valores historicamente altos e, nestas condições, o partido maioritário costuma ser castigado pelos eleitores.

Sendo assim, pode-se dizer que está tudo em aberto para as eleições de Novembro. Mas, pelo menos por agora, o GOP parece ter o momentum do seu lado.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Deste lado do Atlântico

A política norte-americana, uma temática algo específica, mas sempre muito importante dada a sua influência no resto do mundo, tem recebido uma crescente cobertura mediática no nosso país. Para isso muito contribuiu a emergência do fenómeno Obama que atraiu as atenções globais, Portugal incluído.
Assim, é um facto que a comunicação social portuguesa, de um modo geral, tem aumentado a sua cobertura à política americana. Porém, nem sempre essa mesma cobertura tem a qualidade que se esperaria e desejaria. Essas lacunas foram bem visíveis aquando da campanha presidencial de 2008, com a informação prestada por vários órgãos informativos portugueses a incorrer em erros de análise da corrida e em falta de conhecimento sobre o processo eleitoral americano. Claro que houve excepções à regra. Por exemplo, a cobertura de Rita Siza do Público, foi um bom modelo de um trabalho competente e bem executado.
Já na blogosfera portuguesa a coisa correu melhor e os interessados tiveram a possibilidade de ir acompanhado as incidências da extraordinária campanha de 2008 em locais de grande qualidade, recheados de informação. Por minha parte, fui um atento seguidor de três blogues em particular: o Política2008 de Nuno Gouveia, o Era uma vez na América, de José Gomes André e o Valor das Ideias, de Carlos Santos.
Actualmente, e passado mais de um ano da histórica eleição de Barack Obama, o interesse de alguns portugueses pela política dos Estados Unidos parece não ter esmorecido. Nuno Gouveia e José Gomes André uniram esforços e fundaram um espaço comum, o Era uma vez na América, um local que acompanho fielmente e que admiro pela constante actualização e qualidade da análise. Por outro lado, existe o constante e completo Casa Branca 2008, de Germano Almeida, cuja visita se tornou obrigatória pela diversidade dos temas tratados e pelos conteúdos multimédia, cujo acesso proporciona aos seus visitantes.
Claro que esta é uma análise pessoal das minhas preferências e corro o risco de não conhecer outros locais de interesse sobre esta temática na internet. Se os há, espero vir a conhecê-los, da mesma forma que desejo que esta Máquina Política também se torne uma referência para o leque de entusiastas do universo político do outro lado do Atlântico.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Obama a subir

Segundo esta sondagem da Gallup, Obama parece estar a recuperar algum terreno. Neste estudo, Obama surge com 50% de aprovação do seu trabalho, contra 46% de desaprovação. Depois de 11 dias consecutivos em que os valores da aprovação do seu trabalho estiveram abaixo da barreira dos 50%, verifica-se uma pequena subida nos valores de popularidade do presidente.

Após o discurso do State of the Union e do seu sucesso na sessão de Q & A com os republicanos, era esperado um pequeno salto de Obama nas sondagens. Este primeiro estudo parece vir nesse sentido, mas o mais importante será verificar se esta recuperação será apenas um fenómeno pontual, normal depois de aparições presidenciais muito mediáticas, ou algo de mais concreto, representando reais ganhos de Obama junto do eleitorado americano. A rever, portanto.

Outra sondagem, também da Gallup, indica as preferências partidárias dos eleitores nos 50 Estados americanos. Assim, segundo este trabalho, os democratas contam com uma sólida vantagem em 23 Estados (mais Washington D.C.), além de outros 10 que tendem a "cair" para o seu lado. Já o GOP apenas possui 4 Estados considerados seguros e um leaning. Sobram, então, 12 Estados em situação de empate.

Também nesta sondagem os democratas encontram razões para sorrir. Mas, como já se sabe, estes dados são muito subjectivos. Note-se que, apesar deste estudo ter indicado o Massachusetts como o segundo Estado mais fortemente democrata do país, foi precisamente aqui que o partido de Obama sofreu uma dura derrota, há apenas duas semanas atrás.

The West Wing

Uma das principais razões para me ter tornado um aficionado por política norte-americana foi uma série televisiva. Mas não foi uma série qualquer, mas sim uma das melhores coisas que a televisão já nos proporcionou. Estou a falar de The West Wing, ou os Homens do Presidente, como ficou conhecida em Portugal.

Esta série retrata o dia-a-dia de um presidente americano e do seu staff mais chegado. Apesar de ter como fundo os meandros políticos de Washington - muito bem retratados, diga-se - debruça-se, sobretudo, sobre as relações humanas que se desenvolvem na Casa Branca de Jed Bartlet, um ficcional presidente democrata.

Durante sete temporadas, que correspondem a um duplo mandato de Bartlet na Sala Oval, os telespectadores assistem a todas as peripécias da administração (e são muitas). Esta série, por vezes acusada de ser demasiado idealista, não pretende descrever a política tal como ela é, mas sim como dela devia ser. E vão por mim: era bom que a política e os políticos fossem mesmo assim! Nos últimos episódios, o destaque mudou da Casa Branca para a campanha eleitoral onde se escolhia o sucessor de Bartlet. Esta fase do programa teve a particularidade de possuir várias semelhanças com a campanha real de 2008. Há até quem diga que o candidato democrata da série, interpretado por Jimmy Smiths, foi inspirado em Barack Obama.

Eu, que sou um devorador de séries televisivas, considero-a a melhor que já assisti e a uma longa distância de todas as outras. Os diálogos são absolutamente brilhantes, especialmente nas quatro primeiras temporadas, quando o argumentista era Aaron Sorkin - temporadas essas que venceram, consecutivamente, quatro Emmys para melhor série dramática. Depois, apesar de ter continuado a um nível altíssimo, perdeu-se o "toque especial" de Sorkin. Mas, além da escrita inteligente e sagaz, esta série contava também com um elenco de luxo onde pontificava o nome de Martin Sheen. Mas, excelentes actores como Bradley Whitford, Allison Janney, Richard Schiff ou Rob Lowe realizaram aqui os papeis das suas vidas.

The West Wing é, então, uma série a não perder para qualquer espectador de televisão e absolutamente indispensável para os interessados por política americana! Como uma espécie de teaser, aqui fica um dos meus momentos preferidos do programa, num dos muitos fabulosos discursos de Bartlet (Martin Sheen):