quarta-feira, 6 de outubro de 2010

RINOs & Blue Dogs

Nos dias que correm, o espectro político norte-americano está particularmente polarizado, com as franjas mais extremas dos dois partidos a dominarem e a destacarem-se relativamente às alas tendencialmente moderadas. Este fenómeno é notoriamente mais visível no lado do Partido Republicano, onde a facção mais conservadora tem aumentado o seu poder de forma substancial, impulsionada pelos movimentos Tea Party. Isso mesmo foi observado em algumas eleições primárias neste ciclo eleitoral, com candidatos muito conservadores a derrotarem adversários moderados e a conseguirem a nomeação do GOP. Isso aconteceu, por exemplo, em corridas para o Senado no Nevada, no Colorado, no Kentucky, ou, mais recentemente, no Delaware.
Assim, parece que o movimento conservador declarou aberta a época de caça a uma uma espécie que, cada vez mais, se encontra em vias de extinção: os RINOs. Esta sigla, que significa Republicans In Name Only, é o nome pelo qual são conhecidos, em termos algo pejorativos, os políticos eleitos pelo Partido Republicano que, apesar disso, defendem ideias que vão contra a plataforma programática do GOP, ou que costumam votar ao lado dos democratas no Congresso. Entre as figuras republicanas que são, por vezes, apelidados de RINO, constam nomes como o senador da Carolina do Sul, Lindsey Graham, as duas senadoras do Maine, Olympia Snowe e Susan Collins, ou o governador da Califórnia, Arnold Schwarzenegger. Também o próprio John McCain já foi, em tempos, acusado pela ala direita do GOP de ser um RINO.
Mas os democratas têm, também, a sua contraparte aos RINO e, curiosamente, também com nome de animal: os Blue Dogs. Na Câmara dos Representantes existe mesmo o grupo Blue Dog Coalition, que conta com mais de meia centena de congressistas conhecidos por serem fiscal conservatives. Outros democratas conservadores, como a senadora Blanche Lincoln, do Arkansas, ou o senador Ben Nelson, do Nebraska são frequentemente apelidados de Blue Dogs.

Geralmente, tanto os RINO como os Blue Dogs resultam da necessidade dos políticos se adaptarem às condições e características dos distritos ou estados pelos quais são eleitos. Um democrata muito liberal não tem a mínima hipótese de ganhar num estado conservador, mas já um moderado poderá ter chances de vitória. O mesmo acontece no GOP, que necessita de apresentar candidatos centristas se quiser disputar estados tendencialmente liberais. Foi assim que, por exemplo, o moderado Scott Brown conseguiu vencer no liberal Massachussetts.

Por se encontrarem, por norma, no centro do espectro político e ideológico, é natural que estes democratas e republicanos moderados sejam sempre os principais alvos quando as lideranças dos partidos contrários procuram votos no outro lado da barricada. Aliás, até pode suceder que um partido alicie um desses políticos da oposição a mudar para o seu lado, alterando a sua filiação partidária, como aconteceu, recentemente, com o senador Arlen Specter, que passou de republicano a democrata. Mas, por outro lado, são também os RINO e os Blue Dogs os mais vulneráveis e cuja reeleição está mais vezes em perigo. Até porque acontece frequentemente as lideranças partidárias não prestarem muito auxílio a estes políticos, muitas vezes em jeito de retaliação por qualquer "traição" num voto no Congresso ou por terem "fugido" à plataforma ou à mensagem partidária. Em via de extinção ou não, a verdade é que a vida destes RINO e Blue Dogs não é nada fácil.

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