domingo, 31 de outubro de 2010

Morreu Ted Sorensen

Faleceu, hoje, com 82 anos, aquele que foi, na minha opinião, o melhor speechwriter presidencial da história dos Estados Unidos e, provavelmente, do mundo. Ted Sorensen, que escreveu os discursos de John F. Kennedy, foi responsável por algumas das mais famosas frases da humanidade, como aquela que marcou o inaugural adress de JFK: "ask not what your country can do for you; ask what you can do for your country". Contudo, outros discursos do carismático presidente americano assassinado em 1963, foram tão ou ainda mais brilhantes. Aconselho a leitura ou audição deste, sobre a guerra e a paz, proferido por Kennedy no ano da sua morte, na American University.
Sorensen e Kennedy formaram uma fantástica aliança e juntos levaram a oratória política a um novo nível. Agora, já nenhum dos dois está por cá, mas a escrita de Sorensen e a interpretação de Kennedy jamais serão esquecidas.

Projecções finais: Câmara dos Representantes

Este é o actual figurino da Câmara dos Representantes, a câmara baixa do Congresso dos Estados Unidos. Contudo, após as eleições da próxima Terça-feira, a sua constituição deverá ser profundamente modificada, devendo mesmo alterar-se o partido maioritário, com os democratas a perderem o controlo da House.
Neste caso, tratando-se de 435 eleições diferenciadas, torna-se quase impossível fazer a minha previsão independente do possível resultado da noite de 2 de Novembro. Dessa forma, o melhor é mesmo citar as várias projecções dos especialistas. E todos perspectivam um grande número de lugares conquistados pelos republicanos aos democratas:  Nate Silver: + 53; Larry Sabato: + 55; Cook Political Report: entre + 48 e + 60. Dado que os democratas contam, actualmente com uma vantagem de 39 congressistas, qualquer uma destas previsões aponta para um ganho de assentos pelos republicanos que será mais que suficiente para que assumam o controlo da Câmara dos Representantes.
A último e derradeiro factor que pode permitir ao Partido Democrata manter a sua maioria na House é que as empresas de sondagens tenham previsto erroneamente aquilo a que se costuma referir como entusiasm gap. Ou seja, pode suceder que, afinal, os tradicionais eleitores democratas (como os jovens ou os afro-americanos) não se abstenham em tão altos números como está a ser suposto pelos analistas, o que poderia proporcionar melhores resultados aos democratas do que os que estão a ser traduzidos pelas sondagens. Porém, esse é o melhor cenário possível para o Partido Democrata e nada indica que se venha a cumprir. Pode acontecer, pelo contrário, que esse entusiasm gap seja ainda maior do que o previsto e que, dessa forma, os republicanos tenham ganhos estrondosos, retirando aos democratas mais de 60 lugares na câmara baixa e talvez conseguindo mesmo o controlo do Senado (que terá, em breve, direito a nova projecção). 
Esses são cenários extremos e que provavelmente não se realizarão. O mais provável é assistirmos, ainda assim, a uma estrondosa republicana na Câmara dos Representantes que levará à mudança da maioria e, em última instância, à saída de Nancy Pelosi como Speaker of the House.

Jon Stewart: "Hard times, not end times"

Este Sábado, nos Estados Unidos, as atenções desviaram-se, por momentos, da louca campanha eleitoral, para se focarem na capital americana, Washington D.C., onde os comediantes Jon Stewart e Stephen Colbert realizaram os seus eventos conjuntos: o "Rally to restore sanity and/or fear", de Stewart e o "March to keep fear alive" de Colbert. O apresentador do Daily Show disse que este comício não tinha objectivos políticos, mas no seu discurso não faltaram mensagens políticas, com destaque para o ataque à comunicação social, que acusou de extrapolar e exagerar a cobertura noticiosa.
Neste grande evento, além dos dois comediantes de renome, também  houve lugar para várias actuações musicais e culturais. Segundo as estimativas da organização, o comício terá juntado perto de 250 mil pessoas na capital federal. Através das intervenções de Stewart e Colbert e do seu apelo à "mobilização dos moderados", os democratas e as organizações e liberais tencionavam motivar o eleitorado jovem, tradicionalmente fiel ao Partido Democrata, mas com tendência a ficar em casa nas eleições intercalares. É duvidoso que o "Rally to restore sanity and/or fear" o tenha conseguido, mas, dadas as grandes dificuldades que os liberais enfrentam actualmente, toda a ajuda é bem-vinda.

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Clinton quase convenceu Meek a desistir

Esteve muito perto de acontecer um decisivo golpe de teatro na corrida para o Senado na Florida. Segundo uma história do Politico,  Bill Clinton tentou convencer o candidato democrata, Kendrick Meek, a desistir a favor do independente Charlie Crist, de forma a impedir que o concorrente republicano, Marco Rubio, conquiste o assento no Senado em disputa. Meek terá, alegadamente, chegado a concordar com a ideia, mas desistiu no último momento, não querendo passar a imagem de desistente e, de acordo com o artigo, convencido pela esposa que ainda podia vencer a eleição.
Gorou-se a melhor e única hipótese de Rubio ser derrotado, já que, numa corrida a três, o republicano tem larga vantagem sobre os seus adversários. Se Meek tivesse desistido e apoiado o actual governador da Florida (em troca da promessa deste em juntar-se aos democratas no Senado), a eleição ganharia uma dinâmica totalmente diferente e a vitória estaria ao alcance de Charlie Crist. Além disso, esta "jogada" teria o condão de impedir a meteórica ascensão de Marco Rubio, que está a tornar-se um caso sério na política dos Estados Unidos e que, no futuro, pode ser um dos líderes do Partido Republicano.
A opção de Kendrick Meek é compreensível, até porque passou toda a campanha a atacar os flip-floppers e as manobras políticas de Crist. Contudo, ao não desistir, entrega a eleição a Rubio numa bandeja e resigna-se a um distante terceiro lugar. O seu futuro político é incerto, porque abdicou do seu assento na Câmara dos Representantes para concorrer ao Senado e esta sua decisão pode causar-lhe alguns anti-corpos no seio do seu partido. Mas, por outro lado, há alguém que, neste momento, está muito feliz e agradecido com a posição de Meek: Marco Rubio, pois claro.

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Joe Manchin: solução ou problema?

Uma das corridas mais equilibradas do ano é a que tem lugar na West Virginia, na disputa pelo lugar no Senado que ficou em aberto, após a morte do senador democrata Robert Byrd. Depois de algumas semanas de indefinição, as últimas sondagens têm dado vantagem ao actual governador do Estado,  o democrata Joe Manchin. 
Esta corrida assume especial importância, pois pode muito bem suceder que recaia sobre a eleição da West Virginia a decisão relativamente ao controlo da câmara alta do Congresso. Assim, à primeira vista, isso favorece os democratas, dado que Manchin parece em melhor posição para vencer a eleição. Porém, se tomarmos em atenção a campanha do ainda governador estadual, apercebemo-nos que Manchin de democrata tem muito pouco, ou pelo menos é essa a ideia que parece querer passar. Desde criticar a reforma da saúde (que antes apoiava) até lançar este anúncio em que dispara sobre a Cap and Trade Bill, Manchin tem feito tudo o que está ao seu alcance para se distanciar da liderança do seu partido. 
Esta estratégia até pode ser caracterizada como normal, já que a West Virginia o Presidente Obama é incrivelmente impopular, o que obriga Manchin a demonstrar a sua independência. Porém, o que deve preocupar os democratas é que esta é uma eleição especial para substituir o falecido Byrd e que este lugar estará novamente em discussão já em 2012. Dessa forma, mesmo que Joe Manchin agora vença, irá estar numa posição desconfortável sempre que votar em linha com a liderança democrata, dado que o seu historial de voto poderá ser usado contra si na campanha que virá logo a seguir a esta. E este é um factor ainda mais importante, tendo em conta que a próxima divisão de forças no Senado deverá ser muito equilibrada, o que proporcionará uma importância acrescida a cada voto.
Não admira, portanto, que o próprio John McCain, numa visita à West Virginia para o candidato republicano ao Senado, John Raese, tenha sugerido a Manchin que se mudasse para o Partido Republicano. O antigo candidato presidencial até podia não estar a falar muito a sério, mas, muitas vezes, a brincar, a brincar...

A recta final da batalha pelo Senado

Durante a semana passada, as sondagens relativas a algumas das mais importantes corridas para o Senado trouxeram um novo ânimo aos democratas. No Kentucky e na Pennsylvania, por exemplo, duas eleições que pareciam já resolvidas a favor dos candidatos republicanos, os números reequilibraram-se, melhorando as perspectivas do Partido Democrata para a noite eleitoral. Contudo, nos últimos dias, novas sondagens vieram contrariar esta tendência, mostrando os republicanos Rand Paul, no Kentucky, e Pat Toomey, na Pennsylvania, novamente a descolarem nas intenções de voto.
Mas houve ainda mais decepções no lado liberal, dado que duas das corridas mais renhidas deste ciclo eleitoral estão, aparentemente, a balançarem-se para o lado republicano. No Nevada, Sharron Angle, a tea-partier que conquistou a nomeação do GOP, tem surgido consistentemente com uma curta, mas estável vantagem sobre o líder da maioria no Senado, Harry Reid. Também no Illinois, onde se disputa o lugar que até Janeiro de 2009 foi ocupado por Barack Obama, a tendência é favorável ao republicano Mark Kirk, que se adiantou, ainda que muito ligeiramente, ao seu opositor democrata, Alexis Giannoulias.
Também há, contudo, algumas boas notícias para o Partido Democrata. No mais populoso estado norte-americano, a California, a actual Senadora Barbara Boxer parece bem encaminhada para a reeleição, já que a diferença para a republicana Carly Fiorina tem vindo a alargar. Um pouco mais a Norte, no estado de Washington, a corrida pode-se definir como too close to call, mas a democrata Pat Murray é ainda a favorita. Na West Virginia os democratas também encontram motivos para sorrir,  já que Joe Manchin melhorou substancialmente a sua situação e parece bem colocado para assegurar a vitória.

Um caso especial tem-se vindo a desenrolar no Alasca, onde Joe Miller, o candidato oficial do Partido Republicano vinha a disputar a eleição com a "auto-candidata" Lisa Murkowski, surgindo o democrata Scott Adams num terceiro lugar algo distante. Contudo, Joe Miller tem-se visto envolvido em algumas polémicas e isso tem-no prejudicado junto do eleitorado. Assim, com o candidato republicano em queda livre e Murkowski à mercê da singularidade de uma candidatura write-in, é impossível dizer o poderá trazer a noite eleitoral do Alasca.
Para o fim, fica aquela que é, nesta altura, a corrida mais equilibrada de todas e cujo desfecho é totalmente imprevisível: a do Colorado. Aqui, o Senador Michael Bennet (D) encetou uma notável recuperação, tendo conseguido encostar ao candidato do GOP, Ken Buck. Esta promete ser uma eleição disputada até ao último voto e que pode nem ficar resolvida na noite das eleições, tal é o equilíbrio que se espera. Pode ser que, até à véspera das eleições, quando conto fazer as minhas projecções finais, o estado da corrida no Colorado se clarifique a favor de um dos lados da disputa.

Obama no Daily Show

Barack Obama esteve ontem à noite no Daily Show de Jon Stewart. Esta presença do presidente dos Estados Unidos no conhecido talk-show da Comedy Central foi mais uma forma que Obama encontrou para tentar motivar o eleitorado jovem, que constitui grande parte da audiência do programa de Jon Stewart, para votar nas eleições intercalares da próxima Terça-feira. Ao mesmo tempo, ao contar com Commander-in-Chief no seu programa, Jon Stewart fez o aquecimento para o seu Rallly to Restore Sanity, que se realiza no próximo Sábado, em Washington DC.
O presidente americano apareceu relaxado, mas foi obrigado a puxar dos galões para responder às questões de Jon Stewart. Obama defendeu alguma das suas mais emblemáticas medidas, afirmando, por exemplo, que era um erro apelidar a histórica reforma da saúde como "tímida". Um dos momentos mais curiosos da noite foi quando o 44º Presidente dos Estados Unidos disse que Larry Summers, o seu ex-conselheiro económico, tinha feito um "heckuva job" (um excelente trabalho), utilizando a mesma expressão que George W. Bush usou para para caracterizar o desempenho do responsável da FEMA (a agência federal para  a gestão de emergências) aquando da tragédia do furacão Katrina.

Foi, no fim de contas, um programa interessante, com o Jon Stewart a provar que é possível falar de coisas sérias de forma descontraída.

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

O voto de Obama

Este ano não veremos imagens como esta, porque Barack Obama já votou, mas, desta vez, optou por fazê-lo através do sistema de votação absentee, que permite aos eleitores que se encontram ausentes do círculo eleitoral onde estão registados votarem à distância. Segundo anunciou o Press Secretary  da Casa Branca, Robert Gibbs, o Presidente dos Estados Unidos preencheu o seu boletim de voto directamente da Sala Oval, tendo votado, como é óbvio, em Pat Quinn e Alexis Giannoulias,os candidatos democratas nas corridas (muito renhidas, por sinal) para Governador e Senador do Illinois. Apesar de Obama já ter votado, apenas na noite de 2 de Novembro se saberá se os cidadãos deste estado do midwest americano apoiam, ou não, as escolhas do seu conterrâneo mais famoso.

Midterms Fever

As eleições intercalares de 2010 estão já aí à porta e, a menos de uma semana da noite eleitoral, que se espera longa e emocionante, o Máquina Política dá o pontapé de saída na sua cobertura especial das midterms, que, apesar de não estarem a merecer a atenção da comunicação social  portuguesa, são extremamente importantes no contexto da política dos Estados Unidos. Além de os resultados destas eleições irem determinar o novo figurino de toda a Câmara dos Representantes, de mais de um terço do Senado e da grande maioria dos governos estaduais, vão também, muito provavelmente, definir a segunda metade do mandato de Barack Obama na Casa Branca.
Nos próximos dias, o destaque vai todo para a recta final das centenas de campanhas eleitorais e para a análise das últimas sondagens relativas às mais importantes corridas que decorrem um pouco por todo o território norte-americano. Depois, dia 2 de Novembro, o Máquina Política promete um longo e exaustivo acompanhamento da noite das decisões, mesmo que nos estados americanos mais a Oeste, como Washington e o Alasca, os resultados apenas sejam conhecidos quando já for manhã em Portugal. Finalmente, os dias seguintes às eleições trarão a análise dos resultados eleitorais, assim como das consequências que advirão das escolhas que os americanos tomarão na próxima Terça-feira. Acompanhem, então, esta Máquina Política, porque ela vai estar bem oleada e em pleno funcionamento.

Rudy Guliani e Mike Pence para 2012?

Fugindo um pouco ao tema que domina a actualidade política americana - as eleições intercalares da próxima Terça-feira - importa também ir seguindo com alguma atenção a grande quantidade de rumores e pistas que vão surgindo relativamente ao campo de candidatos presidenciais do Partido Republicano para 2012. Os últimos dois nomes a serem lançados para a arena política e mediática foram Rudy Guliani, antigo Mayor de Nova Iorque, e Mike Pence, congressista do GOP pelo Indiana. Porém, apesar de serem dois políticos republicanos de peso, nenhum deles me parece ser um candidato viável a garantir a nomeação do seu partido para as eleições presidenciais de 2012.
Rudy Guliani, que se notabilizou pelo sua resposta aos atentados do 11 de Setembro, já em 2008 tentou chegar à Casa Branca. Durante quase todo o ano de 2007, era mesmo considerado o frontrunner da luta pela nomeação republicana. Contudo, com uma desastrosa estratégia, que consistia em apostar nas primárias da Florida, em detrimento dos tradicionais primeiros estados a irem a votos, como o Iowa, o New Hampshire ou a South Carolina, cedo Guliani ficou arredado da discussão. Mas, além disso, o "Mayor da América", como também é conhecido, mostrou sempre pouco à vontade e disponibilidade para o intenso e desgastante trilho de campanha que uma eleição presidencial exige. Assim, apesar de Rudy afirmar que "mantém a porta aberta" em relação a uma eventual candidatura em 2012, penso que Guliani não irá concorrer, não passando estas afirmações de uma forma de se manter na ribalta. E, mesmo que viesse a tentar a sua sorte, as suas posições moderadas a nível social não o favoreceriam numa época em que a ala mais conservadora do Partido Republicano tem cada vez mais influência no interior do GOP.
Mike Pence, por seu lado, é um nome bem menos familiar junto do eleitorado norte-americano. Apesar de ser um proeminente membro da Câmara dos Representantes, assumindo um cargo de liderança no interior dos congressistas republicanos, essa falta de reconhecimento a nível nacional seria difícil de superar. Aliás, apenas um membro da câmara baixa no activo foi eleito para a Casa Branca: James Garfield, em 1880. Pence, que é um conservador de linha dura e uma das principais vozes da oposição na contestação às políticas de Barack Obama, teria, então, vida muito difícil contra grandes estrelas como Sarah Palin, Mitt Romney, ou Newt Gingrich, ou mesmo frente a outros políticos menos conhecidos, mas com experiência executiva, como Tim Pawlenty, Mitch Daniels ou Haley Barbour. Assim sendo, talvez fosse mais sensato para Mike Pence candidatar-se a um cargo com maior visibilidade (Governador do Indiana, por exemplo) antes de enveredar por tão altos voos.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

A gestão das expectativas

As eleições intercalares dos Estados Unidos são já de hoje a oito dias. Com menos de uma semana de campanha, parece cada vez mais evidente que está em formação uma grande vitória republicana, comparável à de 1994, ou possivelmente ainda de dimensões superiores. Contudo, em política, um dos factores mais decisivos quando se preparam momentos eleitorais é a gestão das expectativas. E agora, na recta final da campanha, os dois lados da barricada - democratas e republicanos - empenham-se intensamente nesse delicado jogo de cintura.
Nas fileiras do Partido Republicano nota-se a euforia de quem está perto de alcançar uma grande vitória, sentimento ainda mais veemente devido às grandes derrotas eleitorais sofridas pelo partido nos últimos quatro anos. Porém, essa euforia pode-se transformar em excesso de optimismo e, consequentemente, no elevar das expectativas para um patamar demasiado difícil de atingir. Há cerca de um ano, a liderança republicana certamente pensaria que ganhar o controlo da Câmara dos Representantes e conquistar meia dúzia de lugares no Senado seria um cenário de sonho. Só que agora esse sonho tornou-se praticamente uma certeza e os objectivos do GOP passam, além da vitória na House (um dado praticamente adquirido, segundo todas as sondagens e analistas) pela retoma do controlo do Senado, o que implica, no mínimo, a retirada de dez assentos aos democratas. Assim sendo, talvez o GOP não ficasse a perder se começasse a refrear as suas ambições, de modo a evitar que, na noite eleitoral, um cenário que deveria ser caracterizado como uma grande vitória (ganhar "in extremis" a Câmara dos Representantes e cinco ou seis assentos no Senado, por exemplo) possa ser visto como uma desilusão, por ter ficado áquem das expectativas.
Por seu lado, os democratas baixam as expectativas o mais que podem para que seja mais fácil atingi-las ou até ultrapassá-las. Assim, a situação actual até lhes pode ser favorável. Com todo o país à espera da anunciada hecatombe democrata, o partido actualmente no poder pode reivindicar vitória se os resultados, ainda que medíocres, não forem totalmente desastrosos. Se os democratas perderem, por exemplo, cerca de 35 lugares na House e uma meia dúzia no Senado, esta seria, pelos números em si, uma estrondosa derrota. Não obstante, isto significaria a manutenção da maioria em ambas as câmaras do Congresso pelos democratas, o que seria sempre traduzido como uma enorme vitória para o partido de Barack Obama. E este é um cenário possível, ainda que improvável.
Assim, é no interesse de ambos os partidos baixar as respectivas perspectivas relativamente aos resultados eleitorais. E, como não podia deixar de ser, temos vindo a assistir a isso mesmo. Muitos analistas e líderes republicanos colocam água na fervura, ao lembrarem que a vitória no Senado chegará, sem dúvida, mas apenas em 2012, ano em que os democratas defendem muitos mais assentos que o GOP. Já na facção democrata, o próprio Press Secretary da Casa Branca, Robert Gibbs, causou polémica e atritos com a liderança democrata no Congresso, por ter afirmado que a perda do controlo da Câmara dos Representantes era um cenário possível para as eleições intercalares. Nancy Pelosi pode ter ficado irritada, mas a verdade é que Gibbs estava apenas a fazer o seu trabalho: a gestão das expectativas.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

2012: A nomeação republicana, Sarah Palin e... Michael Bloomberg

Será Sarah Palin uma viável candidata presidencial? E que consequências podem advir da sua nomeação pelo Partido Republicano? Tudo isto e muito mais é abordado num longo, mas excelente artigo da revista New York, cuja leitura recomendo.

"Shove it, Obama"

Continua a sentir-se o mau ambiente que reina no seio do Partido Democrata nas vésperas das eleições intercalares. A mais recente prova veio do pequeno estado de Rhode Island, que Barack Obama visita amanhã para se encontrar com trabalhadores locais e angariar dinheiro para os democratas. E foi nesse estado que o candidato democrata a Governador, Frank Caprio, depois de saber que o Presidente norte-americano não irá aproveitar a ocasião para o apoiar publicamente na sua candidatura ao governo do estado, disse que Obama podia pegar no seu apoio e "shove it", uma expressão insultuosa, que poderia ser traduzida como "enfiá-lo". 
A atitude de Obama, ao preferir não declarar o seu apoio ao candidato do seu partido deverá estar relacionado com o facto de o principal adversário de Caprio nesta eleição ser o antigo republicano, agora independente, Lincoln Chafee, que, aquando da campanha presidencial de 2008, preferiu apoiar o actual presidente, em vez de se colocar por trás de John McCain, o candidato do seu anterior partido. 
O facto de Barack Obama não comunicar o seu apoio oficial a Frank Caprio é um importante contratempo para o candidato democrata, visto que no blue state Rhode Island o Presidente ainda é bastante popular.  Assim, a nega de Obama enfureceu Caprio de tal forma que o levou a proferir este fortíssimo ataque ao Presidente, o que poderá ter fortes repercussões nesta corrida que, até hoje, se encontrava totalmente em aberto.

Debate na Florida

O meu início de tarde do último Domingo foi passado a assistir, via CNN Internacional, ao debate entre os candidatos ao Senado dos Estados Unidos pela Florida, que decorreu no habitual talk-show daquela cadeia norte-americana, State of the Union. E devo dizer que não dei o tempo como perdido, já que a discussão foi interessante, animada e, por vezes, até bastante "quente".
Recorde-se que esta eleição é disputada pelo republicano Rubio, pelo Governador Charlie Crist, que, concorre como independente depois de perceber que não tinha hipóteses de vencer Rubio nas primárias do GOP, e pelo congressista democrata Kendrick Meek. Contudo, segundo as sondagens, a corrida está praticamente decidida a favor de Rubio que, desde o início do Verão, cavou uma diferença para os seus adversários que é, aparentemente, intransponível. Apesar disso, no debate de ontem, os três candidatos pareciam estar a lutar por uma corrida ditada pelo photo-finish, tal foi a intensidade com que decorreu a discussão e a troca de argumentos entre si.
Num debate onde os temas económicos, como o desemprego (com números particularmente altos na Florida), o corte de impostos, ou o défice, estiveram em destaque, travou-se uma acesa discussão ideológica entre Meek e Rubio, que Crist tentou aproveitar para se colocar como a voz moderada entre os três candidatos. A nível de posições políticas, não se assistiu a nada de novo. Marco Rubio criticou o big government e clamou pela continuação dos cortes de impostos e pelo liberalismo económico; Meek defendeu as medidas da administração Obama, como o pacote de estímulos à economia e tentou definir-se como o verdadeiro representante do Partido Democrata na corrida, defendendo-se das investidas de Crist ao tradicional eleitorado democrata; por sua vez, o ainda Governador da Florida mostrou-se aberto ao compromisso, tendo a particularidade de defender temas queridos aos conservadores, como o corte de impostos, e aos liberais, como o direito ao aborto.

Mas, da discussão política e ideológica, passou-se, na parte final do debate, para uma veemente troca de acusações entre Charlie Crist e Marco Rubio. Já antes, Meek tinha evidenciado o óbvio, que Crist apenas tinha abandonado a luta pela nomeação republicana porque percebeu que não podia vencer Rubio. Porém, a disputa entre o candidato republicano e o candidato independente foi bem mais enérgica, enquanto o democrata, à parte da discussão, se limitava a sorrir. A certo ponto, Marco Rubio, depois de ser repetidamente interrompido por Charlie Crist, apelidou o Governador de heckler, ao que este replicou, dando a Rubio as boas vindas à NFL (como quem diz, bem-vindo à primeira divisão).
No fim do debate, ficou a ideia que Marco Rubio é um fortíssimo candidato, parecendo sempre à vontade diante das câmaras e com resposta pronta para todos os ataques dos seus adversários. Charlie Crist, por sua vez, jogou aqui aquela que seria, porventura, a sua última cartada nesta corrida. Foi eloquente, agressivo e utilizou a estratégia inteligente de se mostrar como o candidato moderado e aberto ao compromisso, numa época de polarização partidária. Contudo, sem apoio partidário e com as suas constantes manobras políticas (como o abandono do GOP) e mudanças de opinião com fins eleitorais, será um dos grandes derrotados de 2 de Novembro. Finalmente, Kendrick Meek, foi bastante competente e demonstrou que poderá ter um interessante futuro político à sua frente. Todavia, esta não é a sua batalha e o seu único objectivo é tentar ficar à frente de Crist, o que parece difícil de conseguir.

Os resultados finais indicarão, salvo uma enormíssima surpresa, que Marco Rubio será o novo Senador americano pelo estado da Florida. Rubio é, sem dúvida, uma das maiores promessas do Partido Republicano e esta eleição, onde defrontou dois fortíssimos opositores, é a prova viva disso mesmo. De amanhã a oito dias, termina, então, uma das mais peculiares e interessantes eleições de que há memória nos Estados Unidos, que, certamente, muitas saudades irá deixar a todos os political junkies que têm seguido com especial atenção esta apaixonante corrida no sunshine state.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Obama admite erros na sua mensagem política

Num evento que teve lugar ontem no estado de Washington, onde Barack Obama esteve para fazer campanha pela Senadora Patty Murray que enfrenta uma dura batalha pela reeleição, o presidente norte-americano assumiu que devia ter feito um melhor trabalho a publicitar e explicar as suas grandes políticas aos cidadãos dos Estados Unidos, nomeadamente aquela que foi a grande marca legislativa do seu primeiro mandato - a reforma do sistema de saúde. De facto, sempre defendi que Obama e os democratas foram derrotados pelos republicanos na "guerra da mensagem", o que, quando recordarmos a imaculada e competentíssima campanha presidencial de Barack Obama, não deixa de ser no mínimo estranho.
Estas declarações, proferidas em pleno pico da campanha eleitoral, podem marcar o início de um novo ciclo no mandato de Obama, exorcizando os erros do passado e redefinindo o curso da sua presidência, talvez apostando em políticas e programas menos conflituosos e procurando o compromisso com a oposição. Esse novo rumo seria, porventura, a forma de Obama dar o pontapé de saída à sua campanha de reeleição, que está cada vez mais próxima. Aliás, o próprio presidente americano já deu fortes indícios de que é mesmo sua intenção procurar um segundo mandato. Assim, para ser capaz de concretizar esse objectivo, talvez seja sensato encontrar uma nova estratégia, visto que a que tem mantido até agora, apesar de lhe ter valido grandes sucessos legislativos, continua a não agradar à maioria dos americanos.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Cartoon: Um Halloween diferente

A luta pelo Senado está ao rubro!

Com o aproximar das eleições, é natural que as disputas eleitorais se vão definindo, à medida que os eleitores vão conhecendo os candidatos e que os indecisos tomam a sua escolha de voto. Contudo, neste ciclo eleitoral, parece estar a acontecer o contrário, dado que em praticamente todas as corridas mais interessantes e disputadas para o Senado se está a assistir a um "apertar" das diferenças e a uma maior dificuldade em clarificar a situação da eleição. Neste momento, são nove as corridas com estatuto de toss up e que prometem baralhar as contas pela madrugada de dia 2 de Novembro adentro. 
Washington - No início de Outubro, a senadora democrata Pat Murray parecia ter descolado definitivamente nas sondagens rumo à vitória final. Contudo, o seu opositor republicano, Dino Rossi, ganhou um novo fôlego e está já a morder os calcanhares da actual detentora do cargo, com todos os estudos de intenção de voto a colocarem a diferença entre os dois candidatos dentro da margem de erro.
Califórnia - Esta eleição está a ter contornos muito semelhantes àquela que se disputa em Washington. Barbara Boxer, a senadora democrata que luta por um novo mandato, conta agora com uma magra vantagem sobre a republicana Carly Fiorina, depois de ter surgido com uma diferença mais confortável, há pouco tempo atrás. Ainda assim, neste caso, a situação de Boxer é mais segura do que a de Murray.
Nevada - Sem dúvida, uma das mais equilibradas eleições do ano. As mais recentes sondagens têm favorecido por uma margem residual a candidata do GOP, Sharron Angle, mas o líder da maioria do Senado, Harry Reid, certamente não irá cair sem uma luta até ao último segundo. 
Colorado - Esta é uma das corridas que parecia já assegurada para o Partido Republicano. Contudo, o incumbente democrata Michael Bennet conseguiu recuperar a desvantagem face ao seu adversário, Ken Buck. Bennet, apesar de ser acusado de não ter carisma nem ter jeito para campanhas políticas, tem o momentum do seu lado e tudo pode acontecer.
Wisconsin -  Russ Feingold, um dos mais conhecidos senadores democratas, está a a lutar pela sobrevivência, num ciclo eleitoral muito negativo para o seu partido. Durante muitas semanas, as sondagens insistiram em mostrar que a sua situação era desesperada, aparecendo sistematicamente bastante longe do republicano Ron Johnson. Porém, o mais recente estudo de opinião colocou Feingold a apenas dois pontos percentuais, dentro da margem de erro. Num tradicional blue state e tratando-se de um conceituado senador, Feingold poderá ter ainda uma palavra a dizer.
Illinois - Provavelmente a mais equilibrada e imprevisível eleição do presente ciclo eleitoral. Nesta luta pelo lugar que já foi de Barack Obama, os eleitores parecem deparar-se com a escolha do mal menor entre dois concorrentes impopulares e com muita "bagagem": o democrata Alexi Giannoulias e o republicano Mark Kirk. A poucos dias das eleições, as sondagens indicam um teimoso empate, mas também que existe ainda um elevado número de eleitores indecisos.
Kentucky - Apesar de o republicano Rand Paul ser um candidato peculiar, com ideias algo fora do mainstream político norte-americano, desde cedo que se assumiu que, por se tratar do Kentucky, um verdadeiro red state, este era um assento no Senado assegurado na coluna republicana. Só que o democrata Jack Conway conseguiu manter-se sempre relativamente perto e agora, no momento decisivo, as sondagens mostram uma tendência de recuperação. Apesar de Rand Paul manter o estatuto de favoritismo, não é certamente à toa que o Real Clear Politics já classifica esta corrida como toss up.
West Virginia -  Esta é uma das mais voláteis disputas eleitorais do país, já que tanto o democrata Joe Manchin, como o republicano John Raese alternam sucessivamente na liderança das sondagens. É, por isso, muito difícil analisar e prever o desfecho desta corrida, sendo certo que Manchin, o actual governador da West Virginia, parece enfrentar mais o fantasma da sua associação a Obama, altamente impopular neste estado, do que propriamente a oposição de Raese.
Pennsylvania - Para o fim ficou aquela que é, no momento, a mais curiosa de todas as corridas. Durante o Verão, o republicano Pat Toomey distanciou-se do seu adversário democrata, Joe Sestak, de uma maneira tal (as sondagens indicavam diferenças na casa das dezenas) que já ninguém colocava a Pennsylvania como um dos estados em jogo nestas eleições. Porém, e à imagem daquilo que fez nas primárias contra o senador Arlen Specter, o antigo almirante da Marinha americana, Joe Sestak, conseguiu uma incrível recuperação e as últimas duas sondagens colocam-no, inclusivamente, em vantagem. A confirmar-se, será, sem dúvida alguma, um dos grandes momentos deste ciclo eleitoral.
Descontando estas nove corridas, sem desfecho definido, os democratas têm, aparentemente, assegurados 48 lugares no Senado, enquanto que o GOP tem praticamente certos 43 assentos. Assim sendo, continua em dúvida o controlo sobre a câmara alta do Congresso e tudo pode acontecer. Em cenários extremos, o Partido Republicano pode mesmo ser capaz de ganhar o controlo do Senado, da mesma maneira que ainda é possível aos democratas manterem uma maioria confortável, afastando os cenários de hecatombe que lhes são vaticinados. Porém, certezas só poderemos ter daqui a duas semanas, depois de contados todos (literalmente) os votos.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

2 weeks to go

Daqui a precisamente duas semanas, os eleitores americanos deslocar-se-ão às urnas para escolher os seus congressistas, senadores e governadores (além de outros representantes a nível estadual). Com o aproximar do dia de todas as decisões, muitas das corridas têm mostrado uma tendência de maior equilíbrio rumo às eleições de 2 de Novembro. Esse dia irá marcar decisivamente o futuro próximo da política norte-americana e vai também moldar as eleições presidenciais de 2012, onde Obama tentará a reeleição.
Mas, de entre todas as centenas de corridas que irão decorrer na noite eleitoral, haverão alguns pontos de interesse que se destacarão. Em primeiro lugar estará a disputa pelo controlo da Câmara dos Representantes, actualmente sob o domínio democrata, partido que tem uma vantagem de 39 congressistas sobre os seus adversários republicanos. Contudo, todas as análises são unânimes em atribuir aos republicanos um ganho de lugares que será suficiente para fazer com que o GOP retome o controlo da Câmara Baixa e afaste Nancy Pelosi do cargo de speaker.
Depois, e apesar de dificilmente o Senado ir mudar de mãos, várias corridas para esta câmara irão merecer as maiores atenções durante a noite das midterms. Entre elas, a do Nevada merece natural destaque, visto que o actual líder da maioria do Senado, Harry Reid, corre sérios riscos de não ser reeleito. Em seguida, temos quase uma dezena de eleições equilibradas e cujo desfecho está longe de ser conhecido. A mais curiosa dessas corridas é a do Alasca, onde decorre uma interessante luta a três, entre o republicano Joe Miller, o democrata Scott Adams e a "auto-candidata" Lisa Murkowski que, sendo a actual detentora do cargo, perdeu a nomeação do Partido Republicano. Esta indecisão no mais remoto estado americano fará com que apenas na manhã do dia 3 de Novembro saibamos todos os resultados finais desta louca noite eleitoral.
Por fim, entre as eleições para os governadores estaduais, saliento as que terão lugar na Califórnia, no Illinois, na Florida e no Ohio, pela importância que se revestem devido à dimensão dos estados em causa, mas também por se tratarem, nos últimos dois casos, dos maiores battlegrounds em eleições presidenciais. Em segundo plano estarão as disputas no Massachussetts e no Minnesota, as mais importantes daquelas que estão, neste momento, em empate técnico.
Quando entramos para as duas últimas semanas de campanha, muito pode ainda acontecer e nunca se sabe que surpresas podem aparecer até ao dia das eleições. Porém, por esta pequena amostra daquilo que poderão ser alguns dos principais destaques da noite de 2 de Novembro, fica claro que não faltarão motivos de interesse, nem matéria para analisar, numa noite que promete ser longa, mas também emocionante.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Ken Buck compara a homossexualidade ao alcoolismo


Numa eleição tão disputada como a que se desenrola no Colorado, onde se discute um lugar no Senado americano, qualquer deslize pode ser fatal. Ontem, no mítico programa Meet the Press, os dois candidatos ao cargo realizaram um mini debate. Durante a discussão, o republicano Ken Buck comparou a homossexualidade ao alcoolismo, o que, além de não cair muito bem junto de grande parte do eleitorado, pode ter o efeito de incentivar e motivar os eleitores democratas a participarem na eleição, ao invés de se absterem. Se as últimas sondagens já mostravam uma recuperação do democrata Bennet, então esta polémica declaração de Buck pode mexer ainda mais com a corrida que merece, cada vez mais, ser seguida com toda a atenção. 

Na luta pelo Senado, os democratas respiram (um pouco) melhor

Depois de várias semanas em que não conheceram outra coisa a não ser más notícias, os democratas tiveram nos últimos dias, alguns motivos para sorrir, ainda que moderadamente. Se os cenários relativamente à Câmara dos Representantes e às corridas para governadores estaduais não se alteraram significativamente (mas sobre isso falarei mais tarde), o mesmo não se pode dizer sobre a batalha pelo Senado dos Estados Unidos.
As últimas sondagens indicam que o Partido Democrata aparenta estar a ganhar vantagem em alguns estados que tinha obrigatoriamente de vencer para manter o controlo da câmara alta do Congresso, ao mesmo tempo que recupera e aperta a luta em corridas que pareciam estar a inclinar-se decisivamente para o lado republicano. Segundo os últimos estudos, a Califórnia, Washington e o Connecticut aparentam estar a aguentar-se no lado democrata, enquanto que a vitória no Delaware, depois do desastre que representou para o GOP a nomeação de Christine O'Donnel, é já um dado adquirido. Os êxitos nestas corridas chegariam, então, para os democratas atingirem a marca dos 50 senadores.
Contudo, e até para precaver eventuais deserções na sua bancada, os democratas desejam conseguir uma maioria menos precária. Para o fazerem, precisam de vencer o máximo das eleições que estão a ser disputadas ao limite. Entre essas, é no Wisconsin que a situação parece estar mais negativa, já que o senador Feingold aparece em todas as sondagens bem atrás do seu opositor republicano. Já no Illinois e no Nevada o cenário não se alterou, com ambas as corridas a permanecerem totalmente empatadas. Já a eleição na West Virgínia, que chegou a parecer um caso perdido, pode estar novamente a inclinar-se para lado democrata. Outra corrida que aparentava estar a fugir completamente ao candidato do Partido Democrata era a da Pennsylvania. Porém, as sondagens internas dos democratas e alguns rumores sugerem que esta eleição poderá estar, também ela, a reequilibrar-se. Por fim, a corrida do Colorado volta figurar-se como um genuíno toss-up, já que, depois de sucessivas sondagens indicarem uma pequena mas estável vantagem do candidato do GOP, agora, o democrata Michael Bennet voltou a "encostar" no seu adversário.
Com esta ligeira melhoria na sua situação para as eleições para o Senado, os democratas afastam, pelo menos em parte, os piores receios que apontavam para a perda do controlo desta câmara. Contudo, a sua situação é ainda pouco segura e num ciclo eleitoral como o deste ano, onde há um grande descontentamento popular face aos políticos incumbentes e à governação democrata,  pode suceder um efeito de "onda", com todas as corridas actualmente classificadas como "toss up" a caírem para o lado do GOP. Assim sendo, qualquer vaticínio é prematuro e qualquer previsão é arriscada.

sábado, 16 de outubro de 2010

Follow the Money

Apesar de em anos de eleições intercalares serem as centenas de campanhas para o Congresso ou para os governos estaduais a concentrarem a maior parte das atenções, a verdade é que este período de tempo serve também de antecâmara para o lançamento das candidaturas presidenciais, que devem começar a surgir já no início do próximo ano.
Quando se especula sobre os nomes que poderão vir a lançar candidaturas à Casa Branca, um dos principais indicadores é o dinheiro que as principais figuras têm angariado. Como se sabe, a questão financeira é sempre um dos pontos mais importantes para as campanhas políticas nos Estados Unidos e quem quiser ser um candidato presidencial viável tem de ser capaz de reunir enormes somas monetárias, de forma a lançar uma campanha nacional, durante quase dois anos. 
Espreitando os valores que os principais candidatos a candidatos já angariaram este ano, verifica-se que o antigo speaker da Câmara dos Representantes, Newt Gingrich (que a cada quatro anos é falado como potencial candidato presidencial, o que, até agora, nunca sucedeu), parte na frente, tendo arrecadado 9,9 milhões de dólares. Bem atrás, aparecem outros dos nomes mais falados, com Mitt Romney em segundo lugar (5,1 milhões), seguido de Sarah Palin (2,5 milhões) e Tim Pawlenty (2,1 milhões). São somas elevadas, especialmente no caso de Newt Gingrich, que tem a vantagem de possuir uma estrutura de apoio já bem montada e oleada. Contudo, é preciso lembrar que esta superioridade de Gingrich é apenas aparente, já que Mitt Romney conta com uma fortuna pessoal considerável, a que poderá recorrer numa candidatura presidencial, como aconteceu em 2008 e que Sarah Palin, se e quando decidir concorrer, tem um estatuto e um reconhecimento que fazem dela uma verdadeira máquina de angariar dinheiro sem igual nos seus potenciais adversários.
Finalmente, é necessário considerar que estes valores de dinheiro angariado não significam por si só que estes políticos vão mesmo concorrer à presidência em 2012 (especialmente nos casos de Palin e Gingrich, já que é praticamente certo que Pawlenty e Romney serão candidatos). Muitas vezes, figuras proeminentes da vida político-partidária americana lançam essa hipótese como forma de manterem a sua visibilidade e a sua influência política. Além disso, estes flirts com uma eventual candidatura presidencial permite aos políticos em causa, como vimos nestes casos, aumentar exponencialmente as contribuições financeiras para os seus PACs e grupos de apoio.
Após as eleições intercalares, as atenções dos grandes contribuidores financeiros para as campanhas políticas vão virar-se para 2012 e para os candidatos que representarão as melhores apostas (e investimentos) para o seu dinheiro. Nessa altura, terá início, em força, a pré-campanha presidencial e estas somas, já de si avultadas, ganharão um volume gigantesco, a que alguns chamarão mesmo insultuoso.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

"Stay on message"

Um dos elementos mais importantes e decisivos de qualquer campanha eleitoral é a escolha de uma mensagem simples, clara e que defina o político em causa junto do grande público, de modo a que os eleitores percebam e identifiquem o que esse candidato defende e aquilo a que se opõe. 
Um bom exemplo disso mesmo foi a campanha presidencial de Barack Obama que, em 2008, escolheu como grandes temas da sua candidatura a mudança e a esperança, bem explícitos nos principais lemas da campanha - Yes we can e Change we can believe in - além, claro está, da ruptura com os anos de governação Bush. Ou seja, os americanos podiam nem saber muito bem que políticas e ideias Obama pretendia implementar se chegasse à Casa Branca, mas, através da mensagem que transmitiu, o jovem senador do Illinois  seduziu-os e entusiasmou-os, fazendo com que se deslocassem até às urnas para votar em números recordes.
Contudo, quando analisamos a presente campanha eleitoral para as eleições intercalares, percebemos que, desta vez, a vantagem em termos de mensagem está toda do lado republicano. Um pouco por todo o país, os candidatos republicanos a governadores, senadores ou congressistas falam praticamente a uma só voz, passando a mesma mensagem e tendo o mesmo discurso, baseado em alguns soudbytes que todos entendem: é necessário baixar os impostos, diminuir o peso do Estado e reduzir o défice, para que o sector privado possa recuperar o fulgor de outros tempos, criando riqueza e emprego. Esta é uma mensagem facilmente compreensível, o que faz com que todos os americanos, concordem ou não com ela, saibam e percebam o que é que os republicanos defendem.
Já do lado democrata a história é outra. Não existe uma mensagem unificada e estruturada que ajude os eleitores a perceber quais são os projectos e as ideias do Partido Democrata. Não existe, em geral, um fio condutor comum às campanhas dos vários candidatos democratas. Pelo contrário, estes parecem divididos e numa situação de "cada um por si". Veja-se que, em relação à reforma da saúde, há democratas que fazem campanha a defender a legislação, enquanto outros a criticam ou a ignoram, o que exemplifica na perfeição a confusão e divisão que reina no seio democrata. Por outro lado, o facto de vermos democratas a criticarem a liderança do seu partido, nomeadamente a speaker Nancy Pelosi, não é, de todo, um sinal positivo de bom ambiente partidário.
Esta é, a meu ver, uma das causas para a hecatombe democrata que se vislumbra para a noite de 2 de Novembro. Os liberais, à falta de um alvo claro e reconhecido nacionalmente, como foi George W. Bush em 2006 e 2008, não conseguiram definir e montar uma mensagem conjunta e eficaz. Pelos vistos, não aprenderam com os sucessos recentes, nem cumpriram um dos principais conselhos de qualquer assessor político que se preze: "stay on message!".

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Michelle Obama já votou!

A Primeira-Dama dos Estados Unidos, Michelle Obama, já depositou o seu boletim de voto, na sua cidade de residência, a windy city, Chicago. A esposa de Obama aproveitou uma janela no seu preenchido périplo pelo país, onde faz campanha pelos candidatos democratas, para exercer o seu direito cívico, aproveitando-se da possibilidade de votar antes do dia marcado para as eleições.
Nas últimos ciclos eleitorais, o early voting tem ganho relevância, sendo cada vez mais os eleitores que preferem votar antecipadamente, seja para evitar as filas do dia designado ou para precaver qualquer indisponibilidade nessa data. Nas eleições de 2008, quase um terço dos votantes escolheram fazê-lo através deste sistema, apesar de em alguns dos Estados da União não permitirem o early voting. Este valor reflecte uma clara tendência de subida, em comparação com os 22% e os 16% do eleitorado que votaram mais cedo, nas eleições de 2004 e de 2000, respectivamente.
Normalmente, a maioria dos eleitores que preferem votar com antecedência são aqueles que se encontram mais entusiasmados com a eleição. Assim, da mesma forma que, nas eleições presidenciais de 2008, Barack Obama ganhou o early voting por larga margem, é expectável que os republicanos consigam amealhar grande parte destes votos, dado o maior entusiasmo entre o seu eleitorado relativamente a este ciclo eleitoral em comparação com os simpatizantes democratas.
Como já está aberto o período do voto antecipado, pode considerar-se que as eleições intercalares deste ano já começaram. De qualquer forma, o grosso dos votos, a contagem dos boletins e os resultados finais apenas chegarão a 2 de Novembro. E essa será sempre a data de todas as decisões.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

As estrelas democratas entram em acção

Apesar de o actual clima político ser extremamente desfavorável aos democratas, é preciso ter em conta que estes partem com uma importante vantagem sobre os seus opositores republicanos, para a época decisiva da campanha eleitoral: as suas estrelas. Nomes como os de Michelle e Barack Obama, Joe Biden, os Clinton ou Al Gore são sempre importantes assets com que os candidatos democratas podem contar quando necessitarem de elevar o seu perfil político, de atraírem multidões aos seus eventos ou, porventura o dado mais importante, de angariarem dinheiro.
Além de serem muitas, estas personalidades têm ainda a vantagem de se complementarem e atraírem diferentes grupos do eleitorado. Joe Biden, por exemplo, é uma boa "arma" para seduzir os blue collar workers. Bill Clinton, por seu lado, continua a ser muito popular, particularmente entre os democratas rurais, que sempre apreciaram a sua governação centrista. Michelle Obama, que actualmente é extremamente popular nos Estados Unidos (bem mais que o seu marido) já entrou no trilho da campanha, apoiando os candidatos democratas que muito têm a ganhar ao associarem a sua imagem à da Primeira-Dama. E mesmo Barack Obama, que não goza, hoje em dia, de grandes índices de popularidade, será sempre decisivo em algumas eleições, em especial naquelas em que os afro-americanos constituem uma parte considerável do eleitorado.
Já no lado republicano apenas Sarah Palin goza de um estatuto de estrela comparável (e provavelmente até superior) ao das grandes figuras democratas. Contudo, essa fama apenas pode ser utilizada em algumas corridas, já que grande parte do eleitorado americano tem dela uma opinião desfavorável. Depois, os outros pesos pesados do GOP não são mais-valias eleitorais para o partido, como são os casos de George W. Bush e Dick Cheney, ainda "queimados" junto dos cidadãos, após oito anos na Casa Branca, ou de Arnold Schwarnegger, altamente impopular na Califórnia e que, de qualquer forma, teima em distanciar-se da plataforma do GOP, como o seu recente apoio ao  independente Charlie Crist, na corrida para o Senado na Florida, o indica.

Contudo, a proeminência de algumas das figuras de topo do Partido Democrata também pode jogar a favor dos republicanos. Um dos principais lemas da política americana diz que all politics are local. Este ano, porém, os republicanos parecem querer desmentir esta máxima, pois ao invés de centrarem as atenções nos temas locais e específicos de cada corrida, têm-se concentrado em fazer das intercalares de Novembro um referendo à governação de Obama na Casa Branca e da liderança democrata no Congresso. Assim, a speaker Nancy Pelosi tem sido uma das principais visadas pelas campanhas republicanas, que tentam associar os candidatos democratas à polémica e liberal líder da Câmara dos Representantes.

À medida que se aproxima o momento da decisão, as grandes personalidades políticas dos Estados Unidos envolvem-se na campanha, seja por sua livre vontade, apoiando os candidatos do seu partido, ou por iniciativa de terceiros, que o fazem para prejudicar o seu adversário. De qualquer forma, no dia 2 de Novembro veremos que estrelas brilharão mais intensamente, se as democratas, se as republicanas.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

A (in)decisão do Kentucky

Rand Paul e Jack Conway
Uma das corridas mais interessantes deste ciclo eleitoral é, sem dúvida, aquele que se desenrola no Kentucky, onde o republicano Rand Paul e o democrata Jack Conway concorrem por um lugar no Senado dos Estados Unidos. Em condições normais, este não seria um local onde o Partido Democrata tivesse hipóteses de vitória (em 2008, Obama perdeu o Kentucky por mais de 16 pontos percentuais). Contudo, com a nomeação de Rand Paul para ser o candidato do GOP, esta corrida mudou de figura e as última sondagens têm mostrado os dois concorrentes muito próximos um do outro.
O grande destaque desta disputa eleitoral é definitivamente Rand Paul, que, após a vitória das primárias republicanas, saltou para a ribalta da política norte-americana. Rand é filho de Ron Paul, congressista do GOP pelo Texas, candidato presidencial em 2008 e um dos mentores e símbolos do movimento libertário nos Estados Unidos. E como tal pai, tal filho, Rand Paul herdou muito do pensamento do progenitor, sendo um liberal a nível económico, mas também em algumas questões sociais - defende, por exemplo, a legalização da marijuana. Porém, algumas das suas ideias políticas chocam com as do cidadão americano comum, o que prejudica as suas perspectivas de vitória, mesmo num estado profundamente republicano, como é o Kentucky. A seu favor, tem o facto de contar com o apoio entusiasta dos movimentos Tea Party e de nunca ter exercido qualquer cargo político, o que, dado o actual ambiente nos EUA, é sempre uma vantagem.
O adversário de Paul é o democrata Jack Conway, actual Attorney General do Kentucky, que venceu umas disputadas primárias democratas. Apesar de Conway não poder contar com o apoio de Barack Obama - o que só o prejudicaria - tem outras armas para jogar. Bill Clinton,  em particular, tem prestado uma importante ajuda ao candidato democrata, valendo-se da sua popularidade no Kentucky. 
Por outro lado, esta corrida tem como particularidade o facto de se assistir ao debate entre estes dois concorrentes, a uma espécie de inversão ideológica. Veja-se, por exemplo, que, relativamente ao Patriot Act, o polémico pacote de medidas, promovido por George W. Bush após o 11 de Setembro, Rand Paul é crítico, enquanto Jack Conway defende algumas medidas da legislação, precisamente as posições inversas dos seus partidos. 
Uma coisa é certa: pelo menos esta corrida está a ter o condão de tornar o Kentucky famoso no mundo por outra razão que não o frango frito da cadeia de fast food KFC.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Nova baixa na equipa de Obama

James Jones, Barack Obama and Tom Donilon speak outside the White House.
Obama anuncia a saída de Jim Jones e a sua substituição por Tom Donilon
A administração de Barack Obama sofreu, hoje, uma nova baixa, com a saída do National Security Adviser, o General Jim Jones. No seu lugar ficará Tom Donilon, uma figura muito próxima do vice-presidente Joe Biden, mas que, segundo consta, mantinha uma relação tensa com o seu antecessor.
Nos últimos tempos, Obama já tinha assistido à partida de membros da sua equipa política e económica, com destaque para o seu chief of staff, Rahm Emanuel, e para o seu principal conselheiro económico, Larry Summers. Contudo, ainda não tinha havido mexidas no seu Conselho de Segurança Nacional. Agora, após a saída do General Jones, podem dar-se novas alterações. A mais previsível é a retirada do Secretário da Defesa, Robert Gates, que está à frente do Pentágono desde 2006, quando ainda era George W. Bush o presidente, e que deverá, também, abandonar a administração.
Apesar de Jim Jones e Barack Obama terem feito questão de afirmar que a saída de Jones é normal e estava há muito agendada, a verdade é que mais esta "deserção" de um dos principais conselheiros presidenciais vem transmitir a ideia de algum pânico no seio da administração. Por outro lado, estas alterações no Executivo podem ser utilizadas por Obama para demonstrar ao povo americano que está ciente da sua insatisfação e que está disposto a agir e a mudar de rumo para corresponder às altas expectativas que a sua presidência criou.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Nova projecção para o Senado


A menos de um mês das eleições intercalares, que decorrerão no próximo dia 2 de Novembro, volto a fazer uma previsão do mapa eleitoral que resultará depois de apurados os resultados de todas as 37 corridas  relativas aos assentos no Senado em disputa este ano.
Em comparação com a minha última projecção, o cenário piorou bastante para o Partido Democrata, tendo passado de 54 lugares no Senado para apenas 51. Segundo esta actualização, os democratas passaram de favoritos para underdogs em três corridas fulcrais. No Wisconsin, o senador democrata Russ Feingold aparece em clara desvantagem em todas as mais recentes sondagens, o que me faz colocar este estado na coluna republicana, apesar de, no início, me ter custado a acreditar que Feingold, um dos mais poderosos democratas no Senado, pudesse estar em perigo. Continuando no Midwest, também no Illinois poderá residir uma surpresa, se o lugar que outrora pertenceu a Barack Obama passar para o GOP. Esta corrida está, porém, longe de estar decidida (existe ainda um grande número de eleitores indecisos) e apenas o facto de me parecer que esta zona dos EUA se inclina, este ano, para os republicanos me fez colocar o Illinois a vermelho. Por fim, o último estado que mudei para o lado republicano foi a West Virginia. Aqui, apesar de o candidato democrata ser o governador e, por sinal, bastante popular, as sondagens indicam que a corrida se está a inclinar, porventura definitivamente, para o GOP.
Para os democratas rareiam as boas notícias e as que existem não chegam para animar as hostes.  Neste momento, restam aos democratas os tradicionais bastiões do Nordeste e do Pacífico. No Delaware, Christine O'Donnel parece mesmo a opositora de sonho para os democratas, que deverão vencer facilmente esta corrida. Mais a norte, os últimos dados mostram que as eleições no Connecticut e em Nova Iorque (a eleição especial, onde concorre Kirsten Gillibrand) não deverão fugir aos candidatos democratas, algo que, a um dado momento, chegou a parecer estar em causa. No outro lado do continente, ergue-se aquilo a que já chamam a barreira do Pacífico, pois as disputas na Califórnia e em Washington tendem nitidamente para o lado democrata. Já o caso do Nevada é, como no Illinois, de um verdadeiro empate técnico. Porém, arrisco dizer que Harry Reid deverá bater a sua adversária, Sharron Angle, nem que seja ao photo-finish.
Mesmo que, como é minha convicção, os democratas consigam manter o controlo do Senado, fá-lo-ão sempre por uma margem reduzida. Isso poderá levar os republicanos a tentar aliciar senadores que alinham com os democratas a mudarem de lado e, assim, constituírem-se como a nova maioria. Num cenário desse género, o independente Joe Lieberman ou o democrata moderado Ben Nelson seriam, previsivelmente, potenciais alvos do Partido Republicano. Não se esgotam, portanto, no dia 2 de Novembro, as hipóteses republicanas no Senado. Mas esse será, sem dúvida alguma, o momento decisivo.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

RINOs & Blue Dogs

Nos dias que correm, o espectro político norte-americano está particularmente polarizado, com as franjas mais extremas dos dois partidos a dominarem e a destacarem-se relativamente às alas tendencialmente moderadas. Este fenómeno é notoriamente mais visível no lado do Partido Republicano, onde a facção mais conservadora tem aumentado o seu poder de forma substancial, impulsionada pelos movimentos Tea Party. Isso mesmo foi observado em algumas eleições primárias neste ciclo eleitoral, com candidatos muito conservadores a derrotarem adversários moderados e a conseguirem a nomeação do GOP. Isso aconteceu, por exemplo, em corridas para o Senado no Nevada, no Colorado, no Kentucky, ou, mais recentemente, no Delaware.
Assim, parece que o movimento conservador declarou aberta a época de caça a uma uma espécie que, cada vez mais, se encontra em vias de extinção: os RINOs. Esta sigla, que significa Republicans In Name Only, é o nome pelo qual são conhecidos, em termos algo pejorativos, os políticos eleitos pelo Partido Republicano que, apesar disso, defendem ideias que vão contra a plataforma programática do GOP, ou que costumam votar ao lado dos democratas no Congresso. Entre as figuras republicanas que são, por vezes, apelidados de RINO, constam nomes como o senador da Carolina do Sul, Lindsey Graham, as duas senadoras do Maine, Olympia Snowe e Susan Collins, ou o governador da Califórnia, Arnold Schwarzenegger. Também o próprio John McCain já foi, em tempos, acusado pela ala direita do GOP de ser um RINO.
Mas os democratas têm, também, a sua contraparte aos RINO e, curiosamente, também com nome de animal: os Blue Dogs. Na Câmara dos Representantes existe mesmo o grupo Blue Dog Coalition, que conta com mais de meia centena de congressistas conhecidos por serem fiscal conservatives. Outros democratas conservadores, como a senadora Blanche Lincoln, do Arkansas, ou o senador Ben Nelson, do Nebraska são frequentemente apelidados de Blue Dogs.

Geralmente, tanto os RINO como os Blue Dogs resultam da necessidade dos políticos se adaptarem às condições e características dos distritos ou estados pelos quais são eleitos. Um democrata muito liberal não tem a mínima hipótese de ganhar num estado conservador, mas já um moderado poderá ter chances de vitória. O mesmo acontece no GOP, que necessita de apresentar candidatos centristas se quiser disputar estados tendencialmente liberais. Foi assim que, por exemplo, o moderado Scott Brown conseguiu vencer no liberal Massachussetts.

Por se encontrarem, por norma, no centro do espectro político e ideológico, é natural que estes democratas e republicanos moderados sejam sempre os principais alvos quando as lideranças dos partidos contrários procuram votos no outro lado da barricada. Aliás, até pode suceder que um partido alicie um desses políticos da oposição a mudar para o seu lado, alterando a sua filiação partidária, como aconteceu, recentemente, com o senador Arlen Specter, que passou de republicano a democrata. Mas, por outro lado, são também os RINO e os Blue Dogs os mais vulneráveis e cuja reeleição está mais vezes em perigo. Até porque acontece frequentemente as lideranças partidárias não prestarem muito auxílio a estes políticos, muitas vezes em jeito de retaliação por qualquer "traição" num voto no Congresso ou por terem "fugido" à plataforma ou à mensagem partidária. Em via de extinção ou não, a verdade é que a vida destes RINO e Blue Dogs não é nada fácil.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Presidente Donald Trump?

O famoso magnata Donald Trump anunciou no programa "Morning Joe" da MSNBC que está a considerar seriamente uma candidatura presidencial em 2012. Esta declaração de Donald Trump vem pouco depois de ter sido do conhecimento público que foi realizada uma sondagem aos eleitores do New Hampshire, um dos mais decisivos estados nas eleições primárias, sobre uma eventual candidatura de Trump à presidência. Por exemplo, uma das perguntas dessa sondagem era relacionada com o facto de o milionário americano já ter, em tempos, contribuído financeiramente para campanhas do Partido Democrata. Contudo, Donald Trump negou ter sido ele a encomendar o estudo e afirmou desconhecer quem o fez. 
Já no ano 2000 Trump tinha ponderado concorrer à presidência, não indo, porém, em frente com a ideia. Se, desta vez, decidir mesmo avançar, o mais provável é que entre na disputa pela nomeação do Partido Republicano (não descartando, porém, uma candidatura independente). Assim, fica mais uma vez provado que a corrida republicana, à falta de um claro favorito, está totalmente em aberto, o que leva um grande número de políticos e de outras personalidades a pensarem numa eventual candidatura presidencial.

A reforma da saúde na campanha eleitoral

A reforma do sistema de saúde americano foi, sem dúvida, a mais importante realização de Barack Obama e dos democratas nos últimos dois anos. Contudo, foi também a mais polémica e, por isso, é natural que o tema mereça lugar de destaque na campanha eleitoral para as midterms. 
Os candidatos republicanos, apostando na aparente impopularidade da reforma da saúde, também conhecida, com uma conotação negativa, como o Obamacare, insistem que, se regressarem ao poder, tudo irão fazer para anular a histórica legislação produzida e aprovada pelas maiorias democratas nas duas câmaras do Congresso. Apesar de ser praticamente impossível a revogação da reforma do healthcare (e sobre isso já falei aqui), o GOP aproveita este soundbyte para animar as suas bases e  atrair os movimentos Tea Party, que, afinal, ganharam o destaque que têm hoje graças à sua fervorosa oposição a esta reforma.
Se no lado republicano a oposição às alterações no sistema de saúde americano é unânime, o mesmo já não acontece do outro lado da barricada. Apesar de terem sido os democratas os autores da reforma da saúde, estes parecem, agora, algo envergonhados e temerosos que essa legislação os prejudique nas eleições de Novembro. É óbvio que a liderança do partido e os seus membros mais liberais defendem e utilizam a reforma do healthcare na campanha. Porém, muitos dos seus elementos mais moderados e/ou mais vulneráveis eleitoralmente estão a ignorar ou a declararem-se contra o chamado Obamacare, com medo que o seu apoio a essa legislação hipoteque as suas hipóteses nas midterms. Veja-se o caso de Joe Manchin, da West Virginia, que concorre por um lugar no Senado americano e que, depois de ter apoiado a reforma da saúde, afirma, agora, que, se for eleito para o Senado, irá lutar por modificar essa mesma reforma. 
A meu ver, os democratas estão a incorrer num erro crasso. Os eleitores sabem perfeitamente quem apoiou e votou a favor da reforma do sistema de saúde e, por isso, é contraproducente vir agora envergonhadamente mudar de opinião. Isso servirá apenas para irritar as bases democratas e para garantir automaticamente o epíteto de flip-flopper (alguém que muda de opinião em algum assunto), o que nunca favoreceu nenhum político. Dito isto, penso que os candidatos democratas deveriam assumir as suas responsabilidades e defender as suas posições originais - a reforma da saúde foi sempre um dos pontos essenciais do programa do partido - aproveitando para explicar melhor aos cidadãos as virtudes do novo figurino do sistema de saúde do país. Até porque, de qualquer forma, o que, nesta altura, verdadeiramente preocupa os americanos é a economia e os empregos.

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

O fim do 111º Congresso

A um mês das eleições intercalares, os congressistas e senadores (pelo menos grande parte deles) regressam a casa para lutarem pela reeleição. Apesar, de após as eleições, o  actual elenco do Congresso retomar a sua actividade legislativa até à tomada de posse do novo figurino, em Janeiro de 2011, a verdade é que esta pausa marca o final simbólico do 111º Congresso americano. Para a posteridade ficam as grandes conquistas da maioria democrata, sob a liderança de Nancy Pelosi e de Harry Reid, com todo o destaque a ir para a marcante e polémica reforma da saúde. Actualmente, o trabalho deste Congresso é impopular, mas o grande teste às mudanças operadas nos últimos dois anos será o da história. E, provavelmente, para sabermos o resultado dessa prova, ainda vamos ter de esperar muitos e muitos anos.