domingo, 28 de fevereiro de 2016

Hillary vira a página

Hillary Clinton alcançou ontem a sua primeira grande vitória nas primárias presidenciais do Partido Democrata. Na Carolina do Sul, 73,5% dos eleitores votaram na antiga Primeira-Dama, deixando Bernie Sanders a quase 50 pontos percentuais de diferença, naquilo que foi uma vitória a que nos norte-americanos gostam de chamar de landslide.
E foi, de facto, um triunfo esmagador para Clinton, que já havia vencido no Iowa e no Nevada, mas sempre por margens pouco consonantes com o favoritismo que a candidatura da ex-Secretária de Estado sempre reuniu. Mas ontem, num Estado com uma grande presença de eleitores afro-americanos, Hillary conseguiu uma verdadeira demonstração de força, provando que o eleitorado negro, que a havia abandonado há oito anos por causa do carácter histórico da candidatura de Barack Obama, continua a confiar na marca Clinton. 
Por outro lado, Bernie Sanders, não conseguiu fazer chegar a sua mensagem aos eleitores afro-americanos, tendencialmente menos propensos a serem seduzidos por discursos idealistas como o do Senador do Vermont do que, por exemplo, os jovens universitários do Iowa. Para eles, Sanders é um perfeito desconhecido, enquanto que Hillary Clinton tem já uma história junto dos negros norte-americanos, desde os tempos em que defendeu o Movimento dos Direitos Civis e, principalmente, devido aos anos da presidência do seu marido. Bill Clinton chegou mesmo a ser apelidado de "o primeiro presidente negro da história" e a popularidade dos Clinton tem-se mantido, desde essa altura, em alta junto dos afro-americanos.
Com esta vitória esmagadora na Carolina do Sul, Hillary Clinton pode virar a página no que tinha sido o livro das primárias até agora, em que tinha ficado aquém das expectativas. Na Super Tuesday, dos 11 Estados que vão a votos, 7 são do Sul, com grande presença de eleitores afro-americanos. Assim sendo, e tendo a Carolina do Sul como amostra, tudo aponta para uma grande noite de Hillary que poderá tornar-se, já nessa noite de 1 de Março, como a presumível nomeada democrata, começando a apontar baterias para a eleição geral do Outono.

sábado, 27 de fevereiro de 2016

Donald vs Hillary?

Realiza-se hoje, na Carolina do Sul, as primárias do Partido Democrata nesse Estado, ficando concluída a ronda pelos early states, Iowa, New Hampshire, Nevada e South Carolina, que costumam ser determinantes na nomeação dos candidatos presidenciais dos dois grandes partidos norte-americanos. Em 2016, manteve-se essa tradição e deveremos chegar à Super Tuesday, do próximo dia 1 de Março, com dois grandes favoritos: Hillary Clinton, pelo Partido Democrata, e Donald Trump, pelo GOP.
Depois da grande vitória de Bernie Sanders no New Hampshire, a campanha do Senador pelo Vermont perdeu algum gás e Hillary garantiu uma vitória (ainda que por curta margem) no Nevada e prepara-se para obter um triunfo folgado na primária de hoje na Carolina do Sul. Assim, tudo indica que a ex-Secretária de Estado vai chegar à Super Tuesday com três vitórias contra apenas uma de Bernie Sanders. 
A 1 de Março, com muitos Estados sulistas, uma zona onde os Clinton sempre foram fortes, a irem a votos, Hillary poderá garantir uma vantagem em delegados suficiente para se tornar, logo aí, a presumível nomeada democrata. Será também importante perceber como vota, na Super Tuesday, o Massachussetts, Estado vizinho do Vermont e bastante liberal. Se Hillary conseguir derrotar Sanders no seu próprio terreno, então a corrida estará mesmo terminada. 
E se a disputa no lado democrata parece começar a desequilibrar-se a favor daquela que era apontada desde o início como a grande favorita, já na ala republicana estamos perto de assistir a uma enorme surpresa. Donald Trump, o magnata do imobiliário nova-iorquino, garantiu vitórias na Carolina do Sul e no Nevada, o que, juntamente com o triunfo no New Hampshire, constitui um hat trick que o torna o frontrunner na disputa pela nomeação presidencial republicana.
Confesso que nunca levei muito a sério a candidatura de Trump, e só a partir do New Hampshire comecei a perceber que The Donald pode mesmo ir até ao fim e ser o adversário de Hillary Clinton em Novembro. Agora, porém, parece claro que a nomeação de Trump é perfeitamente possível e, se calhar, até provável. Aproveitando-se do enorme descontentamento dos eleitores republicanos com o establishment do seu partido e de um enorme leque de candidatos que dispersou o voto dos eleitores tradicionais, Donald Trump explorou todos os seus trunfos e qualidades, fazendo uma campanha baseada na sua notoriedade, usando e abusando de frases bombásticas e até disparatadas, garantindo tempo de antena e concentrando em si todas as atenções, retirando espaço aos políticos de carreira e levado a narrativa da campanha para longe dos temas políticos, que não domina.
No último debate, Trump foi alvo de todos os ataques, com Ted Cruz e Marco Rubio, os adversários que restam (Ben Carson continua na corrida, mas é um non factor), a unirem esforços contra o líder da corrida. Terá sido a primeira vez que Donald Trump se sentiu verdadeiramente acossado nos debates televisivos. Sofreu alguns duros golpes (em especial de Rubio), mas, ainda assim, não foi ao tapete. 
Ontem, no dia seguinte ao debate, Trump conseguiu imediatamente recuperar dos eventuais danos que havia sofrido no debate, com o anúncio do apoio de Chris Christie à sua candidatura. O actual Governador de New Jersey e ex-candidato presidencial (desistiu após o New Hampshire) tornou-se no primeiro grande nome do establishment republicano a apoiar o bilionário de New York. No mesmo dia, também Paul LePage, Governador do Maine, declarou o seu endorsement a Trump, o que demonstra que algumas figuras do GOP começam a perceber que Donald Trump será o vencedor das primárias e querem ser os primeiros a escolher o "cavalo" vencedor, com todo o significado que isso poderá ter, mais tarde, quando o nomeado tiver de escolher o seu vice-presidente ou, caso seja eleito, o seu cabinet.
Numa corrida tradicional, com as vitórias já amealhadas por Trump e com a vantagem que tem nas sondagens, Donald seria já o presumível nomeado republicano. Contudo, já vimos que esta é tudo menos uma corrida tradicional. Marco Rubio recuperou depois do péssimo debate no New Hampshire e conseguiu o segundo lugar na Carolina do Sul e no Nevada. O establishment republicano tem-lhe dado o seu apoio e Mitt Romney, porventura a maior figura actual do GOP, já anunciou o seu endorsement ao Senador da Florida. Ainda assim, Rubio não conseguiu subir o suficiente nas sondagens para destronar Donald Trump e, ainda por cima, os Estados que vão a votos na Super Tuesday não lhe são muito favoráveis. Por isso, precisará de minimizar os danos a 1 de Março e vencer as primárias da Florida e do Ohio, a 15 de Março se quiser manter vivas as suas hipóteses.
Ted Cruz ainda se mantém na corrida, mas, na Carolina do Sul, nem sequer conseguiu ser a primeira escolha do eleitorado evangélico, o seu grande alvo. E se, nesse Estado do Sul, com eleitores profundamente conservadores, o Senador do Texas não foi além do terceiro lugar, não vejo que rumo possa Cruz tomar em direcção à nomeação. Talvez a sua melhor opção seja manter-se o mais tempo possível na corrida, de forma a ganhar notoriedade e a estabelecer uma marca junto dos eleitores conservadores, com vista a uma segunda candidatura presidencial.
Mas não vale a pena adiantarmo-nos muito nas previsões, porque, como já vimos, tudo pode acontecer e as coisas, em política, mudam muito depressa. Veremos como corre, hoje, a primária democrata na Carolina do Sul e, na Terça-feira, a Super Tuesday. Depois disso, já podemos tirar melhores conclusões sobre quem irá disputar a Casa Branca na eleição geral do Outono. Contudo, se tivesse, neste momento, de apostar o meu dinheiro, teria de dizer que teremos um embate entre Hillary Clinton e Donald Trump. Quem diria...

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

A vitória dos outsiders

O New Hampshire é conhecido por premiar candidatos improváveis, ou, como lhe chamam os norte-americanos, os mavericks. Em 1992, Bill Clinton tornou-se o comeback kid ao conseguir um bom resultado no Estado; em 2000 foi John McCain que derrotou o super poderoso George W. Bush e em 2008 Hillary Clinton deu a volta às sondagens e derrotou Barack Obama. Este ano, os eleitores do granite state voltaram a demonstrar a sua faceta independente e irreverente ao escolherem para vencedores das suas primárias dois candidatos que correm por fora do establishment de cada um dos dois grandes partidos políticos dos Estados Unidos: Bernie Sanders, pelos democratas, e Donald Trump, pelo GOP. Os resultados oficiais ainda não estão totalmente apurados, mas nunca houve dúvidas quanto aos vencedores - foram declarados por todas as estações logo no fecho das urnas no New Hampshire. 
Bernie Sanders derrotou copiosamente Hillary Clinton, com uma vantagem de cerca de 20 pontos percentuais, confirmando as sondagens mais optimistas. Com este resultado, o senador do Vermont ganha momentum para enfrentar as próximas primárias, na Carolina do Sul e no Nevada. Para ser competitivo nesses Estados, Sanders tem de apelar ao voto das minorias (os afro-americanos no primeiro Estado e os hispânicos no segundo), coisa que não tem conseguido fazer de forma eficaz. Contudo, a sua enfática vitória no New Hampshire dá-lhe uma nova legitimidade política e eleitoral e isso pode fazer com que os eleitores democratas que contavam votar em Hillary (alguns deles por falta de alternativas viáveis) olhem com mais atenção para a candidatura de Bernie e se sintam atraídos pela sua mensagem anti-establishment, anti-Wall Street e marcadamente liberal - ou socialista.
Por sua vez, Hillary Clinton, sofreu um duro golpe no New Hampshire, um Estado que lhe trazia tão boas recordações. Terá mantido os seus eleitores de 2008, quando conseguiu 39% dos votos, mas parece ter sido incapaz de atrair novos votantes, perdendo de forma esmagadora o voto dos jovens e dos independentes, com este último grupo a deslocar-se às urnas em grande número e, na maioria dos casos, para votar em Sanders. Agora, Hillary terá de contrariar a narrativa negativa que se criará à volta da sua campanha e reafirmar a sua posição de destacada frontrunner. Para o fazer, nada melhor do que uma dupla vitória na Carolina do Sul e no Nevada, mas, para isso, terá de encarar mais seriamente a ameaça de Bernie Sanders pela sua Esquerda. Ontem, no seu discurso de concessão de derrota, a ex-Secretária de Estado esforçou-se por fazer passar uma mensagem liberal, tentando "chegar" ao eleitorado de Sanders. Veremos se isso será suficiente.
Do outro lado, no Partido Republicano, Donald Trump alcançou um sólido triunfo, com mais de um terço dos votos e compensou a sua derrota no Iowa. Decorridas as duas primeiras eleições, Trump ficou sempre nos dois primeiros lugares e reforçou o seu estatuto de frontrunner.
Mas as boas notícias para The Donald não se ficam pela sua vitória. Isto porque os resultados dos restantes candidatos foram praticamente perfeitos para as hipóteses da candidatura presidencial do bilionário nova-iorquino. Com os votos muito dispersos pelos candidatos do establishment, todos eles muito próximos uns dos outros, tudo indica que seguirão (quase) todos na corrida, o que continuará a dispersar os votos dos republicanos mais tradicionais e mais moderados. É um facto que o apoio de Trump atingiu o seu tecto máximo, mas se um terço dos votos for suficiente para ir ganhando eleições, então Donald Trump não precisará de mais votos para ser o nomeado republicano (algo que continuo a considerar improvável, ainda que cada vez mais possível).
New Hampshire também correu bem para John Kasich que terá alcançado o segundo posto, depois de um sprint final que lhe terá valido muitos apoios. Ainda assim, Kasich apostou tudo neste Estado e não conseguiu mais do que 16% dos votos. Com um discurso demasiado moderado para Estados como os que irão a votos nas próximas semanas e sem estruturas nesses locais, não vejo como o Governador do Ohio ainda possa ser uma força nestas primárias e deverá ter o mesmo percurso de Jon Huntsman, em 2012. 
Como havia antecipado, Ted Cruz conseguiu um resultado relativamente positivo, tendo em conta as suas expectativas no New Hampshire e pode mesmo, depois de estarem contados todos os votos, ocupar o último lugar do pódio. Depois do Iowa, o governador do Texas tornou-se o último verdadeiro representante do movimento conservador e isso é-lhe benéfico a nível eleitoral, garantindo-lhe uma base de apoio estável e que o levará a disputar a eleição até ao final, ou muito perto disso. 
Na interessante disputa pessoal entre Jeb Bush e Marco Rubio, temos, neste momento, um resultado muito próximo, com ligeira vantagem para o irmão de W. Um dos principais destaques da noite de ontem tem de ser, obrigatoriamente, a implosão de Marco Rubio que, depois do Iowa, parecia estar bem lançado para se tornar o principal opositor de Trump e Cruz e, porventura, o favorito a conseguir a nomeação presidencial republicana. O debate do passado Sábado, porém, tudo mudou e Rubio poderá não ter passado de um péssimo quinto posto no New Hampshire. Veremos, nos próximos tempos, se o senador da Florida é capaz de se reagrupar e voltar em força. O seu mau resultado teve, ainda assim, o condão de dar uma nova oportunidade a Jeb Bush, que, não alcançando um resultado que possa ser encarado como positivo, lhe permite continuar na corrida pelo menos até à Carolina do Sul.
Mas o New Hampshire deverá ter marcado o ponto final nas campanhas de Chris Christie, Carly Fiorina e Ben Carson. Christie, que chegou a ser um dos favoritos, nunca descolou nas sondagens e tinha muita bagagem para umas primárias republicanas (o bridgegate ou o abraço a Obama). A prestação no último debate em que arrasou Rubio deu-lhe ânimo, mas não foi suficiente. Ontem à noite, anunciou que vai reanalisar a sua campanha, o que significará, certamente, o final da candidatura à Casa Branca. Fiorina e Carson, abaixo dos 5%, sem apoios, dinheiro ou motivos para continuarem, deverão seguir o mesmo caminho.
Realizada mais uma primária, a corrida continuará e parece estar para durar, com a certeza que nada é certo e tudo pode acontecer. Afinal, se há uns meses alguém dissesse que Bernie Sanders e Donald Trump seriam os vendedores da primária do New Hampshire, seria rapidamente apelidado de louco.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

Olá, New Hampshire

As eleições primárias estão de volta, hoje, com a realização da primária do New Hampshire, a primeira neste formato, já que, na semana passada, no Iowa, realizou-se uma eleição em formato de caucus. Agora, num Estado mais homogéneo politicamente - os eleitorados democratas e republicanos não são tão polarizados - teremos uma primária que poderá ser importante na definição da corrida.
Do lado democrata, tudo indica que teremos uma vitória de Bernie Sanders, com todas a sondagens a darem uma vantagem folgada ao senador do vizinho Estado de Vermont. Hillary Clinton já praticamente desistiu de disputar a primária que lhe deu uma surpreendente vitória sobre Barack Obama, há oito anos, e que a lançou para uma longa e renhida disputa com o actual presidente norte-americano. 
Segundo as últimas notícias, Hillary não está contente com o modo como a sua campanha está a decorrer e já se fala em mexidas no seu staff, em especial no sector da comunicação digital, que está a ser claramente ultrapassada pela mensagem de Sanders. Ora, esse sucesso da campanha de Sanders nos meios digitais tem muito a ver com a penetração de Bernie no eleitorado jovem, que apoia maciçamente o único senador declaradamente socialista nos Estados Unidos. Se esse sucesso nos jovens é causa ou efeito das campanhas digitais, é mais difícil de saber. Contudo, David Axelrod, o guru da estratégia de comunicação de Obama terá alguma razão no que diz sobre a campanha de Clinton.
Será que, como em 2008, as sondagens voltarão a estar erradas ou Hillary sofrerá mesmo uma dura derrota no The Granite State? A crer na atitude de Clinton e nas sondagens - a média do Pollster dá uma vantagem de cerca de 14% a Bernie Sanders - será mesmo o senador do Vermont a declarar vitória. Ainda assim, Hillary Clinton conta com uma larga vantagem a nível nacional e nos próximos Estados a ir votos, fruto da sua enorme superioridade estrutural e organizacional. Continuará, por isso, a ser a grande favorita a obter a nomeação presidencial pelo Partido Democrata.
Na facção republicana, as coisas não são tão simples e, em vez de termos uma corrida bipolarizada, temos uma disputa que conta ainda com oito concorrentes. Depois da vitória de Ted Cruz no Iowa, o cenário muda de figura no Iowa, onde o eleitorado republicano é bem mais moderado e com menos incidência de votantes evangélicos. Assim, o senador do Texas não repetirá a vitória do caucus do Iowa e deveremos assistir ao primeiro triunfo do grande animador deste ciclo eleitoral: Donald Trump.
The Donald tem liderado com larga vantagem em todas as sondagens no New Hampshire e, apesar de os seus números a nível nacional terem perdido algum fulgor depois do Iowa, no Granite State mantiveram-se praticamente inalterados. É possível, porém, que a sua vitória não seja tão expressiva como indicam os números das sondagens, porque, como se viu no Iowa, o seu apoio eleitoral é extremamente volátil. Em contrapartida, os eleitores que ainda não decidiram o seu sentido de voto, têm poucas probabilidades de optar pelo mogul do imobiliário. Se Trump obtiver uma vitória curta, poderemos assistir ao início do fim da sua campanha.
Com o primeiro lugar praticamente assegurado, interessa perceber quem ficará com o segundo posto. Esse lugar deverá ser disputado por Marco Rubio e John Kasich, com Ted Cruz e Jeb Bush a espreitarem uma surpresa. Até há poucos dias atrás, esperava-se que Rubio solidificasse o seu bom resultado no Iowa, mas a sua desastrosa participação no último debate antes desta primária travou o seu momentum e estagnou os seus ganhos face a Trump. Em sentido contrário, Chris Christe pode aproveitar a sua forte prestação no debate para catapultar a sua campanha que parecia em queda livre rumo à desistência após o New Hampshire e pode ser uma das surpresas da noite.
John Kasich tem feito um forcing final no New Hampshire, fruto da moderação do seu discurso e das centenas de membros do seu staff que importou do Ohio, onde é Governador. Também Jeb Bush recuperou alguma coisa nos últimos dias e um resultado acima dos 10% pode manter viva a sua campanha, que conta ainda com forte apoio financeiro por parte dos Super PACs por detrás da sua candidatura. 
Com o voto moderado e do establishment dividido entre Rubio, Christie, Kasich e Bush, Ted Cruz corre sozinho pelo voto ultraconservador, o que lhe valerá sempre um resultado nos quatro primeiros e o manterá bem lançado na corrida. Ben Carson não repetirá o quarto lugar do Iowa e ficará nos low single digits, à imagem de Carly Fiorina que continuará a ser um non factor nestas eleições.
Resumindo, a corrida democrata pouco se definirá depois do New Hampshire, com Bernie Sanders a fazer pela vida de primária em primária, enquanto que Hillary Clinton continuará a sua maratona rumo à nomeação, salvo uma enorme surpresa. No GOP, poderemos assistir a mais duas ou três desistências, mas com o travão na ascensão de Marco Rubio, outros candidatos como Jeb Bush, John Kasich ou Chris Christe poderão ter votos suficientes para se manterem mais um pouco na corrida. Estamos, todavia, no campo das especulações e as decisões que realmente importam serão tomadas mais logo pelos eleitores do New Hampshire. E nós cá estaremos para assistir.

domingo, 7 de fevereiro de 2016

Rubio travado no debate

Realizou-se ontem o último debate televisivo entre os candidatos presidenciais republicanos antes da primária do New Hampshire, que, para muitos deles, é totalmente decisiva e pode significar a última oportunidade de se imporem na corrida. E isso ficou bem patente ao longo da noite, com os concorrentes a mostrarem-se mais empenhados do que nunca a deixarem uma forte impressão aos eleitores. Terá sido, porventura, o melhor dos debates republicanos até ao momento.
Foi um debate com muitos momentos marcantes - o Politico reúne aqui os 11 mais explosivos - mas, sem dúvida que o que está a marcar a actualidade é a implosão de Marco Rubio, que sucumbiu ao ataque certeiro e sem piedade de Chris Christie. Num momento que ficará para a história dos debates presidenciais, o Governador de New Jersey acusou Rubio de ser totalmente inexperiente para ser presidente e referiu que o Senador da Florida pouco dizia de substancial, limitando-se a recorrer a um soundbyte previamente decorado. Marco Rubio não conseguiu rebater o ataque e piorou ainda a situação ao usar a mesma frase que havia levado à acusação por parte de Christie três vezes ao longo do debate. Mais tarde, tentou contra atacar Christie, mas o tiro saiu pela culatra, como se pode ver no vídeo que encabeça o post.
Marco Rubio, normalmente forte nos debates, saiu claramente a perder da noite de ontem e pode vir a prejudicar o momentum que conseguiu após o seu forte 3º lugar no Iowa. Terá tido a sua pior prestação de sempre em debates e pareceu acusar a pressão de estar debaixo de fogo por parte dos candidatos do establishment, que viram em Rubio o seu principal adversário pelo voto dos republicanos mais tradicionais e moderados. Chris Christie destacou-se, mas também Jeb Bush lançou alguns golpes ao seu (ex) amigo e outros ainda a Donald Trump. The Donald esteve relativamente tranquilo no debate, saindo-se bem e mostrando uma faceta menos agressiva do que o habitual (ainda que tenha mandado calar Jeb Bush), talvez fruto da sua derrota no Iowa. Por sua vez, Ted Cruz, um peixe fora de água no New Hampshire, tentou passar entre os pingos da chuva, esperando por Estados com eleitorados mais conservadores e onde a sua mensagem possa ser melhor recebida.
A dois dias da primária do granite state, falta saber qual a influência que este debate terá nos resultados finais. É possível que Donald Trump tenha feito o suficiente para aguentar a sua vantagem (que se mantém segura, mas a diminuir, segundo as últimas sondagens) e que Marco Rubio sofra alguma coisa após a sua péssima prestação - que não foi, ainda assim, um momento ups. No sentido contrário, Chris Christe poderá receber um tão desejado balão de oxigénio, ao mesmo tempo que Jeb Bush, com uma recente tímida subida nas sondagens, também poderá ver algum apoio a correr na sua direcção. John Kasich, esse, continua a não aproveitar as oportunidades para marcar pontos e dar uma nova vida à sua recandidatura. Veremos, na Terça-feira, quem sairá do New Hampshire a sorrir e quem sairá... da corrida.

Para o fim, fica um dos momentos mais curiosos e hilariantes do debate de ontem. Um vídeo a não perder:

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

As desistências

Depois de uma longa época de pré-campanha que durou praticamente todo o ano de 2015 (num período que costuma ser conhecido como a "primária invisível", o Iowa marcou o início oficial das eleições presidenciais norte-americanas. E, com os primeiros resultados a serem conhecidos, começaram, sem surpresa, as desistências da corrida por parte daqueles que não conseguiram passar a sua mensagem.
Logo na noite do caucus do Iowa, Martin O'Malley anunciou a suspensão da sua campanha, o que significa sempre a desistência. Numa corrida a dois entre Hillary Clinton e Bernie Sanders, o ex-Governador da Virginia nunca se conseguiu afirmar e viu Sanders a assumir o papel que estaria a pensar que seria o seu: o de representante da ala mais liberal do Partido Democrata. Com esse espaço ideológico ocupado pelo senador do Vermont e com Hillary a dominar as preferências do establishment democrata, a campanha de O'Malley, que chegou a ser apontado como um forte candidato, nunca teve qualquer hipótese.
Ainda na noite de 1 de Fevereiro, também Mike Huckabee saiu da corrida, depois de um péssimo resultado num caucus que havia vencido de forma surpreendente em 2008. Contudo, desta vez, o antigo Governador do Arkansas não contava com o factor novidade e não conseguiu voltar a contar com o voto evangélico, que votou preferencialmente em Ted Cruz. 
Curiosamente, Huckabee teve exactamente o mesmo resultado (1,8% dos votos) que Rick Santorum, o último vencedor no caucus do Iowa, em 2012. Santorum, que só teve o destaque que teve há quatro anos porque o leque de candidatos era dos mais fracos de sempre, não repetiu a graça e confirmou a irrelevância da sua candidatura. Ontem, também anunciou a sua desistência.
Se todas estas desistências eram esperadas devido aos maus resultados que o Iowa trouxe a estes ex-candidatos, já a desistência anunciada ontem por Rand Paul é um pouco mais surpreendente. O actual senador do Kentucky, eleito na onda republicana de 2010, partiu como uma das principais figuras para esta campanha eleitoral. Contudo, os seus números nas sondagens nunca descolaram e nem sequer foi capaz de atrair o voto do eleitorado libertário que apoiou entusiasticamente o seu pai Ron Paul em 2012. Contudo, Rand podia ainda tentar um pequeno surge no New Hampshire, precisamente o Estado com um bloco libertário mais importante e onde o seu pai conseguiu um segundo lugar há quatro anos. Assim, esperava-se que Paul fizesse uma última tentativa antes de sair da corrida. Não foi essa, porém, a decisão de Rand Paul que, com problemas em angariar dinheiro, relegado para os debates secundários e preocupado com a sua reeleição para o Senado em Novembro, preferiu desistir já e minimizar os riscos.
No New Hampshire, daqui a cinco dias, far-se-á uma nova selecção de candidatos, em especial do lado republicano, já que no campo democrata a corrida está limitada a dois concorrentes. Com o leque de candidatos da ala do establishment republicano ainda largo (além do agora favorito Rubio, ainda seguem Jeb Bush, Chris Christie e John Kasich), é bem provável que depois da primária do granite state ocorram mais desistências até porque a Super Tuesday de 1 de Março aproxima-se e os candidatos precisarão de muito dinheiro para disputarem 14 Estados simultaneamente. Veremos, por isso, quem serão os próximos dropouts da classe de 2016.

terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

O Iowa falou

Está dado o primeiro passo rumo à escolha do 45º Presidente dos Estados Unidos. Ontem (esta madrugada em Portugal), os eleitores do Iowa compareceram em números recordes (170 mil pessoas apenas no lado republicano) ao caucus e deram a primeira vitória deste ciclo eleitoral a Ted Cruz. Na corrida democrata, temos, até ver, um empate, ainda que, numa altura em que ainda não se conhecem os resultados definitivos, tenha uma minúscula vantagem sobre Bernie Sanders. Sem mais demoras, aqui ficam os resultados:

Partido Democrata
Hillary Clinton - 49,9%
Bernie Sanders - 49,5%
Martin O'Malley - 0,6%

Partido Republicano
Ted Cruz - 27,7%
Donald Trump - 24,3%
Marco Rubio - 23,1%
Ben Carson - 9,3%
Rand Paul - 4,5%
Jeb Bush - 2,8%
Carly Fiorina - 1,9%
John Kasich - 1,9%
Mike Huckabee - 1,8%
Chris Christie - 1,8%
Rick Santorum 1,0%
Jim Gilmore - 0%

No lado democrata, como se esperava, tivemos uma corrida muitíssimo equilibrada e que ainda não está totalmente decidida, mas em que Hillary parece levar vantagem. Estranhamente, Clinton declarou vitória (ou quase), sem que esse desfecho fosse conhecido na altura ( e ainda não o é). Ou os números internos da sua campanha lhe davam uma vantagem que não se veio a verificar, ou se trata de um táctica pouco ortodoxa por parte da ex-Secretária de Estado, já que uma eventual reviravolta nos resultados tornaria o cenário ainda pior para Hillary, que cairia no ridículo de perder uma eleição em que tinha declarado vitória. 
Seja quem for o vencedor final, isso apenas contará em termos de spinning por parte das campanhas, porque o resultado será sempre, na prática, um empate, ainda que HIllary deva conseguir mais delegados do que o Senador do Vermont. Com este resultado, a presumível nomeada democrata sustém o primeiro golpe de Bernie Sanders e ganha algum oxigénio para suportar a derrota esperada no New Hampshire, a acreditar nas sondagens que dão a Sanders uma larga vantagem no Granite State, cuja primária se realiza de hoje a oito dias. Quanto a Martin O'Malley, teve uma votação inexpressiva e já suspendeu a sua campanha.
Na disputa republicana, o destaque tem de ir para a vitória de Ted Cruz que aguentou a forcing final de Donald Trump, que o havia ultrapassado o senador do Texas nas sondagens, e conseguiu uma importante vitória num Estado em que apostou todas as suas fichas. Até há cerca de um mês, Cruz era o grande favorito a vencer no Iowa, mas uma forte investida de Trump e a subida de Marco Rubio prejudicaram os seus números. Com este triunfo, Cruz ganha momentum para melhor encarar o New Hampshire.
Donald Trump, que até obteve um bom resultado, não deixa de sair como derrotado, até porque no dia de ontem afirmou, no seu tom característico, que iria obter uma grande vitória. Por não ter sabido jogar o jogo das expectativas, Trump sai mal na fotografia e perdeu algum ímpeto e a aura de winner que sempre apontou a si próprio. 
No último lugar do pódio ficou Marco Rubio, que superou as expectativas e confirmou a tendência de subida que lhe apontavam recentemente. Com um excelente terceiro posto, muito perto de Trump, o senador da Florida assume-se como um sério candidato à nomeação presidencial e ofusca todos os outros candidatos mais tradicionais.
Em quarto lugar, Ben Carson até conseguiu um melhor resultado do que esperava, mas, com a sua campanha em clara perda, não deverá ser um verdadeiro contender nesta corrida. Ainda assim, ficou bem à frente de candidatos mais conhecidos e de quem se espera muito mais. Rand Paul teve um fraco resultado, ficando à frente de Jeb Bush (que teve uns ridículos 2,8% dos votos), de John Kasich e de Chris Christe, que passaram ao lado do Iowa e esperam fazer melhor no New Hampshire.
Os restantes candidatos confirmaram que não farão história nestas eleições e estarão de saída da corrida. Mike Huckabee e Rick Santorum, os últimos vencedores do caucus do Iowa não conseguiram melhor que 1,8% dos votos e o ex-Governador do Arkansas já suspendeu mesmo a sua campanha. Carly Fiorina e Jim Gilmore são, também, irrelevantes.
Todos os candidatos - aqueles que se mantiverem na corrida - terão agora uma semana para apresentar o seu caso perante os eleitores do New Hampshire. A primária decorrerá na próxima Terça-feira e fará uma nova selecção, clarificando, ou assim se espera, a corrida. Quanto ao Iowa, (e porque este será um Estado importante na eleição geral), vemo-nos no Outono!

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

So it begins

Resultado de imagem para iowa caucus 2016

Começa hoje, com a realização dos caucuses do Iowa, o processo eleitoral que durará cerca de um ano, com a escolha do sucessor de Barack Obama como Presidente dos Estados Unidos, na eleição geral de 8 de Novembro, e a sua eventual tomada de posse, a 20 de Janeiro do próximo ano.
Na fase que hoje tem início, os eleitores escolherão o candidato de cada um dos dois grandes partidos, num procedimento que poderá durar até ao Verão, quando tiverem lugar as convenções partidárias. E se a disputa democrata deverá ficar resolvida bem antes disso, já do lado republicano é muito possível que a história seja diferente e que tenhamos uma longa campanha até que se determine o nomeado do GOP. 
Seja como for, tudo indica que esta será uma das mais interessantes épocas de primárias de que há memória, com o fenómeno Trump, o maior e mais interessante leque de candidatos republicanos de sempre, a sensação Sanders e a possibilidade de termos em Hillar Clinton a primeira mulher nomeada por um grande partido. São, por isso, umas eleições que muito prometem e que seguiremos com muita atenção e interesse. A começar já hoje, no Iowa.