sexta-feira, 28 de maio de 2010

Obama e os media

Acossado pelos seus opositores que criticam a sua reacção ao desastre ambiental provocado pelo derrame da plataforma petrolífera no Golfo do México, Barack Obama voltou a dar uma conferência de imprensa, algo que não fazia há meses. Talvez não seja coincidência o facto de esse seu último encontro com os jornalistas na Casa Branca não ter corrido muito bem: foi nessa ocasião que afirmou que a polícia tinha "agido estupidamente" ao prender um professor universitário negro, quando este forçava a entrada na sua própria casa.
Após tanto tempo sem uma conferência de imprensa, é possível fazer uma breve análise sobre a relação de Obama com os media, que, hoje em dia, não parece ser a melhor. E este é um fenómeno que não era expectável, tendo em conta o historial de Obama com a comunicação social, particularmente durante a campanha presidencial. Nessa época, o, na altura, senador do Illinois era até visto como sendo muito próximo dos jornalistas que viajavam com ele e era acusado pela sua opositora nas primárias, Hillary Clinton, e, mais tarde, por John McCain, como estando a ser levado ao colo pelos media.

Porém, ao que parece, a mudança para o nº 1600 da Pennsylvania Avenue não fez bem às relações de Obama com a comunicação social. Os jornalistas que cobrem a Casa Branca têm-se queixado frequentemente do pouco acesso que têm ao presidente, talvez até menos do que em relação aos seus antecessores, o que se torna algo frustrante, dado que Obama, durante a campanha, prometeu uma presidência aberta aos cidadãos. E, de facto, no início da sua presidência, ainda a viver o período de "lua-de-mel" com os americanos, Obama foi um presidente muito comunicativo e quase sempre disponível a prestar declarações ou a falar em público. Porém, quando os seus índices de popularidade começaram a descer e os problemas com a reforma da saúde se acentuaram, o seu modus operandis alterou-se.

Parece-me a mim que a política de comunicação da Casa Branca pecou primeiro por excesso e, depois, por defeito, já que Obama e os seus assessores nunca conseguiram acertar na medida certa a nível de comunicação externa. Um presidente americano não deve falar de menos, já que corre o risco de dar a entender não estar em contacto com a realidade e com os problemas do país, nem deve falar de mais, visto que é uma verdadeira "pistola humana", com cada declaração sua a ter grandes repercussões.

Agora, o presidente americano parece querer recuperar o controlo e demonstrar que está ao leme do país. Esta crise ambiental pode mesmo ser um importante desafio para a sua presidência e Obama sabe que tem de controlar os danos já existentes (os ambientais e os da sua imagem) e que, para isso, a sua capacidade comunicativa e a sua relação com os media vão ser factores fundamentais.

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Dino Rossi candidata-se




Está na forja mais uma corrida competitiva por um lugar no Senado americano, desta vez no Estado de Washington. Isto porque Dino Rossi, antigo senador estadual e duas vezes candidato derrotado a governador, anunciou ontem a sua candidatura à nomeação republicana para essa eleição.

Rossi é um concorrente muito mais forte do que os seus opositores nas primárias do GOP e pode mesmo tornar-se uma ameaça para a actual senadora democrata, Pat Murray, já que as sondagens o colocam a curta distância de Murray, ao contrário dos outros candidatos republicanos, que surgem bem atrás. Como não podia deixar de ser, Dino Rossi, no vídeo em que anunciou a sua decisão de lutar pelo lugar no Senado, afirmou candidatar-se contra o establishment e prometeu restaurar o sonho americano.

A candidatura de Dino Rossi sublinha ainda mais uma das principais tendências deste ciclo eleitoral: o forte recrutamento de candidatos pelo GOP, enquanto os democratas se debatem com grandes problemas para conseguir encontrar concorrentes de peso. Veja-se o caso de Beau Biden que recusou candidatar-se ao lugar do seu pai, Joe Biden, no Delaware, entregando, dessa forma, esse posto aos republicanos, ou a decisão de Evab Bayh não se recandidatar ao seu cargo de senador pelo Indiana. E esta é uma das razões fundamentais que fazem com que os republicanos tenham excelentes perspectivas para as próximas eleições intercalares.

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Obama vs McCain - Act III

Barack Obama dirigiu-se, ontem, ao Capitólio, para se reunir com os senadores republicanos. Pelo que se sabe desse encontro, a discussão foi animada e, por vezes, bastante dura. Vários assuntos estiveram em cima da mesa, como a reforma financeira, a nomeação de Elena Kagan para o Supremo Tribunal, a reforma da saúde ou o ambiente.
Porém, houve um tema, o da imigração, que terá provocado uma troca de argumentos mais ríspida entre o presidente americano e um veterano e conhecido senador do GOP: nada mais, nada menos do que John McCain. Os dois foram rivais na última eleição presidencial, mas a relação pessoal entre ambos nunca pareceu especialmente tensa. O senador do Arizona chegou mesmo a defender o seu opositor quando as multidões dos seus comícios insultavam Obama. Além disso, no seu discurso de concessão de derrota, McCain foi gracioso e prometeu que o vencedor da eleição seria o seu presidente.

Porém, com Obama na Casa Branca, a relação entre os dois foi-se deteriorando. McCain, outrora um senador moderado e que muitas vezes colaborava com os democratas em legislação importante - na reforma do financiamento das campanhas ou mesmo na própria questão da imigração -, afastou-se do centro e deixou de ser um alvo dos democratas, quando estes procuravam apoio bipartidário. Este ano, os dois rivais da histórica eleição de 2008 já se tinham envolvido numa discussão. A ocasião foi uma conferência de Obama com os republicanos do Congresso, no auge da discussão sobre a reforma do serviço de saúde americano e, nessa altura, Obama "lembrou" a McCain que a campanha presidencial já tinha terminado.

Ontem, ao que parece, os dois envolveram-se em nova disputa verbal, sobre a questão da imigração, que está na ordem do dia no home state de McCain, o Arizona, um dos estados mais afectados pela imigração ilegal. No fim de contas, a discussão terá provocado alguns efeitos práticos, já que, logo a seguir, Obama anunciou o envio de 1200 soldados da Guarda Nacional para a fronteira americana com o México. Contudo, McCain e os republicanos não ficaram satisfeitos e exigem o envio de 6 mil militares para conter a "invasão" de imigrantes ilegais, através da vasta fronteira que tem mais de 3 mil quilómetros de extensão.

O tema da imigração é uma questão bastante controversa e que é de complexa resolução. O reforço do patrulhamento da fronteira dos Estados Unidos com o México não será, e isso é claro, a silver bullet que resolverá este problema. Por isso, a reforma da imigração que se espera que ainda chegue este ano ao congresso, será uma das discussões mais importantes e interessantes nos próximos tempos. E é muito possível que esse debate traga novos confrontos entre dois pesos pesados da política americana: Barack Obama e John McCain.

terça-feira, 25 de maio de 2010

"Don't ask, don't tell" com fim à vista

Desde 1993, numa época em que era Bill Clinton a ocupar a Casa Branca, que o método utilizado pelas forças armadas americanas para lidar com os gays e lésbicas que se desejassem alistar era o famoso "don't ask, don't tell". Esta política veio permitir a essas pessoas servirem no Exército, Marinha ou Força Aérea dos Estados Unidos, pois apesar de a homossexualidade continuar a ser proibida nos meios militares, os recrutas já não eram obrigados a revelar a sua orientação sexual, nem os seus superiores podiam questioná-los sobre isso.
O "don't ask, don't tell", apesar de não ter representado, na altura, o avanço esperado pelas associações de gays, lésbicas e bissexuais, veio acabar com a "caça às bruxas" nas forças armadas. No fundo, a implementação desta medida é o exemplo paradigmático da governação de Bill Clinton, que representou uma espécie de terceira via à americana, moderada, centrista e procurando o compromisso entre liberais e conservadores.

Agora, o fim do "don't ask, don't tell" está em vias de ser revogado, o que pode acontecer já esta semana, esperando-se uma votação no Congresso que faça isso mesmo e acabe com a proibição de homossexuais nas forças armadas. A Casa Branca deu ontem o seu apoio e hoje foi a vez do Secretário da Defesa, Robert Gates, conceder a sua (pouco convicta) anuência. Apesar de algumas reservas dos meios militares, o fim do "don't ask don't tell" é apoiado por uma grande maioria dos americanos - mesmo entre o eleitorado conservador - que entende que as escolhas sexuais de cada um não devem ser motivo de impedimento para o serviço militar. Vejamos, então, se o Congresso concorda ou não com os seus constituintes.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Tráfico de influências ou estratégia eleitoral?

Apesar da grande vitória sobre Arlen Specter, na semana passada, e de aparecer nas sondagens como o favorito para vencer a eleição geral para o Senado, em Novembro, Joe Sestak está já envolvido numa controvérsia que ainda poderá fazer correr muita tinta: ontem, no conhecido talk-show de Domingo, Meet the Press, Sestak confessou ter-lhe sido oferecido um cargo na Casa Branca em troca da sua desistência na corrida que o opunha ao senador Specter. Depois da surpreendente revelação, tanto o candidato democrata ao Senado, como o press-secretary da Casa Branca, Robert Gibbs, têm-se recusado a comentar o assunto.
Durante os últimos meses, muito se falou sobre as manobras da liderança democrata para tentar demover Joe Sestak de desafiar Specter nas primárias do partido. Arlen Specter, senador há 30 anos, tinha acordado a mudança para o Partido Democrata em troca do apoio da estrutura partidária nas primárias. Assim, para evitar a forte concorrência que a candidatura de Sestak representava, os líderes democratas, com a Casa Branca de Obama incluída, tentaram de tudo para afastar Sestak da corrida. Porém, a ser verdade este método utilizado, além de eticamente reprovável, representa um crime federal.

A grande incógnita, para já, são os motivos que levaram Sestak a fazer esta revelação. O impacto sobre a sua candidatura, a existir, só mais tarde será conhecido. Contudo, é possível que Joe Sestak esteja a tentar afastar-se do establishment democrata e da administração Obama, demonstrando que é um candidato supra-partidário e que não compactua com este género de estratagemas menos claros. Uma estratégia deste género parece inteligente numa época em que os eleitores estão profundamente desiludidos com os partidos políticos e com a política que se faz em Washignton. Mas, se irá resultar ou não é algo que só saberemos mais lá para a frente.

sexta-feira, 21 de maio de 2010

As polémicas da semana

Não foram só as eleições primárias de Terça-feira a marcarem a semana política americana. Durante os últimos dias, duas polémicas encheram as primeiras páginas dos jornais nos Estados Unidos. A nível partidário, esta matéria resultou num empate, com um caso para cada lado.
A primeira história remete-nos para o candidato democrata ao Senado pelo Estado do Connecticut, Richard Blumenthal, que foi apanhado a mentir sobre o seu passado militar, referindo-se ao serviço prestado na guerra do Vietname, quando, na verdade, nem sequer chegou a pisar solo vietnamita, tendo recorrido a sucessivos adiamentos para evitar a incorporação militar em tempo de guerra. Já se sabe que o tema do serviço militar é um dos mais sensíveis para a sociedade americana e estas mentiras (ou enganos, como Blumenthal tem afirmado) estão a ser vistas como um desrespeito pelos veteranos de guerra norte-americanos. Assim, após este monumental tropeção de Blumenthal, uma corrida que ninguém esperaria poder vir a fugir aos democratas - após a decisão de Chris Dodd, o impopular detentor do cargo, de não se recandidatar - passa a estar na coluna das eleições que podem a vir a ser disputadas.

Por sua vez, a polémica republicana tem a ver com Rand Paul, o recém-nomeado candidato do GOP ao Senado pelo Estado do Kentucky. Paul, que pode muito bem representar a primeira grande vitória do Tea Party sobre o establishment do Partido Republicano, tem sido criticado por parte dos media americanos, que o acusam de assumir posições radicais, completamente fora do mainstream político do país. Recentemente, Paul pôs em causa a legitimidade de um aspecto do Civil Rights Act de 1964 (a legislação que acabou com a segregação entre brancos e negros), que proibiu a discriminação racial em estabelecimentos privados. Esta posição colocou os movimentos dos direitos civis e vários quadrantes da sociedade americana em polvorosa, mas os efeitos sobre o estado da corrida ao Senado são ainda incertos. Porém, também aqui, a eleição de Rand Paul e estas suas declarações parecem vir trazer algum equilíbrio a uma disputa que, à partida, era dada como certa para o GOP.

Estas duas controvérsias prometem uma campanha de Verão muito quente - e não só devido ao calor - nas corridas do Connecticut e do Kentucky ao Senado. Como tal, irão merecer, ao longo dos próximos tempos, uma atenção especial por parte do Máquina Política.

O Máquina Política online

O Máquina Política é um projecto que não se esgota no blogue e começa, agora, a sua expansão e penetração no campo das redes sociais, de modo a que possa chegar a mais pessoas, de forma mais rápida e com uma correlação entre todas as plataformas marcada pelo dinamismo.
Assim, como se pode verificar no menu à direita, o Máquina Política já tem uma página no Facebook, no Twitter e no Google Buzz. Esta última rede social encontra-se agregada ao e-mail deste blogue e que pode ser utilizado por todos, seja para colocar questões, apresentar sugestões, ou tratar qualquer outro assunto: maquinapolitica@gmail.com

Através das redes sociais e do correio electrónico, este espaço alarga os seus horizontes e fica mais próximo dos utilizadores mais exigentes. Por estas razões e por qualquer outra, convido-vos a seguirem o Máquina Política.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

A derrota do sistema

As eleições primárias de ontem para as corridas para o Senado ficaram indubitavelmente marcadas pela vitória dos candidatos ditos outsiders insurgentes e a derrota dos concorrentes do establishment partidário.

O grande destaque da noite de ontem vai para o Estado da Pennsylvania, onde o congressista e ex-almirante da marinha americana, Joe Sestak, derrotou o veterano senador, Arlen Specter, por uma margem confortável: 54 contra 46% dos votos expressos. Specter, quando, no ano passado, mudou do Partido Republicano para o Democrata, concedendo, dessa forma, uma maioria à prova de fillibuster a Barack Obama, garantiu o suporte do aparelho do partido para a sua reeleição deste ano e contou, nesta campanha, com o apoio das grandes figuras democratas, como o próprio presidente, o vice-presidente Joe Biden e o líder da maioria no Senado, Harry Reid. Contudo, pode-se discutir se esse mesmo apoio lhe foi favorável ou prejudicial, tendo em conta o profundo sentimento anti-Washignton que se observa, actualmente, nos Estados Unidos. Uma nota ainda para a vitória democrata numa eleição especial para a Câmara dos Representantes, pelo 12º círculo da Pennsylvania, onde se decidia a sucessão do falecido congressista John Murtha.

No Arkansas, o cenário não foi tão negro para a senadora democrata Blanche Lincoln que venceu a sua eleição primária. Contudo, a sua vitória, por uma ínfima margem e sem conseguir maioria absoluta, não foi suficiente para evitar uma segunda volta, contra Bill Halter, o candidato apoiado pela ala mais liberal dos democratas. O apertado resultado de ontem, combinado com mais duas semanas de campanha, fazem deste novo acto eleitoral uma corrida cujo desfecho é imprevisível.

Ainda no Sul, mas no Estado do Kentucky, realce para a esmagadora vitória de Rand Paul, o filho de Ron Paul e o candidato apoiado pelo Tea Party, sobre os dois concorrentes preferidos pelo establishment do GOP. Assim, defrontará, em Novembro, o democrata Jack Conway que, por sua vez, arrecadou a nomeação do seu partido. Esta vitória de Paul coloca a discussão por este lugar no Senado americano no centro das atenções, visto que as suas ideias e posições fogem do mainstream político americano. Contudo, o Kentucky é dos estados mais conservadores da América, o que permite a Rand Paul ser visto como o favorito à vitória.

Em jeito de rescaldo, ficam bem evidentes as dificuldades para os políticos de Washington, a quem os eleitores culpabilizam pela má situação económica do país e pelo clima de guerrilha política entre os dois partidos. Este cenário, a manter-se até Novembro, pode trazer grandes dissabores para os actuais detentores de cargos públicos e uma grande mudança no figurino do Congresso norte-americano.

terça-feira, 18 de maio de 2010

A Super Tuesday de 2010

Em todas as eleições primárias em que se disputa a nomeação para a presidência americana existe uma Terça-feira onde vários estados vão a votos e que costuma assumir uma importância decisiva. Esse dia é conhecido como Super Tuesday. Este ano, apesar de apenas irem ter lugar eleições intercalares, a noite de hoje também poderia ser assim denominada, visto que os americanos de quatro estados americanos irão a votos. E de entre as várias eleições de hoje, três corridas assumem uma importância especial para a luta ao Senado.
No estado do Kentucky, o grande motivo de interesse é a candidatura de Rand Paul, filho do congressista e candidato presidencial de 2008, o libertarian Ron Paul. Rand, como o pai, tem uma ideologia peculiar - defende, por exemplo, o fim do Departamento da Educação ou os impostos sobre o rendimento - mas parece estar a levar a melhor sobre os seus oponentes. Tendo em conta as suas posições, se Paul conseguir, esta noite, a nomeação republicana, este lugar de senador pelo Kentucky pode converter-se em mais uma corrida competitiva, oferecendo aos democratas a hipótese de contestar uma eleição onde isso, à partida, não seria expectável.

No Arkansas, a Senadora Blanche Lincoln enfrenta uma dura batalha pela nomeação democrata, onde tem como adversário o Lieutenant Governor do Estado, Bill Halter. Se na eleição geral de Novembro, Lincoln terá uma tarefa quase impossível para bater o candidato republicano, o cenário para hoje, tendo em conta as sondagens, parece ser-lhe mais favorável. Assim, o grande objectivo de Halter será o de tentar evitar que a sua adversária atinja a marca dos 50%, enviando, dessa forma, a decisão para uma segunda volta onde tudo pode acontecer.

Para o fim fica a eleição que é, porventura, a mais interessante e mais disputada de todas: a disputa pela nomeação democrata para o senado na Pennsylvania. Aqui, o actual senador Arlen Specter e o congressista Joe Sestak encontram-se completamente empatados nas sondagens e o desfecho será imprevisível. Specter já está habituado a estas corridas decididas ao "photo finish", pois há seis anos, na altura a disputar a nomeação republicana, venceu à justa, com 51% dos votos, contra 49% do seu adversário.

São estas e muitas outras as decisões que os americanos terão de tomar durante o dia de hoje. A noite promete ser longa, mas, amanhã, aqui estarei para fazer o balanço e a análise do veredicto do eleitorado norte-americano.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

sexta-feira, 14 de maio de 2010

A mancha de crude também chega à política

O desastre ambiental causado pela mancha de crude que resultou do derrame na plataforma petrolífera da BP no Golfo do México, teve, como não podia deixar de ser, fortes repercussões políticas nos Estados Unidos.
Em primeiro lugar, esta tragédia ocorreu pouco depois de o presidente Barack Obama ter anunciado a sua decisão de permitir a exploração petrolífera em zonas costeiras até aí interditas. Esta medida, criticada pelos ambientalistas e pela ala mais liberal dos democratas, tinha como objectivo reduzir a dependência americana do petróleo proveniente do exterior, mas era, também, uma forma de agradar aos republicanos, serenando os ânimos, depois da dura batalha travada pela reforma da saúde. Porém, depois do sucedido na plataforma da BP, o debate sobre a segurança desta exploração petrolífera no mar voltou às primeiras páginas dos jornais. Em segundo lugar, a administração Obama foi muito criticada pelos seus adversários políticos, pela alegada tardia, fraca e inadequada resposta ao desastre.

Se estas discussões são perfeitamente legítimas, o mesmo já não se pode dizer de algumas acusações que foram lançadas ao presidente americano. Primeiro, foi sugerido que Obama permitiu o avolumar da dimensão da tragédia de forma a que pudesse voltar atrás nessa decisão de explorar a costa americana. Este ataque, que nem merece comentários, é tão condenável como aqueles que acusam Bush de ter permitido ou causado os atentados do 11 de Setembro. Depois, a comparação da reacção da administração de Obama com a resposta totalmente falhada da administração anterior à destruição de New Orleans pelo furacão Katrina parece-me injusta e infundada. As responsabilidades que podem ser atribuídas às autoridades federais nesta situação prendem-se mais com as suas falhas na regulamentação e fiscalização das medidas de segurança na plataforma que se afundou do que com a sua resposta ao sucedido.

No fundo, esta radicalização do discurso e os ataques pessoais e graves que são feitos - tanto de um lado, como do outro, diga-se - apenas resultam na escalada da polarização política da sociedade americana e na perda de qualidade e substância da discussão política do país. E isso não favorece ninguém.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

2010: um mau ano para os incumbentes e para o centro

Já se percebeu que, este ano, os senadores, governadores e congressistas que tentam a reeleição não terão vida fácil. Na verdade, o ambiente político é-lhes extremamente desfavorável, dada a lenta recuperação desde a crise financeira e económica de 2008, que faz com que os eleitores, na hora de procurarem culpados, tendam a escolher os actuais detentores de cargos públicos, favorecendo aqueles que tentam substituí-los.

Outro fenómeno a que se está a assistir nas eleições primárias deste ano, e em ambos os partidos, é o dos problemas que os candidatos mais moderados estão a enfrentar para se defenderem dos concorrentes que os atacam pela Direita, no caso republicano, ou pela Esquerda, no caso democrata. É um sinal da progressiva polarização da política americana que, a meu ver, não é bom sinal.

Esta semana, assistiu-se a um destes casos, com o afastamento do senador do Utah, o republicano Robert Bennett, da corrida à nomeação do GOP, numa convenção do partido, em detrimento de dois candidatos mais conservadores. Contudo, este é um caso singular, visto que Bennett foi derrotado devido ao sistema invulgar utilizado pelos republicanos neste Estado - uma convenção - exclusivo a um pequeno número de pessoas, na sua maioria bem mais conservadora que o grosso dos eleitores republicanos do Utah, já de si um Estado bem alinhado à Direita.

Na próxima Terça-feira, é possível que vejamos mais um incumbente moderado a ser afastado precocemente. Nesse dia, disputam-se as primárias na Pennsylvania, com o actual senador democrata, Arlen Specter, a ter a concorrência do congressista Joe Sestak, que tem surgido na dianteira da corrida em sucessivas sondagens. Sestak, um ex-Almirante da Marinha americana, tem-se assumido como a alternativa mais liberal a Specter, apesar de o seu currículo na Câmara dos Representantes até o colocar mais à Direita do que o seu opositor. O caso de Arlen Specter é curioso, pois este entrou para o Senado em 1981, mas, na altura, como republicano. No ano passado, quando percebeu que devido ao seu historial de voto - alinhado com os democratas - não teria hipóteses de ser nomeado pelo GOP, mudou-se para o lado democrata. Porém, parece que, no fim de contas, esta mudança pode não ter o desfecho que Specter desejava.

De facto, o clima político que se vive nos Estados Unidos não favorece Specter nem outros que, como ele, se encontram duplamente fragilizados: por um lado, pelo sentimento anti-Washington; por outro, pela sua posição moderada, que os torna mais vulneráveis a ataques pelo flanco.

terça-feira, 11 de maio de 2010

O problema latino do GOP

O apoio da maioria do establishment republicano à nova legislação do Arizona sobre a imigração trouxe a lume um tema que há já algum tempo é debatido pelos estudiosos da política norte-americana: o possível problema demográfico do Partido Republicano, decorrente da sua precária incursão nas crescentes minorias americanas. Depois de terem perdido, há muitos anos, o eleitorado afro-americano, o GOP pode estar em vias de perder um grupo cada vez mais numeroso e fundamental: o hispânico.

É verdade que, segundo as sondagens, esta lei conta com o apoio da maioria da população americana. Porém, o que os estudos de opinião não nos indicam é o nível de importância que cada comunidade concede a este tema. Porque se assim fosse, estou convencido que mostrariam que a maioria dos eleitores que favorecem esta lei não fariam deste tópico um dos principais factores no momento de decidirem o seu voto. Mas, pelo contrário, os eleitores hispânicos, cujos familiares e amigos (e até eles próprios) serão os mais afectados por esta legislação, concederão uma importância tal a esta matéria que poderá mesmo influenciar directamente o seu sentido de voto. Assim, se os republicanos optarem por fazer do apoio a esta lei um dos elementos da sua plataforma eleitoral, poderão estar a dizer adeus, talvez definitivamente, aos votantes latinos.

Hoje em dia, este eleitorado é cada vez mais essencial para a matemática eleitoral dos EUA, dado que representa já cerca de 15% da população americana e com clara tendência para aumentar. A importância do voto hispânico merece ainda mais destaque quando se observa que, em muitos dos mais importantes estados para as eleições presidenciais, os latinos formam uma grande parte dos votantes. Em 2008, o exemplo do New Mexico salta à vista, com os seus 41% de votantes hispânicos, mas também o Texas (20%), a Califórnia (18%), o Arizona (16%), o Nevada (15%), a Florida (14%) ou o Colorado (13%) merecem destaque. Por isso, não é de surpreender a cada vez maior atenção prestada pelos políticos americanos a esta franja eleitoral. Na última eleição presidencial, Obama, que muitos analistas consideravam ir ter muitas dificuldades em captar o voto dos hispânicos, conseguiu receber dois terços dos votos deste grupo, melhorando mesmo o saldo de John Kerry que, em 2004, apenas tinha conseguido 60% desses votos.

Este potencial conflito entre o GOP e a comunidade latina é um fenómeno que tem similaridades com a famosa "estratégia sulista" dos republicanos, nos anos 60, que lhes custou, até hoje, o voto dos afro-americanos, mas que lhes conquistou o voto dos brancos do sul que, até essa altura, preferiam, maioritariamente, no Partido Democrata. Dessa vez, o GOP conseguiu ganhos reais, dado que o peso desses eleitores brancos sulistas, mais numerosos e mais participativos politicamente, mais que compensou a perda dos afro-americanos. Só que, quase 50 anos depois, o cenário alterou-se e, agora, a comunidade branca é a única com tendência para diminuir, enquanto os afro-americanos e, especialmente, os hispânicos continuam a crescer demograficamente. Assim, ao alienar este grupo de eleitores americanos que, ainda para mais, se encontra em franco crescimento, o GOP pode inclusive pôr em causa o seu futuro eleitoral e político.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Elena Kagan no Supremo Tribunal

Barack Obama já escolheu o seu nomeado para a substituição do juiz John Paul Stevens, no Supremo Tribunal dos Estados Unidos. O presidente americano anunciou hoje o nome da Solicitadora Geral, Elena Kagan para o mais alto organismo da justiça do país.
Esta é uma decisão natural, pois Kagan era a grande favorita para receber esta nomeação presidencial, aliás, como eu tinha afirmado logo no dia em que Stevens anunciou a sua retirada do principal tribunal norte-americano. Com esta escolha, Obama pretende evitar uma batalha no Senado - que tem a responsabilidade de confirmar as nomeações -, já que Elena Kagan tem um currículo e uma imagem pública que dificilmente darão azo a uma grande oposição por parte dos senadores republicanos.

Caso Kagan se torne mesmo no mais recente membro do Supremo Tribunal, será a terceira mulher no elenco de nove juízes que formam este organismo (e apenas a quarta de sempre), equilibrando as contas no que se refere ao género. Porém, as facções mais liberais do Partido Democrata temem que a actual Solicitadora-Geral não represente uma substituta à altura do juiz Stevens, que era visto como o "leão liberal" do Supremo Tribunal, e que, desta forma, o máximo orgão judicial americano se incline, ainda mais para o lado conservador. Além disso, já vieram a público alguns lamentos em relação à pouca propensão por parte de Kagan para, na época em que foi reitora da Universidade de Harvard, contratar docentes representantes das minorias, como hispânicos, afro-americanos ou mesmo mulheres. Se estas críticas por parte da Esquerda americana são verdadeiras, ou se constituem apenas uma forma de impedir a caracterização de Kagan como uma liberal e assim facilitar a sua confirmação, é difícil de saber.

No final - excepto algum escândalo ou polémica que surja - Obama conseguirá confirmar Elena Kagan, dada a sua indubitável competência e a pouca disponibilidade republicana para iniciar uma batalha deste género a poucos meses das eleições. Assim, o presidente americano obterá mais uma relevante vitória, indicando, pela segunda vez no seu mandato, um novo membro do Supremo Tribunal, o que não é, de forma alguma, um feito de menor importância ou que se deva desprezar.

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Os americanos em Portugal

Há uma semana atrás, referi-me à comunidade de emigrantes portugueses nos Estados Unidos. Da mesma forma, será justo e pertinente fazer o mesmo em relação à presença de norte-americanos no nosso país.
Ao contrário do que acontece com a comunidade portuguesa no gigante do outro lado do Atlântico, os números de americanos em Portugal são diminutos. Segundo o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras, existiam, em 2008, 2228 americanos com estatuto legal de residência em solo nacional português. Estes dividem-se entre o continente (1864 americanos), os Açores (313) e a Madeira (51).

Mas se a comunidade americana em Portugal é residual, o mesmo já não acontece em relação à visita ao nosso país de cidadãos americanos em viagens de turismo, visto que os EUA são o oitavo maior país emissor de turistas para Portugal. Este facto é natural, ou não fossem os Estados Unidos o segundo país do mundo que mais gasta em turismo (e aquele que mais dinheiro recebe com esta actividade).

Nos últimos anos, o número de turistas americanos no nosso país vinha aumentando consistentemente, mas, em 2008, porventura fruto da crise económica mundial, verificou-se uma acentuada quebra neste fluxo e nas receitas arrecadadas com o turistas "yankees". Actualmente, o cenário é de recuperação e, no ano passado, cerca de 250 mil americanos visitaram Portugal.

Portugal tem nos Estados Unidos um mercado que ainda pode ser muito mais e melhor explorado. Para isso, muito pode contribuir a presença, no nosso país, do americano mais famoso do mundo, quando Barack Obama visitar Portugal para participar na cimeira da Nato, já em Novembro próximo.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Lançamento do "Histórias da Casa Branca"

Foi hoje a apresentação nortenha do livro de Germano Almeida, "Histórias da Casa Branca", na Fnac do MarShopping, em Matosinhos, à qual tive o prazer de assistir. A apresentação esteve a cargo do jornalista Carlos Daniel, que salientou a importância da política norte-americana para todos nós e que discorreu sobre o autor e sobre o significado singular da eleição e da presidência de Barack Obama. Germano Almeida, por sua vez, apresentou a sua visão sobre o actual presidente norte-americano, que é, afinal, o principal objecto desta obra. De uma forma informada e bem fundamentada, mas, ao mesmo tempo, breve e clara, referiu-se ao fenómeno Obama, repleto de dicotomias, entre o sonho e a realidade, a esperança e o pragmatismo.
Depois do lançamento de hoje, o livro será ainda apresentado em Lisboa, no dia 10 de Maio, pelas 18 horas, na Bertrand do Picoas Plaza e contará com a participação do General Loureiro dos Santos e do director do jornal "A Bola", Vítor Serpa.

Por fim, resta-me dar, mais uma vez, os parabéns ao Germano Almeida e agradecer-lhe a simpática referência a este blogue que colocou nos agradecimentos deste "Histórias da Casa Branca".

Mais uma noite de primárias

Com as eleições intercalares de 2010 marcadas para o dia 2 de Novembro, sucedem-se as primárias que definem os candidatos de ambos os partidos para esse momento decisivo. Este ano, o calendário das primárias começou no início do mês de Fevereiro e apenas terminará a meados de Setembro, menos de dois meses antes das eleições gerais.

Ontem, foi a vez dos cidadãos do Ohio, do Indiana e da Carolina do Norte escolherem os seus candidatos para as corridas ao Senado e à Câmara dos Representantes. De entre as eleições para o Senado, que merecem um natural realce, destaque para a do Ohio, aquela que parece ser a mais renhida e disputada entre as três. Aqui, o vencedor democrata foi o Vice-Governador do Estado, Lee Fisher, o que representa um bom resultado para o partido de Obama, visto que Fisher tem sido apontado pelas sondagens como o melhor colocado para poder bater Rob Portman, o candidato republicano que não teve oposição nestas primárias.

No Indiana, o cenário foi o mesmo, mas invertendo-se os papéis. Na luta pelo lugar que Evan Bayh decidiu abandonar, o candidato democrata será o congressista Brad Ellsworth, que não teve adversários. Do lado do GOP, o vencedor das primárias republicanas foi o ex-senador Dan Coats. Com este resultado, a mudança deste lugar no Senado para a coluna republicana parece cada vez mais provável.

Por fim, na Carolina do Norte, o detentor do lugar, Richard Burr, venceu facilmente as primárias do GOP, enquanto que, no lado democrata, nenhum dos seis concorrentes conseguiu atingir a marca dos 40% dos votos, o valor necessário para se evitar uma segunda volta. Assim, Elaine Marshall e Cal Cunningham terão de disputar nova eleição, desta vez numa corrida a dois. De qualquer forma, o republicano Richard Burr deverá ser reeleito para o Senado, em Novembro.

Um factor comum a todos estes actos eleitorais foi a baixa afluência às urnas, mesmo tendo em conta a realidade das primárias a nível estadual. Este dado traduz a desilusão dos americanos em relação às políticas e aos políticos de Washington, sentimento esse que, a 2 de Novembro, pode resultar numa tremenda vaga anti-incumbente.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Os democratas aquecem para Novembro

A campanha presidencial de Obama em 2008 ficou para a história como uma das mais competentes de sempre, sendo, de longe, a que penetrou com mais sucesso nas novas tecnologias, nomeadamente na internet, adquirindo, por esse meio, milhares de voluntários e de pequenos doadores, além de milhões de e-mails e números de telefone para a sua lista de contactos. Essa campanha, liderada por David Plouffe, angariou um número recorde de novos eleitores e atraiu grupos do eleitorado, como os jovens e os afro-americanos que, tradicionalmente, se abstinham em números extremamente elevados.

Depois de vitória, David Plouffe não seguiu para a Casa Branca com o presidente e outros homens fortes da campanha, como David Axelrod. Porém, com as sondagens a indicarem um potencial desastre para os democratas nas eleições intercalares de Novembro, Plouffe foi convocado para tentar travar a "sangria". Hoje, às 21:30 de Portugal, Plouffe foi a figura principal de uma sessão de estratégia dos democratas para as "midterms", transmitida em directo através do site my.barackobama.com, com o objectivo de voltar a erguer a estrutura que ajudou Barack Obama a vencer as presidenciais de 2008.

Nesta sessão, os principal ponto abordado foi a necessidade de se incentivar a comparência às urnas de todos aqueles que votaram em Obama há dois anos e dos eleitores que poderão votar pela primeira vez - um grupo que, historicamente, tende a abster-se muito mais nestas eleições intercalares do que nas presidenciais. Além disso, David Plouffe referiu-se, também, à importância de motivar as "tropas" para que saiam em defesa dos políticos que apoiaram os aspectos mais importantes da agenda de Obama, com destaque natural para a reforma da saúde.

Foi uma sessão interessante, onde deu para perceber que os democratas também estão empenhados em defender as suas confortáveis maiorias em ambas as câmaras do Congresso. Porém, apesar de ser indiscutível a competência de David Plouffe e outros estrategas democratas, a verdade é que estes não podem fazer milagres a confirmar-se o actual clima político extremamente desfavorável ao partido no poder. De qualquer forma, os eleitores dirão de sua justiça, daqui a exactamente seis meses.

domingo, 2 de maio de 2010

O Jantar dos Correspondentes

Todos os anos, geralmente no último Sábado de Abril, a Associação de Correspondentes da Casa Branca, que engloba todos os jornalistas que cobrem o Executivo americano, organiza o seu jantar. Este evento é já uma tradição de Washington e é um dos momentos mais importantes da capital americana, apesar de estar a ganhar, cada vez mais, um glamour "hollywoodesco". Normalmente, o presidente participa neste jantar e profere um discurso, quase sempre marcado pela boa disposição e pelo humor.

Este ano, o apresentador convidado foi Jay Leno, mas, pelos vistos, Obama conseguiu fazer soltar mais gargalhadas do que o humorista profissional, com várias figuras a serem alvo das suas piadas, desde Joe Biden, passando por John McCain, até ao próprio Leno. Aqui fica uma selecção dos melhores momentos do discurso do presidente americano, da responsabilidade do Politico.