quarta-feira, 31 de março de 2010

McCain protege o flanco direito

John McCain pediu ontem a intervenção da Guarda Nacional do Arizona para proteger a fronteira mexicana do seu Estado, de modo a prevenir a entrada de muitos imigrantes ilegais provenientes do México. Esta solicitação do candidato presidencial de 2008 à administração Obama acontece após um rancheiro do Arizona ter sido encontrado morto na sua propriedade.
Estas declarações vêm em sentido oposto à posição moderada por que McCain ficou conhecido depois de ter proposto legislação, durante a presidência de George W. Bush, que reformaria as lei de imigração e permitiria legalizar muitos imigrantes que se encontram ilegalmente nos Estados Unidos. Essa posição criou-lhe muitos anti-corpos no GOP, mas consolidou a imagem de maverick que tinha conquistado na campanha de 2000 contra Bush.
Porém, agora, que enfrenta uma dura batalha à Direita nas primárias republicanas para a sua reeleição, McCain necessita de atrair o eleitorado mais conservador, tentando minimizar as perdas para o seu concorrente e, assim, a sua verdadeira intenção não é proteger a fronteira sul do Arizona, mas sim o seu próprio flanco direito. Para esse efeito, conta ainda com a ajuda da sua running-mate de 2008, Sarah Palin, que se manteve leal a quem a trouxe para a ribalta e não embarcou na contestação dos mais conservadores a McCain.
O opositor de John McCain nas primárias republicanas é J. D. Hayworth, um antigo congressista, mais conservador e que conta com o apoio informal do Tea Party e de figuras do conservadorismo americano, como Glen Beck e Mark Levin. Do lado de McCain está o grosso do establishment do GOP, como Romney, Pawlenty ou Scott Brown.
Serão, então, as primárias o seu grande desafio - uma sondagem da Rasmussen coloca Hayworth muito próximo de McCain - já que na eleição geral os democratas nem se deram ao trabalho de apresentar um candidato competitivo (a ex-Governadora Janet Napolitano seria uma forte concorrente, mas Obama nomeou-a Secretary of Homeland Security).

segunda-feira, 29 de março de 2010

Uma boa semana

Barack Obama assumiu a presidência americana, a 20 de Janeiro de 2009, perante uma entusiástica multidão esperançada num futuro melhor sob a sua liderança. Provavelmente, nenhum dos 43 homens que o precederam iniciou o seu mandato com as expectativas tão altas como as de Obama. Porém, desde esse gélido dia em Washington, o clima de euforia e de estado de graça que rodeou o presidente americano foi-se, gradualmente, evaporando.
Obama teve, de facto, um início de mandato complicado, marcado por muitas semanas negativas. Em sua defesa, diga-se que herdou uma situação económica terrível, depois da maior crise desde a Grande Depressão e de oito anos de uma administração que, conjugando duas guerras distantes com um corte nos impostos, transformou o surplus dos anos Clinton num terrível défice federal. Para enfrentar a crise económica, Obama patrocinou um novo pacote de estímulos que parecem, pelo menos, ter conseguido estancar a hemorragia. Mas isso não chegará e os níveis de desemprego, apesar de terem parado de subir, ainda estão em valores tremendamente altos. Será aqui, na esfera económica, que Obama terá de concentrar todos os seus esforços, pois este é o tema que mais preocupa, actualmente, os norte-americanos, e será, também, o assunto que decidirá o seu destino nas eleições de 2012.

Contudo, a semana passada foi uma boa semana para o presidente americano. A nível interno, conseguiu uma vitória de enormes proporções, com a aprovação da reforma da saúde dos EUA, que assumiu como maior prioridade para o seu mandato, provando, assim, ser um líder forte e determinado. No campo externo, chegou a um acordo muito importante com a Rússia de Putin e Medvedev, tendo em vista a diminuição dos arsenais nucleares dos dois países em um terço. Depois das críticas que recebeu, após ter ganho o Nobel da Paz do ano passado, alcança uma realização importante e concreta nas relações internacionais.

É óbvio que uma semana só, por muito importantes que sejam as vitórias conseguidas, não é suficiente. Mas, com base no momentum proporcionado por estes triunfos, Obama pode conseguir abrir uma nova página no seu primeiro mandato, mas esta com muitas mais boas semanas do que a anterior.

sexta-feira, 26 de março de 2010

It's over

Agora foi de vez. A reforma da saúde americana, depois de um ano de polémicas e disputas no congresso, passou, finalmente, nas duas câmaras do Capitólio.
O Senado aprovou a legislação, através do método de Reconciliation, para evitar o bloqueio do fillibuster republicano, com o voto favorável de 56 senadores, todos do caucus democrata. Apenas três senadores do partido maioritário votaram contra - Ben Nelson, do Nebraska, Mark Pryor e Blanche Lincoln, ambos do Arkansas. Estes senadores são todos democratas moderados que representam Estados conservadores, o que explica o seu interesse em não votarem a favor da reforma.
Logo a seguir, a Câmara dos Representantes voltou a votar a proposta de lei, depois das irregularidades detectadas na véspera. O resultado foi o mesmo e a reforma foi aprovada, com 220 votos a favor e 207 contra.
Terminou, assim, um longo processo que dominou a agenda política dos Estados Unidos, desde que Barack Obama tomou posse, em Janeiro de 2009, e definiu a reforma no serviço de saúde americano como a sua grande prioridade para o início do seu mandato.
Obama e os democratas conseguiram uma vitória, que se revelou mais difícil e menos limpa do que gostariam e do que esperariam, dado o seu controlo da Casa Branca e do Congresso, mas que não deixa de ser um grande triunfo legislativo e político.

quinta-feira, 25 de março de 2010

A luta continua

Afinal, a longa novela da aprovação da reforma da saúde ainda não acabou, mesmo depois da promulgação da lei por Barack Obama. Ontem, os republicanos tentaram incluir 29 emendas à proposta, prontamente negadas pelos democratas. Porém, foram encontradas duas disposições que vão contra as regras processuais do Senado e que não podem ser incluídas na versão final da lei. Sendo assim, hoje, a reforma será novamente votada na Câmara dos Representantes, sem as 17 linhas que foram excluídas do documento de 156 páginas. Estas mudanças, relacionadas com empréstimos a estudantes, são de menor importância e não alteram o essencial do plano democrata.
Os republicanos podem conseguir, assim, uma pequena vitória, pois quanto mais arrastarem os procedimentos e em mais polémica envolverem a aprovação da reforma, mais manchada e ilegítima esta parecerá aos olhos dos americanos. Porém, o tiro também lhes pode sair pela culatra, se os democratas conseguirem demonstrar que o GOP está apenas a bloquear um processo que já foi aprovado pela maioria. Veremos, então, quem melhor consegue passar a sua mensagem.

quarta-feira, 24 de março de 2010

A resposta da América

Aprovada a reforma da saúde na Câmara dos Representantes, é altura de perceber como os americanos respondem a esta realização da administração de Obama. As duas sondagens lançadas até ao momento, realizadas integralmente após a passagem do diploma, parecem indicar uma visão mais favorável do povo americano em relação à reforma.
A conceituada Gallup anunciou um estudo que coloca mesmo o Obamacare em patamares muito positivos, com 49% dos americanos a considerarem esta legislação como algo positivo, enquanto apenas 40% pensam o contrário. Já uma sondagem da CBS News apresenta valores mais modestos, num inquérito realizado às mesmas pessoas que haviam respondido a um outro semelhante, mas antes da aprovação da reforma, o que permite uma melhor avaliação do impacto da vitória da administração democrata. Segundo este estudo, antes da sua aprovação, o plano de reforma era visto favoravelmente por apenas 37% da amostra, contra 48% que se opunha. Mas, após a passagem do diploma, estes números ficaram mais equilibrados (42% a favor e 46% contra).
Estes duas primeiras sondagens (apesar da da Gallup poder ser um outlier) sugerem um bounce nos números de aprovação da reforma da saúde americana. O que não deixa de ser previsível, porque é habitual que grandes feitos, legislativos ou de outra ordem, resultem numa subida das sondagens para os seus proponentes e/ou executores. Mas, por outro lado, também é normal que estes "saltos" sejam apenas temporários, não se traduzindo num fenómeno duradouro.
Por isso, nos próximos tempos, será interessante confirmar a existência deste bounce, assim como a sua dimensão, mas acima de tudo será importante perceber se este facto se revelará consistente. Sobre isto terá muita influência o modo como os dois lados conseguirão (ou não) fazer passar a sua mensagem ao povo americano. Terminada a disputa da aprovação da reforma, começa, agora, uma nova batalha não menos importante: a luta pela sua "venda" ao público.

terça-feira, 23 de março de 2010

A reacção do GOP

A aprovação pela Câmara dos Representantes da reforma da saúde americana foi uma grande vitória para os democratas e, ao mesmo tempo, uma pesada derrota para os republicanos, que sempre se mostraram totalmente contra esta legislação.
Segundo as sondagens, e como a eleição especial para o Senado no Massachusetts demonstrou, o GOP pode vir a ter ganhos eleitorais à custa desta reforma já em Novembro e, quem sabe, nas presidenciais de 2012. Porém, o Partido Republicano também tem a perder com a aprovação desta legislação histórica.
Em primeiro lugar porque, como afirmou David Frum, conservador e antigo speechwritter de Bush, o GOP, ao minar esta proposta de lei para prejudicar politicamente Barack Obama, perdeu uma excelente oportunidade de influenciar uma reforma de grande importância. Assim, ficaram algo catalogados como o partido do "não", apenas interessados em constituírem-se como uma força de bloqueio a eventuais realizações da administração democrata, em vez de se assumirem como uma oposição construtiva e responsável.
Depois, porque as reacções de alguns membros do Partido Republicano e de manifestantes contra a reforma após aprovação da proposta de lei foi indecorosa. Ainda no interior do Congresso, o congressista republicano Randy Neugebauer gritou "baby killer" em direcção ao seu colega democrata, Bart Stupak, fazendo lembrar o episódio do republicano Joe Wilson, quando este gritou "you lie" ao Presidente Obama. Já no exterior, os manifestantes que se opunham à reforma da saúde insultaram e cuspiram alguns congressistas democratas. A liderança republicana foi rápida a condenar e a afastar-se desta conduta mais inflamada por parte de algumas facções do seu partido, mas está ainda na memória de todos o impacto negativo que os excessos cometidos nas manifestações anti-guerra do Vietname tiveram no Partido Democrata.
Agora, o GOP promete anular esta reforma quando conseguir o controlo do Congresso. Contudo, isso não bastará para que os republicanos sejam capazes de revogar esta legislação. Isto porque, mesmo que conseguissem triunfos expressivas nas intercalares deste ano, será impossível para os republicanos conseguirem uma maioria no Senado à prova de um previsível fillibuster democrata e só uma vitória na eleição presidencial de 2012 permitiria impedir o veto de Barack Obama. Sendo assim, este cenário da anulação da reforma não parece, pelo menos para já, exequível.
Resta, então, ao Partido Republicano tentar capitalizar ao máximo a imagem de uma reforma impopular, aprovada por meios menos consensuais como o Reconciliation, mas, ao mesmo tempo, mostrando ideias e programas próprios para melhorar a situação do país. Se o fizer, 2010 pode ser para o GOP, o que 2006 e 2008 foram para os Democratas.

segunda-feira, 22 de março de 2010

Obama faz história!


Domingo, 21 de Março de 2010 tornou-se um dia histórico para os Estados Unidos da América. Barack Obama e os democratas conseguiram fazer passar, na Câmara dos Representantes, a tão almejada reforma do serviço de saúde americano, algo que vários presidentes, desde Ted Roosevelt, tentaram realizar, mas sem sucesso.
Ontem, a reforma foi aprovada pela câmara baixa do Congresso com o voto favorável de 219 congressistas, todos democratas. Este êxito na persuasão e convencimento de muitos democratas indecisos é mérito de Obama, mas muito particularmente da speaker Nancy Pelosi que mostrou liderar a sua câmara com pulso firme e com grande capacidade de influência.
Para esta reforma se concretizar efectivamente falta apenas a passagem no Senado, que não será realizada através de uma votação comum, mas sim recorrendo ao método de Reconciliation, o que permitirá a aprovação da proposta com apenas uma maioria simples, alargando, desta forma, a cobertura dos serviços de saúde a novos 30 milhões de americanos, anteriormente sem acesso a eles.
Porém, esta vitória política dos democratas, que provavelmente os irá beneficiar a médio/longo prazo, poderá ter consequências negativas para a reeleição de muitos congressistas democratas nas eleições intercalares de Novembro. Costuma-se dizer que há duas coisas que o público não deve ver nem saber como são feitas: as leis e as salsichas. Ora, todo este processo, envolvido em grande polémica e fricção entre os dois partidos, foi disputado em plena praça pública, o que se tornou um dos factores para a impopularidade desta reforma. Além disso, o procedimento que irá ser utilizado para fazer passar a proposta no Senado poderá causar ainda maior insatisfação entre os americanos.
Mas esta é, sem dúvida nenhuma, uma vitória de enormes proporções para Barack Obama, que cumpre uma das maiores promessas da sua campanha: a criação de um serviço de saúde universal. Depois deste triunfo legislativo, um dos maiores, senão o maior, de um presidente americano nos últimos 50 anos, será muito difícil caracterizar Obama como um presidente sem obra feita. A este feito notável, junta-se o pacote de estímulos financeiros e a nomeação da primeira mulher latina para o Supremo Tribunal, o que representa já um interessante leque de realizações da sua presidência, em pouco mais de um ano de mandato.

sexta-feira, 19 de março de 2010

216

A Câmara dos Representantes deve votar este Domingo a proposta de lei sobre a reforma do serviço de saúde dos Estados Unidos. Para ser aprovada, a reforma necessita de 216 votos "yea".
De forma a atingir este número mágico, a liderança democrata tem estado envolvida numa grande operação de persuasão dos membros das suas fileiras que estão indecisos ou pensam votar contra. Convém lembrar que, em Novembro do ano passado, a votação da proposta da House passou à tangente com 220 votos favoráveis e 215 votos contra e que, na altura, 39 democratas votaram negativamente. A maioria desses votos "nay" vieram de distritos conservadores e em que os seus representantes democratas têm uma luta pela reeleição muito complicada. Isso explica, em grande parte, a relutância destes congressistas em apoiarem uma legislação que entre o seu eleitorado é muito impopular.
O Presidente Barack Obama está directamente empenhado em obter os votos decisivos, tendo, nos últimos dias, contactado vários congressistas indecisos para os convencer a votarem a favor do seu plano de saúde. Obama joga aqui todo o capital político que ainda lhe resta, pois o falhanço desta reforma pode marcar todo o seu mandato, depois do presidente a ter escolhido como prioridade número um.
Também Nancy Pelosi, a speaker da Câmara dos Representantes, vê nesta decisão um momento fulcral para o seu futuro político. Caso consiga reunir o número de congressistas necessário para a aprovação do diploma, Pelosi fica para a história como uma das mais poderosas e efectivas speakers de sempre. Caso contrário, a primeira mulher a ocupar este cargo deixa a sua imagem associada a uma derrota estrondosa numa matéria crucial, mesmo contando com uma esmagadora maioria democrata.
Neste momento, os democratas parecem estar a ganhar algum ímpeto e a conseguir alguns votos importantes, como o ultra liberal Dennis Kucinich, que votou "não" em Novembro por considerar esta proposta insuficientemente progressista, mas que já anunciou ir votar favoravelmente desta vez. Porém, o cenário ainda está demasiadamente incerto para ser possível adivinhar um desfecho.

The curious case of Florida

Nas midterms de Novembro, a Florida será um dos Estados a estar em destaque, com a corrida para substituir o senador republicano George LeMieux a ganhar contornos de grande interesse e mediatismo.
Inicialmente, este lugar no Senado parecia ir directamente para Charlie Crist, o actual governador republicano do sunshine state. Porém, o seu maior opositor, Mark Rubio, ex-Speaker da Câmara dos Representantes, ganhou momentum e tem agora, segundo as sondagens, uma incrível vantagem sobre Crist. Isto deve-se ao carisma de Rubio e ao facto de estar a conseguir cativar o eleitorado mais conservador do GOP, enquanto Crist é um republicano mais moderado e tomou medidas, como o apoio ao pacote de estímulos à economia de Obama, que desagradaram às bases do seu partido.
Apesar de estas primárias apenas terem lugar em Agosto, parece que a vantagem de Rubio, uma estrela em ascensão no GOP, pode ser irrecuperável para o actual governador. Caso este cenário se confirme, fala-se já na possibilidade de Charlie Christ concorrer na eleição geral como independente, ou mesmo mudando de partido e concorrendo como democrata. Ambas as situações não seriam inéditas e existem até casos recentes: em 2006, o senador Joe Lieberman perdeu a sua primária no partido democrata, mas venceu a eleição geral, concorrendo como independente. Já em 2009, o senador Arlen Specter, sabendo que não conseguiria ganhar a nomeação pelo GOP, mudou-se para o lado democrata, partido pelo qual tenta, este ano, a sua reeleição.
Mas, no caso de Crist, o mais provável, caso perca a nomeação e decida tentar a sua sorte na eleição geral - o que não é líquido, visto que manter-se na mansão do Governador é uma possibilidade - será concorrer como independente. Este dado poderia resultar numa das eleições mais disputadas e equilibradas do panorama eleitoral de 2010. Uma campanha com Rubio, Crist e ainda o candidato democrata - provavelmente o congressista Kendrick Meek - poderia beneficiar este último, devido à divisão da direita, e faria desta eleição uma three-way-race, de resultado imprevisível. Tudo isto fará com que este ciclo eleitoral na Florida vá ser seguido com muita atenção.

quarta-feira, 17 de março de 2010

It's the economy, stupid!

O Senado norte-americano aprovou hoje uma proposta de lei que prevê isenções fiscais para empregadores que contratem trabalhadores que tenham estado no desemprego pelo menos 60 dias. Esta proposta passou com o voto sim de 68 senadores, incluindo onze republicanos, permitindo que tenha o selo do bipartidarismo. Agora, falta apenas o carimbo do presidente para a sua promulgação.
É intenção dos legisladores democratas que esta seja apenas a primeira de um conjunto de propostas que promovam a criação de emprego. Parece que os democratas começam finalmente a apontar as suas agulhas para o tema que, actualmente, mais preocupa a população dos Estados Unidos: a economia. Com a taxa de desemprego a teimar não descer dos 9,7%, a criação de emprego e a recuperação financeira e económica tem de ser a principal prioridade da administração. Contudo, toda a polémica que se gerou à volta da reforma do sistema de Saúde fez com que o governo americano parecesse estar a centrar-se em outros problemas que não os económicos.
Este breakthrough em legislação sobre emprego e economia, combinado com uma eventual aprovação da reforma do healthcare, poderá marcar o início de uma nova fase da administração democrata, marcada por uma maior dinamização, por mais resultados concretos, e indo de encontro ao que muitas vozes têm clamado - a definição da economia como o ponto principal da agenda política. Afinal, parece que o velho ditado se mantém e it's still the economy, stupid!

Obama em Portugal

Segundo a informação avançada pelo jornal i, o presidente americano, Barack Obama, visitará o nosso país em Novembro deste ano. Esta visita terá como propósito a cimeira da NATO que se realizará nesse mês, em Lisboa. O líder dos Estados Unidos deverá ainda encontrar-se com o primeiro-ministro, José Sócrates, e com o Presidente da República, Cavaco Silva.
É a primeira viagem de Obama a Portugal e é previsível que esta sua presença em território nacional seja objecto de uma exaustiva cobertura mediática e de fortes medidas de segurança. À medida que vá surgindo mais informação, irei dedicar-me a este tema com maior profundidade.

segunda-feira, 15 de março de 2010

O caso "General Armstrong"

Com este texto inauguro uma nova secção deste blogue, onde pretendo relatar alguns acontecimentos de maior relevância para a história dos Estados Unidos da América. E achei apropriado que o primeiro tema tratado fosse um que dissesse respeito às relações entre Portugal e os EUA - o caso "General Armstrong".
Esta história remonta a 1814, em plena guerra anglo-americana, quando um corsário americano, baptizado General Armstrong, que se encontrava ancorado no porto da Horta, na ilha do Faial, foi atacado e afundado por navios da marinha britânica. Este ataque britânico foi conduzido em território neutral português, ignorando os protestos veementes do governador local, Elias Ribeiro, que não tinha meios para impedir a acção das forças navais do Reino Unido. Na altura, o capitão do corsário americano, Samuel Reid, apresentou um protesto contra o governo português por este não ter sido capaz de defender a neutralidade do seu porto, mas o assunto não teve grande seguimento.
Porém, em 1849, 35 anos depois do ataque ao General Armstrong, o tema voltou a assumir preponderância nas relações dos dois países. Isto porque tinha chegado à Casa Branca um novo Presidente americano, Zachary Taylor, que deu instruções para que fosse exercida uma forte pressão sobre o governo português acerca deste caso, ameaçando mesmo com a suspensão das relações diplomáticas e outras represálias.
Mas qual era, afinal, a razão de tão grande interesse de Taylor nesta questão que parecia já esquecida? A resposta parece residir numa promessa pessoal feita pelo próprio Zachary Taylor, aquando da campanha militar no México que o elevou à condição de herói popular nos Estados Unidos. Antes da batalha de Monterrey, o filho do capitão Reid disse a Taylor que se vencesse a batalha seria o próximo presidente americano, ao que este respondeu que, se assim fosse, o capitão Reid venceria a sua reclamação contra Portugal.
Contudo, para sorte portuguesa, o Presidente Taylor faleceu subitamente, em 1850, depois de se ter sentido mal quando assistia às comemorações do 4 de Julho. Sucedeu-lhe o seu vice-presidente, Millard Fillmore, que assumiu uma postura mais moderada que permitiu chegar a um entendimento com o governo português. E assim terminou um incidente diplomático, baseado numa promessa feita por um presidente antes de assumir funções, que podia ter trazido graves consequências para as relações luso-americanas.

quinta-feira, 11 de março de 2010

Mitt Romney adianta-se para 2012

Apesar de ainda faltar muito tempo para as eleições presidenciais de 2012, já não falta assim tanto para começarem (se é que ainda não começaram) as movimentações entre os potenciais candidatos republicanos a destronarem Barack Obama.

Quem já está no terreno a preparar uma previsível candidatura é o antigo governador do Massachusetts, Mitt Romney, que, com o seu périplo pelos Estados Unidos para publicitar o seu mais recente livro, parece já em modo de campanha.

E Romney tem razões para estar optimista. A empresa PPP divulgou sondagens sobre as eleições primárias do GOP em dois importantes swing states, o Colorado e a Florida. Em ambos, Romney pulveriza a concorrência - Sarah Palin e Mike Huckabee - que fica a bem mais de vinte pontos percentuais.

Porém, ainda falta muito tempo e o campo de candidatos republicanos está longe de estar definido. Parece provável que nomes como Palin, Huckabee ou Pawlenty entrem na corrida, mas também é preciso contar com outras figuras que podem baralhar as contas das primárias republicanas, como Bobby Jindal ou Mitch Daniels, governadores do Louisiana e do Indiana, respectivamente.

Romney, apesar de a uma grande distância dos momentos decisivos, parece partir na pole position para esta corrida pela nomeação republicana e é, pelo menos para já, o favorito a liderar o ticket do GOP em Novembro de 2012. Mas, como se sabe, ser-se o frontrunner tem um problema: não se tem nada a ganhar, mas tudo a perder.

quarta-feira, 10 de março de 2010

Biden na Terra Santa

O vice-presidente Joe Biden está em Israel para uma visita de cinco dias, a primeira de uma alta figura americana desde que a nova administração, liderada por Barack Obama, tomou posse.
Esta viagem vice-presidencial pode servir vários propósitos. Em primeiro lugar, será importante para relançar a aliança israelo-americana, acalmando algumas críticas que têm surgido em relação ao aparente esfriar de relações entre os dois países.
Depois, os americanos parecem interessados em voltar a chamar as atenções para a questão do Médio Oriente, um tema recorrente, mas de quase impossível resolução. O objectivo não será o de partir já para um novo processo de paz, mas sim reatar, progressivamente, as negociações entre as duas partes. Esta viagem marca, então, o regresso deste tema à agenda principal da política externa de Obama, depois de um certo período de tempo em que esteve numa espécie de estado de hibernação.
E, por fim, há também as inevitáveis razões políticas: em ano de eleições, o Partido Democrata não pode dar-se ao luxo de descurar as preocupações da comunidade judaica nos Estados Unidos, um grupo muito importante para as contas eleitorais, especialmente em Estados-chave, como a Florida.
São muitas e boas razões para a viagem de Biden se revestir de uma importância acrescida e até para relançar a imagem do vice-presidente, que, ultimamente, tem andado afastado dos grandes palcos. Ficam vistos os fundamentos para esta jornada diplomática, ficando a faltar conhecer os resultados que serão (ou não) conseguidos.

segunda-feira, 8 de março de 2010

Ainda os julgamentos do 11 de Setembro

Em Novembro de 2009, a administração americana anunciou que os suspeitos de estarem por detrás dos atentados terroristas do 11 de Setembro seriam julgados num tribunal criminal federal em Nova Iorque. Esta decisão despoletou grandes críticas e forte oposição por parte das autoridades nova-iorquinas, dos republicanos e da maior parte da população, por não quererem ver os alegados terroristas serem julgados em tribunais civis e no interior das grandes cidades americanas. Porém, nas últimas semanas surgiram indícios que a administração está a ceder face às críticas e planeia mudar a localização prevista para os julgamentos.
Porém, esta vaga de protestos contra a decisão do Procurador-Geral Eric Holder parece-me totalmente injustificada. E passo a explicar as minhas razões:
Em primeiro lugar, porque ao julgar os alegados terroristas num tribunal militar o governo americano estaria a promovê-los ao estatuto de combatentes inimigos. Ora, na minha opinião, esta atitude não seria a mais correcta. Deveria reduzir-se o terrorismo a um "simples" acto criminoso e não a um acto de guerra, não atribuindo ainda mais importância e credibilidade a pessoas, organizações e métodos que não o merecem.
Depois, porque não vejo melhor local para realizar estes julgamentos do que na cidade de Nova Iorque, cuja silhueta os terroristas mudaram para sempre. Seria um poderoso gesto simbólico com que os americanos poderiam mostrar ao mundo e aos seus inimigos que a América não foi vergada por tão infame atentado. O medo de ver estes julgamentos terem lugar na baixa de Nova Iorque é uma forma de ceder face ao terrorismo e é precisamente o que pessoas como Bin Laden pretendem.
Também me parece, como já referi anteriormente, que pelo menos alguma parte desta discussão tem sido gerada por motivos políticos, tentando mostrar Obama e os democratas como sendo soft on terror. Contudo, não me parece correcto estar a fazer jogos políticos com esta tema que, mais que qualquer outro, deveria unir os americanos em vez de dividi-los.

sexta-feira, 5 de março de 2010

The final push

Aproxima-se o final de uma das mais polémicas e disputadas batalhas legislativas da história política americana. Segundo o que foi determinado por Barack Obama na sua última comunicação ao país, a discussão da reforma do serviço de saúde dos Estados Unidos estará a terminar e uma votação deverá ter lugar nas próximas semanas.

Depois de falhadas todas as tentativas de acordo com o GOP, a responsabilidade da aprovação do diploma recai apenas nos democratas. Na Câmara dos Representantes, onde basta uma maioria simples, o Partido Democrata conta com uma larga vantagem e no Senado, com a utilização do método de Reconciliação em cima da mesa, Harry Reid apenas necessita de 50 votos da sua bancada para fazer passar a reforma (em caso de empate, o vice-presidente tem direito ao voto de desempate). Ora, como estes contam com 59 senadores no seu caucus, não deverão ter grandes dificuldades em conseguir os votos necessários.

A utilização do processo de Reconciliação pelos democratas está a ser alvo de fortes críticas, em particular do Partido Republicano. Porém, há vários factores que me fazer considerar que o uso deste método é perfeitamente legítimo e até aconselhável. Em primeiro lugar, porque considero que muito mais indevido é o constante bloqueio de legislação através do filibuster, um procedimento que não foi previsto pelos Founding Fathers americanos e que não foi criado com este objectivo. Depois, porque os republicanos já utilizaram esta mesma medida para fazer passar muita da sua legislação mais controversa e importante, como a reformulação do código fiscal. Virem, agora, declararem-se ofendidos com a utilização da Reconciliação parece-me apenas hipocrisia.

O GOP, em defesa da sua oposição ao plano democrata, não deixa de lembrar o que as sondagens parecem confirmar: que o povo americano não quer esta reforma. Porém, o que as sondagens também indicam é que cerca de 10 ou 12% dos americanos discordam desta proposta não por não a quererem, mas sim por não a considerarem suficientemente ambiciosa e liberal. E é preciso não esquecer que também o Medicare, agora um dos programas mais populares do Governo Federal, era extremamente impopular aquando da sua criação.

Todo este processo, conflituoso, divisório e controverso, arrastou-se demasiado tempo e Obama e os democratas gastaram com ele muito do capital político que conquistaram nas vitórias de 2006 e 2008. Contudo, no final, a passagem desta legislação, com todas as suas insuficiências e defeitos, representaria um momento histórico e decisivo para os Estados Unidos da América.

quarta-feira, 3 de março de 2010

Irmãos

Agora que, após a morte de Ted Kennedy e a anunciada saída de Patrick Kennedy do Congresso, a mais famosa família americana perde os seus últimos representantes políticos eleitos, é pertinente relembrar as razões que fizeram com que este clã deixasse de ser apenas uma família enraizada no mundo político americano para se transformar num autêntico mito.
Em 1961, John Kennedy chega à presidência americana, após uma apertada vitória sobre Richard Nixon. Com ele, leva o seu irmao Bobby e nomeia-o Attorney General. A forte ligação entre os dois faz com que Bobby se torne o número dois da Administração de JFK e, quando este é assassinado, em 1963, em Dallas, os americanos aguardam, com ansiedade, que Robert, o natural sucessor, tome o lugar do irmão na Sala Oval. Porém, em 1968, quando concorria para a presidência, Bobby Kennedy é, também, assassinado.
Num excelente livro, de título Irmãos, o autor David Talbot, relata a profunda ligação entre os irmãos Kennedy e o seu séquito mais próximo - que apelidavam de Band of Brothers. Esta obra, debruça-se, ainda, sobre a reacção de Bobby à morte do irmão. O autor contraria a tese oficial que afirma que RFK sempre aceitou a ideia do assassino solitário, Lee H. Oswald, e traz novos dados sobre as muitas suspeitas de conspiração que pairam sobre a morte de John Kennedy.
Para quem, como eu, sempre sentiu um certo fascínio pelo idealismo que John e Bobby Kennedy representavam, numa espécie de Camelot do século XX, esta obra é de leitura obrigatória.

Agradecimento

O Germano Almeida, no seu blogue, Casa Branca, que se encontra na minha lista de leitura diária e o qual recomendo, fez uma simpática referência a este espaço, o Máquina Política.
Queria aproveitar para agradecer este gesto, que me deixa muito orgulhoso, e desejar que esta nossa "concorrência" continue saudável e complementar.

terça-feira, 2 de março de 2010

Rahm Emanuel debaixo de fogo

Uma figura que para os menos atentos pode passar praticamente despercebida, mas que é, sem dúvida alguma, uma das personagens principais da política americana é Rahm Emanuel, o Chief of Staff da Casa Branca. Esta posição é traduzida para português como chefe de gabinete, mas acarreta um peso, importância e responsabilidade muito maiores do outro lado do Atlântico do que por cá. O Chief of Staff é membro do Cabinet do Presidente e, dependendo do portfolio que lhe é atribuído, pode ser uma espécie de co-presidente ou mesmo de primeiro-ministro.
A seu cargo estão diversas tarefas, como controlar o acesso ao presidente, escolher e estruturar a equipa de apoio ao chefe de Estado e pôr em prática a sua agenda política, nomeadamente a de teor legislativo. Como se trata de um trabalho extremamente cansativo e desgastante, o mais comum é haver mais que um Chief of Staff em cada mandato presidencial.

Rahm Emanuel está com Obama desde o início do mandato deste, mas é bem possível que não consiga chegar até 2012 na Ala Oeste da Casa Branca. Isto porque o seu trabalho à frente dos destinos da Administração tem sido alvo de vários ataques, tanto à Esquerda como à Direita. Enquanto os conservadores o acusam de ser um dos principais responsáveis pela forma partidária como Obama tem assumido o leme da nação americana, os liberais vêm-nos como o culpado pela alegada falta de ambição e determinação do presidente em seguir o caminho anunciado durante a campanha.

Agora, após algumas peças jornalísticas que elogiam Rahm Emanuel e afirmam ser ele a voz moderada e realista na Casa Branca (ao contrário de outros homens do presidente como Axelrod e Gibbs), surgem suspeitas que tenha sido o próprio a falar com a imprensa e a fazer um auto louvor ao seu trabalho. Contudo, Emanuel sempre foi próximo dos jornalistas, o que poderá explicar algum do crédito que possui junto deles. Além disso, Rahm Emanuel - veterano da Administração Clinton, ex-congressista e chairman do DCCC - é um político experiente e não o vejo a fazer uma acção de auto-promoção que lhe poderia sair, muito facilmente, pela culatra.

O que é certo é que o homem forte de Obama necessita de melhorar a sua imagem pública, pois só assim poderá conseguirá servir, mais efectivamente, o Presidente dos Estados Unidos.