sexta-feira, 30 de março de 2012

Reforma da Saúde: o juiz decide

Depois de transitar por diversos tribunais inferiores, a reforma do sistema de Saúde norte-americano, a maior vitória legislativa da presidência de Barack Obama, chegou, finalmente, ao Supremo Tribunal dos Estados Unidos. Agora, os nove juízes da mais alta instância jurídica do país irão decidir se a Obamacare é ou não constitucional. Mais que uma disputa jurídica, esta é uma contenda política, com vastas consequências, em especial em ano de eleições presidenciais.

No debate no Supremo Tribunal, o ponto mais discutido desta lei tem sido o individual mandate, ou seja, o facto de a reforma da Saúde obrigar todos os cidadãos americanos a comprar um seguro de saúde, algo que os conservadores consideram ser uma intromissão do Estado na liberdade pessoal do indivíduo. Nestas audiências, tem dado que falar o "argumento dos brócolos", que aponta para o precedente criado por esta lei: "se o Estado pode obrigar alguém a comprar um seguro de saúde também pode obrigar o cidadão a comer brócolos".

Num tribunal altamente politizado, ou não fossem os seus juízes nomeados pelo Presidente, é esperado que os juízes liberais votem favoravelmente e que os juízes conservadores optem por votar contra a healthcare reform. Assim, o tradicional fiel da balança do Supremo Tribunal, o juiz Anthony Kennedy, nomeado por Ronald Reagan pode desempenhar, uma vez mais, o papel de voto decisivo nesta contenda. Mas, pelo que se tem percebido das suas perguntas e intervenções no debate com o Solicitador-Geral dos EUA (que representa o Governo em audiências no Supremo Tribunal), Kennedy deverá estar mais inclinado a rejeitar a reforma da Saúde.

Contudo, resta ainda uma outra esperança para a Administração Obama. O Chief Justice, John Roberts, que pontualmente também já alinhou com a facção liberal do Tribunal (maioritariamente acompanhando a decisão de Kennedy, resultando isso numa votação de 6-3), estará, diz-se, a ponderar a possibilidade de votar a favor da Obamacare, esperando apenas por um bom argumento para que possa justificar essa sua decisão. Ora, o Solicitador Geral, Donald Verrilli, poderá ter arranjado o argumento que Roberts procurava para poder votar a favor da reforma da Saúde. Ao destacar a singularidade da questão da Saúde, visto que todos os cidadãos são consumidores de serviços de Saúde, quer tenham seguro ou não. Assim, como quem não tem seguro de saúde necessita de dispendiosos serviços de saúde, nomeadamente nas urgências hospitalares, essa factura acaba sempre por ser paga pelos consumidores de seguros de saúde, através de prémios mais altos.

A decisão final relativamente a este processo ainda deve demorar algumas semanas, mas é certo que o resultado terá um grande impacto na corrida eleitoral de 2012. É ainda difícil dizer que desfecho interessa a quem, porque, por exemplo, em caso de revogação da reforma da Saúde, isso tanto pode prejudicar Obama, que vê a sua peça legislativa mais marcante ser anulada pela poder dos tribunais, como ser-lhe favorável, ao motivar e mobilizar o eleitorado democrata para as eleições de Novembro. Seja qual for a decisão do Supremo Tribunal, a verdade é que os nove juízes da mais alta instância jurídica dos Estados Unidos terão, uma vez mais, realizado uma opção com base na sua ideologia política, em vez de terem tomado uma decisão baseada na Lei. E isso não pode ser bom para ninguém.

quinta-feira, 29 de março de 2012

Obama lidera no "Big Three"

Dado o sistema de colégio eleitoral que rege as eleições presidenciais norte-americanas, os candidatos à Casa Branca concentram os seus esforços em determinados locais, os ditos swing states, Estados que podem cair para os democratas como para os republicanos. Entre esses, os mais importantes, dado a sua dimensão populacional e, consequentemente, o número de votos eleitorais em jogo, são a Florida, o Ohio e a Pensilvânia, o chamado Big Three das eleições presidenciais dos Estados Unidos.Importa, por isso, fazer referência às sondagens nestes três Estados, relativas à eleição geral, que foram ontem divulgadas pela Quinnipiac:

Florida
Obama - 49%
Romney - 42%

Pensilvânia: 
Obama - 45%
Romney 42%

Ohio:
Obama - 47%
Romney - 41%

São números extremamente positivos para Barack Obama, que caso consiga mesmo fazer o pleno no big three, à imagem do que fez em 2008, terá, certamente, a reeleição assegurada. O resultado na Florida é especialmente relevante, ficando perto da marca dos 50%, num Estado onde se chegou a pensar que não estaria ao seu alcance neste ciclo eleitoral. Por outro lado, na Pensilvânia, a sua vantagem para Mitt Romney é mais curta do que podia ser de esperar, visto que este Estado é, dos três, tradicionalmente o mais favorável aos democratas. Contudo, Romney está neste momento a investir fortemente em anúncios na Pensilvânia, no âmbito das primárias republicanas, o que pode explicar, pelo menos em parte, que esteja mais perto de Obama do que nos outros dois Estados.

Visto isto, e sendo verdade que Obama surge, para já, em boa posição para assegurar a reeleição, é preciso, porém, relativizar estas sondagens, numa altura em que Romney ainda não selou a nomeação republicana e quando estamos a mais de sete meses da noite eleitoral. Ainda não sabemos, por exemplo, quem será o running mate do ex-Governador do Massachusetts, um dado que pode alterar substancialmente a dinâmica da corrida, em especial num destes Estados, caso o Veep escolhido por Romney seja oriundo de um deles (o Senador pela Florida, Marco Rubio, é o caso mais flagrante). Seja como for, dada a importância do Big Three, continuaremos a seguir com atenção o que de mais de importante se passar nesses decisivos Estados.

segunda-feira, 26 de março de 2012

Santorum continua a adiar o inevitável

Rick Santorum obteve, no Sábado, uma expressiva vitória na primária do Louisiana, conquistando o voto de quase metade dos eleitores daquele Estado do Sul dos Estados Unidos. Com 49% dos votos, Santorum amealhou ainda dez delegados, face aos 26,7% e aos 5 delegados conquistados por Romney. Abaixo da margem dos 25%, resultado mínimo para se receber delegados, ficaram Newt Gingrich (15,9%) e Ron Paul (2,3%).
Com este triunfo, Rick Santorum somou mais uma vitória num Estado sulista, território onde o eleitorado evangélico e socialmente muito conservador o vai preferindo em detrimento do presumível nomeado, Romney. Contudo, o resultado do passado Sábado em pouco ou nada alteram a dinâmica da corrida, que parece cada vez mais decidida em favor de Mitt Romney, que está já em velocidade de cruzeiro em direcção à nomeação. Para já, Santorum ainda o vai beliscando com estas vitórias, mas a  vantagem que Romney leva em termos de delegados é já praticamente inultrapassável, a não ser que aconteça um enorme golpe de teatro que faça grandes danos à campanha do antigo Governador do Massachusetts.
Também Newt Gingrich e Ron Paul se não mantendo na corrida, apesar de já se terem tornado totalmente irrelevantes na campanha eleitoral em curso. O caso de Gingrich é especialmente gritante, visto que o ex-Speaker já nem no Sul profundo é capaz de obter bons resultados, como se viu no Louisiana. Por sua vez, Ron Paul, vai aguentando a sua candidatura, como seria de esperar, mas até mesmo a sua estratégia de apostar forte nos caucuses se tem revelado um rotundo fracasso.
Agora, o establishment  republicano e, claro está, a campanha de Romney vão clamando pelo final da corrida, tentando forçar os restantes candidatos ao abandono, de forma a que o frontrunner possa desviar atenções das primárias, passando e concentrar-se na eleição geral contra Barack Obama. Porém, todos têm afirmado que vão aguentar até à Convenção Nacional do GOP, em Tampa, na esperança de um milagre (que não acontecerá). E a verdade é o próprio Mitt Romney tem uma grande responsabilidade nesta relutância de Santorum e Gingirch em abandonarem a corrida. A forma como Romney ganhou, com muitos ataques pessoais e vários anúncios negativos, criou nos seus adversários um grande ressentimento, tornando-os menos susceptíveis de desistirem em prol da união partidária. Por isso, teremos primárias (ainda que, se calhar, a meio gás), durante mais algum tempo.

quinta-feira, 22 de março de 2012

Etch a Sketch

Depois de uma excelente vitória no Illinois, Mitt Romney pretendia, seguramente, aproveitar o ciclo de notícias positivas para aumentar a sua popularidade e parecer ser o presumível nomeado republicano. Contudo, uma gaffe de um dos membros do seu senior staff, Eric Fehrnstrom, resolveu deitar essas ideias por terra e afirmou, na CNN, que, após as primárias, Romney terá muito tempo para reformular a sua imagem, como quem faz um novo desenho no popular brinquedo infantil "Etch a Sketch". 
Esta foi uma daquelas verdades que não devem ser ditas em voz alta, pelo menos não na televisão por um membro da campanha. A mudança de discurso de um candidato presidencial quando muda da campanha das primárias para a campanha da eleição geral é uma realidade para todos os políticos que concorrem para a presidência (e não só), visto que enquanto que na disputa pela nomeação se fala para as bases do partido, já na eleição geral é necessário atrair o eleitorado do centro: os independentes e os moderados.
Esta gaffe de Fehrnstrom é especialmente danosa para a campanha de Romney, porque o candidato tem já a fama de flip flopper e de ser capaz de afirmar qualquer coisa ou defender qualquer posição que o possa ajudar a ser eleito. Agora, o ex-Governador do Massachusetts, em vez da victory lap que pretenderia depois do triunfo no Illinois, é obrigado a defender-se dos ataques dos seus adversários, que tiveram nesta gaffe uma verdadeira dádiva divina. É evidente que não há campanhas infalíveis, mas, com tantas falhas já cometidas, Romney começa a ficar sem margem de erro.

quarta-feira, 21 de março de 2012

O princípio do fim?

Resultados da primária do Illinois:

Mitt Romney - 46,7%
Rick Santorum - 35%
Ron Paul - 9,3%
Newt Gingrich - 8,0%

Mitt Romney teve ontem uma excelente noite eleitoral, conseguindo uma clara vitória na primária do Illinois, um dos maiores Estados norte-americanos e a que pertence a cidade de Chicago. A diferença para Santorum foi de quase doze pontos percentuais, o que permitiu ao ex-Governador do Massachusetts arrecadar cerca de mais 30 delegados do que o seu principal opositor.
 Ontem à noite, no seu discurso de vitória, Romney pareceu já mais focado na eleição geral, frente a Barack Obama, do que na continuação da disputa das primárias republicanas com os seus companheiros de partido. Não se referindo a Santorum, Gingrich ou Paul, Mitt Romney adoptou a postura de presumível nomeado, preparando o terreno para a fase de reconciliação intra-partidária pós-primárias. Continua, contudo, a cometer o erro de resumir a corrida a uma mera equação matemática de atribuição de delegados, o que não me parece ser uma boa forma de "chegar" aos eleitores, nomeadamente àqueles que ainda têm muitas dificuldades em ver o seu lado mais humano e emocional. 
 Agora, segue-se, já no próximo Sábado, a primária do Louisiana, Estado que, por ser sulista e conservador, deverá ser ganho por Santorum. Mas, mesmo assim, depois da robusta vitória de ontem, Romney tem o momentum e o balanço necessários para em Abril  (mês que, a ver pelas primárias agendadas, lhe deve ser favorável) arrumar com a questão da nomeação, ou, pelo menos, ficar muito perto disso. Com Gingrich em queda livre e Ron Paul a tornar-se praticamente um aliado, resta apenas a Romney preocupar-se com Rick Santorum, que, apesar de um bom político de campanha, não tem nem a estrutura nem o dinheiro para recuperar a já grande desvantagem de delegados que tem em relação a Romney. 
 Assim, mais tarde ou mais cedo, Romney deverá selar a nomeação, mesmo que, para isso, necessite da ajuda de um grande número de super-delegados que poderão sair em seu socorro, caso a possibilidade de uma brokered convention, um cenário de pesadelo para os republicanos, esteja em cima da mesa. É evidente que ainda não foi capaz de convencer os eleitores republicanos mais conservadores, que continuam a preferir Santorum, mas Romney também não precisa de se preocupar muito com isso, porque numa eleição geral entre si e Obama, o candidato republicano, seja ele quem for, tem sempre esses votos garantidos. 
 Sendo, por tudo isto, muito provável que Mitt Romney seja mesmo o nomeado presidencial do Partido Republicano, é bem possível que, mais tarde, quando se contar a história destas primárias, se afirme que o Illinois marcou o princípio do fim desta corrida. Por esta altura, mais pertinente do que saber quem será o vencedor destas primárias, parece ser perceber quando é que elas terminarão.

terça-feira, 20 de março de 2012

Will the Real Mitt Romney Please Stand Up?

Antes das tensões da primária do Illinois, cai sempre bem um pouco de humor. E, nesse campo, esta  adaptação de uma conhecida música do rapper Eminen que brinca com os não menos famosos flip flops de Mitt Romney, é de visualização obrigatória. Está verdadeiramente fantástico!

Na terra de Lincoln

Realizam-se hoje as primárias do Illinois, Estado que deu a conhecer um dos mais famosos e importantes norte-americanos de todos os tempos, o Presidente Abraham Lincoln. E que jeito daria aos republicanos um candidato da estirpe do homem que venceu a Guerra Civil Americana. Contudo, têm que se contentar com Romney, Santorum, Gingrich e Paul. Entre estes nomes, sairá o próximo candidato presidencial do GOP que defrontará Barack Obama, em Novembro.
Depois das vitórias de Rick Santorum no Alabama e no Mississipi, esperava-se que a disputa no Illinois fosse muito equilibrada. E, de facto, nos dias seguintes a esse duplo triunfo sulista de Santorum, as sondagens pareciam indicar que a corrida iria ser decidida até ao último voto. Contudo, nos últimos dias, Mitt Romney disparou nas intenções de voto e surge agora bem posicionado para uma vitória confortável, provavelmente nos double digits
Mais uma vez, a vantagem financeira de Romney foi decisiva para fazer a diferença. Tratando-se o Illinois de um Estado de grandes dimensões e com mercados publicitários caros, tornou-se ainda mais difícil para Santorum competir com uma campanha superiormente organizada e com muitos mais meios monetários, como é o caso da de Romney. Mas, além disso, o antigo Governador do Massachusetts  beneficiou ainda do momentum proporcionado pela sua vitória nas primárias de Puerto Rico, onde derrotou copiosamente a concorrência. Finalmente, também Santorum contribuiu para a sua própria descida nas sondagens, com uma presença algo errática no trilho da campanha, proferindo, por exemplo, uma gaffe "a la Romney", afirmando que não se interessa pela taxa de desemprego.
A confirmar-se, mais logo, uma vitória robusta de Romney na primária do Illinois, o actual frontrunner da corrida republicana passa a ser ainda mais favorito a obter a nomeação presidencial do seu partido. Contudo, com a dinâmica da corrida em constante mudança, teremos sempre que esperar para ver o que sucede nas primárias que se avizinham. De qualquer forma, dificilmente a luta pela nomeação ficará decidida antes de Maio ou Junho. E mesmo a hipótese de se chegar à Convenção Nacional sem um nomeado não pode ainda ser descartada.

domingo, 18 de março de 2012

Apresentação da obra "Razão e Liberdade"

José Gomes André, que escreve (e bem) no Era Uma Vez na América, um blogue de referência sobre a política e a cultura norte-americana, apresenta amanhã a sua obra sobre o pensamento político de James Madison, o quarto Presidente dos Estados Unidos e um dos founding fathers da nação americana, sob o título de "Razão e Liberdade". A apresentação do livro fica a cargo de Viriato Soromenho-Marques e decorre amanhã, pelas 18:30, na FNAC do do Centro Comercial Colombo, em Lisboa.

sexta-feira, 16 de março de 2012

Gingrich quer ir até Tampa

Infelizmente para Rick Santorum, Newt Gingrich parece determinado em não desistir da sua candidatura à presidência. Nesta sua entrevista no programa "This Morning", da CBS, o ex-Speaker afirmou novamente que irá continuar na corrida até à Convenção Nacional Republicana, em Tampa, na Florida. Apesar de já não ter qualquer hipótese de vir a ser o nomeado do GOP, Gingrich parece querer retirar o máximo de dividendos que puder desta sua aventura presidencial, nomeadamente ao nível da publicidade ao seu próprio nome, o que o pode ajudar, no futuro, a vender mais livros e a valer mais dinheiro no sempre lucrativo circuito de palestras norte-americano.

Sejam quais forem as suas intenções, a verdade é que a única importância que resta à candidatura de Newt Gingrich é a questão da sua desistência, se e quando acontecer. Como candidato, o georgiano é já totalmente irrelevante. Nos último dias, Newt tem justificado a sua permanência na corrida como uma forma de obrigar Mitt Romney a desdobrar os seus ataques, em vez de se concentrar apenas em Rick Santorum. Contudo, é já seguro que Romney apenas se tem de preocupar com Santorum e que Gingrich, ao não desistir, está a prejudicar as hipóteses de o antigo Senador pela Pensilvânia ainda poder ameaçar a nomeação de Romney. Mas Newt Gingrich é conhecido por ser um indivíduo pouco disposto a ouvir a razão e a lógica de terceiros, preferindo apostar tudo nas suas convicções e ideias. Mesmo que elas, como neste caso, façam pouco sentido.

quarta-feira, 14 de março de 2012

Santorum varre o Sul

Resultados das primárias de ontem:

Alabama

Rick Santorum -  34,9%
Newt Gingrich - 29,5%
Mitt Romney - 28,4%
Ron Paul - 5,0%

Mississippi

Rick Santorum - 32,9%
Newt Gingrich - 31,4%
Mitt Romney - 30,3%
Ron Paul - 4,4%

Rick Santorum teve ontem uma excelente noite eleitoral, obtendo uma algo improvável "dobradinha" nas primárias dos dois Estados sulistas que ontem foram a votos: o Alabama e o Mississippi. A partir de agora, fica claro que a corrida pela nomeação presidencial republicana é uma luta a dois entre Santorum e Romney. Depois das vitórias de ontem, o ex-Senador da Pensilvânia volta a ganhar um novo fôlego para enfrentar Romney no trilho da campanha, apesar de não poder contar, nem de perto nem de longe, com uma estrutura de apoio e de fundos monetários como os do antigo Governador do Massachusetts. Santorum leva já dez vitórias nesta campanha, mas estas provêm de Estados pequenos e maioritariamente conservadores. Agora, precisa de triunfar num Estado urbano e populoso, de forma a provar que pode mesmo retirar a nomeação a Romney. E as primárias do Illinois, que decorrem na próxima Terça-feira, são um local ideal para o fazer.

Mitt Romney, por sua vez, sai como derrotado da noite de ontem, principalmente devido à forma como jogou (mal) o jogo das expectativas. Ainda que se tenha quedado pelo terceiro posto tanto no Alabama como no Mississippi, Romney ficou, em ambos os Estados, muito perto do topo, o que poderia ser entendido como um bom resultado num terreno que lhe é desfavorável. Todavia, nas vésperas destas votações, Romney afirmou que iria vencer pelo menos uma delas, elevando as expectativas, que, no final de contas, saíram goradas. Agora, volta a ser alvo de uma maré de comentários que afirmam o seu problema em seal the deal e atrair o grosso do eleitorado de base do Partido Republicano. O antigo Governador do Massachusetts continua a ser o grande favorito a enfrentar Obama em Novembro, mas terá de passar obrigatoriamente por uma época de primárias prolongadas e onde nunca se sabe o que pode suceder.

Mitt Romney poderá ainda ter a tarefa mais complicada se Newt Gingrich desistir da corrida e deixar o seu eleitorado à mercê de ser conquistado por Santorum. O ex-Speaker necessitava de vencer pelo menos um dos Estados que realizaram ontem as suas primárias de modo a poder afirmar-se ainda como um candidato credível e relevante nesta campanha eleitoral. Mas, mesmo a jogar em casa, Newt foi batido em ambos os casos por um Santorum que é definitivamente o porta-estandarte da ala mais conservadora do Partido Republicano. No seu discurso, Gingrich continuou a afirmar que permanecerá na corrida, mas mesmo a sua conhecida obstinação poderá não bastar para que a sua campanha, sem vitórias e, consequentemente, sem apoios e sem dinheiro, continue por muito mais tempo.

Para o final ficam os dados menos relevantes da noite de ontem. Ron Paul, que é cada vez mais uma mera nota de rodapé nestas eleições, obteve fracos resultados no Alabama e no Mississippi, Estados onde não teria, à partida, condições para conseguir fazer muito melhor. Entretanto, fora do território continental americano, Romney conseguiu vitórias nos caucuses do Hawaii e da Samoa americana e consegue alguns delegados com esses triunfos. Contudo, quando se faz o rescaldo da noite de ontem, o que se destaca são os excelentes resultados de Rick Santorum e as latentes fragilidades de Mitt Romney, que, para quem se descreve como o presumível nomeado, continua com enormes dificuldades em afastar candidatos relativamente fracos (relembre-se que Santorum perdeu, em 2006, a reeleição para o Senado por 20 pontos percentuais) e com fracos recursos. A corrida está mesmo para continuar.

terça-feira, 13 de março de 2012

Decisões no Sul profundo

Além dos pouco relevantes caucuses no Hawaii e na Samoa Americana, decorrem hoje as primárias em dois dos Estados mais conservadores da nação norte-americana, o Mississipi e o Alabama. 
E muito da disputa pela nomeação presidencial republicana se poderá decidir nestes dois Estados do Sul profundo. Durante os último dias, as sondagens têm mostrado que existe um grande equilíbrio nas duas corridas, com Mitt Romney, Newt Gingrich e Rick Santorum muito próximos uns dos outros e com qualquer um deles a poder triunfar em qualquer um dos Estados em disputa. 
Gingrich será porventura aquele que joga mais neste dia de primárias, já que a viabilidade da sua candidatura está praticamente dependente de uma vitória, se não mesmo de duas na noite de hoje. Se não ganhar nenhum destes Estados sulistas, terreno que lhe é teoricamente favorável, o ex-Speaker fica com poucas alternativas que não a desistência da corrida.
Quem também estará à espera de um bom resultado para manter vivas as suas aspirações será Santorum, que tem vencido nos Estados mais conservadores e tem nas primárias do Mississippi e no Alabama o desafio de provar que é a única alternativa conservadora a Mitt Romney. Terá de vencer em pelo menos um destes Estados e esperar que Gingrich tenha uma noite negativa, pressionando-o a desistir em seu favor e ficando, assim, numa luta a dois com Romney. 
Mas é Mitt Romney que tem mais a ganhar na noite de hoje. À partida, não seria de esperar que o antigo Governador do Massachusetts fosse competitivo no Sul profundo dos Estados Unido. Todavia, as sondagens têm sugerido que Romney pode mesmo vencer em um ou mesmo nos dois dos Estados que hoje vão a votos. Se o conseguir, terá praticamente selada a nomeação republicana, provando que é capaz de vencer mesmos nos locais mais conservadores da América. Afinal, se Romney é capaz de derrotar Gingrich e Santorum no Alabama ou no Mississippi, então isso é sinal que os pode vencer em qualquer lado.

segunda-feira, 12 de março de 2012

Santorum vence no Kansas, mas...

O fim-de-semana que passou trouxe boas notícias para Rick Santorum que venceu folgadamente os caucuses do Kansas, com 51% dos votos, deixando a concorrência a larga distância e amealhando 33 dos 40 delegados em jogo. Romney, que assegurou o segundo posto com 21%, arrecadou os outros sete. Com mais este triunfo num Estado da América profunda, Santorum demonstra novamente que é  um forte candidato em votações em que o os eleitores rurais, conservadores e religiosos constituam uma grande parte do eleitorado.
Contudo, também Romney teve motivos para ficar satisfeito. Apesar de ter sido copiosamente derrotado no Kansas, a verdade é que compensou esse resultado menos positivo com vitórias nas convenções locais do Partido Republicano nos territórios do Guam e das Ilhas Marianas. Estes territórios, apesar de não terem direito a participarem na eleição geral, atribuem delegados nas primárias, tendo Mitt Romney arrecadado os nove delegados em disputa em cada um dos locais. Ainda assim, a escolha do vencedor não foi feita pelos cidadãos, mas pela própria liderança local do Partido Republicano. A juntar a estas vitórias, o ex-Governador do Massachusetts conseguiu ainda mais sete delegados nos caucuses das Ilhas Virgens, contra apenas um de Ron Paul. 
No fim de contas, Rick Santorum obteve uma retumbante e importante vitória no Kansas, tendo amealhado 33 delegados nesse Estado. Contudo, Mitt Romney praticamente anulou o significado do resultado do seu adversário, dado que nas diversas votações do fim-de-semana passado conseguiu reunir 32 delegados. Fica assim evidente a vantagem organizativa e financeira da campanha de Romney, que foi a única capaz de competir em locais distantes como Guam, as Ilhas Marianas e as Ilhas Virgens, que, apesar de quase passarem despercebidos no calendário das primárias, permitem amealhar alguns delegados que podem significar a diferença entre se conseguir ou não a nomeação presidencial. E Romney, de grão a grão, vai enchendo o papo.

quarta-feira, 7 de março de 2012

Romney vence mas não convence


Como se esperava, Mitt Romney saiu vencedor das eleições que decorreram na Super Tuesday de ontem. Venceu seis dos dez Estados (Ohio, Virginia, Idaho, Massachusetts, Alaska e Vermont) e amealhou mais de metade dos delegados em disputa. Todavia, a sua vitória no Ohio, a contenda mais importante da noite, foi à tangente, por apenas um ponto percentual, o que demonstra, uma vez mais, as debilidades do antigo Governador do Massachusetts no Midwest, um importante terreno na eleição geral contra Barack Obama. Além disso, foi claramente derrotado por Santorum no Sul, outra zona dos Estados Unidos, onde Romney tem sentido dificuldades de afirmação. Como se viu pelas exit polls de ontem, o favorito para conseguir a nomeação republicana continua com dificuldades em atrair os eleitores mais conservadores e com rendimentos mais baixos. Romney sai da Super Tuesday como o vencedor, mas nem o seu discurso de vitória pareceu convicente. Ainda tem um longo caminho pela frente até "fechar" a nomeação.

Quem acabou por não ter uma noite negativa foi Rick Santorum. Venceu no Oklahoma, como se previa, no Dakota do Norte, uma semi-surpresa, e no Tennesse, um importante Estado sulista, por uma larga margem. Além disso, perdeu o Ohio, onde investiu muitíssimo menos que Romney, por "uma unha negra". Estes resultados permitem ao ex-Senador pela Pensilvânia afirmar-se definitivamente como a grande e única alternativa a Mitt Romney e dão-lhe fôlego para encarar as próximas primárias (no Sul, o que o favorece) com mais optimismo. Por agora, o seu maior problema é a continuidade de Gingrich na campanha eleitoral, facto que lhe está a custar importantes votos que deveriam ser seus se o antigo Speaker saísse da corrida. Não admira, por isso, que se vão intensificando as pressões por parte da campanha de Santorum para que Newt abandone. 

Mas Newt Gingrich não deverá desistir tão cedo do seu sonho de se tornar Presidente dos Estados Unidos, mesmo que os resultados indiquem claramente que não tem qualquer hipóteses de o conseguir. Ontem, apenas venceu em casa, no Estado da Geórgia, e não alcançou, sequer, o segundo posto em qualquer um dos outros Estados em jogo. Nos últimos dias, Gingrich ia dizendo que teria de triunfar na Geórgia para ter hipóteses de alcançar a nomeação. Todavia, parece que nem com essa vitória será capaz de ainda ser uma força a ter em conta nesta campanha. Se desistisse, poderia ainda evitar que Romney fosse o nomeado, algo que deverá desejar, tendo em conta a animosidade entre os dois. Mas, conhecida a sua teimosia, é provável que continue na corrida, dividindo assim o eleitorado conservador com Santorum e ajudando, dessa forma, o seu grande rival na campanha em curso.

Para o fim fica Ron Paul, que voltou a não conseguir vencer em qualquer Estado (e, daqui para a frente, também já não o deverá conseguir fazer). À medida que a campanha vai avançando, o campeão da ala libertária do GOP vai perdendo fulgor e espaço mediático. Em poucos meses, Paul passou de candidato da moda a uma mera nota de rodapé na cobertura destas eleições. Para isso muito contribuiu a sua aliança não assumida com Romney, que prejudicou a sua imagem de candidato independente e de ruptura. Agora, resta-lhe continuar a transmitir a sua mensagem e a preparar terreno para o seu filho, o Senador Rand Paul, que, no futuro, continuará o trabalho do pai, quem sabe, com uma candidatura presidencial de sua parte.

terça-feira, 6 de março de 2012

Super Tuesday

Chegou finalmente o grande dia das primárias presidenciais. A Super Tueday de 2012 não é tão super como a de outros anos, mas é constituída, ainda assim, por votações em dez Estado e marcará certamente a campanha eleitoral em curso.
Geórgia, Ohio, Massachusetts, Idaho, Dakota do Norte, Oklahoma, Tennessee, Vermont, Virginia e Alaska dirão de sua justiça durante o dia de hoje. As atenções estarão principalmente viradas para o Ohio, onde Mitt Romney veio de trás nas sondagens e parece agora em melhor posição para derrotar Rick Santorum e para o Tennessee, Estado em que Santorum é favorito, ainda que por curta margem. Depois, na Geórgia e no Massachusetts deverão vencer os candidatos que jogam em casa, respectivamente Newt Gingrich e Romney. No Oklahoma, um Estado profundamente conservador, a vitória não deve fugir a Santorum, enquanto o Vermont e a Virgínia (onde apenas Romney e Ron Paul surgirão nos boletins de voto) ficarão na coluna do ex-Governador do Massachusetts. Finalmente, Dakota do Norte, Idaho e Alaska são corridas pouco importantes e onde não se têm realizado sondagens. Nesses Estados, o vencedor é incerto, mas Ron Paul terá aqui aquela que poderá ser a sua derradeira oportunidade de conseguir uma vitória na presente campanha eleitoral.
A Super Tuesday de hoje não definirá o nomeado presidencial do Partido Republicano, mas será certamente decisiva na clarificação da corrida. A análise dos resultados de hoje será muito condicionada pelo que acontecer no Ohio, um Estado com uma dimensão importante e geralmente decisivo nas eleições presidenciais. Quem aí vencer, estará em melhores condições de declarar vitória. Será, por isso, o Estado a seguir com mais atenção.
Seja como for, a noite (ou madrugada, em Portugal) será longa e promete ser emocionante.

segunda-feira, 5 de março de 2012

A inevitabilidade de Romney está de volta

Durante 2011 e o início de 2012, Mitt Romney pareceu sempre o inevitável nomeado presidencial pelo Partido Republicano. Contudo, e como a candidatura de Hillary Clinton tão bem demonstrou em 2008, a inevitabilidade a priori pode não significar coisa nenhum na altura das decisões. E a verdade é que, durante o mês de Fevereiro, a ascenção de Rick Santorum, que venceu três primárias num dia, fez perigar a posição de Romney. Contudo, agora, Romney volta a parecer muito bem lançado rumo à nomeação.
Depois das vitórias consecutivas no Arizona, no Michigan e no Wyoming, Romney junto um quarto triunfo à sua senda vitoriosa. No passado Sábado, o ex-Governador do Massachusetts venceu os caucuses do Estado de Washington com uns robustos 48% dos votos. Ron Paul (25%) bateu Santorum (24%) na luta pelo segundo lugar, enquanto Newt Gingrich se quedou por um distante segundo lugar, com 10% dos votos. Com mais este triunfo, Romney aumenta para oito o número de Estados em que venceu, face a quatro de Santorum e apenas um de Gingrich. Mas, mais importante que isso, alarga a sua vantagem em número de delegados, o indicador mais importante no processo de primárias. 
Mas o momentum de Romney não se mede apenas pelos resultados eleitorais. Também os apoios que vai recebendo confirmam que o grosso do establishment republicano se está a colocar por detrás da sua candidatura, cientes de que é o candidato mais forte com que o partido pode contar para enfrentar o Presidente Barack Obama, em Novembro. Este fim-de-semana, Romney recebeu os apoios do influente Eric Cantor, líder da maioria republicana na Câmara dos Representantes,  e de outro membro do Congresso, o Senador do Oklahoma Tom Coburn. Estes endorsements não são favores decisivos numa campanha eleitoral, mas ajudam a criar um ciclo de notícias positivas e dão credibilidade a quem os recebe.
São, por isso, muitas as boas notícias para a campanha de Mitt Romney. Na véspera da sempre importante Super-Tuesday (ainda que não seja tão super como a de há quatro anos atrás), Romney tem motivos para estar confiante. Afinal, nos últimos dias, voltou a ser apontado como o inevitável nomeado presidencial republicano.

quinta-feira, 1 de março de 2012

O Wyoming vai para Romney

Com pouco mais de 500 mil habitantes, o Wyoming é o menos populoso dos Estados norte-americanos e apenas cerca de 2 mil dos seus habitantes participaram, nas últimas semanas, nos caucuses. Com 39% dos votos, Romney foi o vencedor, seguido de Rick Santorum, com 32%, de Ron Paul, com 21%, e, finalmente, de Newt Gingrich,  com 8%. Em matéria de delegados, as coisas deverão ser mais aproximadas, esperando-se que Romney arrecade dez, ficando Santorum com nove, Paul com seis e Gingrich com apenas um. Apesar de este resultado representar sempre uma vitória para Romney, a verdade é que os caucuses do Wyoming são praticamente irrelevantes para o processo das primárias. Não admira por isso que nem os candidatos nem a imprensa tenham dado grande importância e destaque a este assunto. De momento, as atenções estão totalmente concentradas na Super-Tuesday, do próximo dia 6 de Março.