domingo, 31 de janeiro de 2010

The mommy problem

Uma das analogias mais interessantes da política americana é a comparação do eleitorado e dos partidos políticos com uma criança e os seus pais. Nesta visão, as necessidades dos cidadãos americanos são equiparadas às necessidades de uma criança e ao progenitor, ao qual esta recorre para as resolver.

Assim, o Partido Democrata representa a mãe e o Partido Republicano o pai. Isto porque, quando os eleitores se preocupam com emprego, educação ou saúde, se viram para os Democratas, da mesma forma que os filhos procuram as mães para resolver problemas desta ordem. Por outro lado, quando estão mais preocupados com a insegurança e temas da ordem da Defesa e da Segurança Nacional, os cidadãos tendem a confiar mais nos Republicanos, como uma criança que procura a figural paternal quando necessita de protecção.

Verifica-se, então, uma antiga e bem implementada tendência dos americanos considerarem os Republicanos mais competentes em matérias de Defesa e Segurança Nacional, enquanto os Democratas têm a fama de serem soft on terror, crime and security. Esta propensão, apesar de infundada (mais tarde, hei-de escrever detalhadamente sobre isto), leva a que os políticos do GOP façam campanha e baseiem muito a sua mensagem nestes temas, de modo a conseguirem pontos políticos e vitórias sobre os Democratas. É o chamado mommy problem para o Partido Democrata.

Agora, a vítima é Obama, que está a rever a sua decisão de julgar cinco alegados conspiradores envolvidos no 11 de Setembro, em Nova Iorque, perto da cena do crime. O facto destes suspeitos irem ser julgados em tribunais civis tem sido alvo de forte oposição, não só por parte dos Republicanos, mas mesmo dos nova-iorquinos que temem pela sua segurança e pelo elevado custo destes julgamentos.

Esta polémica permite ao GOP trazer à baila um dos temas em que o eleitorado o favorece: a guerra ao terrorismo e, mesmo tempo, recria uma das maiores dificuldades dos Democratas: o mommy problem.

sábado, 30 de janeiro de 2010

Let Obama be Obama

Ontem, em Baltimore, Virginia, Barack Obama protagonizou um encontro com os republicanos da Câmara dos Representantes, com quem debateu vários temas, com destaque para a reforma do sistema de Saúde.
Obama saiu-se muito bem neste evento, que talvez tenha mesmo representado um dos melhores momentos públicos do seu mandato presidencial. Desta vez, não se remeteu à defensiva e chamou mesmo os republicanos à razão, quando confrontado com as suas críticas. Acusou os seus adversários de bloquearem e rejeitarem qualquer proposta proveniente da sua Administração, independente dos seus méritos, apenas com fins políticos. Apontou também o dedo à retórica de terror dos republicanos em relação à reforma do serviço de Saúde americano, dizendo que o GOP demonizou esta proposta, apresentando-a como um "plano bolchevique". O presidente americano, sem a "rede de segurança" do teleponto, dominou totalmente a discussão e conseguiu passar eficazmente a sua mensagem.

Obama parece ter mudado de atitude e de estratégia e, desde o discurso do State of the Union, está mais dinâmico e mais envolvido na disputa política. Transmite, agora, uma imagem mais combativa e abnegada, não se limitando a encaixar os ataques da oposição, mas saindo, ele próprio, em defesa das suas políticas e ideias para o país. Parece, agora, mais próximo do Obama da campanha, aquele que conseguiu cativar os americanos e trazer esperança ao mundo. Veremos, então, se esta estratégia irá ter continuidade e se Barack Obama consegue momentum que o faça recuperar nas sondagens e na opinião pública, ajudando, assim, os democratas nas midterms de Novembro.


quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

The supremes

Além dos membros do Congresso, do corpo diplomático de Washington D.C., do Cabinet e dos convidados do Presidente, também os nove membros do Supremo Tribunal têm assento destacado no discurso do State of the Union. Mas, apesar de estarem sempre presentes, a postura dos juízes é sempre serena e imparcial.
Contudo, ontem, houve uma excepção. Quando Obama criticou a recente decisão do órgão máximo da justiça americana, que acabou com os limites nos valores que as empresas podem gastar com contribuições para campanhas políticas, o juiz Samuel Alito abanou a cabeça e disse "not true".

Os membros do Supremo Tribunal norte-americano são nomeados pelo presidente (têm ainda de ser confirmados pelo Senado). Isto leva a que os ocupantes da Casa Branca, no momento em que vaga um assento no Supreme Court (os cargos são vitalícios), tudo façam para preencher essa vaga com um juiz que partilhe as ideias do seu partido. Assim, os presidentes Democratas nomeiam juízes liberais e os Republicanos nomeiam juízes conservadores. No máximo, nomeadamente quando sabem que terão dificuldades em ver os seus nomeados preferidos serem confirmados pelo Senado, indicam juristas moderados. Obama, numa das vitórias do seu mandato (provavelmente a maior), já colocou uma liberal no Supremo Tribunal, a juíza Sonia Sotomayor, que é a primeira latina a ocupar o cargo. Porém, os liberais continuam em franca desvantagem, pois os juízes nomeados por presidentes Republicanos ainda estão em maioria (6-3).

Esta manipulação da Justiça com fins políticos é praticada por ambos os partidos e não deixa de ser de lamentar. O único critério para a escolha dos juízes mais proeminentes do país deveria ser, única e exclusivamente, a competência. E isto serve tanto para a Casa Branca que os nomeia, como para o Senado que os confirma.

A resposta republicana

Ontem, durante o discurso do Estado da Nação, os republicanos tiveram um comportamento exemplar, na totalidade da comunicação do Presidente. Ao que consta, a liderança do GOP deu indicações às suas bancadas para que não se repetissem situações como a que sucedeu no último discurso de Obama, perante o Congresso. Dessa vez, um Representante republicano da Carolina do Sul, Joe Wilson, interrompeu o presidente americano com um grito que ficou tristemente célebre: "you lie!". Mas, ontem, nada disso se passou. Quando as declarações de Obama eram do agrado das hostes republicanas, estas não se coibiram de aplaudir, muitas vezes de pé, e quando ouviam algo que não lhes agradava, os republicanos, apenas mantinham um imperturbável silêncio.

Mas, obviamente, que este comportamento civilizado dos Republicanos não significa que Obama tenha ficado sem resposta. Como é normal nestas situações, o partido da oposição rapidamente emitiu uma declaração com a sua reacção ao discurso do presidente. Na política americana tudo é pensado ao pormenor e o porta-voz desta mensagem é sempre escolhido a dedo. Ontem, Bob McDonnell, recém-eleito Governador do Estado da Virgínia, foi o seleccionado. McDonnel, um dos Republicanos do momento, representa o futuro do GOP e é um dos principais rostos da recuperação do partido, após o desastre de 2008.

Num discurso curto, mas incisivo, McDonnel incidiu, como é habitual, nas críticas ao tamanho e ao peso excessivos do Governo na vida dos americanos, defendendo um maior corte nas despesas públicas do que aquele que foi anunciado por Obama. Em relação à reforma na Saúde, deixou claro que os Republicanos não vão cooperar com os Democratas e afirmou o GOP não vai permitir que o melhor serviço de saúde do mundo [sic] caia nas mãos do governo federal.

A resposta dos republicanos foi simples, reduzida em termos de substância, mas poderá ter sido eficaz. É preciso ter em conta que esta é sempre uma tarefa ingrata, já que esta declaração é realizada apenas poucos minutos depois dos discurso do presidente e o político que o faz não conta, de forma alguma, com o peso e a importância que o selo presidencial confere ao chefe de Estado.

Sem surpresas


Barack Obama proferiu, ontem, o seu primeiro discurso do Estado da Nação. Teve uma prestação, como é seu apanágio, competente e agradável de seguir. Mas, apesar de ter sido um bonito discurso, a verdade é que não trouxe grandes novidades e veio de encontro ao que se esperava.
Como era expectável, os principais destaques da sua longa comunicação (69 minutos) foram para os assuntos domésticos, nomeadamente a economia e a saúde. Reassumiu a sua promessa de tudo fazer por melhorar a situação económica do país e garantiu não ir desistir da reforma do Serviço de Saúde americano. Nesta fase, lembrou aos Democratas que, apesar dos maus resultados nos últimos tempos, ainda possuem a maior maioria das últimas décadas e, num laivo de bipartidarismo, afirmou estar disponível para ouvir as propostas dos Republicanos, desde que estas tivessem como objectivo o bem estar dos cidadãos.
O presidente americano também se tentou defender das acusações de não estar a cumprir as promessas feitas durante a campanha e de não estar a atingir as elevadas expectativas que criou em relação à sua presidência. I never said change would be easy, declarou.

Foi, acima de tudo, um discurso para todos os gostos, numa tentativa de criar um clima de reconciliação, não só com o GOP, mas também com a ala mais liberal do Partido Democrata, que parece cada vez mais desiludida consigo. Assim, o presidente americano apresentou ideias que terão agradado aos liberais, como o fim da política do "don't ask, don't tell", que irá acabar com a discriminação dos gays, nas forças armadas, e o anúncio da retirada do Iraque, até Agosto deste ano. Por outro lado, também se referiu a medidas mais ao gosto dos conservadores, como alguns cortes fiscais ou a redução do défice.

Com este discurso, centrista e politicamente seguro, Obama tenta recuperar algum do ímpeto que teve no início do seu mandato e dar a volta ao momento mais negativo da sua presidência. Mas é certo que não irá lá apenas com discursos, pois será julgado, acima de tudo, pelos seus actos e pelas suas políticas.

Hillary admite não cumprir segundo mandato

Numa entrevista televisiva, transmitida pela PBS, Hillary Clinton, a actual Secretária de Estado norte-americana, admitiu a hipótese de não cumprir um eventual segundo mandato como chefe da diplomacia americana. Ao mesmo tempo, colocou novamente de lado a possibilidade de se candidatar mais uma vez à presidência.
A confirmar-se a não continuidade de Hillary à frente do Departamento de Estado, na eventualidade de Obama conseguir um segundo mandato, este facto não constituiria nenhuma novidade. Bem pelo contrário - por norma, um Secretário de Estado cumpre, no máximo, quatro anos no cargo. Foi assim com os últimos cinco Secretários de Estado, Condoleezza Rice, Collin Powell, Madeleine Albright, Warren Christopher e Lawrence Engleburger. Desde Dean Rusk, nas administrações de John Kennedy e Lyndon Johnson, que um Secretário de Estado não cumpre dois mandatos consecutivos. Recentemente, o maior mandato foi o de George Shultz, líder da diplomacia durante sete anos, na presidência de Reagan.

Assim, não parece grande surpresa uma eventual saída de Hillary Clinton. Porém, esta seria uma grande perda para a administração de Obama. Hillary tem visto a sua popularidade aumentar junto do povo americano. É uma figura conhecida do grande público e a sua competência é inequívoca. Além disso, a sua experiência na Casa Branca, no Senado e, agora, no Departamento de Estado, faz dela uma grande mais valia para o Gabinete presidencial.

A sua substituição não seria tarefa fácil. O Senador John Kerry representaria, porventura, a escolha mais óbvia mas depois da corrida senatorial do Massachusetts (Estado que Kerry representa) e, quem sabe, dos resultados das eleições intercalares, pode ser arriscado pôr em perigo mais um lugar no Senado. Contudo, tudo isto não passa de mera especulação. Hillary deve, pelo menos, completar o primeiro mandato. A partir daí, logo se verá.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

A polarização dos media americanos

A Public Policy Polling, uma empresa de sondagens americana, lançou, ontem, um estudo curioso, sobre o nível de confiança dos norte-americanos em relação às cadeias televisivas de informação dos Estados Unidos. Em primeiro lugar, ficou a Fox, seguida da CNN, da NBC, da CBS e, por último, da ABC. Vendo os dados da sondagem, retiram-se algumas conclusões importantes:
Os americanos desconfiam, cada vez mais, das cadeias noticiosas. Na pergunta, "confia na cadeia x?", apenas a Fox conseguiu um resultado positivo, com 49% dos participantes a dizerem que sim e 37% a responderem que não. Todas os restantes canais de notícias tiveram valores negativos, com mais pessoas a não confiarem do que aquelas que afirmaram ter confiança na cadeia em questão.

Verifica-se uma acentuada divisão partidária nestas respostas. Veja-se, por exemplo, o caso da Fox, uma cadeia televisiva nitidamente pró-conservador, em quem 74% dos republicanos nesta amostra afirmaram confiar, enquanto apenas 30% dos democratas disseram o mesmo.

De facto, e ao contrário do que é comum em Portugal e na Europa, existe uma nítida partidarização e parcialidade na informação americana. Não é exclusivo da televisão, mas verifica-se com mais intensidade neste meio de comunicação social. Assim, a Fox News é tendencialmente conservadora, em contraste com a MSNBC, que é conotada como liberal. Por outro lado, a CNN, que afirma fazer jornalismo de middle of the road, ou seja, centrista e independente, tem vindo a perder quota de mercado e assiste a uma contínua descida nas audiências.

Parece, então, que os americanos estão cada vez mais polarizados e, cada vez mais, preferem informar-se junto de órgãos de comunicação social que estejam mais próximos da sua própria ideologia, em vez de procurarem os mais independentes. Isto pode ser um mau sinal para a sociedade americana que parece cada vez mais dividida entre Esquerda e Direita, entre liberais e conservadores, entre Democratas e Republicanos.

State of the union

Hoje, Barack Obama, dirige-se à nação americana, no famoso State of the Union. Neste discurso, solene e carregado de simbolismo, o Presidente dos Estados Unidos anuncia a sua agenda política, para o ano seguinte, às duas câmara legislativas que formam o Congresso norte-americano: a Câmara dos Representantes e o Senado.
Este será uma ocasião importante para Obama, que atravessa o momento mais negativo da sua presidência, após uma dura derrota Democrata no Massachusetts e com os seus números nas sondagens a continuarem a descer. Mas Obama já provou, especialmente durante a campanha, que é capaz de utilizar a oratória como uma poderosa arma política, até mesmo nos momentos mais complicados. Este facto ficou bem demonstrado quando, na altura do auge da polémica com o Reverendo Jeremiah Wright, proferiu um excepcional discurso sobre a Raça e a América, que fez com que conseguisse ultrapassar esse assunto que lhe estava a ser prejudicial.

Agora, Obama tentará fazer o mesmo e cativar o público americano com um discurso inspirador e motivador. Acredito que insistirá com o Congresso para que aprove a reforma do Serviço de Saúde, ao mesmo tempo que tentará agradar aos Republicanos com a sua proposta de redução do défice. No fundo, deverá ser um momento de união e não de discórdia, com Obama a querer mostrar-se como o Presidente de todos os americanos e a tentar regressar aos seus melhores dias. E, de facto, não há melhor ocasião para isso do que o state of the union.

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

David Plouffe na Casa Branca

Os homens do presidente estão de novo todos reunidos. DavidPlouffe junta-se aos seus amigos David Axelrod e Robert Gibbs que, juntamente consigo, foram os principais responsáveis pela eleição de Obama.
Plouffe, que tinha sido o director da campanha presidencial de Obama, aceitou o convite deste para ingressar na equipa da Casa Branca. Plouffe será conselheiro do Presidente e, como excelente estratega que é, terá a seu cargo funções relacionadas com as eleições intercalares de Novembro. Isto demonstra o wake up call que representou a derrota no Massachusetts e a necessidade da administração em mudar de rumo e de abordagem.

Após a campanha de 2008, Plouffe tinha optado por não seguir Obama para a Casa Branca já que, segundo afirmou na altura, tinha sido pai recentemente e a sua família já havia sofrido o suficiente com a sua ausência durante os quase dois anos em que andou no trilho da campanha.

Porém, Plouffe não esteve parado. Além de ter estado envolvido no Organizing for America - uma organização que visava dar continuidade à excelente estrutura montada pela campanha de Obama -, dedicou-se à escrita de um livro sobre a própria campanha. Esta obra, intitulada The Audacity to Win, foi lançada em Novembro do ano passado e teve uma excelente adesão por parte dos leitores americanos. Eu, que já li o livro, considero que este devia ser de leitura obrigatória em qualquer cadeira de Marketing ou Comunicação Política. Nesta publicação, Plouffe esmiuça alguns dos segredos para a histórica vitória de Obama, como a aposta nos caucuses ou a campanha de proximidade e baseada nos voluntários e nos chamados grassroots supporters. A leitura é agradável e cativante. Aconselho vivamente.

Obama na defensiva

Segundo o Politico, o presidente Obama pretende anunciar, amanhã, no discurso do state of the union, um corte na despesa pública de cerca de 250 biliões de dólares, durante os próximos três anos.

Esta parece ser a resposta da Casa Branca à derrota-choque no Massachusetts, na passada Terça-Feira, ao mesmo tempo que contraria os ataques populistas que acusam Barack Obama de ser um big spender, ou seja de utilizar excessivamente o dinheiro dos contribuintes, e de aumentar o peso e o tamanho do governo federal.

Um dos principais alvos destes ataques foi o seu pacote de estímulos, de quase um trilião de dólares, destinado a ajudar a economia americana a ultrapassar a crise financeira económica que o país e o mundo atravessam. A maior parte dos economistas garante que este pacote de estímulos foi determinante para evitar o colapso da economia americana, e alguns deles, sobretudo o liberal e Nobel da Economia, Paul Krugman, têm clamado por uma continuação e fortalecimento dessas ajudas. Assim, esta redução na despesa do Estado virá contra estas ideias.

Por outro lado, esta medida vem de encontro à opinião da maioria dos americanos, que , nos últimos anos, têm visto o défice do seu país aumentar exponencialmente. Com esta proposta, Obama tenta deslocar-se para terreno seguro, mais ao centro, jogando nitidamente à defesa depois das últimas derrotas Democratas. Terá de fazer algum jogo de cintura com a ala mais liberal do Partido Democrata, que poderá não ficar muito agradada com esta medida, mas poderá acalmar, pelo menos durante algum tempo, os seus mais acérrimos críticos e opositores, ganhando, assim, algum tempo para respirar e preparar-se para as batalhas que aí vêm.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Beau Biden desiste de concorrer ao Senado

As más notícias continuam para o lado dos Democratas. Agora, foi a vez de Beau Biden, filho do vice-presidente Joe Biden, anunciar que não concorrerá na eleição, em Novembro, para o cargo de Senador pelo Estado do Delaware, lugar que pertencia ao seu pai até este conseguir a vice-presidência.
Beau Biden justificou a sua decisão pelo facto de querer continuar como Attorney General do Delaware, cargo ao qual se recandidatará. Porém, é possível que Biden tenha tido em conta os maus resultados dos candidatos Democratas nas últimas eleições, principalmente a surpresa no Massachusetts. Assim, pode ter pesado os prós e os contras e ter decidido que esta não seria a altura ideal para uma candidatura ao Senado, ficando à espera de uma melhor oportunidade.

Este anúncio é uma desilusão para o Partido Democrata, pois tinha neste candidato a sua melhor hipótese em manter este lugar no Senado. Assim, esta eleição ganha uma nova abertura e parece que, agora, o principal favorito é mesmo um republicano - ainda que moderado -, o congressista Mike Castle.

E se o cenário no Senado parece mau, então na Câmara dos Representantes ainda está pior. Marrion Berry, um congressista do Arkansas, anunciou a sua retirada, perfazendo um total de 12 Democratas que não irão tentar a sua reeleição nas eleições deste ano. Como grande parte deles representam distritos disputados pelos dois partidos (cinco deles são mesmo de distritos onde McCain ganhou em 2008), isto facilita de sobremaneira a tarefa dos Republicanos. Antevêm-se tempos difíceis para os Democratas.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

O império contra-ataca

Afinal, ao contrário do que muitos pensavam há um ano atrás, o Partido Republicano não desapareceu do mapa e conseguiu mesmo inverter a tendência negativa que, desde 2006, resultava em sucessivas derrotas e maus resultados para o partido de Lincoln.

Em Novembro passado, quando passou um ano da eleição de Obama, os Democratas tinham sofrido duras derrotas, na véspera, em eleições que decidiram os Governadores da Virginia e de New Jersey. Hoje, quando se comemora um ano da tomada de posse de Barack Obama como 44º presidente americano, o Partido Democrata acorda, novamente, após um pesadíssimo revés, desta vez na eleição especial no Massachusetts, onde se elegeu o sucessor de Ted Kennedy no Senado, após a sua morte. É, de facto, curioso.

Este resultado é deveras surpreendente, visto que o Massachussets é um dos estados mais liberais dos Estados Unidos e não elegia um Republicano para o Senado há 28 anos. Scott Brown, o candidato do GOP, conseguiu uma vitória épica, visto que, há menos de um mês, se encontrava, nas sondagens, a mais de 10 pontos percentuais da sua opositora. Por outro lado, a Democrata Martha Coakley realizou uma campanha medíocre e nem o apoio de pesos pesados do seu partido, incluindo o presidente Obama, lhe valeu.

Com a derrota no Estado dos Kennedy, os Democratas perdem a maioria de 60 senadores no Senado, o que põe em risco a reforma da Saúde. Seria uma grande ironia se esta legislação fosse comprometida pela perda do lugar no Senado que, durante 47 anos, pertenceu ao apoiante mais apaixonado e dedicado. Porém, e como Scott Brown tão bem referiu no seu debate com Coakley, este lugar não é de Kennedy, nem dos Democratas, mas sim do povo do Massachusetts.

São tempos difíceis para os Democratas, em ano de midterms, as eleições para o congresso exactamente a meio do mandato presidencial. Em relação ao Senado, e como só um terço deste vai a votos em Novembro próximo, os Democratas podem perder dois ou três lugares, mas a sua maioria não deverá estar em perigo. Já na Câmara dos Representantes o cenário é mais negro para o partido de Obama. Agora, e após os sinais mais recentes, culminados no resultado de ontem, os Democratas não correm apenas o risco de ver a sua super maioria ser encurtada, mas podem mesmo passar a representar a minoria.

Esta situação parecia impossível há um ano atrás, mas é preciso lembrar que também Bill Clinton, a meio do seu primeiro mandato, viu o seu partido perder o controlo do Congresso. Obama e os Democratas terão de reagir, pois estão em risco de perder a enorme vantagem que conseguiram capitalizar após a presidência Bush.

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Game change

Quando se pensava que a campanha presidencial já tinha sido dissecada e esmiuçada ao máximo e que o livro The Audacity to Win, da autoria do director de campanha de Obama, David Plouffe, tinha representado o ponto final neste assunto, eis que surge uma nova publicação sobre este tema. Game Change é o nome da obra; Mark Halperin, jornalista da Time, e John Heilemann, da New York Magazine, são os seus autores.
O lançamento desta obra veio provocar um autêntico furacão na política americana, já que o livro, em vez de ser apenas mais do mesmo, está recheado de declarações exclusivas e bombásticas. As polémicas são mais que muitas e estendem-se a várias personalidades de ambos os partidos. Desde a má relação entre Barack Obama e Joe Biden, até ao novo caso extra-conjugal de Bill Clinton, durante as primárias Democratas, passando pela insuficiente investigação de Sarah Palin, por parte da campanha de McCain (os autores revelam mesmo que Palin não sabia que existem duas Coreias e que pensava que Saddam estava por detrás do 11 de Setembro), há revelações para todos os gostos.

Esta publicação traz novos dados sobre a campanha mais mediatizada e seguida na história da política mundial. E, visto que os seus autores são jornalistas conceituados e experientes nos meandros políticos de Washington D.C., pode esperar-se alguma fiabilidade e credibilidade deste livro e dos factos nele constantes. Eu já encomendei uma cópia no amazon. Espero que valha a pena...

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Political Machine

Quem visita este espaço pode questionar-se acerca do nome do blogue. Pois bem, este título, Máquina Política, foi inspirado num jogo de computador. E espantem-se: é mesmo um jogo sobre as eleições presidenciais americanas. O seu nome é Political Machine 2008 e tem tido um sucesso apreciável.
Nos Estados Unidos, a política é vista com muito mais interesse e atenção do que, por exemplo, aqui em Portugal. Assim, até jogos de computador baseados em temas políticos existem. Este jogo , que até nem é o único do género, é bastante engraçado e interessante. Podemos entrar na pela de Obama ou McCain, ou até mesmo de figuras históricas como George Washington ou John Kennedy. É, porventura, uma forma eficaz de mostrar aos jovens, tendencialmente menos interessados pela política, que esta também pode ser divertida.

O jogo pode ser comprado online em http://www.politicalmachine.com/ por um preço acessível - 10 dólares. Para os mais poupados, também é possível fazer apenas o download da versão de demonstração. Confesso que este jogo já me garantiu algumas horas de entretenimento. Experimentem!

Supresa no Massachusetts?

Avizinha-se uma enorme surpresa, amanhã, quando forem a votos os cidadãos do Estado do Massachusetts para se pronunciarem sobre um lugar no Senado americano. Trata-se do lugar que era ocupado, desde 1962, por Ted Kennedy, que faleceu o ano passado.
Neste Estado de New England, tradicionalmente um dos mais seguros para os Democratas, afigurava-se uma corrida mais disputada do que é costume no Massachusetts, entre a Democrata Martha Coakley, attorney general do Estado (uma espécie de procuradora-geral) e o candidato do GOP, o senador estadual Scott Brown. Porém, as últimas sondagens têm dado sucessivas vantagens a Brown, fazendo antever que este lugar no Senado pode mesmo estar ao alcance dos Republicanos.

Depois das derrotas Democratas, em Novembro de 2009, nas eleições para os cargos de Governador nos Estados da Virginia e de New Jersey, esta possível desfeita num Estado solidamente azul colocará em ainda piores lençóis Barack Obama e a liderança do Partido Democrata. Além disso, porá também em risco a reforma da Saúde americana, que, actualmente, é muito impopular entre os americanos. Segundo as sondagens, este tópico é uma das principais razões para este resultado surpreendente que parece se estar a fabricar no home state da família Kennedy.

Hoje serão lançadas mais sondagens importantes para se perceber o estado da corrida, mas só mesmo amanhã, depois de contados todos os votos, se terá a certeza do vencedor. Para já está tudo em aberto, mas apenas o facto de se estar a pôr a hipótese de uma derrota Democrata neste Estado é já uma enorme surpresa.

Máquina Política

Olá. Sejam bem-vindos ao meu mais recente blogue, Máquina Política. Neste espaço, tenciono escrever sobre a actualidade política na maior Democracia do mundo, os Estados Unidos da América.
2010 será um ano importantíssimo na política americana e aqui seguirei a presidência de Obama, sob fogo cerrado, as eleições de Novembro (as midterms) para o Senado, Câmara dos Representantes e para alguns cargos de Governador, assim como todos os acontecimentos de relevo na vastíssima máquina política que são os Estados Unidos.

Dada a especificidade do tema, e apesar de considerar que a política norte-americana acaba por, directa ou indirectamente, nos "tocar" a todos, não espero muitas visitas ou um grande número de leitores. Porém, já há algum tempo que sinto vontade de escrever mais regularmente sobre este assunto e, assim, avancei para este projecto.

Espero, através deste blogue, conseguir ser uma pequena fonte de informação sobre os acontecimentos políticos americanos. Até porque, como sabiamente disse Thomas Jefferson, information is the currency of Democracy.