A noite até nem começou bem para Barack Obama, com uma fuga de informação a permitir que o seu discurso fosse conhecido na íntegra um par de horas antes de o proferir pessoalmente diante do Congresso. Contudo, quando Obama subiu ao pódio para se dirigir aos congressistas, convidados e, no fundo, à nação americana, pareceu estar como peixe na água, transmitindo confiança e vigor, e a fazer lembrar alguns dos seus melhores momentos, como o discurso da Convenção democrata de 2004, que o elevou ao patamar de super estrela, ou a sua vitoriosa campanha presidencial.
A cerimónia foi marcada, pelo menos inicialmente, pelo tom de conciliação partidária, com democratas e republicanos, senadores e congressistas, a sentarem-se lado a lado. Logo no começo do seu discurso, o Presidente saudou o renovado elenco do Congresso e, em particular, o novo Speaker da Câmara dos Representantes, o republicano John Boehner. Imediatamente a seguir, Barack Obama lembrou a cadeira vazia da congressista Gabrielle Giffords, ainda a recuperar dos graves ferimentos que sofreu aquando do trágico ataque em Tucson, no Arizona. Estava dado o mote para um discurso moderado, com um tom positivo e encorajador.
O conteúdo da comunicação presidencial versou vários e diferentes temas: começou com uma secção "patriótica", em que enalteceu a excelência da nação americana; abordou a reforma de educação, sublinhando a importância dos professores, mas também a responsabilidade das famílias; referiu a necessidade de se desenvolverem as energias limpas, como as renováveis (vento, água, etc.), mas também a energia nuclear; passou igualmente pelos temas militares, onde pontificaram a retirada do Iraque e a progressiva transferência de poder no Afeganistão para os Afegãos; a reforma da saúde foi ainda mencionada, breve mas incisivamente, com o Presidente a mostrar-se disponível para melhorar algumas pequenas coisas na legislação, mas a pôr de parte qualquer possibilidade de revogar a sua maior realização nos dois anos que já passou na Casa Branca. Porém, a temática omnipresente no discurso foi a economia, tendo Barack Obama defendido a necessidade de novos investimentos, mas, ao mesmo tempo, lembrando o imperativo de controlar o défice.
Como se vê pelo conteúdo do seu discurso, globalmente centrista e com poucas ou nenhumas "linhas" dirigidas à ala mais liberal do Partido Democrata, Barack Obama manteve neste State of the Union a postura que adoptou nos últimos meses (e que lhe tem valido a subida nas sondagens), adaptando-se às novas circunstâncias ditadas pelas eleições intercalares de Novembro passado e com o claro objectivo de agradar ao eleitorado independente. O Presidente, ciente que tem de governar em cooperação com uma Câmara dos Representantes nas mãos da oposição e com uma parca maioria no Senado, tenta promover a moderação e o bipartidarismo. Além disso (ou porventura mais importante ainda), parece evidente que Obama lançou ontem, no discurso do Estado da Nação, o pontapé de saída da sua campanha de reeleição.
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