quarta-feira, 19 de novembro de 2014

Obama enfurece o GOP

Após a esmagadora vitória nas eleições intercalares, muitos republicanos pensaram que Barack Obama não teria outro remédio senão admitir a derrota e aproximar-se das posições do GOP. Contudo, quem esperava um compromisso em Washington enganou-se, pois as posições estão, agora, mais extremadas do que nunca. Isto porque o Presidente dos Estados Unidos, em vez de tentar agradar à oposição, preferiu irritá-la, ao fazer saber que se prepara para tomar acções executivas (flanqueando, assim, o Congresso) que permitam legalizar alguns imigrantes ilegais.
Como era previsível, o Partido Republicano insurgiu-se rapidamente contra estes planos da Casa Branca, com algumas vozes mais radicais a falarem mesmo num eventual processo de impeachment (demissão forçada pelo Congresso) de Barack Obama. E se o impeachment é um hipótese muito remota (e o desencadeamento desse processo por parte do GOP seria uma verdadeira dádiva para os democratas), já um novo shutdown do governo federal, através da suspensão dos fundos necessários para o funcionamento do Estado por parte do Congresso republicano, é um cenário mais plausível. E, de facto, já alguns sectores republicanos - mais ligados ao Tea Party - têm falado, nos últimos dias, de um novo shutdown como forma de retaliação pelas possíveis acções do Presidente no campo da imigração. Naturalmente, a liderança republicana, ciente que os shutdowns anteriormente provocados pelo seu partido prejudicaram a imagem do GOP junto da opinião pública, está já a tomar as medidas necessárias para evitar tal possibilidade.
Quanto a Barack Obama, parece-me que esta é uma medida acertada a nível político e eleitoral. É verdade que está novamente a confrontar a oposição e que pode ser criticado por não respeitar os resultados das últimas eleições que foram altamente favoráveis aos republicanos. Mas também é um facto que Obama tem poucas hipóteses, faça o que fizer, de alcançar compromissos razoáveis com um Partido Republicano cada vez mais entrincheirado. Sem o apoio do Congresso, resta ao Presidente dos Estados Unidos optar por acções executivas se quiser deixar a sua marca no campo legislativo interno nestes dois anos finais do seu mandato.
Por outro lado, Barack Obama pretende forçar os republicanos a tomarem novamente uma posição vista como anti-imigração, o que alienará - mais ainda - o eleitorado hispânico que será, previsivelmente, decisivo no próximo ciclo eleitoral. Esta medida de Obama é especialmente prejudicial para os candidatos presidenciais republicanos que, face à assertiva oposição do GOP, serão obrigados a vir a público condenar as acções do presidente norte-americano. E, como se viu com Romney em 2012, essa postura anti-imigração do eventual nomeado republicano poderá custar-lhe muitos votos na eleição geral e, quem sabe, até a Presidência. 
Por isso, com esta medida, Obama estará a ajudar alguns milhões de imigrantes ilegais que poderão ficar nos Estados Unidos, pelo menos, por mais algum tempo, mas estará também a dar uma preciosa contribuição para a campanha do nomeado presidencial democrata. Hillary Clinton (who else?) agradece.

quarta-feira, 12 de novembro de 2014

As midterms de 2014: um balanço

Uma semana após serem conhecidos os resultados das eleições intercalares de 2014, é altura de fazer um balanço do que se passou, tentando perceber as razões que levaram a uma vitória imperial do Partido Republicano e a uma estrondosa derrota dos democratas. E, a meu ver, o desfecho da noite eleitoral explica-se mais pelo demérito do Partido Democrata do que propriamente pelo mérito do GOP.
Em primeiro lugar, importa referir que para estas eleições nunca se poderia esperar um resultado positivo para os democratas. As midterms que coincidem com o sexto ano de mandato de um Presidente são, por norma, muito penalizadoras para o partido que ocupa a Casa Branca. Para piorar as coisas, Barack Obama é um presidente impopular nos Estados Unidos, ainda que mantenha bastiões de defensores nos principais territórios democratas. Contudo, este ciclo eleitoral desenrolou-se principalmente em red e purple states, ou seja, Estados republicanos ou moderados, o que potenciou a carga negativa da imagem do Chefe de Estado para os candidatos democratas.
Se em 2010 e 2012 o Partido Democrata conseguiu algumas vitórias improváveis contando com a preciosa colaboração dos candidatos republicanos, alguns deles verdadeiramente inaptos para concorrerem a cargos de dimensão nacional, desta vez o GOP não prestou essa ajuda aos seus adversários. De facto, o establishment republicano foi capaz de evitar e derrotar candidatos mais radicais e conseguiu controlar o Tea Party. Para isso, foi muito importante o recrutamento de concorrentes de qualidade, mas também o controlo dos principais financiadores do partido (como os irmãos Koch), que, este ano, fecharam a torneira aos fringe candidates em detrimento daqueles que tinham o apoio da estrutura partidária.
Assim, a estratégia republicana centrou-se principalmente em não cometer erros, evitando candidatos improváveis, mas também gaffes comprometedoras como as que fizeram cabeçalhos de jornais nas duas últimas eleições e que prejudicaram seriamente os resultados eleitorais do partido. Por outro lado, assistimos a uma vazio ideológico por parte da maioria dos candidatos republicanos, que consideraram (e, pelos visto, bem) que quanto menos dissessem, melhor. E quando os concorrentes do GOP falavam era, invariavelmente, para colar a imagem dos seus opositores à do impopular Obama. 
Do lado democrata, a campanha eleitoral não podia ter sido mais desastrada. Como cada vez mais acontece, os operativos democratas planearam as suas estratégias com base quase exclusivamente nas sondagens. Desse modo, vimos os candidatos democratas a centrarem o seu discurso nos temas normalmente associados ao seu eleitorado mais predominante, as mulheres, com destaque para o direito ao aborto. Ao mesmo tempo, os democratas, assustados com os números de Obama nos estudos de opinião, fugiram a sete pés do seu Presidente e do seu currículo. 
Todavia, considero que esse foi o principal erro do Partido Democrata. Em vez de renegarem Barack Obama e o seu historial na Casa Branca, os democratas deveriam ter abraçado o legado do seu líder e feito campanha com base nos seus feitos. Podiam ter defendido o estímulo económico que terá evitado o colapso da economia do país; podiam ter apontado para os números do desempenho económico norte-americano, com o PIB a crescer acima dos 3% e o desemprego abaixo dos 6%; podiam ter recordado que o Obamacare é cada vez menos vilipendiado e veio cobrir dezenas de milhões de norte-americanos até então sem seguro de saúde; podiam ainda ter apostado na defesa dos direitos de milhões de imigrantes ilegais.
Mas não. Os democratas preferiram atirar tudo isso para debaixo do tapete com medo que o eleitorado republicano e independente os penalizasse nas urnas. O que conseguiram, porém, foi desmobilizar e desmotivar o seu eleitorado de base, que se mantém, desde 2008, com Barack Obama. E foram esses mesmos eleitores, como os hispânicos (que viram Obama a sacudir a reforma da imigração para uma qualquer data após as eleições), os afro-americanos e, principalmente, os jovens que ficaram em casa no passado dia 4 de Novembro e contribuíram, por isso, para uma esmagadora republicana nas midterms.
Durante os próximos dois anos, os democratas farão uma inevitável travessia no deserto, sendo minoritários nas duas câmaras do Congresso, detendo muito menos governos estaduais do que os republicanos e preparando a sucessão de um Presidente lame duck. Em 2016 terão uma nova oportunidade. Será que aprenderão com os erros, como fizeram, este ano, os republicanos?

quarta-feira, 5 de novembro de 2014

E tudo a onda levou

Estão contados quase todos os votos das eleições intercalares de 2014 nos Estados Unidos e o resultado é fácil de descrever: uma imponente vitória do Partido Republicano.  Confirmaram-se os piores receios democratas e a noite eleitoral de ontem revelou-se uma onda dos republicanos que venceram a toda a linha, com praticamente todas as corridas assinaladas como competitivas a caírem para o lado dos candidatos do GOP.
Nas eleições para o Senado, as melhores expectativas republicanas terão sido superadas e o GOP retirou sete assentos aos democratas, sendo que este número deverá aumentar para nove, quando todos os votos estiverem contados no Alaska, que deverá ir para a coluna vermelha, e quando se realizar a segunda volta da corrida no Louisiana, que deverá cair para o lado republicano. No outro Estado ainda sem resultado oficial, a Virginia, o Democrata Mark Warner deverá ser sagrado vencedor. Dessa forma, o Senado ficaria dividido entre 46 democratas (incluindo dois independentes) e 54 republicanos, uma assinalável transferência de poder e que coloca mesmo o Partido Republicano em condições de aguentar a previsível investida democrata nas eleições de 2016.
No que diz respeito à Câmara dos Representantes, cuja recuperação de controlo não passava pela cabeça ao democrata mais optimista, o desfecho não foi diferente. Esperava-se um resultado dentro do de há dois anos, ou, no máximo, um dos dois partidos a ganhar uma meia dúzia de lugares ao adversário. Porém, o Partido Republicano obteve um novo triunfo, conseguindo aumentar ainda mais a sua maioria na câmara baixa. Até ao momento, o GOP já conquistou 13 novos lugares, mas esse número poderá subir quase até aos 20, quando todas as corridas tiverem sido encerradas. Assim sendo, os republicanos passarão a ocupar cerca de 250 dos 435 lugares na House, ficando com uma sólida maioria que poderá resistir durante vários ciclos eleitorais.
Finalmente, nas eleições para governos de Estados federados, assistiu-se, invariavelmente, a uma vitória dos republicanos, com destaque para os resultados na Florida, onde Rick Scott segurou o seu cargo de Governador frente ao favorito Charlie Crist que, depois de ter sido Governador do Estado como republicano e de ter concorrido ao Senado como independente, tentou o regresso à mansão de governador do sunshine state, desta vez como democrata, mas sem sucesso, no Wisconsin, Estado onde Scott Walker garantiu a reeleição, posicionando-se, assim, para uma previsível candidatura à Casa Branca, em 2016, e no Illinois, território democrata, mas que não permitiu a reeleição a Pat Quinn, o actual Governador democrata, que perdeu a corrida para Bruce Rauner, o seu opositor republicano. 
Para os democratas, apenas a reconquista da Pennsylvania e e vitória no Colorado (ambas as corridas para Governador do Estado) podem ser encarados como resultados positivos, mas que não chegam, longe disso, para atenuar aquela que foi uma péssima noite eleitoral (foi mesmo pior do que o shellacking de 2010) e cujas consequências darão muito que falar nos próximos tempos. 

Vitória republicana

A noite ainda não terminou nos Estados Unidos, mas em Portugal a madrugada já vai longa e o sono começa finalmente a levar a melhor. Análises mais profundas ficarão para os próximos dias, mas, neste momento, parece evidente que as eleições intercalares de 2014 resultaram, como se esperava, numa vitória do Partido Republicano. 
Quando o próximo Congresso tomar posse, o GOP passará a deter a maioria dos assentos nas duas câmaras. Sem surpresas, manteve o controlo da Câmara dos Representantes (deverá mesmo ganhar mais alguns lugares) e, principalmente, conseguiu destronar o Partido Democrata da maioria no Senado. À hora que escrevo, ainda não são conhecidos os resultados na North Carolina, no Virginia (deverá cair para os democratas), no Iowa, no Kansas e no Alaska, mas esses Estados apenas ditarão a dimensão da vitória republicana.
No que diz respeito aos Governadores, os democratas ainda podem atenuar um pouco os danos se, à vitória na Pennsylvania juntarem um triunfo na Florida (neste momento, o sunshine state está muito renhido e será decidido no phono finish). Com o ganho destes dois grandes e importantes Estados ao GOP, os democratas teriam, pelo menos, alguns motivos de festa que serviriam de consolo para uma noite, no cômputo geral, muito negativa.
Ainda assim, e analisando as exit polls, parece-me que os democratas perderam principalmente, por falta de comparência. Olhando para os números, percebe-se que o Partido Democrata conseguiu atingir os valores habituais junto da sua coligação de eleitores (nomeadamente, afro-americanos, hispânicos jovens e mulheres). Contudo, esses eleitores deslocaram-se às urnas em menor número do que o necessário para que os democratas alcançassem melhores resultados. Por exemplo, em 2012, 72% dos votantes eram brancos, menos 3 pontos percentuais do que hoje, quando se sabe que a tendência da população dos Estados Unidos é tornar-se mais diversa. Por isso, não podem os republicanos retirar grandes ilações dos resultados de hoje no que diz respeito à corrida presidencial de daqui a dois anos.

Segunda volta no Louisiana

No Louisiana, já se sabe que não vai haver vencedor esta noite. Como nenhum dos candidatos obteve uma maioria absoluta, haverá lugar, a 6 de Janeiro, a uma segunda volta entre a democrata Mary Landrieu e o republicano Bill Cassidy na disputa de um lugar no Senado. Assim sendo, e dependendo dos resultados nos restantes Estados, pode acontecer que o controlo do Senado pode ficar adiado por mais dois meses. Todavia, nesta altura, o mais provável é que o Partido Republicano consiga alcançar os 51 assentos necessários para retirar a maioria na câmara alta do Congresso aos democratas.

GOP rouba primeiro assento no Senado aos democratas

Os republicanos já conseguiram "roubar" um assento no Senado aos democratas. Logo após o fecho das urnas na West Virginia, a CNN anunciou a vitória de Shelley Moore Capito. Este era um triunfo mais que aguardado para o GOP que, com este resultado, ficam precisam "apenas" de recuperar outros cinco lugares no Senado para retirar o controlo da câmara alta ao Partido Democrata. 

Mitch McConnell reeleito

Acabaram de fechar as urnas nos primeiros Estados e já há algumas corridas declaradas pelos principais meios de comunicação social. Entre elas, destaque para a vitória de Mitch McConnell no Kentucky. Assim sendo, o líder republicano do Senado garante um novo mandato de seis anos. Este era um resultado previsível, mas que chegou a estar em causa durante a campanha. Agora, McConnell terá de esperar para saber se, em Janeiro, continuará como líder da minoria, ou, se por outro lado, passará a chefiar a maioria no Senado.

terça-feira, 4 de novembro de 2014

Um guia para a noite eleitoral

Chegou, finalmente, o dia das eleições. Hoje, milhões de norte-americanos deslocam-se às urnas para votar. Outros milhões já o fizeram por voto antecipado, mas será na noite de hoje que serão contados os votos e anunciados os resultados que decidirão o figurino do Congresso, assim como o de vários governos estaduais um pouco por todo o país. 
Para quem está do lado de cá do Atlântico, a diferença horária é um obstáculo, mas, ainda assim, vários political junkies, como eu, ficarão acordados a seguir os resultados. E, para isso, nada melhor do que ter uma ferramenta como esta, providenciada pelo Daily Kos, que nos indica o horário de fecho das urnas em cada Estado, ao mesmo tempo que faz um apanhado dos destaques da noite eleitoral. Ajudará, sem dúvida, no acompanhamento da longa mas emocionante noite eleitoral de mais logo.

segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Os democratas perdem a maioria no Senado: e agora?

Como ontem referi, tudo aponta, na véspera do dia de todas as decisões, no sentido de os republicanos estarem muito perto de "roubarem" a maioria no Senado aos democratas, tornando-se, assim, a força maioritária nas duas câmaras do Congresso. A confirmar-se esta previsão (o que poderá suceder apenas em Janeiro do próximo ano, devida a possíveis segundas voltas), o que mudará no panorama político dos Estados Unidos?
Na verdade, não me parece que, formalmente, se verifique uma grande mudança, especialmente a nível legislativo. De facto, o Partido Republicano já controla a Câmara dos Representantes e, por isso, os democratas, para fazerem passar legislação, têm sempre de chegar a acordo com a oposição. Contudo, o mesmo já não acontece no que diz respeito a nomeações presidenciais, que, segundo a Constituição, necessitam apenas da confirmação do Senado. Assim, e caso a maioria na câmara alta seja republicana, Barack Obama terá mais dificuldades em fazer aprovar os seus nomeados políticos (eventuais substituições na sua Administração) e, principalmente judiciais. E isso, numa altura em que surgem rumores que apontam para uma possível vaga no Supremo Tribunal, pode ter um grande impacto.
Mas a maior consequência de uma derrota democrata de grandes proporções na noite de amanhã pode ser mesmo ao nível da percepção. Com os níveis de popularidade de Obama em queda livre, a perda do controlo do Senado implicaria um novo e grande rombo na credibilidade do Presidente norte-americano e debilitaria seriamente a sua posição em Washington. Sem apoio no Congresso e com uma imagem tão negativa junto do público que dissuadiria outros políticos de se verem associados ao Presidente, Obama teria enormes dificuldades em fazer passar algum pacote legislativo com alguma relevância. Nesse caso, a reforma da imigração poderia estar seriamente, senão definitivamente, comprometida. Em resumo, teríamos um Barack Obama, durante os dois últimos anos do seu mandato na Casa Branca, em modo lame duck.
Mas nem tudo são más notícias para o Partido Democrata. Mesmo que o partido de Obama perca, nestas eleições, a maioria no Senado, é praticamente certo que a recuperará já daqui a dois anos, aquando das eleições de 2016. Nessa altura, irão a votos os Senadores que foram eleitos na onda republicana de 2010 e, alguns deles, representam Estados fortemente democratas. Por isso, num ano de eleições presidenciais, que atraem mais eleitores democratas às urnas, é crível que o Partido Democrata amealhe assentos suficientes para destronarem novamente os republicanos da maioria na câmara alta. Em suma, as previsíveis vitórias do GOP na noite de amanhã serão, sem dúvida, saborosas para os republicanos, mas virão, todavia, com um prazo de validade.

domingo, 2 de novembro de 2014

Onda republicana em formação?

A dois dias das eleições intercalares norte-americanas, os números das sondagens começam a convergir definitivamente num sentido. As sondagens do fim-de-semana indiciam que as eleições do dia 4 de Novembro poderão resultar numa wave republicano, um pouco à imagem do que sucedeu em 2010, quando o GOP conseguiu um resultado esmagador nas corridas para a Câmara dos Representantes, destronando a maioria democrata, e retirou seis assentos no Senado aos seus adversários do Partido Democrata, número que, ainda assim, não foi suficiente para alcançar a maioria na câmara alta.
Quatro anos depois, o mais provável é que os republicanos alcancem finalmente o objectivo que falharam em 2010 e 2012 e se tornem o partido maioritário no Senado. Mas deixemos as palavras e passemos aos mais recentes resultados de sondagens em alguns dos Estados que irão decidir o controlo do Senado na próxima Terça-feira:

Alaska: Sullivan (R) 47% - Begich (D) 42%

Georgia: Perdue (R) 48% - Nunn (D) 44%

Iowa: Ernst (R) 51 % - Braley (D) 44%

Arkansas: Cotton (R) 49% - Pryor 41%

Louisiana: Cassidy (R) 51% - Landrieu (D) 43% (em caso de segunda volta)

Definitivamente, não parece nada positivo o cenário para o lado democrata. Contudo, e como temos lembrado, também em 2010 e 2012 tiveram a sua maioria no Senado em perigo e, dessas vezes, os números das sondagens subvalorizaram os eventuais resultados dos candidatos democratas. Ainda assim, parece-me que, muito provavelmente, o Senado mudará mesmo de mãos e, para os democratas, restará a consolação da (quase) certeza de que voltarão a controlar o Senado daqui a dois anos. Mas isso já é tema para um novo post, que escreverei nos próximos dias.

quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Too close to call

As midterms são já na próxima Terça-feira, mas continua tudo em aberto no que diz respeito à maioria da câmara alta do Congresso norte-americano. Com o controlo da Câmara dos Representantes bem seguro em mãos republicanas e com as eleições para os governos estaduais a serem mais importantes a nível local do que nacional, resta a "batalha" pelo Senado como principal ponto de interesse para a noite eleitoral do dia 4 de Novembro.
Na ponta final da campanha, o Partido Republicano continua favorito para alcançar a maioria, mas o grande número de sondagens com resultados diferentes em vários Estados torna mais difícil fazer uma previsão de confiança sobre o que acontecerá na noite eleitoral. Em eleições intercalares, por norma bem menos participadas do que em anos coincidentes com eleições presidenciais, as sondagens são, também, tradicionalmente menos precisas. Por exemplo, em 2010, todos os estudos de opinião apontavam para a derrota do líder da maioria democrata no Senado, Harry Reid. Contudo, como hoje sabemos, o senador do Nevada saiu vitorioso e, inclusive, por uma margem relativamente folgada.
Além disso, as sondagens em alguns dos Estados cujas corridas serão decisivas para o desfecho final têm um historial de pouca fiabilidade. Entre eles, o caso mais paradigmático é o do Alaska, com um eleitorado disperso, pouco implantado e de difícil acesso por telefone (o método de contacto da grande maioria das sondagens). Os números das sondagens no Kansas e no South Dakota têm também de ser olhados com alguma reserva, já que estes dois Estados, ambos profundamente republicanos, não costumam gerar corridas competitivas. Por isso, os analistas e as empresas de sondagens não estão particularmente familiarizados com as realidade política e eleitoral desses Estados, que normalmente não contam para o "totobola" das noites de eleições.
Há ainda o caso da Georgia, onde as leis do Estado obrigam a uma segunda volta, caso o vencedor não alcance uma maioria absoluta dos votos. Ora, com a presença de um candidato libertário na corrida, é bem possível, se não provável, que o cenário de um runoff se concretize. Nesse caso, a segunda volta apenas se realizaria em Janeiro de 2015 (o que pode adiar a decisão do controlo do Senado para essa data), o que dificulta a "tomada de pulso" ao eleitorado, estando essa eventual eleição a mais de dois meses de distância. No Louisiana, também existe a figura do runoff, mas, nesse caso, é pouco provável que o candidato republicano deixe escapar a vitória à primeira volta.
Se a isto juntarmos resultados muito equilibrados que as sondagens vão mostrando no Kansas, na Georgia, no Iowa, no Alaska, na North Carolina, no Colorado e até no Kentucky (e ainda podem haver surpresas noutros Estados), facilmente se percebe que é muito difícil fazer uma previsão sobre o resultado da noite eleitoral da próxima semana no que ao controlo do Senado diz respeito. É certo que os republicanos parecem levar, hoje, uma vantagem importante sobre os democratas, mas, na minha opinião, a corrida está ainda too close to call.

terça-feira, 14 de outubro de 2014

Obama, o indesejado

Com as eleições intercalares à porta, os democratas de topo desdobram-se no apoio aos candidatos do seu partido. Contudo, Barack Obama tem marcado uma discreta presença no terreno, já que, devido à sua impopularidade, os concorrentes democratas preferem manter a distância em relação ao Presidente dos Estados Unidos. Aliás, houve mesmo uma candidata do Partido Democrata ao Senado - Alison Grimes, no Kentucky - que recusou dizer se havia votado em Obama para a Presidência dos Estados Unidos. Não admira, por isso, que quando os democratas precisam de uma "estrela" para animar a sua campanha, passem ao lado de Barack Obama e chamem alguém como Bill Clinton ou até a Primeira-Dama, Michelle Obama...

segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Maioria democrata no Senado em perigo

A pouco mais de um mês das eleições intercalares de 4 de Novembro, as atenções políticas nos Estados Unidos estão principalmente dirigidas para a disputa pelo Senado. Com a Câmara dos Representantes bem segura nas mão dos republicanos, é, acima de tudo, o destino da câmara alta do Congresso que está em jogo na noite eleitoral. E, segundo as recentes sondagens, o Partido Republicano vai bem lançado para retirar a maioria no Senado aos democratas.
Para chegarem aos 51 assentos necessários para se tornarem a nova maioria na câmara alta, o GOP precisa de ganhar seis lugares ao Partido Democrata, que conta, actualmente, com 55 senadores no seu caucus. A crer nas sondagens, os republicanos são favoritos a vencer na West Virginia, no Arkansas, no Montana, no South Dakota, no Alaska e no Louisiana. Só com estas seis corridas o Partido Republicano já chegaria à maioria. 
Contudo, os democratas ambicionam ainda "roubar" um assento ao GOP. E logo num Estado onde os republicanos dominam há já várias décadas: o Kansas. Acontece, porém, que o candidato que ameaça destronar o actual ocupante do cargo, o republicano Pat Roberts, não é um democrata, mas sim um independente. Greg Orman, um ex-democrata, é um empresário de sucesso e a sua entrada na corrida foi de tal forma bem sucedida que os democratas retiraram o seu candidato, cientes de que Orman era a sua única possibilidade de derrotar o Senador Roberts. Neste momento, o concorrente independente é um ligeiro favorito a alcançar a vitória e, nesse caso, o mais provável é que, uma vez no Senado, se juntasse aos democratas. 
Assim sendo, teríamos um Senado empatado, com 50 republicanos e 50 democratas. Todavia, em caso de empate nas votações do Senado, o voto decisivo cabe ao Vice-Presidente e isso significa que, pelo menos até Janeiro de 2017, um empate no Senado favorece os democratas.
Mas calma, porque ainda não falei de dois dos três Estados que, juntamente com o Kansas, decidirão o controlo do Senado nas próximas eleições. No Colorado e no Iowa, os democratas defendem dois assentos que estão claramente em perigo para a eleição de 4 de Novembro. No Colorado, a corrida está praticamente empatada, mas, nos últimos dias, o candidato republicano, Cory Gardner, até parece levar uma ligeira vantagem em relação ao seu opositor, o senador democrata Mark Udall. No Iowa, as notícias são ainda menos animadoras para o partido de Obama. Isto porque uma sondagem do geralmente certeiro Des Moines Register colocou a candidata do GOP, Joni Ernst, seis pontos percentuais à frente do democrata Bruce Braley.
Com base neste cenário, percebemos que apenas uma perfeita conjugação de resultados permitirá ao Partido Democrata manter a sua maioria no Senado. Ou seja, precisa de contrariar as sondagens mais recentes e manter os assentos no Iowa e no Colorado do seu lado, impedir surpresas noutros Estados em que a vantagem democrata não é tão significativa quanto isso (New Hampshire, Michigan e North Carolina), ajudar o independente Orman a vencer no Kansas e depois convencê-lo a ajuntar-se ao caucus democrata no Senado.
Não parece uma tarefa nada fácil, especialmente num ano em que, ao contrário do que aconteceu em 2010 e 2012, os candidatos republicanos têm-se mostrado mais impermeáveis aos erros e às gaffes. Mas não deixa de ser verdade que, nos últimos ciclos eleitorais, os democratas têm superado as expectativas e conseguido segurar o controlo do Senado. A 4 de Novembro, tiraremos todas as dúvidas.

sexta-feira, 12 de setembro de 2014

Agenda em dia

Depois de umas merecidas férias, o Máquina Política está de regresso. Durante o período de descanso, muito se passou do lado de lá do Atlântico. Mas vamos por partes:

EUA atacam o ISIS - Depois de dois jornalistas norte-americanos terem sido decapitados pelo Islamic State in Iraq and Syria (ISIS), Barack Obama decidiu agir e, num discurso transmitido em directo pelas principais cadeias dos Estados Unidos, anunciou o seu plano para combater o ISIS, grupo radical que controla já grande parte do Iraque e da Síria. O Presidente informou os cidadãos norte-americanos que os ataques aéreos da Força Aérea dos Estados Unidos já em vigor no território iraquiano serão alargados a regiões da Síria ocupadas pelo ISIS. Além disso, Obama anunciou ainda que colocará mais conselheiros militares norte-americanos no terreno e que aumentará o apoio financeiro e militar às autoridades iraquianas e curdas que combatem o Estado Islâmico. Contudo, Barack Obama frisou que o conjunto de acções agora implementado não contempla o envio de tropas combatentes norte-americanas.
Estas novas medidas são a resposta de Obama ao choque sentido pela opinião pública dos Estados Unidos após a divulgação dos vídeos das decapitações dois dois jornalistas. Contudo, o 44º Presidente norte-americano está numa situação muito delicada, pois sempre defendeu a retirada do Iraque e, agora, está, de facto, a regressar àquele território para uma nova guerra de desgaste sem um fim à vista. Na verdade, este pode ter sido um momento decisivo para o legado de Obama que chegou ao poder como aquele que acabaria com o fim da presença norte-americana no Médio Oriente, mas que pode, como o seu antecessor, deixar a Casa Branca com um conflito em aberto e que terá de ser resolvido pelo seu sucessor.

Eleições intercalares - A menos de dois meses das eleições intercalares, as notícias não podiam ser piores para os democratas. Com uma maioria na Câmara dos Representantes a ser uma mera possibilidade matemática, está também cada vez mais complicada a tarefa do partido de Obama para manter a maioria no Senado. Se as eleições fossem hoje,  segundo tanto Nate Silver como Larry Sabato, o mais provável é que o GOP alcançasse o controlo da câmara alta do Congresso, relegando os democratas para a oposição. 
Nesse caso, o mais provável é que os dois últimos anos do mandato presidencial de Obama fossem praticamente irrelevantes no sector legislativo, dado que sem apoio do Congresso, será praticamente impossível para um presidente relativamente impopular conseguir amealhar apoios para qualquer peça legislativa de relevo (como, por exemplo, a reforma da imigração).

Corrida presidencial - Do lado democrata, não há novidades. Hillary Clinton continua a ser a presumível nomeada democrata e a antiga Primeira-Dama regressará, este Domingo, ao Iowa, o primeiro Estado a ir a votos nas primárias presidenciais. Esta será a primeira vez que Hillary se desloca ao Hawkeye State desde que, em Janeiro de 2008, foi surpreendentemente derrotada por Barack Obama (e também por John Edwards). Tudo indica que a ex-Secretária de Estado entrará mesmo na corrida, isto apesar de ter anunciado esta semana que apenas tomará uma decisão no início do próximo ano. Com todos os outros democratas de peso (que não são assim tantos como isso) a colocarem-se de fora das contas presidenciais para 2016 devido à presença de Clinton, o Partido Democrata não receberia nada bem uma decisão negativa da sua grande estrela quanto à sua candidatura à Casa Branca.
Do lado republicano, o destaque vai para Ted Cruz e para Rand Paul. O primeiro continua a dar mais indicações quanto à sua candidatura presidencial, com o seu chefe de gabinete a deixar esse cargo para assumir maiores responsabilidades políticas (leia-se, eleitorais). Todavia, o Senador pelo Texas foi também notícia pela negativa: numa gala organizada por um grupo de cristãos do Médio Oriente, Cruz abandonou o palco onde discursava, após as suas declarações vincadamente pró-Israel terem sido recebidas pela audiência com fortes vaias. Já em relação ao segundo é praticamente certo que será um candidato presidencial e as suas constantes presenças no New Hampshire, o primeiro Estado a realizar primárias indiciam que o Granite State será o centro da sua estratégia. Ora, tal facto não é surpreendente ou não fosse o eleitorado republicano do New Hampshire um dos mais favoráveis a candidaturas de candidatos com raízes libertárias, como se comprova pelo excelente resultado obtido, em 2012, por Ron Paul (pai de Rand), com 23% dos votos, apenas atrás do vencedor, Mitt Romney.

sábado, 23 de agosto de 2014

Romney mais frio do que nunca



Está na moda o banho gelado como forma de impulsionar e promover a luta contra a esclerose lateral amiotrófica. Nos Estados Unidos, onde a campanha começou, os políticos já aderiram e, curiosamente, um dos mais recentes banhos gelados foi um político muitas vezes caracterizado como "frio". Mitt Romney, candidato presidencial republicano em 2012, derrotado por Barack Obama, divulgou o seu Ice Bucket Challenge" e convidou um amigo seu para o ajudar. Paul Ryan, o seu candidato à vice-presidência há dois anos, ficou encarregue de encharcar Romney. A esposa de Mitt, Ann, será a próxima "vítima".

quarta-feira, 20 de agosto de 2014

Os 65 candidatos a candidato presidencial

Estamos a mais de dois anos da eleição presidencial de 2016 (ou a 14 meses do início das primárias) e foram já várias as dezenas de nomes falados para a corrida que decidirá o sucessor de Barack Obama. Segundo o The Hill, são exactamente 64 os políticos que já foram, de uma forma ou de outra, sugeridos como possíveis candidatos presidenciais. O panorama da campanha só começará a ficar definido a partir do início do próximo ano, mas, até lá, é sempre interessante percorrer esta lista e começar a fazer as primeiras apostas.

quarta-feira, 13 de agosto de 2014

Hillary distancia-se de Obama

Há já poucas dúvidas em relação à presença de Hillary Clinton na corrida pela Casa Branca, em 2016. Nas últimas semanas, a antiga Secretária de Estado tem-se comportado como uma concorrente presidencial e tudo indica que, em alguma altura do próximo ano, a esposa de Bill Clinton anunciará a sua candidatura ao cargo de Presidente dos Estados Unidos.
Com uma larga vantagem em todos os estudos de opinião sobre as primárias democratas e (ainda) sem um vislumbre de adversário nas eleições do seu partido, Hillary parece estar já a "piscar o olho" ao eleitorado independente, sempre fundamental numa corrida presidencial. Isso ficou evidente, nos últimos dias, com o distanciamento da ex-Senadora em relação a Barack Obama, Presidente e seu antigo patrão no que diz respeito à política externa. Ao dar a entender que considera que Obama tem sido demasiado prudente nas assuntos internacionais ("não fazer coisas estúpidas não é um princípio organizador"), Clinton está a querer transmitir que defende uma postura mais interventiva e agressiva dos Estados Unidos no mundo, algo que deve soar bem aos ouvidos dos eleitores independentes e até republicanos.
Hillary foi especialmente incisiva na questão da Síria, onde afirmou que foi o "falhanço" norte-americano em ajudar os rebeldes sírios no início da sua revolta contra o Presidente Assad que levou à ascensão do ISIS, movimento extremista islâmico que ameaça agora o Iraque. Além disso, mostrou-se totalmente alinhada com Israel e com Netanyahu, querendo mostrar que o seu nível de comprometimento com o aliado norte-americano é superior ao da Administração Obama (o que cai sempre bem entre o importante eleitorado judaico nos Estados Unidos).
Esta foi a primeira vez que Hillary Clinton se demarcou publicamente do líder do seu país (e do seu partido). Apesar de ter sido um desalinhamento educado e não muito "sonoro", a verdade é que não deixa de ser relevante e indicativo das intenções da mais conhecida política norte-americana. Sendo Obama um presidente relativamente impopular, é normal que Hillary se veja obrigada a distanciar-se de forma a não ser tão afectada pela má imagem do presidente democrata. Contudo, depois de ter servido como Secretária de Estado de Obama durante quatro anos, é inevitável a colagem de Hillary ao Chefe de Estado norte-americano e, certamente, os republicanos usarão isso para atacar Clinton durante uma eventual campanha presidencial. Veremos se isso será suficiente para afastar Hillary Clinton da Casa Branca. 

P.S. - Por diversos motivos, o Máquina Política tem estado inactivo. Tentarei, dentro dos possíveis, retomar reactivar a máquina e voltar a colocá-la a laborar a 100%.

domingo, 15 de junho de 2014

A incrível derrota de Eric Cantor

Na passada Terça-feira à noite, os Estados Unidos foram testemunhas de uma das mais surpreendentes derrotas políticas de que há memória. Eric Cantor, o líder da maioria republicana na Câmara dos Representantes (o segundo cargo mais importante, apenas ultrapassado pelo Speaker), não poderá ser reeleito como o congressista do 7º distrito do Estado da Virginia, após ter sido batido nas eleições primárias do Partido Republicano por David Brat, um (até agora) desconhecido professor universitário.
Apoiado por grupos do Tea Party a nível local e estadual, David Brat desafiou Cantor pela sua Direita, acusando-o de não ser suficientemente conservador, de se preocupar mais com a elevação do seu estatuto público do que com os seus constituintes e de ser soft on immigration. Contudo, nem mesmo as organizações do Tea Party a nível nacional investiram seriamente nestas primárias, dado que a vitória de Eric Cantor era vista como certa, o que demonstra bem o efeito choque que a derrota de um dos mais influentes e poderosos republicanos provocou no mundo político norte-americano.
Uma das principais repercussões do afastamento de Eric Cantor poderá sentir-se na tão aguardada e, ao mesmo tempo, tão adiada reforma da imigração. O congressista da Virginia era visto como uma das figuras de proa do Partido Republicano para o avanço legislativo desta reforma e, sem a sua presença na Câmara dos Representantes, a vontade dos republicanos para chegarem a um acordo com os democratas nesta matéria pode ser seriamente afectada. Além disso, o facto de a posição tendencialmente favorável de Cantor em relação à reforma da imigração ter sido, ao que tudo indica, uma das principais razões para a sua derrota nas primárias, pode levar muitos congressistas republicanos a pensarem duas vezes quando ponderarem o seu eventual apoio à reforma.
Após a derrota da semana passada, esfumou-se também o sonho de Eric Cantor em ascender à tão ambicionada posição de Speaker of the House. Sendo o número dois na hierarquia da Câmara dos Representantes e assumindo-se como uma das principais figuras do Partido Republicano, o congressista da Virginia era o principal favorito a suceder a John Boehner como Speaker. Agora, com Cantor fora de cena, assistiremos a uma enorme luta de poder entre os congressistas do GOP: primeiro, para a sucessão de Eric Cantor e, mais tarde, para a substituição de Boehner.
O resultado no 7º distrito da Virginia pode também voltar a trazer à baila a narrativa da influência negativa das facções mais conservadoras nas eleições primárias do Partido Republicano. Este ano, essa tendência não se tem sentido tanto como em 2010 e 2012, mas também é verdade que estamos ainda muito cedo no calendário eleitoral. Caso se verifique que, mais uma vez, os candidatos do Tea Party estão a derrotar, nas primárias, candidatos mais moderados e, logo, mais elegíveis, isso pode prejudicar as hipóteses do GOP nas eleições intercalares do Outono. Ora, numas eleições em que se prevê que o controlo do Senado possa depender de apenas um assento, basta uma escolha menos acertada para alterar totalmente o desfecho da noite eleitoral do dia 4 de Novembro.

segunda-feira, 26 de maio de 2014

Obama mexe na sua Administração, a pensar no presente e no futuro

Quando a primeira metade do segundo e último mandato de Barack Obama na Casa Branca se aproxima do fim, continua a dança de cadeiras na sua Administração. Nos últimos dias, merece destaque a mudança de Shaun Donovan, até agora director do Department of Housing and Urban Development, para ocupar o cargo de director do Office of Management and Budget, posto que (ainda) é ocupado por Sylvia Mathews Burwell, que por sua vez irá liderar o Department of Health and Human Services. 
A escolha de Shaun Donovan para este influente cargo, com importantes responsabilidades no orçamento federal, não era das mais óbvias. Contudo, na base da decisão de Obama terá estado o sucesso de Donovan em tomar acções por via de decisões executivas, deixando as medidas legislativas para segundo plano. Ora, esse é precisamente o caminho que o Presidente dos Estados Unidos procura tomar nos últimos anos à frente dos destinos da nação norte-americana, ciente que a oposição republicana no Congresso, porventura aumentada com a possível tomada do Senado pelo GOP, não poderá ser ultrapassada. Assim sendo, Obama chama para o seu lado personalidades com experiência de gestão e com provas dadas em acção executiva, como é o caso de Donovan.
Além disso, o cargo deixado em aberto no Department of Housing and Urban Development será preenchido por uma das principais estrelas em ascenção no Partido Democrata, o actual Mayor da cidade texana de San Antonio,Julián Castro. Castro, descendente de mexicanos, ganhou destaque com a Convenção Democrata de 2012, em que realizou o discurso keynote. Agora, com esta nomeação para a Administração, o ainda Mayor ganha mais notoriedade e bagagem política, que podem revelar-se mais-valias para eventuais voos mais altos. 
Voos esses que podem chegar mais cedo do que se pensa. Apesar de uma candidatura presidencial em 2016 estar praticamente fora de hipótese, Julián Castro seria, a meu ver, um excelente candidato à vice-presidência, especialmente se, como se espera, a nomeada presidencial democrata se chamar Hillary Clinton. Um ticket Clinton-Castro seria certamente fortíssimo, pois aliaria o eleitorado tradicional dos Clinton (mulheres, afro-americanos e blue collar workers) ao eleitorado hispânico (em que Hillary não deverá ser tão forte quanto Obama), que se sentiria encorajado a votar naquele que seria o primeiro Vice-Presidente hispânico dos Estados Unidos da América.
Com estas mudanças na sua Administração, Barack Obama mata, então, dois coelhos com uma só cajadada: adapta a sua equipa aos desafios que lhe são colocados na parte final da sua estadia na Casa Branca, ao mesmo tempo que coloca potenciais futuras figuras de proa seu partido sob os holofotes mediáticos. 

segunda-feira, 5 de maio de 2014

Jantar dos Correspondentes da Casa Branca


Foi no passado Sábado o Jantar dos Correspondentes da Casa Branca, um dos eventos mais aguardados e mediáticos da capital norte-americana, Washington D. C. Tradicionalmente, o Presidente é o orador principal e, para não fugir à regra estabelecida para esta ocasião, Barack Obama vestiu a pele de Comedian-in-Chief. 

terça-feira, 15 de abril de 2014

Teremos mais um Bush na Casa Branca?

As eleições intercalares, vulgarmente conhecidas como midterms, estão a cerca de meio ano de distância, mas as eleição presidencial, marcada para Novembro de 2016, continua a merecer grande parte das atenções nos meandros políticos dos Estados Unidos. E se no lado democrata, tudo continua na mesma, ou seja, ainda se aguarda a decisão por parte da ultra-mega-hiper-favorita Hillary Clinton, já no campo republicano o cenário é bem mais incerto.
Nos últimos dias, o nome mais falado é bem conhecido, pois partilha o apelido com dois antigos presidentes norte-americanos. Jeb Bush, antigo Governador da Florida, tem sido associado a uma possível candidatura presidencial. O mesmo aconteceu em 2012, mas, desta vez, esse rumor parece ser mais consistente, principalmente porque o establishment do GOP procura insistentemente um candidato credível para apoiar, depois da polémica que se instalou em torno de Chris Christie, que era, até há pouco tempo, o concorrente preferido por grande parte da estrutura partidária republicana para a corrida à Casa Branca.
O irmão mais novo do 43º Presidente pode muito bem ser uma boa aposta por parte do establishment do GOP para fazer frente aos candidatos do Tea Party, como Rand Paul ou Ted Cruz, figuras adoradas pela base do partido, mas demasiado conservadoras para representarem os republicanos numa eleição geral contra um(a) democrata. Com a vasta máquina dos Bush por detrás de si, Jeb não teria problemas em garantir apoios financeiros ou endorsements por parte de nomes proeminentes do Partido Republicano. Além disso, seria um candidato moderado quando comparado com outros possíveis concorrentes, como Rick Santorum, Mike Huckabee ou Scott Walker, além dos já citados Paul e Cruz. Em especial, a sua moderação em relação ao tema da imigração seria uma importante vantagem e um factor diferenciador (ainda que lhe pudesse trazer alguns dissabores durante as primárias), já que é conhecido o problema republicano junto do eleitorado hispânico. Finalmente, Jeb Bush provém da Florida, provavelmente o mais importante Estado numa eleição presidencial, fruto dos 29 votos eleitorais que o sunshine state atribui ao seu vencedor.
É claro que o nome Bush ainda traz recordações negativas à maior parte da população norte-americana. Contudo, isso não seria problema nas eleições primárias, já que a esmagadora maioria do eleitorado republicano tem uma imagem positiva de George W. Bush. Mas, mais importante que isso, Jeb sempre foi mais associado ao seu pai do que ao seu irmão mais velho, o que, numa altura, em que o patriarca da família goza de relativa popularidade junto da população, é uma boa notícia para o novo porta-estandarte da dinastia.
Ainda é muito cedo para dizer se Jeb Bush vai ou não ser candidato à Casa Branca, mas é certo que se o fizer será, apesar do seu nome, um fortíssimo concorrente. A sua entrada na corrida afastará outros nomes de peso (com Marco Rubio à cabeça) e reuniria o establishment e a ala moderada do GOP no apoio à sua candidatura, o que, por norma, é meio caminho andado para a vitória nas primárias republicanas. 
Será que vamos ter, 24 anos depois, um novo duelo presidencial entre um (uma, neste caso) Clinton e um Bush?

sexta-feira, 11 de abril de 2014

Sebelius de saída

Barack Obama aceitou, ontem, a demissão de Kathleen Sebelius, a Secretária dos Serviços de Saúde (Health and Human Services)  desde a tomada de posse da Administração Obama, em Janeiro de 2009. A imagem de Sebelius ficou inevitavelmente marcada pela negativa devido ao fiasco do site healthcare.gov, o sítio na internet onde os cidadãos norte-americanos se devem candidatar aos novos seguros de saúde criados pela reforma de saúde que ficou conhecida como Obamacare. Aquando do lançamento do site, vários foram os problemas e que levaram mesmo a um pedido de desculpas público do Presidente Obama.
Desde essa altura, o lugar da Secretária foi sucessivamente dado como muito estando em perigo, mas a verdade é que Barack Obama foi aguentando Sebelius no cargo, numa demonstração de lealdade para com aquela que foi uma das primeiras figuras proeminentes do Partido Democrata a apoiaram publicamente a sua candidatura à Casa Branca, em 2008 (na altura, Kathleen Sebelius era Governadora do Kansas). Agora, ao que tudo indica, será a actual directora do Office of Management and Budget, Sylvia Mathews Burwell a ser nomeada por Barack Obama para substituir a demissionária Sebelius.
Curiosamente (ou talvez não), a saída da Secretária dos Serviços de Saúde surge numa altura em que começam a aparecer os primeiros sinais positivos da implementação da reforma do sistema de saúde norte-americano. Com os problemas no healthcare.gov aparentemente resolvidos e com os primeiros milhões de cidadãos a aderirem ao Obamacare, é de esperar que a opinião dos norte-americanos comece a ser progressivamente (ainda que lentamente) mais favorável em relação à histórica peça legislativa assinada por Obama. Isso mesmo já terá percebido o Partido Republicano, que desde o início se mostrou intransigente na defesa da revogação da reforma, mas que, agora, já alterou o discurso, clamando pela melhoria e aperfeiçoamento da lei que permitiu o acesso a cuidados de saúde a milhões de norte-americanos.
Caberá agora a Sylvia Mathews Burwell a responsabilidade de alargar a implementação do Obamacare, uma tarefa de grande importância, em especial quando se aproxima a fase final da estadia de Obama na Casa Branca. Sendo a reforma da saúde a grande bandeira da presidência de Barack, é essencial que o Obamacare cumpra efectivamente a promessa de benificiar dezenas de milhões de norte-americanos que não tinham, até agora, acesso a cuidados de saúde O legado de Barack Obama depende disso.

domingo, 30 de março de 2014

Nate Silver está de volta

Nate Silver ficou conhecido na corrida eleitoral de 2008. Na altura, começou inicialmente por publicar as suas previsões eleitorais no site Daily Kos, tendo depois fundado o seu próprio blogue, o fivethirtyeight.com (538 é o número total de votos eleitorais em disputa numa eleição presidencial). Na votação que elegeu Barack Obama, Nate Silver acertou no vencedor em 49 dos 50 Estados norte-americanos, o que lhe valeu fama e reconhecimento como um guru das previsões eleitorais.
Com o estatuto alcançado, Silver foi convidado pelo New York Times a fazer parte da equipa do afamado jornal. Foi no NYT que Nate Silver que publicou as suas previsões para as corridas eleitorais de 2010 e 2012, sempre com muito sucesso - em 2012 acertou no vencedor em todos os Estados da eleição presidencial. Contudo, depois da segunda vitória de Obama, o especialista em estatística procurou novamente estabelecer um projecto próprio e autónomo e refundou o fivethirtyeight.com, que foi lançado a todo o gás no final deste mês. Com uma imagem mais moderna e um alcance mais ambicioso, o site de Nate Silver não se limita a realizar previsões e análises políticas e eleitorais, abrangendo agora áreas como a economia, a ciência e o desporto (com destaque para o basebol, uma das grandes paixões de Nate Silver).
Claro que para os apaixonados pela política norte-americana, serão as previsões eleitorais a merecerem uma maior atenção. E, nesse aspecto, Nate começou em força, a prever um ligeiro favoritismo republicano para o controlo do Senado, após as eleições intercalares de Novembro. É, obviamente, ainda muito cedo para retirarmos grandes ilações sobre as previsões, até porque o modelo de Silver é flexível e adapta-se às alterações que forem ocorrendo nas dezenas de corridas pelo Senado. Porém, dado o historial da jovem estrela no que diz respeito a previsões eleitorais, podem os democratas estar preocupados com as suas hipóteses de manter o controlo da câmara alta.
Com o prestígio alcançado nos últimos anos, Nate Silver é já uma referência política nos Estados Unidos e o seu regresso era um facto muito aguardado pelos political junkies norte-americanos. Agora que está de volta com as suas previsões, as eleições de 2014 parecem estar mais próximas do que nunca e conquistam um renovado interesse. É caso para dizer: welcome back, Nate!

quarta-feira, 12 de março de 2014

Rude golpe para os democratas na Florida

As eleições para o Congresso estão ainda a oito meses de distância, mas, de momento, o cenário não é nada positivo para o Partido Democrata. A eleição especial que teve ontem lugar na Florida veio comprovar isso mesmo, com a derrota da candidata democrata, Alex Sink, às mãos do republicano David Jolly.
Na disputa pelo 13º distrito da Florida, os democratas perderam uma excelente oportunidade para recuperar um assento que se encontra na posse do GOP há mais de 40 anos. De facto, Sink era vista como a favorita à vitória, fruto de ser um nome conhecido (perdeu à tangente, em 2010, o cargo de Governador do Estado para Rick Scott), de contar com uma importante vantagem financeira e de concorrer contra um antigo lobbysta. Contudo, nada disto evitou que Jolly alcançasse uma vitória e que nem foi assim tão justa quanto isso (o republicano obteve 48,5% dos votos contra os 46,6% da sua opositora).
Este resultado, num Estado tão importante como é a Florida, é um rude golpe para o Partido Democrata  e deve fazer soar os alarmes no DCCC (estrutura democrata de apoio às eleições para a Câmara dos Representantes). O 13º distrito da Florida trata-se de um local tradicionalmente republicano, mas também é precisamente o tipo de distrito moderado, apenas ligeiramente republican leaning, que os democratas precisam de conquistar se querem ter alguma hipótese de anular o défice de 17 lugares na Cãmara dos Representantes que os afastam da maioria. 
A reconquista da câmara baixa do Congresso sempre foi um long shot para os democratas. Todavia, o desfecho de ontem na Florida indicia que essa meta é uma missão impossível para o partido de Obama. Por isso, parece cada vez mais acertada a opção alegadamente tomada pela liderança democrata de, em 2014, apostar todas as suas fichas nas corridas do Senado, onde a manutenção da maioria é uma tarefa complicada, mas exequível.

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

A corrida pela Florida

Na passada Sexta-feira, falei das eleições para o Congresso que se realizarão no próximo dia 4 de Novembro. Pelo seu impacto nacional, estas eleições são as que atraem mais atenção e mediatismo, mas não são as únicas a terem lugar nesse dia, já que também irão a votos vários governos estaduais um pouco por todo o território norte-americano. Entre essas eleições estaduais, algumas merecem especial destaque, como a que decidirá o nome do governador de um dos maiores Estados do país, a Florida.
A corrida do sunshine state é especialmente interessante por marcar o regresso de Charlie Crist um dos mais polémicos políticos da Florida nos últimos anos. Crist foi governador do Estado entre 2007 e 2011, na altura como membro do Partido Republicano. Todavia, quando em 2012 concorreu ao Senado, foi desafiado nas primárias pelo carismático Marco Rubio. Com as sondagens a mostrarem uma enorme vantagem para Rubio, Charlie Crist desistiu das primárias, abandonou o Partido Republicano e concorreu na eleição geral como independente. Mas nem assim o antigo Governador conseguiu a eleição para o Senado e Marco Rubio, derrotando copiosamente Crist e o candidato democrata, foi mesmo eleito para a câmara alta do Congresso.
Agora, Charlie Crist volta a tentar a sua sorte, desta vez concorrendo pelo Partido Democrata, em mais um twist político-partidário que está a dar muito que falar. Apesar da polémica desta incessante troca de partidos, Crist parece bem lançado para derrotar o actual ocupante do cargo, o impopular Rick Scott, que será o candidato do GOP. Todas as últimas sondagens mostram Crist na liderança da corrida, com uma vantagem para Scott que varia entre os três e os doze pontos percentuais.
Os números da taxa de popularidade de Rick Scott deixam antever uma reeleição muito complicada para o actual Governador da Florida. Contudo, essa impopularidade deve-se sobretudo a posições que Scott tomou e que desagradaram às classes sociais mais baixas (como, por exemplo, a instituição da obrigatoriedade de testes de drogas para quem recebe subsídios sociais). Ora, esses eleitores têm menor propensão para votar em eleições intercalares, como é o caso das eleições deste ano. Por seu lado, Charlie Crist é um político muito conhecido, relativamente bem visto na Florida e que contará com a excelente máquina democrata no Estado. Contudo, será certamente muito atacado pela sua constante troca de partidos.
A corrida pelo controlo do quarto mais populoso Estado da União (a Florida muito brevemente ultrapassará New York, actualmente em terceiro lugar) promete dar muito que falar e será seguida com atenção pelos possíveis candidatos à Casa Branca, pois trata-se, porventura, do mais importante Estado em eleições presidenciais. Por isso, aqui, no Máquina Política, iremos dar especial atenção à disputa entre Rick Scott e Charlie Crist.

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Os democratas apostam tudo no Senado

A menos de nove meses das eleições intercalares, as atenções começam a virar-se para as várias corridas que terão lugar um pouco por todo o território dos Estados Unidos. Ainda assim, nesta altura, o centro das decisões eleitorais ainda se mantém em Washington, à medida que os diversos candidatos vão angariando os tão necessitados fundos financeiros para as suas campanhas e que as estruturas partidárias vão alinhavando estratégias para alcançar o melhor resultado possível nas eleições do dia 4 de Novembro.
No Partido Democrata, a estratégia escolhida começa a ser evidente: com fundos e recursos limitados, os líderes e estrategas democratas apontam baterias para o Senado, deixando as corridas para a Câmara dos Representantes para segundo plano. Nos últimos tempos, esta táctica tem sido evidente e abertamente discutida em público, com muitos dos maiores financiadores do Partido Democrata a revelarem que a liderança do partido tem solicitado que concentrem as suas doações em eleições para a câmara alta. 
O rumo escolhido pelos democratas parece lógico. Se há um ano atrás, após a derrota republicana no shutdown, parecia possível os democratas estarem na luta pela reconquista da Câmara dos Representantes, agora, com o deterioração da imagem do Presidente Obama, a situação é bem diferente e os democratas têm poucas hipóteses de voltarem a ser a maioria na câmara baixa. De facto, o redesenho dos distritos eleitorais está actualmente tão desequilibrado a favor dos candidatos republicanos que, mesmo que os democratas consigam  uma percentagem total de votos nacionais para a House superior a dois pontos percentuais (como apontam as previsões actuais), isso não será suficiente para o Partido Democrata eleger mais congressistas que o GOP.
Assim, os democratas preferem ir all in nas corridas para o Senado, de modo a aumentarem as suas hipóteses de manter a maioria na câmara alta, já que a derrota nas duas câmaras significaria o fim de facto da presidência Obama, que ficaria sem qualquer possibilidade de interferir na agenda doméstica, ficando relegado para a política externa, quase que como um Secretário de Estado com o Air Force One só para si.
Contudo, nem essa estratégia é garantia de sucesso, já que o cenário em 2014 é muito desfavorável para o Partido Democrata. Dos 36 assentos no Senado em discussão no próximo Outono, 21 deles são actualmente ocupados por democratas, com apenas 15 na posse de republicanos.
Entre os 21 lugares democratas, os lugares em disputa no South Dakota, no Montana e na West Virginia estão muito inclinados para o lado republicano, ao passo que outras seis corridas  (Michigan, Arkansas, Alaska, Iowa, Louisiana e North Carolina) estão actualmente muito equilibradas. Por seu lado, o GOP tem apenas dois lugares em jogo, no Kentucky e na Georgia. Curiosamente, o primeiro corresponde precisamente a Mitch McConnell, o líder da minoria republicana no Senado, que, apesar da sua posição de liderança, é altamente impopular no seu Estado e pode muito bem não conseguir a reeleição.
Ora, como o Partido Democrata conta com 55 senadores face aos 45 republicanos, o GOP necessita de ganhar seis assentos aos democratas para se afirmar como a maioria no Senado. Se segurar os seus dois lugares no Kentucky e na Georgia e se se confirmarem as vitórias republicanas no South Dakota, no Montana e na West Virginia, o Partido Republicano fica a apenas três assentos de conquistar a maioria do Senado, que podem ser alcançada se vencer em três das seis corridas actualmente muito renhidas.
Fica, por isso, demonstrado que a conquista da maioria no Senado pelos republicanos é um cenário possível e que alguns consideram até provável num ano que se espera favorável para os candidatos do GOP. Todavia, é preciso não esquecer que em todos as eleições para o Senado desde 2006 os candidatos democratas à câmara alta do Congresso superaram as expectativas e alcançaram resultados acima do esperado. Será que em 2014 isso voltará a acontecer ou teremos um Congresso totalmente republicano? Teremos de esperar para ver.

quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Obama não se resigna e vai à luta

Barack Obama esteve ontem no Congresso dos Estados Unidos para o seu quinto discurso do Estado da Nação, um momento sempre marcante numa Presidência mas que, nas últimas décadas, tem vindo perder relevância política, à medida que se transforma cada vez mais num espectáculo mediático. 
Em ano eleitoral, esperava-se que o Presidente tentasse marcar pontos políticos que permitissem ganhos eleitorais aos democratas. Contudo, foi um Obama mais preocupado com policys do que com politics aquele que surgiu ontem na Câmara dos Representantes. Não houve muitos crowd pleasers para a base liberal do Partido Democrata, mas o Presidente tocou em alguns temas queridos para os democratas e fez da igualdade porventura o principal destaque deste discurso.
Este State of the Union pode ser dividido em duas partes. Em primeiro lugar, Obama defendeu o seu historial na Casa Branca. Como não podia deixar de ser, apresentou uma forte defesa da reforma da saúde e desafiou os republicanos a apresentarem alternativas, num momento muito aplaudido pela ala democrata. Num tom sempre muito optimista, apontou para a recuperação económica dos Estados Unidos durante a sua Presidência, nomeadamente ao nível do emprego, da produção industrial e do mercado imobiliário.
Depois de defender o que já fez, Barack Obama partiu para o que pretende fazer. Anunciou o aumento do salário mínimo para os trabalhadores federais através de uma acção executiva presidencial e exortou o Congresso a aprovar legislação que alargue este aumento a todos os trabalhadores. Com este gesto, Obama quis mostrar que não se resignará perante a paralisia do Congresso dividido e que está disposto a usar o seu poder executivo para fazer avançar a sua agenda mesmo sem o apoio do órgão legislativo. O líder norte-americano também se referiu àquele que deverá ser o seu próximo objectivo legislativo: a reforma da imigração. Sem ser demasiado agressivo (Obama não quer antagonizar os republicanos que parecem estar agora dispostos a avançar neste tema), o Presidente foi claro ao insistir na necessidade desta reforma que poderá legalizar a situação de milhões de imigrantes ilegais.
O discurso de ontem, que durou pouco mais de uma hora, está a ser genericamente bem recebido, ainda que não deva representar um game changer que permita a Obama melhorar substancialmente os seus números de aprovação nas sondagens, que, nos últimos meses, andam insistentemente em terreno negativo. Todavia, o State of the Union serviu pelo menos para se perceber que Barack Obama não desiste da luta e não tenciona remeter-se à irrelevância à medida que o seu último mandato na Casa Branca se aproxima do fim.

Nota: Como acontece sempre em todos os discursos do Estado da Nação, um dos membros do Cabinet  do Presidente é escolhido para não marcar presença na cerimónia, precavendo, dessa forma, a linha de sucessão presidencial em caso de atentado terrorista ou catástrofe natural que decapite o governo federal. Curiosamente, desta vez, foi o Secretário da Energia, Ernest Moniz, o eleito. Como Moniz é filho de açorianos, podemos dizer que nunca esteve um luso-descendente tão perto da Presidência dos Estados Unidos como na noite de ontem.

segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

The Battleground States of America

Como mais vale tarde do que nunca, deixo aqui o link para acesso à minha dissertação de mestrado, intitulada The Battleground States of America - Onde se decidem as eleições presidenciais norte-americanas, apresentada à Universidade Fernando Pessoa, em Novembro de 2012 e classificada com 18 valores. Como o próprio nome indica, este trabalho define e caracteriza os Estados que, entre os 50 que compôem a nação norte-americana, decidem o vencedor das eleições presidenciais dos Estados Unidos.

sábado, 18 de janeiro de 2014

Happy Birthday, Máquina Política

O Máquina Política comemora hoje o seu quarto aniversário. 686 posts depois, o blogue continua vivo e de boa saúde, ainda que a actualização tenha sido, no último ano, menos regular do que era normal. Contudo, o tempo é pouco e, além disso, o ano seguinte ao de umas eleições presidenciais é, por norma, um período com menos "sumo" no que diz respeito à política norte-americana. Como em 2014 têm lugar eleições intercalares, tentarei aumentar o ritmo de escrita, cobrindo ao máximo tudo o que de mais importante se passar do outro lado do Atlântico. Seja como for, hoje é dia de festa. Por isso, parabéns, Máquina Política!

sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

As duras tarefas de Obama em 2014

Já começa a dar que falar a eleição presidencial de 2016, momento em que os norte-americanos escolherão o sucessor da Barack Obama à frente dos destinos dos Estados Unidos. Contudo, quase três anos nos separam desse marcante acontecimento e o actual ocupante da Casa Branca tem ainda mais de metade do seu mandato pela frente. Ora, a segunda metade do último mandato de um Presidente é normalmente caracterizada por uma perda de influência e de capacidade interventiva do Chefe de Estado que se torna um Lame Duck. Para Obama, este é um problema ainda maior, dado que o primeiro ano deste seu segundo mandato, o período em que teria, em teoria, mais margem para conseguir realizações importantes, foi marcado pela polémica em torno da implementação do programa que ficou conhecido como Obamacare, que ofuscou todos os outros temas e manchou de tal modo a sua imagem que impediu Obama de perseguir outros objectivos.
Agora, Barack Obama tenta recuperar o domínio da narrativa política, de forma a recuperar a opinião pública a tempo de alcançar ainda vitórias que marquem a sua passagem pela Casa Branca, com natural destaque para uma muito aguardada reforma da imigração. O discurso do Estado da Nação, marcado para daqui a duas semanas, é a oportunidade ideal para o fazer. Contudo, um discurso eficiente perante o Congresso não chegará para colocar Obama de novo nas boas graças da opinião pública. Com a reforma do sistema de saúde no centro das atenções, os democratas se podem dar ao luxo de ignorar o tópico. Assim, Obama e os membros do seu partido começam agora a fazer um novo pressing, tentando "vender" a sua mais importante vitória legislativa aos norte-americanos. Para serem bem sucedidos, é essencial que os problemas com o site do Obamacare sejam totalmente resolvidos, pois só assim poderão acalmar as críticas ao programa.
Finalmente, e mesmo que tudo isto seja alcançado por Barack Obama, chegará o mais decisivo dos objectivos para este ano: as eleições intercalares. Apesar de o Presidente não ir a votos nas eleições de Novembro, a verdade é que os seus dois últimos anos enquanto Presidente muito dependerão dos resultados desse momento eleitoral, já que uma vitória republicana em toda a linha, que significasse uma maioria nas duas câmaras do Congresso, teria um efeito devastador para o Presidente.Se, neste momento, quando ainda não é um Lame Duck e ainda conta com uma maioria democrata no Senado, Obama já sente enormes dificuldades em fazer avançar as suas iniciativas legislativas, então, no período final da sua estadia Casa Branca, com o GOP a controlar o Congresso, seria um Presidente isolado e totalmente paralisado.
Por isso, Obama e o Partido Democrata sabem que têm de se agarrar com unhas e dentes ao controlo do Senado, já que a recuperação da maioria na Câmara dos Representantes é algo muito difícil de ser conseguido. Acontece que o cenário é muito complicado para os democratas, que contam com 21 assentos  na câmara alta em jogo, contra apenas 14 do lado republicano. Além disso, muitos dos lugares democratas em jogo estão em perigo de trocarem de mãos, enquanto que os do GOP estão, maioritariamente, mais seguros na coluna vermelha. Desta forma, os democratas terão de jogar principalmente à defesa, defendendo a sua maioria de 55 senadores, sendo certo que perderão pelo menos alguns deles.
Assim sendo, em 2014, Barack Obama terá, simultaneamente, de conseguir voltar a controlar a narrativa política, recuperar a sua popularidade (e do "seu" Obamacare) aos olhos dos eleitores, tentar alguma vitória legislativa e evitar uma derrota eleitoral, empenhando-se no trilho da campanha (onde a sua presença for benéfica, claro) e na angariação de fundos em prol dos candidatos democratas. Será, certamente, um ano duro e trabalhoso para Obama. Falta saber se será também um ano bem sucedido.

quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

O primeiro "gate" de Chris Christie

Até ontem, Chris Christie era um dos políticos mais populares dos Estados Unidos. Reeleito no ano passado com um resultado avassalador, o Governador republicano do Estado de New Jersey era visto como o principal candidato do GOP a conseguir a noemação presidencial em 2016.
Contudo, no dia de ontem, a sua imagem pública foi profundamente abalada por um escândalo que representa o seu primeiro grande contratempo como figura política de relevo. A revelação de uma troca de emails em que um assessor próximo de Christie parece ordenar o fecho de algumas faixas de tráfego numa ponte que serve de importante meio de acesso à cidade de Fort Lee, em New Jersey, reacendeu críticas antigas, ainda que, até agora, pouco fundamentadas, dos democratas do Estado, que acusam o Governador de castigar com longas filas de trânsito as cidades de New Jersey cujos Mayors não apoiaram a sua reeleição.
Nos emails, a Deputy Chief of Staff de Christie, Bridget Kelly, diz a um agente da Polícia Portuária de New Jersey que "é altura para alguns problemas de trânsito em Forte Lee", ao que o oficial responde "entendido". E de, facto, no mês seguinte, os acessos à ponte George Washington foram condicionados por duas vezes. Nesta altura, estava-se nas vésperas das eleições para o Governo Estadual de New Jersey e Chris Christie batia-se por conseguir o maior apoio possível no seio do Partido Democrata. Curiosamente, ou não, o Mayor de Fort Lee, um democrata, não se mostrou disponível para apoiar o Governador em exercício.
A reacção a este caso, já conhecido como bridgegate, está a ser muito prejudicial para Chris Christie e tornou-se ainda mais negativa quando os serviços de emergência médica revelaram que o trânsito caótico gerado pelo encerramento de diversas faixas de rodagem levou ao atraso na resposta a quatro casos de emergência, sendo que em um dos casos a vítima, com 91 anos de idade, acabaria por falecer.
O Governador de New Jersey foi lesto a vir a público condenar as acções do membro do seu staff, ao mesmo tempo que garantiu que tudo foi feito sem o seu conhecimento. Ainda assim, as críticas não desceram de tom e à medida que se vão conhecendo pormenores, é possível que a situação de Christie piore. Nesta fase, ainda é cedo para antever qual o nível dos dados que este gate irá infligir à imagem do republicano mais popular dos Estados Unidos. Seja como for, dificilmente será este contratempo a impedir as ambições presidenciais de Chris Christie. Como bem sabemos, muitos foram os políticas que, após estarem envolvidos em escândalos (vide Bill Clinton ou mesmo Barack Obama), conseguiram chegar, ainda assim, à Casa Branca.