domingo, 31 de janeiro de 2016

Hillary a tentar evitar que 2008 se repita

Há oito anos como agora, Hillary Clinton era a grande favorita a conseguir a nomeação presidencial pelo Partido Democrata. Contudo, um terceiro lugar no Iowa, perdendo para um surpreendente Barack Obama e para um John Edwards que cedo cairia em desgraça, fez soar os alarmes na Hillaryland e acabaria por marcar o início do fim das hipóteses da antiga Primeira-Dama nesse ciclo eleitoral.
Desta vez, Clinton é novamente vista como uma a inevitável nomeada democrata, mas voltou a ver a sua suposta imbatibilidade ser posta em causa por um improvável Senador. Em 2016, é Bernie Sander que com uma campanha em muito semelhante à de Obama (pela mensagem de mudança do status quo e pelos eleitores que atrai - principalmente os jovens) ameaça Hillar pela sua Esquerda. 
No New Hampshire, Bernie Sanders está bem lançado para derrotar a ex-Secretária de Estado, mas, no Iowa, Hillary tem surgido à frente nas sondagens e conta derrotar o Senador do Iowa para evitar que este ganhe momentum e que se diga que it's 2008 all over again. Até porque, de facto, 2016 não é em nada semelhante com a eleição de há oito anos. Sanders é um candidato mais marginal do que Obama (auto-denomina-se um democrata socialista, uma denominação com uma conotação muito negativa nos Estados Unidos), ao contrário do actual Presidente não conseguiu apoios no establishment do Partido Democrata e não tem um aparelho montado a nível nacional como aquela formidável estrutura que apoiava Obama em 2008.
Apesar disso, Bernie Sanders montou uma eficaz campanha, concentrando-se nos dois primeiros Estados das primárias, o Iowa e o New Hampshire, com uma mensagem populista anti-Wall Street que vale cada vez mais votos e com uma aposta nos grassroots que o levou a encher comícios com vários milhares de apoiantes entusiastas um pouco por todo o lado onde passou. Com isso, tornou-se uma ameaça para Hillary Clinton que se viu forçada a gastar mais tempo e dinheiro nos early states do que aquilo que eventualmente gostaria. 
Hoje, na véspera do início das primárias, percebe-se que é muito possível que Sanders consiga mesmo uma dupla vitória no Iowa e no New Hampshire, algo impensável até há pouco tempo atrás. Ainda assim, e mesmo que isso seja um grande contratempo para Hillary, é pouco provável que não seja a esposa de Bill Clinton a nomeada democrata, já que, ao contrário do seu principal adversário, conta com uma estrutura a nível nacional que lhe permitirá recuperar rapidamente dos desaires que possa sofrer nas primeiras contendas. Além disso, conta com o apoio em peso de todo o seu partido, o que lhe garante, à partida, uma grande vantagem nos superdelegados, que podem decidir a corrida caso esta seja muito equilibrada. Finalmente, é inegável que Hillary Clinton é uma das mais bem preparadas candidatas presidenciais da história do país, como recordou o New York Times no editorial em que anunciou o seu apoio à antiga Senadora do Estado de New York.
Assim, deveremos assistir a uma interessante disputa na fase inicial das primárias democratas, a começar já amanhã, no Iowa. Com as sondagens a mostrarem os dois adversários muito próximos, é difícil prever quem vencerá. O formato de caucus pode favorecer Bernie Sanders, cujos apoiantes se encontram muito motivados, mas Hillary conta com o apoio do eleitorado mais moderado e com um nome reconhecido por praticamente 100% dos eleitores.
Seja como for, e ao contrário do que sucede do lado republicano, parece-me que o Iowa não será decisivo na escolha do nomeado democrata para a corrida à Casa Branca. Isto porque, como expliquei atrás, parece-me muito improvável que Bernie Sanders consiga mais do que retardar a vitória de Hillary. Até porque o Senador do Vermont terá como principal objectivo obrigar Clinton a "manter-se honesta" na sua campanha, ou seja, fazer com que a presumível nomeada se mantenha ancorada a um discurso mais liberal (leia-se, de Esquerda) do que seria previsível caso não tivesse oposição nas primárias democratas.
Falta falar de Martin O'Malley, ex-Governador do Estado do Maryland, cuja campanha nunca descolou e que tem tido números insignificantes nas sondagens. À espera de um milagre que lhe permita obter oxigénio para se manter na corrida, O'Malley parece remetido para a irrelevância nestas eleições. 

Para o fim, fica a minha previsão para amanhã. Se não houver surpresas, acredito que Hillary ganhará, mas com uma curta margem para Bernie Sanders. O'Malley não deverá passar dos 3%.

A última sondagem

Foi conhecida na noite de ontem (madrugada em Portugal), a última sondagem do Des Moines Register antes da realização do caucus do Iowa. Este estudo de opinião, com larga tradição nas eleições presidenciais norte-americana, tem o hábito de ser muito certeiro e é sempre aguardado com muita expectativa pelas campanhas, que esperam sempre receber boas notícias para o esforço final antes de os eleitores se deslocarem até aos locais de voto durante o dia de amanhã. Este ano, os resultados foram os seguintes:

Democratas
Hillary Clinton - 45%
Bernie Sanders - 42%
Martin O'Malley - 3%

Republicanos
Donald Trump - 28%
Ted Cruz - 23%
Marco Rubio - 15%
Ben Carson - 10%
Rand Paul - 5%
Chris Christie - 3%
Jeb Bush - 2%
Carly Fiorina - 2%
Mike Huckabee - 2%
John Kasich - 2%
Rick Santorum - 2

Sem surpresas, estes números vão de encontro ao esperado e deixam antever uma disputa muito apertada no lado democrata, com Hillary Clinton a perder muito terreno nos últimos dias e Bernie Sanders a ameaçar uma surpresa (sobre a corrida democrata, falarei mais em pormenor no próximo post). 
Nas fileiras do GOP, Trump continua na liderança, mas os níveis de participação serão cruciais. Uma afluência em massa deverá garantir uma vitória do entertainer, enquanto que números mais baixos de participação poderão significar boas notícias para Ted Cruz. Ben Carson consegue melhores números do que se estaria a contar, ao mesmo tempo que os dois últimos vencedores do caucus (Huckabee em 2008 e Santorum em 2012) não passam dos 2% das intenções de votos.
Amanhã confirmaremos se estes números batem certo com os resultados finais.

sábado, 30 de janeiro de 2016

O Iowa entre Trump e Cruz


A dois dias do caucus do Iowa, o arranque oficial das primárias presidenciais de 2016, a corrida pela nomeação republicana continua marcada pelo fenómeno Donald Trump, que tem ofuscado os restantes candidatos (incluindo democratas) e fazendo deste ciclo eleitoral um dos mais mediáticos de todos os tempos.
Sendo um campeão de notoriedade, Trump até se deu ao luxo de faltar ao último debate televisivo antes do Iowa, evitando um novo frente-a-frente com um dos seus (muitos) ódios de estimação, a pivot da Fox News, Megyn Kelly. Todavia, e apesar de nas sondagens a nível nacional The Donald dominar a toda a linha com grande vantagem, a sua liderança no Estado do Iowa é relativamente curta, com a última sondagem a indicar uma margem de apenas 4% a separar o mogul do imobiliário do Senador Ted Cruz. 
Tudo indica, por isso, que a corrida no Iowa será bastante renhida, até porque o modelo da votação, através de caucus - uma espécie de assembleias onde os apoiantes de todos os candidatos tentam atrair os eleitores e o voto é feito de forma informal, como, por exemplo, de braço no ar - resulta, normalmente, num reduzido universo eleitoral, mais restrito a eleitores muito motivados e tradicionalmente empenhados no mundo político-eleitoral. Ora, esse eleitor-tipo é diametralmente oposto ao perfil do votante em Trump, que costuma atrair eleitores dispersos, pouco motivados politicamente e muito propícios a fazer parte da abstenção, e esse facto pode prejudicar o resultado de Donald Trump no Iowa.
Ainda assim, tudo indica que Trump, mesmo que não vença, consiga um bom resultado e continue, depois dos caucus, a dominar o cenário da batalha pela nomeação. Por outro lado, há candidatos que dependem de uma boa prestação na noite da próxima Segunda-feira se querem manter viva a sua campanha. A começar logo por Ted Cruz, actualmente o principal rival de Trump, mas que precisa de conseguir um bom resultado no Iowa, um Estado que lhe é mais favorável do que o New Hampshire, palco da primeira primária, a 9 de Fevereiro. Se não vencer, Cruz necessita de um score sólido, para não perder momentum e manter-se como a alternativa mais viável a Donald Trump.
Também Marco Rubio, que vem surgindo no terceiro posto, conta com uma prestação positiva no dia 1, de preferência com uma votação acima de 15%. O senador da Florida precisa de um resultado desse género para se manter como um candidato do top tier e possivelmente vir a beneficiar das desistências dos candidatos que consigam fracos resultados no Iowa e no New Hampshire. Com o seu perfil "misto", de candidato que é bem visto pelo establishment, mas que o eleitorado não identifica com o business as usual de Washington, Rubio é um dos concorrentes que mais pode vir a ganhar quando a actual dispersão dos votos por quase uma dezena de candidatos terminar para dar lugar a um campo mais restrito de pretendentes à Casa Branca.
Ben Carson, cuja campanha se encontra em queda livre, espera ainda por um balão de oxigénio que o mantenha mais algum tempo na corrida. Contudo, se ficar pelos low single digits (e as últimas sondagens não lhe dão muito mais do que isso), é bem possível que a sua campanha não resista muito mais, até porque o New Hampshire não lhe é terreno favorável. Seja como for, o Dr. Carson está condenado a ser um also run neste ciclo eleitoral.
Por outro lado, Jeb Bush, Chris Christie e John Kasich deverão ter um mau resultado no Iowa, ainda que isso seja um desfecho normal, já que estes dois candidatos, representantes da ala mais moderada e tradicional do Partido Republicano, estão a guardar-se para o New Hampshire, onde o eleitorado, normalmente menos conservador, lhes dá mais garantias de um resultado digno e que lhes permita afirmarem-se como players nestas primárias. Também Rand Paul, que nunca se conseguiu afirmar durante a pré-campanha, poderá tentar uma pequena surpresa no granite state, já que este Estado costuma premiar candidatos da ala libertária, como ficou demonstrando em 2012, quando o seu pai, Ron Paul, alcançou um notável segundo lugar, apenas atrás de Mitt Romney.
Sobram, assim, os candidatos marginais (se bem que esse adjectivo também possa ser endereçado a, pelo menos, Rand Paul) e que cujas campanhas não deverão passar de asteriscos quando se contar a história das presidenciais de 2016: Carly Fiorina, Mike Huckabee, Rick Santorum e Gil Gilmore não deverão "contar para o totobola" quando se souberem os resultados do Estado do Iowa na noite da próxima Terça-feira.
Para o fim ficam as minhas previsões para a noite eleitoral republicana. Com o momentum do seu lado, Donald Trump deverá bater Ted Cruz, ainda que a margem de vitória possa ser mais curta do que dizem as sondagens, devido ao "efeito caucus" que referi anteriormente. Em terceiro, deve ficar Marco Rubio a uma distância segura do resto do pelotão.
Se estes resultados se confirmarem, deverão ser estes três candidatos e mais um quarto concorrente que saia do grupo dos moderados (aquele que conseguir um melhor resultado no New Hampshire) a disputarem durante as próximas semanas (e talvez meses) a nomeação presidencial republicana. A corrida promete!

Amanhã farei o lançamento da corrida democrata.