sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

2010 em revista

2010 foi um ano histórico, no que diz respeito à política norte-americana. Foram 365 dias repletos de pontos de interesse, emoções, derrotas e vitórias, tanto para democratas como republicanos. Agora, no último dia do ano, é altura de fazermos um pequeno balanço de tudo o que de mais importante se passou no panorama político dos Estados Unidas da América.
Para o Presidente Obama, 2010 ficará na memória como um ano agridoce. No que diz respeito a realizações legislativas, os últimos doze meses foram-lhe muito prolíferos. A reforma do sistema de saúde é um highlight óbvio, mas também a reforma financeira, o fim do "Don't Ask, Don't Tell", a assinatura e ratificação do novo tratado START, a nomeação de Elena Kagan para o Supremo Tribunal, entre várias outras, fazem deste ano um dos mais conseguidos a nível legislativo da história presidencial americana. Contudo, os índices de aprovação do trabalho do Presidente mantiveram-se, durante todo o ano, em terreno negativo, sendo Obama prejudicado pela impopular reforma de saúde que conseguiu que o Congresso aprovasse, pelo clima de conflituosidade partidária que imperou em Washington, pelo desastre ambiental no Golfo no México, mas, principalmente, pela tímida recuperação económica do país.
2010 foi também o ano do renascimento do Partido Republicano. Depois das enormes derrotas sofridas pelo GOP em 2006 e 2008, muitos previram que os republicanos estavam condenados à irrelevância política. Porém, logo no início do ano, a chocante vitória de Scott Brown no Massachusetts, um dos mais liberais Estados americanos, veio provar que esses vaticínios estavam errados. No fim do ano, as eleições intercalares trouxeram uma vitória republicana de grandes proporções: o ganho de mais de 60 assentos na Câmara dos Representantes permitiu a John Boehner substituir Nancy Pelosi como Speaker; no Senado, a conquista de seis lugares pelos republicanos praticamente impede que os democratas consigam alcançar uma maioria à prova de fillibuster em qualquer votação decisiva, obrigando-os a procurar um compromisso com a minoria republicana na câmara alta; por fim, nas eleições para os governos estaduais, o GOP "roubou" importantes Estados aos democratas, como o Ohio, ou a Pennsylvania, o Michigan ou o Iowa, o que mais que compensou a vitória democrata na Califórnia.
Para esta onda vitoriosa do Partido Republicano contribuiu, e muito, a ascensão de um novo movimento sociopolítico  nos Estados Unidos. Recuperando o nome do Tea Party de Boston, há quase 240 atrás, o movimento conservador que nasceu da contestação ao plano de estímulos à economia e à reforma da saúde de Barack Obama conseguiu, este ano, um destaque e uma importância que foi fundamental para os bons resultados eleitorais do GOP em Novembro, ao animar e mobilizar as bases conservadoras do partido. Todavia, o Tea Party foi também responsável por algumas escolhas duvidosas de candidatos nas primárias republicanas, o que impediu que a dimensão da vitória do Partido Republicano tivesse sido ainda maior.
2010 foi um ano em grande para os seguidores da política que se faz do outro lado do Atlântico, mas, agora, é tempo de nos despedirmos do ano velho e darmos as boas vindas a 2011, que promete também ser um ano bastante interessante. Durante os próximos 365 dias, assistiremos ao início da corrida pela nomeação presidencial republicana, à forma como Obama lidará com uma Câmara dos Representantes controlada pela oposição e a muitas, muitas outras situações que certamente surgirão. Mas, por agora, a ocasião é de celebração. Por isso, boas entradas e um fantástico 2011!

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Lame Duck?

Nos Estados Unidos, quando um político se aproxima do final do seu último mandato, perdendo, dessa forma, influência política, é geralmente apelidado de lame duck. Essa designação é também atribuída ao Congresso, quando este está em sessão depois de se terem realizado eleições e de já ser conhecido o futuro elenco desse órgão. Nesse caso, a actividade do Congresso costuma ser bastante reduzida, não havendo, por norma, lugar para grandes feitos legislativos. Porém, desta vez, as coisas desenrolaram-se de uma forma bastante diferente.
Tudo começou com a aprovação do acordo fiscal bipartidário, uma iniciativa em que Obama apostou muito, mas que, pelos vistos, lhe permitiu retirar elevados dividendos. Depois disso, foram-se seguindo as realizações, com especial destaque para a revogação do "Don't Ask, Don't Tell", uma promessa da campanha eleitoral de 2008 e uma peça legislativa de grande simbolismo para a comunidade homossexual americana. 
Na recta final da sessão do Congresso, antes de os seus membros partirem para as férias natalícias, o Presidente Obama e os democratas conseguiram ainda cumprir um dos seus principais objectivos: a ratificação do New START, o acordo de desarmamento nuclear assinado pelos Estados Unidos e Rússia, em Abril deste ano. Apesar de alguns senadores do GOP terem tentado impedir que fosse ainda este elenco do Senado a votar o tratado nuclear, a sua ratificação acabou por ser feita com um score de 71 votos a favor e 26 contra, bem acima da marca dos 2/3 de votos "sim" necessários para a aprovação.
Durante este período, os democratas apenas não foram capazes de fazer aprovar o DREAM Act, mas Obama já prometeu que, em 2011, a reforma da imigração estará novamente na sua agenda política. Ainda assim, o simples facto de o Partido Democrata ter conseguido levado o DREAM Act a votação é já uma prova da sua capacidade legislativa durante os últimos tempos. Assim, razão parece ter tido o Senador Joe Lieberman quando disse que este Congresso não foi um pato (duck) lame, mas antes saudável e que se fartou de correr.

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

O mais republicano dos democratas no Senado

Uma das mais difíceis vitórias democratas nas últimas eleições intercalares foi a de Joe Manchin, na altura Governador da West Virginia, na disputa por um assento no Senado por esse mesmo Estado norte-americano. Contudo, e como previ na altura, a presença de Manchin na câmara alta do Congresso dos Estados Unidos tem sido pouco proveitosa para o Partido Democrata, já que, até agora, o mais recente senador da West Virginia tem votado sempre em oposição às posições defendidas pelo partido pelo qual foi eleito.
Mais peculiar ainda foi a atitude tomada por Joe Manchin no Sábado passado, ao não comparecer às votações relativas ao "Don't Ask, Don't Tell" e do DREAM Act, tendo alegado que estava num encontro familiar com os seus netos agendado há mais de um ano. Ao dar esta original justificação, Manchin não deixou de referir que o seu voto seria negativo em ambas as propostas, já que se opõe à revogação da política que impede os homossexuais assumidos de servir nas Forças Armadas americanas e à reforma da imigração. Mais uma vez, estas posições de Manhcin são contrárias à plataforma política democrata e, no caso do DADT, caso tivesse marcado presença, o antigo Governador da West Virginia seria mesmo o único democrata a votar "Nay".
Mas Joe Manchin é um caso especial no Senado, já que como foi eleito numa eleição especial devido à morte do anterior detentor do lugar - Robert Byrd - verá o seu lugar estar novamente em jogo já em 2012. Dessa forma, o senador democrata não se pode dar ao luxo de desligar o "modo campanha". E, num estado profundamente conservador e onde o Presidente Obama é altamente impopular, Manchin tem votado ao lado dos republicanos, porque essa poderá ser a melhor forma de  se distanciar da liderança do seu partido e, consequentemente, de defender o seu lugar daqui a dois anos.

domingo, 19 de dezembro de 2010

DADT e DREAM Act KO

O Senado norte-americano, mesmo que em período lame duck, continua muito activo. Ontem, um Sábado, a câmara alta do Congresso votou duas importantes propostas, tendo cada uma recebido um destino diferente: foi aprovada a revogação da política "Don't Ask, Don't Tell" (DADT) e chumbada a reforma da imigração, conhecida como DREAM Act.
A passagem do DADT, a legislação com 17 anos de idade que proibia o acesso dos gays e lésbicas assumidos como tal às Forças Armadas americanas, representou uma surpreendente vitória para Barack Obama e o Partido Democrata, que contaram com o voto favorável de oito  senadores republicanos (um número inesperadamente elevado). Termina, assim, apesar desta revogação ir ainda demorar alguns meses a entrar em vigor, a discriminação dos homossexuais no acesso ao meio militar nos Estados Unidos, com as organizações de defesa dos direitos dos homossexuais a comemorarem um dia histórico para o seu movimento.
Menos sorte tiveram os activistas pela reforma da imigração, já que, também no Senado, o DREAM Act foi rejeitado. Esta proposta, que criaria um caminho rumo à cidadania americana para os imigrantes ilegais que tivessem sido levados para os EUA ainda crianças e que estivessem dispostos a ir para uma universidade americana ou a servir nas Forças Armadas, foi chumbada pela câmara alta, depois de ter passado na Câmara dos Representantes. A liderança democrata ainda conseguiu atrair três votos do GOP, mas o voto contra de cinco senadores democratas (Blue Dogs) impediu a aprovação do DREAM Act.
Estas duas votações serão, na minha opinião, importantes mais-valias políticas para o Partido Democrata num futuro próximo, já que estimularão e atrairão o voto de dois grupos do eleitorado muito relevantes, como são os homossexuais e os hispânicos. Em particular no caso dos eleitores latinos, o GOP continua a escolher um caminho muito sinuoso, já que alienação deste grupo eleitoral em franco crescimento pode ditar a derrota republicana em muitas eleições, com as presidenciais a serem uma delas.
Apesar de a actual sessão do Congresso estar prestes a terminar, com os novos elencos das duas câmaras a assumirem funções já no próximo mês, a liderança democrata tem sido capaz de criar condições para discutir e votar muitas e importantes medidas. Após as votações destas duas propostas, a próxima grande prioridade democrata será o New Start, já que, com o novo Congresso, as suas hipóteses de conseguirem aprovar o tratado nuclear com a Rússia diminuirão bastante. Assim sendo, os próximos dias terão de ser seguidos com muita atenção.

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Acordo fiscal aprovado!

O acordo fiscal formado entre o Presidente Barack Obama e a liderança republicana do Congresso foi aprovado, ontem, pela Câmara dos Representantes, depois de já ter passado sem problemas  no Senado (81 votos a favor, contra apenas 19 votos desfavoráveis). Assim sendo, Obama, que deve promulgar o diploma ainda hoje, conseguiu uma importante vitória legislativa, ainda por cima com o selo do bipartidarismo, pouco depois dos péssimos resultados que o seu partido obteve nas eleições intercalares.
Quem não ficou nada agradado com este acordo fiscal (que, recorde-se, prolongou os cortes de impostos da era Bush e estendeu apoios aos desempregados por mais um ano) foi a ala mais liberal do Partido Democrata, que se insurgiu contra a legislação e também contra o seu próprio presidente, criticando-o por ter faltado à sua promessa eleitoral de não prolongar os cortes fiscais para os mais ricos. Apesar de os republicanos mais conservadores também terem contestado o acordo bipartidário, os membros moderados dos dois partidos foram suficientes para garantir a passagem da legislação.
Para Obama, este acordo pode significar o seu ressurgimento político e marcar o início da sua campanha de reeleição. Ao colocar-se como o principal proponente de um compromisso bipartidário altamente popular entre aos americanos, o 44º presidente dos Estados Unidos pode passar a imagem de um líder moderado, ponderado e que procura e alcança compromissos com a oposição, em claro contraste com as facções mais radicais dos dois partidos e cumprindo, finalmente, aquilo que prometeu durante a campanha de 2008. Esse é, certamente, o objectivo de Obama. Porém, se será essa a percepção dos americanos é algo que teremos de esperar para ver.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Yes, he (still) can

Nos últimos tempos, e em especial desde a estrondosa derrota democrata nas eleições intercalares do mês passado, muitas vozes se têm levantado a vaticinar que Barack Obama não será capaz de garantir a reeleição em Novembro de 2012. Contudo, ainda é muito cedo para fazer tais previsões e, além disso, Obama não está assim em tão más condições para disputar as próximas eleições presidenciais.
É verdade que os índices de aprovação do trabalho de Obama desceram para valores negativos em 2010 e aí se têm mantido durante os últimos meses, sem grandes alterações. Porém, as mesmas sondagens indicam que os americanos continuam a gostar de Obama como pessoa, como o provam as suas taxas de favorabilidade, constantemente acima dos 50%. Mais, o meio de um primeiro mandato presidencial é, tradicionalmente, um período complicado para um Chefe de Estado norte-americano. Aliás, se compararmos a taxa de aprovação de Obama na Gallup com as de Ronald Reagan e Bill Clinton em iguais períodos da sua sua presidência, vemos que o 44º presidente dos Estados Unidos até sai a ganhar: 45% contra 41%. E, ainda por cima, Obama tomou as rédeas do seu país no meio da maior crise económica dos últimos 80 anos, o que dificultou (e de que maneira) a sua missão.
Mas, por outro lado, a grave recessão que assola a América e o mundo até pode, pelo menos em parte, ajudar o Presidente a ser reeleito, já que, em tempos difíceis, é possível que os eleitores prefiram apostar na continuidade, mantendo o Barack Obama na Casa Branca por mais quatro anos, ao invés de colocarem uma figura menos conhecida ao leme do país. É um pouco a lógica do ditado que diz: "better the devil you know than the devil you don't". 
Nesse sentido, o leque de potenciais candidatos republicanos também parece dar vantagem a Obama. Quando as sondagens fazem os habituais match-ups com os principais nomes que deverão lutar pela nomeação do GOP, o sitting president surge sucessivamente à frente. Outro aspecto que pode favorecer Obama é a crescente influência dos movimentos Tea Party e da ala mais conservadora republicana nos processos de nomeação do partido, como se viu em variados casos das recentes eleições intercalares. Assim, é bem possível que o nomeado republicano para 2012 seja um político demasiadamente conservador para o eleitor norte-americano médio, ou seja, alguém como Sarah Palin, que Obama venceria sempre com grande facilidade. Da mesma forma, alguns políticos republicanos moderados, e que podem ser mais perigosos para Obama, como Mitt Romney ou Tim Pawlenty, são capazes de ter a vida dificultada para vencerem nas primárias republicanas.
Quero com isto dizer que a derrota de Obama em 2012 não é algo inevitável. Todavia, também não é certo que conseguirá a reeleição. A toldar-nos a visão ainda subsistem muitas dúvidas e questões por resolver, como a situação económica dos Estados Unidos daqui a dois anos, o candidato apresentado pelo Partido Republicano e a estratégia da campanha de Obama, entre muitos outras. Para já, apenas uma certeza: a corrida será apaixonante!

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

TIME Person of the Year: Mark Zuckerberg

Mark Zuckerberg, criador e CEO da famosa rede social Facebook, que conta já com mais de 500 milhões de aderentes em todo o mundo, foi escolhido pela conceituada revista Time como a principal figura de 2010, sucedendo assim ao Presidente da Reserva Federal Americana, Ben Bernanke.  O movimento político Tea Party conquistou o segundo lugar na lista deste ano, enquanto que Julian Assange, criador da Wikileaks ficou com o último lugar do pódio. Depois do lançamento do filme Social Network, baseado na história da sua vida e na criação da rede social mais conhecida do planeta, e que o levou a entrar no clube dos bilionários com apenas 23 anos, este está a ser um ano verdadeiramente em cheio para Zuckerberg.

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

2012 começa a aquecer

A pouco mais de um ano do início das eleições primárias que irão decidir quem será o nomeado republicano para disputar a eleição presidencial com Barack Obama, ainda ninguém anunciou oficialmente a sua candidatura. Contudo,  é já certo e sabido que nomes como Mitt Romney, Tim Pawlenty, ou John Thune irão ser candidatos. Mas, apesar de os lançamentos oficiais das suas candidaturas só deverem surgir lá para o fim do Inverno, parece que a corrida pela nomeação do GOP já teve início.
Com a discussão do acordo entre Barack Obama e os republicanos do Senado sobre os cortes fiscais no centro das atenções, os candidatos a candidatos fazem questão de marcar a sua posição. E uma das posições mais surpreendentes foi a assumida por Mitt Romney, que veio a publico criticar e opor-se a este acordo entre os dois lados (bipartidário até nas críticas provenientes dos dois partidos). Romney, antigo Governador do  liberal Massachusetts e, em tempos, visto como um moderado, parece estar a preparar terreno para as primárias, ao colocar-se bem à Direita, de forma a, quem sabe, defender-se da eventual entrada de Sarah Palin (que também condenou este acordo) na luta pela nomeação. 
Por sua vez, John Thune, Senador do Dakota do Norte e apoiante do tax cut deal, aproveitou o seu assento no Senado para daí criticar, implicitamente, a posição de Mitt Romney relativamente a esta questão, lembrando que aqueles que se opõem a este acordo, então são favoráveis a um aumento de impostos. Com esta táctica, Thune tenta colocar Romney (e Palin) numa posição desconfortável face ao eleitorado conservador, sempre avesso a subidas de impostos. 
Estas escaramuças iniciais podem servir para dar alguns sneak peaks daquilo que será a contenda pela nomeação republicana. Pode parecer que ainda estamos muito longe de 2012, mas a verdade é que as hostilidades podem ser abertas a qualquer momento. Veja-se, por exemplo, que foi hoje marcado para 7 de Junho o primeiro debate das primárias republicanas. Não falta assim tanto tempo quanto isso.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

A 1a Família acende a Árvore de Natal nacional

Na capital dos Estados Unidos, há tempo para outras coisas que não a política. Ontem, a família Obama acendeu a árvore de Natal nacional, num momento descontraído e longe das polémicas do dia-a-dia do presidente norte-americano.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Um dia agitado no Congresso

Apesar de o actual elenco do Congresso americano estar a nos seus últimos dias de vida, já que no próximo ano entra em funções o figurino que resultou das eleições intercalares de Novembro passado, a verdade é que no Capitólio a actividade tem sido mais que muita, com vários e importantes temas a merecerem a atenção e o debate dos legisladores americanos.
Hoje mesmo, o líder da maioria democrata no Senado, Harry Reid, agendou uma votação relativa ao fim da política "Don't Ask, Don't Tell", (DADT) que veda o acesso às Forças Armadas americanas aos aspirantes que assumam ser homossexuais. Contudo, a revogação do DADT falhou, já que, tendo Reid marcado a votação antes de ter chegado a um acordo final com os senadores republicanos dispostos a votar a favor da medida, o resultado final ficou aquém dos 60 votos necessários para a aprovação do diploma. 
Noutro tema e noutra câmara do Congresso, os democratas tiveram mais sorte, já que o DREAM act, o projecto de lei que prevê a obtenção da cidadania americana para os imigrantes ilegais dispostos a frequentar a universidade ou a servir nas forças armadas, foi aprovado pela Câmara dos Representantes. A votação seguiu, em grande parte, as linhas partidárias, mas 38 democratas votaram contra, enquanto que 8 republicanos mostraram-se favoráveis ao diploma. Agora, o DREAM act passa para o Senado, que terá também de se pronunciar sobre esta legislação.
De volta ao Senado, hoje foi também votado um pacote legislativo que, a ser aprovado, providenciaria assistência médica aos voluntários, operários e residentes de Nova Iorque  que ficaram doentes em consequência da inalação de fumos e gases tóxicos provenientes do Ground Zero, depois da queda das Torres Gémeas. Mais uma vez, a votação foi em consonância com as fileiras partidárias, com os democratas a votarem a favor e os republicanos, que têm levantado dúvidas relativamente à forma como seriam pagos os 7,4 biliões de dólares que custariam esta proposta, a oporem-se e, consequentemente, a impedirem a sua aprovação.
Enquanto isso, o badalado acordo fiscal entre Barack Obama e os republicanos continua a dar muito que falar, já que ambos os lados da barricada estão a colocar muitos entraves a este compromisso bipartidário. Mas as críticas mais ferozes vêm mesmo do lado democrata, em especial dos congressistas do Partido Democrata que ameaçam não aprovar a proposta que o seu presidente defende. Esta posição de força dos liberais não significa a morte do acordo, mas poderá obrigar a que Obama e a liderança republicana no Senado sejam obrigados a fazer algumas alterações no compromisso que alcançaram.
Todos estes casos deixam bem claro que a política de Washington está cada vez mais polarizada e entrincheirada na rígida doutrina ideológica e partidária, sobrando assim pouco espaço para a moderação e o entendimento entre democratas e republicanos. Assim, numa altura em que os republicanos estão perto de assumirem o controlo da Câmara dos Representantes, mantendo-se o Senado e a Casa Branca nas mãos dos democratas, esta situação pode tornar os Estados Unidos um país ingovernável, ou, pelo menos, impedir que alguma política ou programa de relevo sejam realizados nos próximos dois anos.

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Primeiras previsões para 2012

Numa altura em que ainda se analisam as eleições intercalares deste ano, começam já a surgir as primeiras previsões para 2012. Como seria de esperar, as presidenciais têm merecido a grande maioria das atenções, mas, hoje, o conceituado site The Cook Political Report lançou os primeiros indicadores para as outras corridas que terão lugar daqui a dois anos, para o Senado, Câmara dos Representantes e Governadores estaduais.
Apesar de ser ainda muito cedo e de faltarem alguns dados para a análise ser mais conclusiva, em especial conhecer a decisão de muitos políticos que estão a ponderar a reforma e os resultados do processo de redistricting, este ponto da situação que é feito por Charlie Cook permite retirar as primeiras ilações daquilo que poderão ser as eleições de 2012, onde os republicanos terão de defender muitos lugares conquistados em 2010 na Câmara dos Representantes, enquanto que no Senado a grande maioria dos assentos em jogo pertencem a democratas.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Obama procura consenso fiscal

Uma das ideias principais da campanha presidencial de Barack Obama foi relativa aos cortes fiscais de George W. Bush que expiram no fim deste ano. Enquanto candidato à Casa Branca, Obama prometeu manter esses cortes para aqueles que ganhassem menos de 250 mil dólares por ano, ou seja, para a classe média, mas não os renovar para quem estivesse acima desse escalão de rendimentos. 
Contudo, o actual panorama político americano, depois da derrota eleitoral do mês passado e a consequente perda do controlo da Câmara dos Representantes, pode obrigá-lo a ceder nesse intento, indo de encontro aos desejos republicanos, que defendem que os cortes fiscais devem ser prolongados para todos os americanos. Nos últimos tempos, chegou a ser ventilado que o acordo poderia passar pela subida do escalão que veria os seus tax breaks terminarem, passando dos 250 mil que Obama propunha, para o patamar de 500 mil dólares, ou mesmo um milhão. Contudo, segundo as informações que começam a passar para o exterior, o mais provável é que a totalidade dos cortes de impostos sejam renovados, com os republicanos a permitirem que surjam mais subsídios e apoios para os desempregados, numa altura em que o desemprego teima em não diminuir nos Estados Unidos.

Obama será certamente muito criticado pela Esquerda do seu partido, que não ficará nada agradada com esta cedência do seu Presidente. E, de facto, parece-me que este processo não foi muito bem conduzido pela Casa Branca, que desde há muito tempo deu a entender que não teria capital político para contrariar os republicanos. A meu ver, os democratas perderam aqui uma oportunidade de se baterem mais afincadamente com o GOP e de salientarem as contradições da oposição que, ao mesmo tempo que exige a redução do défice federal, defende a redução de impostos para os mais ricos. Além disso, a opção defendida por Obama, de manter os cortes de impostos para a classe média, mas deixá-los expirar para os mais abastados, é a preferida pelos cidadãos americanos, como indicam estas sondagens.

Por outro lado, esta semi-derrota democrata, pode permitir um pequeno desanuviamento das relações entre os dois partidos, levando a que Obama consiga fazer passar outros elementos do seu programa no Congress, como o tratado START, ou o fim do "Don't Ask, Don't Tell". Depois da pesada derrota nas intercalares, Obama prometeu esforçar-se por trabalhar e cooperar com a oposição, e este parece ser o primeiro passo nesse sentido, demonstrando que também é capaz de ser reconciliador, ponderado e bipartidário. O que, convenhamos, quando as eleições de 2012 estão aí à porta, são qualidades que o ajudarão, e muito, com o eleitorado.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Obama faz visita surpresa ao Afeganistão

O presidente norte-americano, Barack Obama, aterrou hoje, de surpresa, no Afeganistão, mais precisamente na base aérea de Bagram, a cerca de 60 quilómetros de Cabul. A recebê-lo estavam as duas mais altas autoridades militares e civis dos Estados Unidos no país, o General David Petraeus e o Embaixador Karl Eikenberry. Obama deve permanecer apenas cerca de três horas em território afegão, já que a deslocação prevista até à capital do país, onde se encontraria com o presidente do Afeganistão, Hamid Karzai, foi cancelada por razões meteorológicas. Assim sendo, o Commander-in-Chief terá de permanecer na base área, onde aproveitará a oportunidade para visitar e condecorar os feridos que se encontram  no hospital de campanha aí sediado. Além disso, Obama e Karzai falarão por teleconferência, impossibilitados que estão de se encontrarem pessoalmente.
Esta visita do presidente norte-americano terá vários motivações. Em primeiro lugar, o líder supremo das forças armadas cumpre o seu dever de apoiar os milhares de soldados americanos que terão de passar mais um Natal longe de casa e das suas famílias. Depois,  convém a Barack Obama ter um contacto mais próximo com a realidade no terreno,  num momento determinante para o futuro da presença americana no Afeganistão, já que os EUA estão a fazer a revisão da sua estratégia para este conflito, com o propósito de, em Julho de 2011, iniciarem o projecto de transferência de poder para os afegãos. Por fim, as recentes e polémicas revelações atiraram ainda mais achas para a fogueira no que diz respeito à relação (já de si tensa) entre Hamid Karzai e os americanos, o que poderá ter levado Obama a querer reunir-se pessoalmente o chefe de Estado afegão.
Pela segunda vez este ano, Barack Obama visita o Afeganistão, numa prova do empenho do presidente americano naquela que sempre considerou ser a guerra onde os Estados Unidos deviam concentrar os seus esforços e atenções. Desde que chegou ao poder, já por duas vezes Obama reforçou o contingente militar norte-americano no Afeganistão. Contudo, nem o aumento dos meios humanos, nem o comando de Petraeus, o mestre das surges, têm conseguido melhorar substancialmente a situação das forças americanas e da NATO no país. Por isso, não admira que na recente cimeira da NATO, em Lisboa, os americanos e os aliados tenham (timidamente) começado a preparar o terreno para a saída deste longo conflito que se arrasta há já nove anos, mas sem fim à vista.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

A prova de fogo de Hillary

A vida de Hillary Clinton à frente do Departamento de Estado estava a ser, até agora, bastante fácil, até demasiado fácil, diriam alguns. Como líder da diplomacia norte-americana a antiga Primeira-Dama parecia ter conseguido um sweet deal: uma posição de grande visibilidade e importância, mas pouco propícia a polémicas e intrigas políticas. E, de facto, isso confirmou-se nos primeiros tempos de Clinton no Departamento de Estado, com os seus índices de favorabilidade a subirem exponencialmente, sendo nesta altura a figura mais popular da Administração Obama.
Contudo, também Hillary teria, em algum momento, de ser posta à prova e experimentar o sabor da controvérsia. E esse ponto parece ter chegado com a divulgação de cerca de 250 mil documentos diplomáticos americanos pela WikiLeaks. Esta colossal fuga de informação, que o Ministro dos Negócios estrangeiros já caracterizou como "o 11 de Setembro da diplomacia", é um enorme embaraço público para o Departamento de Estado norte-americano, que depende, em larga medida, da confiança em canais de comunicação seguros e fiáveis para realizar as suas funções.
A Secretária de Estado norte-americana já denunciou e repugnou a divulgação das comunicações diplomáticas, que, na minha opinião, representa um verdadeiro ataque aos Estados Unidos, como também o foram as anteriores revelações do WikiLeaks, sobre o Afeganistão e o Iraque. Apesar de ser um defensor da liberdade de informação e de imprensa, penso que quando estão em jogo segredos de Estado, as voláteis relações diplomáticas e internacionais, ou mesmo a vida de seres humanos, revelações como estas são irresponsáveis, negligentes e, no fundo, criminosas.
Mas isso não desculpa o falhanço total do Departamento de Estado e da intelligence americana em evitar esta fuga de informação de dimensões nunca vistas. A Secretária de Estado, em particular, não fica nada bem na fotografia e vai ter uma árdua tarefa para restabelecer a imagem  e credibilidade do seu departamento no mundo, pois uma diplomacia que é incapaz de guardar os seus segredos é uma diplomacia ineficaz e inoperante. Mas Hillary Clinton já provou, diversas vezes, que gosta de um bom desafio e até poderá fazer deste contratempo uma oportunidade para provar as suas qualidades. A ver vamos.