segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

A dupla batalha contra a reforma da saúde

Quase um ano depois de o Congresso dos Estados Unidos ter aprovado a reforma do sistema de saúde norte-americano, naquela que é, até ao momento, a maior vitória política de Barack Obama, a histórica legislação continua a dar muito que falar. Com as sondagens a mostrarem uma acentuada divisão na população dos EUA, que maioritariamente vê de forma desfavorável a reforma, mas, por outro lado, também não deseja a sua total anulação, os sectores mais conservadores da sociedade americana continuam a sua apaixonada batalha pela revogação daquilo a que chamam de Obamacare. 
Conforme prometido durante a campanha eleitoral para as midterms, o Partido Republicano cedo colocou a revogação da reforma da saúde em votação na Câmara dos Representantes, onde são agora o partido maioritário. Como previsto, o resultado foi favorável à anulação da peça legislativa, com todos os republicanos (e mais três democratas) a votarem nesse sentido. Contudo, como já referi anteriormente, esse passo não é mais que uma medida simbólica, visto que a maioria democrata no Senado não permitirá a aprovação dessa proposta. De qualquer forma, em última instância, Barack Obama usaria, certamente, o seu poder de veto pela primeira vez na sua presidência para impedir que a reforma fosse anulada.
Esta disputa não se trava, porém, unicamente no campo político, já que vários Estados americanos recorreram aos tribunais contestando a legalidade de alguns pontos da reforma do sistema de saúde aprovada pelo Congresso em Março do ano passado. Hoje mesmo, um juiz federal da Florida fez furor ao declarar inconstitucional a healthcare reform, considerando que o Congresso ultrapassou os limites do seu poder ao inserir na lei a obrigatoriedade de posse de um seguro de saúde para praticamente todos os americanos. No imediato, esta decisão não tem nenhum impacto relevante na implementação da reforma, mas é crível que estes múltiplos processos judiciais percorram todo o caminho até ao Supremo Tribunal e aí a história pode ser outra.

domingo, 30 de janeiro de 2011

Hillary Clinton sobre a situação no Egipto

Uma gripe das antigas tem-me impedido de escrever com a regularidade do costume, mas prometo que na próxima semana o Máquina Política voltará a trabalhar a todo o vapor. Mas como hoje é Domingo e dia dos tradicionais Sunday morning talk shows nos Estados Unidos, nada melhor que deixar aqui a entrevista da Secretária de Estado Hillary Clinton sobre a delicada situação no Egipto, o tema que tem dominado as atenções mediáticos nos últimos dias, ao programa State of the Union, da CNN.

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

A (dividida) resposta da oposição

Como sempre acontece nos discursos do State of the Union, a oposição republicana preparou a sua reacção ao conteúdo da mensagem presidencial. Contudo, este ano não houve uma, mas duas mensagens de resposta. Apesar de o establishment partidário republicano ter escolhido o congressista Paul Ryan para apresentar o discurso de resposta do GOP, os movimentos Tea Party fizeram questão de também eles reagirem oficialmente à comunicação de Barack Obama ao Congresso, escolhendo, para esse efeito, a congressista Michele Bachmann, uma favorita do Tea Party e que tem sido falada como potencial candidata presidencial.
Este tipo de discurso de resposta é sempre uma tarefa ingrata para qualquer político, dado que é bastante curto e, por comparação com a grande cerimónia que é o State of the Union, parece sempre "pequeno". Mesmo que nenhuma das duas reacções tenha sido particularmente má, como aconteceu, por exemplo, com Bobby Jindal, em 2009, a verdade é que a divisão da resposta republicana retira força e estatura à mensagem que o Partido Republicano quereria transmitir. Tanto Ryan como Bachmann optaram por focar a questão do défice e da sustentabilidade financeira do país, mas a congressista do Minnesota foi mais crítica em relação à actuação de Obama do que o seu colega do Wisconsin. Contudo, o mais contundente de todos os republicanos na noite de ontem foi mesmo o representante da Geórgia, Paul Broun, que, via twitter, afirmou que Obama não acredita na Constituição dos Estados Unidos, mas sim no socialismo.

De qualquer forma, e voltando às mensagens oficiais, aqui ficam os vídeos da dupla reacção do GOP ao discurso do State of the Union de Barack Obama:


Obama em grande forma

A noite até nem começou bem para Barack Obama, com uma fuga de informação a permitir que o seu discurso fosse conhecido na íntegra um par de horas antes de o proferir pessoalmente diante do Congresso. Contudo, quando Obama subiu ao pódio para se dirigir aos congressistas, convidados e, no fundo, à nação americana, pareceu estar como peixe na água, transmitindo confiança e vigor, e a fazer lembrar alguns dos seus melhores momentos, como o discurso da Convenção democrata de 2004, que o elevou ao patamar de super estrela, ou a sua vitoriosa campanha presidencial.
A cerimónia foi marcada, pelo menos inicialmente, pelo tom de conciliação partidária, com democratas e republicanos, senadores e congressistas, a sentarem-se lado a lado. Logo no começo do seu discurso, o Presidente saudou o renovado elenco do Congresso e, em particular, o novo Speaker da Câmara dos Representantes, o republicano John Boehner. Imediatamente a seguir, Barack Obama lembrou a cadeira vazia da congressista Gabrielle Giffords, ainda a recuperar dos graves ferimentos que sofreu aquando do trágico ataque em Tucson, no Arizona. Estava dado  o mote para um discurso moderado, com um tom positivo e encorajador.
O conteúdo da comunicação presidencial versou vários e diferentes temas: começou com uma secção "patriótica", em que enalteceu a excelência da nação americana; abordou a reforma de educação, sublinhando a importância dos professores, mas também a responsabilidade das famílias; referiu a necessidade de se desenvolverem as energias limpas, como as renováveis (vento, água, etc.), mas também a energia nuclear; passou igualmente pelos temas militares, onde pontificaram a retirada do Iraque e a progressiva transferência de poder no Afeganistão para os Afegãos; a reforma da saúde foi ainda mencionada, breve mas incisivamente, com o Presidente a mostrar-se disponível para melhorar algumas pequenas coisas na legislação, mas a pôr de parte qualquer possibilidade de revogar a sua maior realização nos dois anos que já passou na Casa Branca. Porém, a temática omnipresente no discurso foi a economia, tendo Barack Obama defendido a necessidade de novos investimentos, mas, ao mesmo tempo, lembrando o imperativo de controlar o défice.
Como se vê pelo conteúdo do seu discurso, globalmente centrista e com poucas ou nenhumas "linhas" dirigidas à ala mais liberal do Partido Democrata, Barack Obama manteve neste State of the Union a postura que adoptou nos últimos meses (e que lhe tem valido a subida nas sondagens), adaptando-se às novas circunstâncias ditadas pelas eleições intercalares de Novembro passado e com o claro objectivo de agradar ao eleitorado independente. O Presidente, ciente que tem de governar em cooperação com uma Câmara dos Representantes nas mãos da oposição e com uma parca maioria no Senado, tenta promover a moderação e o bipartidarismo. Além disso (ou porventura mais importante ainda), parece evidente que Obama lançou ontem, no discurso do Estado da Nação, o pontapé de saída da sua campanha de reeleição.

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

"He shall from time to time"

Hoje à noite, no Capitólio, o Presidente Barack Obama realizará o seu segundo discurso do Estado da Nação (em 2009, dirigiu-se ao Congresso num formato parecido, mas, formalmente, o seu primeiro State of the Union Adress foi em 2010), uma das tradições mais importantes da política norte-americana. Mas, mais que um costume, este discurso é uma obrigação determinada pela Constituição dos Estados Unidos, onde se encontra definido que o líder do Executivo deve ("from time to time") comunicar ao Congresso quais as prioridades legislativas que pretende ver implementadas.
Depois da tragédia no Arizona, este deve ser um State of the Union (SOTU) marcado pela moderação e pelo apaziguamento partidário. Para dar o exemplo, democratas e republicanos sentar-se-ão lado a lado, em vez das tradicionais fileiras partidárias. A intenção é boa, mas o SOTU perderá algum do seu interesse, pois será mais difícil ter uma correcta percepção das reacções ao discurso presidencial, normalmente facilmente visíveis pelas standing ovations de toda a sala ou de apenas um dos lados. Outra diferença neste State of the Union comparativamente ao do ano passado será relativa a quem se sentará nas costas de Obama: o Vice-Presidente Joe Biden lá estará novamente, mas, desta vez, John Boehner, o novo Speaker republicano, substituirá a democrata Nancy Pelosi.
O discurso do Presidente deverá focar aquela que é a principal preocupação dos americanos na actualidade: a economia. Aliás, no preview do seu SOTU que lançou na Internet (voltando aos bons velhos tempos da sua campanha eleitoral, onde usou exaustivamente - com sucesso - os novos meios de comunicação), Obama deixou antever isso mesmo. Numa altura em que as sondagens mostram que os americanos têm vindo a melhorar a sua opinião relativamente ao trabalho do Presidente, Barack Obama não deverá perder esta excelente oportunidade para, do púlpito da sala da Câmara dos Representantes, aproveitar as suas capacidades oratórias e marcar mais alguns pontos políticos.

Depois do SOTU, e como é também tradicional, os republicanos terão a sua oportunidade para responder à comunicação do Presidente. Este ano, o GOP escolheu o congressista Paul Ryan, do Wisconsin, para se dirigir ao país e reagir aos principais tópicos abordados por Obama no seu discurso. Este é um momento sempre sensível para a oposição e há, no passado, exemplos de discursos de resposta menos conseguidos e que prejudicaram a carreira de quem os proferiu, como foi o caso do republicano Bobby Jindal, em 2009 (no tal Estado da Nação oficioso de Obama). 
Mais logo, quando já for madrugada em Portugal, teremos então uma das mais importantes e esperadas cerimónias do ano em Washington D.C. No Capitólio estará praticamente toda a fina-flor da política norte americana. Digo praticamente porque nestas ocasiões, onde se reúne toda a liderança americana, é sempre escolhido um elemento da linha de sucessão presidencial (normalmente, um Secretário) para servir de designated survivor, ficando protegido numa localização desconhecida, de forma a garantir que, no caso de um eventual atentado ou outro tipo de desastre no edifício do Capitólio, o governo dos Estados Unidos não seja totalmente decapitado. Essa é, porém, uma medida que se espera que nunca seja necessária. 

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

A força de Romney no New Hampshire

No passado Sábado, o Partido Republicano do New Hampshire realizou a sua reunião anual, com o propósito principal de eleger o novo líder estadual. A escolha recaiu em Jack Kimball, que, sendo um favorito dos Tea Party, sublinha a crescente influência deste movimento conservador, mesmo num Estado onde os republicanos são normalmente considerados como moderados. 
Contudo, o aspecto mais interessante deste meeting prendeu-se com a realização de uma straw poll, uma sondagem informal onde votaram cerca de 500 republicanos do New Hampshire, relativa às primárias do GOP para as eleições presidenciais. Relembre-se que é neste Estado que se realizam as primeiras primárias no ciclo das eleições para a Presidência dos Estados Unidos (o Iowa vota primeiro, mas em sistema de caucus), o que reveste estas primeiras quasi-sondagens de um interesse acrescido. 
Apesar de o resultado do momento eleitoral para a presidência do partido estadual ter favorecido um Tea Partier, já o vencedor da straw poll residiu no mais moderado Mitt Romney, que ganhou com larga margem, reunindo 35% das intenções de voto. A uma longa distância, com 11%, ficou Ron Paul (considerado o "pai" do Tea Party) e mais longe ainda quedaram-se os candidatos mais conhecidos, como Tim Pawlenty (8%), Sarah Palin (7%), Newt Gingrich (3%) ou Mike Huckabee (3%).
Este score de Mitt Romney, apesar de muito expressivo, não é propriamente uma surpresa, pois Romney tem uma residência no New Hampshire, que, por sua vez, faz fronteira com o Massachusetts, Estado onde foi governador. Além disso, o facto de Romney ter apostado forte no granite state em 2008, apesar de ter perdido para John McCain, faz com que seja bastante conhecido entre os eleitores do Estado. 
Com Romney a partir como claro favorito para vencer no New Hampshire, os candidatos mais conservadores, como Huckabee, Gingrich ou Palin, terão de apostar forte nos caucuses do Iowa, terreno onde baterão mais facilmente o antigo governador do Massachusetts. Porém, apenas poderá haver um vencedor e, pelo menos para já, Mike Huckabee (se vier a concorrer), ex-governador do Arkansas, parece ser o melhor colocado. 

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Um primeiro olhar sobre o mapa eleitoral

A quase dois anos de distância das eleições presidenciais de 2012, o site Cook Political Report lançou já a sua primeira análise à tendência de voto de cada Estado norte-americano. Segundo a equipa de Charlie Cook, o cenário encontra-se, por esta altura, muito equilibrado, com os democratas a terem 186 votos eleitorais seguros, enquanto os republicanos contam com 196. Se juntarmos ainda os Estados colocados na categoria "Lean", obtemos um verdadeiro empate, com 221 votos eleitorais para o candidato democrata (certamente Barack Obama) e 219 para o concorrente do GOP. Finalmente, ficam 7 Estados na coluna dos Toss-ups, os verdadeiros swing-states e que totalizam 98 votos eleitorais.
A meu ver, esta é uma previsão segura, sem grandes surpresas, mas talvez demasiadamente pessimista para as perspectivas democratas. O Cook Political Report coloca a Carolina do Norte, o Indiana e a Virgínia, três Estados que Obama venceu em 2008, no lado republicano. Apesar de concordar com a posição do Indiana, parece-me que a Carolina do Norte e a Virgínia são toss-ups, dadas as mudanças demográficas que se têm verificado nesses dois Estados e que favorecem os democratas.
Claro que este é um exercício meramente conjectural, dada a grande distância temporal até Novembro de 2012 e não sabermos como evoluirá a situação económica do país, a popularidade do Presidente Obama junto do eleitorado e, obviamente, sem se conhecer o ticket republicano. Porém, para political junkies como eu, este tipo de "palpites" são sempre interessantes.

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Parabéns, Máquina Política!

Há precisamente um ano atrás, dei início a este blogue. O objectivo, na altura, era o de ir pondo por escrito algumas ideias que ia tendo sobre a política norte-americana, um tema pelo qual me interesso intensamente, há já alguns anos. Contudo, com o passar dos dias, a necessidade de postar foi-se tornando mais intensa e, agora, o acto de escrever no Máquina Política faz já parte da minha rotina diária. 365 dias, 250 posts, 6500 visitas e 10200 page views depois, este espaço ultrapassou todas as minhas expectativas. Aquilo que começou como uma espécie de diário online, que poderia (e poderá) servir de suporte para a minha tese de mestrado (que visará, seguramente, a política norte-americana), conseguiu já fidelizar alguns leitores, cujas visitas e comentários me incentivam a continuar. 
Depois de um ano em que se assistiu à aprovação da reforma da saúde e à vitória republicana nas eleições intercalares, os próximos tempos prometem ser ainda mais activos e interessantes, com todo o destaque a ir para o iminente lançamento da campanha presidencial. Quando o Máquina Política comemorar o segundo aniversário, estaremos em plena época de primárias, que servirão para escolher o adversário republicano de Barack Obama em Novembro de 2012. Um ano depois, quando o blogue celebrar três anos de vida, será a antevéspera da tomada de posse do novo (ou não) Presidente dos Estados Unidos. Assim, é seguro que esta Máquina Política tem ainda muito que carburar.

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

"I have a dream"

Hoje é feriado nos Estados Unidos, comemorando-se o Martin Luther King Day, em honra do lendário activista pelos direitos civis dos afro-americanos. Este dia é celebrado na terceira Segunda-feira de Janeiro, aproximando-se do aniversário de MLK e, apesar de alguns Estados e políticos terem-se insurgido contra a adopção deste feriado federal, a verdade é que, hoje, o dia de Martin Luther King é observado quase na generalidade do território norte-americano. Assim, neste dia, faz todo o sentido voltar a ver e ouvir aquele que é considerado um dos melhores discursos da história da Humanidade, e que proferido por King no Mall de Washington a 28 de Agosto de 1963. 

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Gun (out of) control

Após do trágico ataque na cidade de Tucson, no Arizona, onde um louco disparou indiscriminadamente durante uma acção política da Congressista Gabrielle Giffords, tem-se falado muito sobre a redução da crispação e agressividade política nos Estados Unidos. Contudo, estranhamente (ou talvez não), um tema que não está a merecer grande debate é o do controlo das armas de fogo, o que normalmente acontece depois de um incidente deste género.
De facto, parece que, nos Estados Unidos, o tema do posse de armas é já um assunto quase que "arrumado", depois das animadas discussões de outrora, quando a questão do gun control estava no topo das prioridades políticas. Contudo, com a maioria da população a ser a favor do posse de armas de fogo pelos cidadãos e devido ao fortíssimo lobby pro-gun, com a National Rifle Association à cabeça, os activistas a favor do gun control foram perdendo gás.
Ainda assim, uma congressista democrata de Nova Iorque, Carolyn McCharthy, vai apresentar uma proposta de lei que, a ser aprovada, banirá os carregadores de grande capacidade, como aquele que foi utilizado no ataque do Arizona e que permitiu ao atirador alvejar mais de vinte pessoas num espaço de poucos segundos. McCharthy tem uma forte ligação a este tema, pois viu o seu marido ser morto e o seu filho ferido, em 1993, quando um indivíduo com perturbações mentais abriu fogo num comboio, usando um carregador de grande capacidade.  
Porém,dificilmente esta proposta será aprovada pelo Congresso dos Estados Unidos, já que o próprio Speaker John Boehner (R) já deu a entender que dificilmente a apoiará. Quanto a mim, e correndo o risco de ser acusado de estar a fazer uma análise etnocêntrica, que não tem em conta a cultura e mentalidade dos Estados Unidos da América, considero que o plano da congressista McCharty faz todo o sentido e que será um disparate não o aprovar, visto que ninguém que queira uma arma para ir caçar patos ou para se defender necessita de armas semi-automáticas, com a capacidade de disparar dezenas de balas num curto espaço de tempo. Como diz Carolyn McCharty, "a única razão para a existência desse tipo de armas é a de matar o máximo número de pessoas o mais rapidamente possível".

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Obama a subir

Depois de cerca de oito meses em que os seus números de aprovação permaneceram praticamente estáticos, nos "mid fortys", Barack Obama teve esta semana os seus melhores resultados desde Maio de 2010, com vários estudos de opinião a indicarem uma subida na popularidade do Presidente dos Estados Unidos. 
Como se vê no gráfico de cima, o RealClearPolitics coloca os números de Obama em terreno positivo pela primeira vez, desde Julho. Também no Pollster é notória a subida da taxa de aprovação do Presidente americano,  impulsionada pelas sondagens da Pew Research, Gallup, Quinnipiac, Ipsos/Reuters e AP/GfK. Mesmo na tendencialmente conservadora Rasmussen, o score de Obama aproxima-se de valores positivos.
Relativamente às causas para estes números, arrisco em apontar duas. Em primeiro lugar, as vitórias legislativas do Presidente no final da sessão do Congresso anterior, em que Obama demonstrou uma renovada propensão para o bipartidarismo. Depois, a reacção dos cidadãos ao ataque à congressista Gabrielle Giffords, já que nos momentos de tragédia, é normal que os norte-americanos se unam em torno do seu presidente, numa atitude de cerrar de fileiras. Ainda é cedo para perceber se este bounce de Barack Obama é apenas temporário ou se é uma tendência para ficar.

As reacções de Obama e Palin ao tiroteio de Tucson

A tragédia no Arizona continua a monopolizar a actualidade nos Estados Unidos e, agora, começa também a provocar consequências no tabuleiro político dos Estados Unidos, tanto pela positiva, como pela negativa. As reacções de Barack Obama e Sarah Palin, sem dúvida as duas maiores figuras políticas da actualidade na América, ao mortal ataque na cidade de Tucson,  foram bastante diferentes. Enquanto o discurso do Presidente americano foi por si aproveitado para adoptar uma postura conciliatória e bipartidária, fazendo lembrar o Obama pré-Casa Branca, já a ex-Governadora do Alasca preferiu adoptar um estilo mais agressivo para se defender das críticas que tem recebido no rescaldo do fatídico incidente no Arizona. As reacções às duas mensagens têm favorecido Obama, já que Palin tem sido muito criticada pela sua resposta. Contudo, o melhor será cada um ver e ouvir os dois discursos e daí tirar as suas próprias ilações.

 

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

State of the Union, 2011

A comunicação anual do Presidente dos Estados Unidos ao Congresso do seu país, normalmente realizada no início de cada ano civil já tem data marcada para 2011. O discurso do State of the Union deste ano será já no próximo dia 25 de Janeiro, uma Terça-feira, como é habitual. A data já há muito que estava oficiosamente definida, mas o convite formal do Speaker John Boehner a Barack Obama oficializa a cerimónia. Esta será a primeira vez que Obama se dirige ao Congresso americano tendo atrás de si, e ao lado de Joe Biden, não Nancy Pelosi, mas sim Boehner, o novo presidente da câmara baixa. Contudo, devido ao sucedido no Arizona, a ocasião deverá ser marcada por um ambiente de moderação e até de reconciliação.

Depois da tempestade vem a bonança

A tragédia que ocorreu na cidade de Tucson, no Arizona, onde uma acção da congressista democrata, Gabrielle Giffords foi atacada a tiro por um lunático, levando à morte de seis pessoas e a ferimentos graves na própria legisladora, teve um impacto brutal na sociedade americana e, em particular, no clima político em Washington. Porém, apesar de fatídico, o sucedido pode produzir consequências positivas para o panorama político norte-americano. 
Nos últimos anos, a crispação e a conflitualidade entre os dois grandes partidos americanos tem sido levada ao limite, com uma retórica agressiva e quase bélica. Tudo terá começado com o impeachement movido a Bill Clinton pelos republicanos do Congresso, por ocasião do Monicagate, na parte final do segundo mandato do último presidente democrata antes de Barack Obama. No altura, o debate rondou mais questões da vida privada de Clinton, do que propriamente políticas. Depois, os democratas não perdoaram a George W. Bush o modo como este venceu a eleição de 2000 frente a Al Gore, em outro gate, mas desta vez com o prefixo Florida, e fizeram, literalmente, a vida negra a Bush durante os oito anos em que esteve na Casa Branca. Com a chegada de Barack Obama à presidência, julgou-se que a polarização partidária seria suavizada, até porque essa foi uma das principais promessas eleitorais do actual presidente. Contudo, verificou-se que tal não aconteceu, e a emergência dos movimentos Tea Party, com a sua mensagem em alguns casos radical levou o extremismo partidário para um novo nível.
Não quero com isto dizer que o ataque à congressista Giffords tenha sido responsabilidade da classe política, até porque tudo indica que tudo se tenha devido à demência do assassino. Considero ainda ridículas algumas acusações que têm sido levantadas aos Tea Party e a Sarah Palin, responsabilizando-os por esta tragédia. Contudo, este acto selvagem no Arizona constitui uma oportunidade para os políticos pararem um momento para reflectir sobre a sua actuação nos últimos anos. E pelo que se tem visto das reacções e declarações dos políticos dos dois lados, parece que essa tal reflexão está a ser feita e está a produzir resultados. É de esperar que a tensão partidária seja atenuada nos próximos tempos, mas o ideal será que esse fenómeno não dure apenas enquanto estiver fresca a memória dos acontecimentos de Tucson. Afinal, esta tragédia devia lembrar todos os actores políticos de uma golden rule primária: em democracia não deve haver inimigos, apenas adversários. 

domingo, 9 de janeiro de 2011

Tragédia no Arizona

Ontem foi um dia trágico nos Estados Unidos. Num incidente que, mais uma vez, envolveu um ataque com armas de fogo, um indivíduo (estando as autoridades a averiguar a existência de um outro cúmplice) entrou numa mercearia em Tucson, no Arizona, onde a congressista democrata pelo Arizona, Gabrielle Giffords, estava a realizar uma acção de política de proximidade, e disparou indiscriminadamente. Seis pessoas morreram, incluindo uma criança de nove anos e um juiz federal. Giffords foi também baleada na cabeça, mas os médicos estão optimistas em relação à sua recuperação.
Este trágico incidente juntou a violência à política, mas é ainda desconhecido se motivações políticas estiveram por trás deste ataque. Entretanto, o Congresso americano cancelou todas as votações agendadas, inclusivamente o voto relativo à revogação da reforma da saúde. O Presidente Barack Obama também já reagiu ao sucedido, prometendo uma investigação minuciosa a este aterrador ataque.

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Shake up no staff presidencial

Bill Daley é o novo COS de Obama
Barack Obama continua a reagir à pesada derrota eleitoral que o seu partido sofreu nas eleições intercalares de Novembro passado. Depois de procurar e conseguir acordos bipartidários, como nos casos dos cortes fiscais ou da ratificação do tratado START, o presidente americano procede agora a significativas mudanças na constituição do seu staff.
Robert Gibbs, o Press Secretary de Obama, anunciou esta semana que irá abandonar essa posição, passando a ser um conselheiro externo do Presidente, ao mesmo tempo que se juntará a David Axelrod (também de saída da Casa Branca) na preparação da campanha de reeleição de Obama. Em sentido contrário está David Plouffe, director da campanha vitoriosa de Obama em 2008, que passará a integrar a equipa presidencial.
Foi também anunciado, ontem, que o substituto definitivo do controverso Rahm Emanuel, que deixou o cargo de  Chief of Staff da Casa Branca para concorrer ao posto de Mayor de Chicago, será Bill Daley, antigo Secretário do Comércio na administração Clinton e, como Emanuel e o próprio Obama, proveniente de Chicago. Aliás, Daley pertence à mais importante dinastia política da maior cidade do Estado do Illinois: é filho do histórico Mayor Richard J. Daley e irmão do actual ocupante da City Hall da Windy City, Richard M. Daley.
A nomeação de Bill Daley, que durante vários anos fez parte da administração do JP Morgan, o maior banco norte-americano, para a chefia do staff presidencial tem gerado reacções contraditórias. Os grupos de Esquerda, como a MoveOn, criticaram a escolha de uma figura com estreitas ligações com a banca e o big business, o que, dizem, envia a mensagem errada aos cidadãos americanos. Por outro lado, o sector financeiro aplaude a decisão de Obama, com a Chamber of Commerce a afirmar que Daley é uma forte escolha, que trará uma extraordinária experiência para o governo. Na verdade, a opção de Obama pelo experiente homem de Chicago representa uma espécie de bandeira branca agitada pelo Presidente dos Estados Unidos ao sector dos negócios, com quem manteve uma conflituosa relação durante a primeira metade do seu mandato.
Estas mudanças no staff da Casa Branca deixam antever, desde já, que os próximos dois anos de Obama na Sala Oval vão ser bem diferentes dos dois primeiros. A partir de agora, o foco da equipa do Presidente passará a estar na melhoria da imagem do Chefe de Estado, com uma maior abertura ao exterior e ao país, deixando as grandes empreitadas legislativas, que implicam delicadas manobras no Capitólio, para segundo plano. Barack Obama parece estar a seguir à risca o guião utilizado por Bill Clinton que, depois da derrota democrata de 1994 (semelhante à sofrida por Obama, em 2010) se deslocou para o centro do espectro político americano. Com essa estratégia (e com a ajuda de uma economia pojante), Clinton obteve facilmente a reeleição. Veremos se desta vez a história se repete.

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Mr. Speaker

Já se sabia desde Novembro, mas hoje tornou-se oficial: o congressista republicano do Ohio, John Boehner, foi eleito o novo Speaker of the House, sucedendo à californiana democrata Nancy Pelosi.

O 112º Congresso

Na passada Segunda-feira, entrou oficialmente em funções o 112º Congresso dos Estados Unidos, entrando em vigor as alterações no elenco ditadas pelas eleições intercalares de Novembro de 2010. Contudo, a primeira sessão desta legislatura, que tem sido aguardada com bastante interesse, está marcada para o dia de hoje.
Depois da vitória republicana nas midterms, assistimos a uma situação de split Congress, com os democratas a manterem o controlo do Senado, mas a verem os republicanos em maioria na Câmara dos Representantes, onde a democrata Nancy Pelosi foi substituída pelo congressista republicano John Boehner como Speaker.
Outro ponto de interesse residirá na relação entre o novo Congresso e o Presidente Barack Obama, que, pela primeira vez no seu mandato, será obrigado a procurar compromissos com a oposição para governar o país. Aliás, o acordo fiscal bipartidário, aprovado nos últimos dias do Congresso anterior, terá sido uma espécie de ensaio geral para a nova era que agora se inicia. Mas, ao ter a necessidade de dialogar e cooperar com a liderança do GOP, Obama até poderá sair a ganhar politicamente, visto que, ao colocar-se aos olhos do público como uma figura moderada e conciliatória, distanciando-se dos mais radicais à Esquerda e à Direita, isso poderá ser-lhe bastante útil na batalha pela reeleição, em 2012.
Porém, certamente que os republicanos não lhe facilitarão a vida e na sua agenda vislumbram-se já alguns elementos que entrarão em choque directo com a Casa Branca. Em primeiro lugar, os republicanos prometem fazer da revogação da reforma da saúde, alcançada por Obama e pelos democratas no início de 2010,  um dos seus principais objectivos. Esta é uma meta inatingível, pelo menos para já, enquanto os democratas mantiverem o controlo da Presidência e do Senado, mas a simples discussão deste tema, com Obama e os democratas a verem-se obrigados a defender uma (ainda) impopular reforma do sistema de saúde, poderá ajuda as perspectivas republicanas para as eleições de 2012. 
Depois, com os republicanos em maioria na House, passarão também a assumir a presidência das comissões. Uma delas em particular poderá gerar bastante controvérsia com a Casa Branca de Obama: a Comissão de Fiscalização e Reforma do Governo. Darrel Issa, o republicano que passa a liderar esta comissão, já prometeu que irá investigar profundamente as acções do governo norte-americano, o que poderá colocar alguns problemas à administração Obama. Todavia, os republicanos terão de agir moderadamente, pois se a sua investigação parecer mais uma perseguição, o tiro poderá sair pela culatra, como os anos Clinton tão bem ensinaram.
Após a pausa para as festas natalícias, o Congresso terá agora pela frente um pequeno período de "aquecimento", onde os legisladores estreantes se irão adaptar aos procedimentos no Capitólio. Depois disso, o órgão legislativo americano entrará em pleno funcionamento e será curioso assistir à dinâmica deste Congresso dividido. Se a isso juntarmos o arranque da campanha presidencial, algures nos próximos meses, fica claro que 2011 promete ser um ano em cheio!