quarta-feira, 31 de outubro de 2012

A batalha pelo Congresso

Em ano de eleições presidenciais é normal que a corrida pela Casa Branca domine os destaques noticiosos e desvie muita da atenção das eleições para o Congresso. Este ano, com a disputa pela Presidência a ser mais renhida do que nunca, o relativo esquecimento das corridas para o Congresso e para cargos  estaduais é ainda mais notória. Assim, aproveitando esta espécie de pausa na campanha presidencial causada pelo Sandy, vale a pena fazer uma breve análise ao estado da corrida pelo Senado e pela Câmara dos Representantes.
Em relação à câmara baixa, já se sabia que, depois dos enormes ganhos do GOP nas eleições intercalares de 2010, em que os republicanos arrebataram a maioria na Câmara dos Representantes, seria muito difícil para os democratas, em apenas dois anos, estarem em posição de conseguir inverter a situação e voltarem a dominar a House. Para os democratas, a situação ficou ainda mais complicada, após o processo de redistricting que foi dominado, na maioria dos Estados, por legislaturas republicanas (consequência, também, das vitórias do GOP, em 2010) que souberam "trabalhar" o mapa dos congressional districts de forma a maximizar as suas hipóteses em eleições para a Câmara dos Representantes. Não obstante, é expectável que os democratas "roubem" alguns lugares ao Partido Republicano, ainda que esses ganhos não venham a ser suficientes para que Nancy Pelosi volte a ocupar o lugar de Speaker.
No Senado, a situação é muito semelhante. Actualmente, o Partido Democrata conta com uma maioria de 53 senadores, face aos 47 do lado republicano. Até há alguns meses atrás, a perda da maioria por parte dos democratas era um dado praticamente adquirido. Contudo, alguns erros de casting por parte dos eleitores republicanos nas primárias (à semelhança do que sucedeu em 2010) e gaffes monumentais por parte dos próprios candidatos do GOP (Todd Akin, no Missouri, e Richard Mourdock foram os casos mais gritantes, com os seus "estranhos" comentários acerca da questão do aborto em situações de violação). Assim, tudo indica que os democratas serão capazes de manter o controlo da câmara alta, não sendo totalmente impossível que consigam mesmo aumentar a sua maioria. Na minha opinião, o figurino do Senado não deverá sofrer grandes modificações e os democratas deverão ficar, após as eleições, com  uma representação entre os 52 e os 54 senadores.
Em conclusão, percebe-se que as eleições legislativas deste ano não devem trazer grandes novidades no que diz respeito à composição do Congresso norte-americano. Também por isso se entende que, neste ciclo eleitoral, as centenas de corridas por cargos na Câmara dos Representantes e no Senado não estejam a suscitar um grande interesse por parte dos media, que se interessam mais por verdadeiras horse races. Nesse aspecto, a corrida pela Casa Branca deste ano, totalmente em aberto, é imbatível.

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

O Sandy também atinge a campanha eleitoral

Até ver, ainda não houve nenhuma surpresa de Outubro e a campanha eleitoral tem decorrido dentro da normalidade, sempre que nada de muito inesperado altere totalmente a mensagem de qualquer uma das candidaturas à Casa Branca. Contudo, a poucos dias da noite de todas as decisões, o furacão Sandy veio colocar em sobressalto a Costa Leste dos Estados Unidos, com milhões de cidadãos norte-americanos a temerem as consequências de um desastre natural destruidor.
Com populações deslocadas ou abrigadas nas suas casas ou em abrigos comunitários, não existem, naturalmente, condições para a realização de eventos de campanha nas zonas mais afectadas e, com os candidatos a quererem evitar a imagem de festas partidárias ao mesmo tempo que cidadãos americanos estão a passar por dificuldades, serão muito poucas as acções de campanha em outras zonas, como na Florida ou no Midwest.
Assim, podemos esperar, nos próximos dois ou três dias, uma espécie de suspensão da campanha. Para Barack Obama é tempo de regressar à Casa Branca e daí seguir os acontecimentos e tomar as medidas necessárias para responder a eventuais problemas. Já Mitt Romney terá mais dificuldades em "aparecer" durante este período, já que não possui qualquer cargo de governação e se for demasiado interventivo corre o risco de ser acusado de estar a tentar retirar dividendos políticos de uma crise. 
Não se pense, porém, que o Sandy foi uma dádiva para a campanha democrata. É certo que se a Administração Obama não cometer erros na gestão da crise e se o Sandy não provocar danos catastróficos, então o Presidente pode sair bem na fotografia, reforçando o seu papel de Commander-in-Chief. Contudo, caso o furacão provoque estragos de monta e surjam muitas críticas à resposta federal, o mais certo é que o Sandy se torne no último grande evento com que Obama terá de lidar enquanto Presidente dos Estados Unidos. Por isso, até pode muito bem acontecer que o Sandy seja a surpresa de Outubro da corrida de 2012.

sábado, 27 de outubro de 2012

Irá o candidato mais votado perder as eleições?

A dez dias do dia de todas as decisões, a eleição presidencial norte-americana está longe de estar decidida. Nesta altura, reina a incerteza relativamente ao vencedor da disputa pela Casa Branca e nem as dezenas de novas sondagens que saem todos os dias clarificam o estado da corrida. Aliás, as sondagens têm servido para confundir ainda mais quem, como eu, segue atentamente a campanha presidencial dos Estados Unidos.
De um lado, temos a maioria das sondagens nacionais, incluindo as tracking polls mais credenciadas, como as da Gallup ou da Rasmussen, que têm mostrado Mitt Romney com uma vantagem importante, entre os três e os sete pontos percentuais, sobre Barack Obama. Por outro lado, as sondagens nos battleground states indicam que o Presidente continua em melhor posição para vencer em Estados como o Ohio (o mais importante de todos), o Nevada e o Wisconsin, que, juntos, chegariam para Obama garantir a reeleição. Além disso, noutros Estados (Virginia, Colorado, New Hampshire e Florida), Obama continua altamente competitivo e com hipóteses de vitória.
Como explicar esta diferença tão gritante entre as sondagens nacionais e as sondagens estaduais? Bem, na minha opinião, pelo menos parte da explicação reside numa extraordinariamente eficaz campanha democrata nos Estados decisivos, que tem permitido a Obama aguentar-se nesses locais de uma forma que não tem conseguido fazer no resto do país. Se analisarmos todas as sondagens estaduais, e não apenas as que dizem respeito aos battleground states, vemos que o apoio de Obama diminuiu nos Estados marginais em eleições americanas. Dito de outra forma, o candidato democrata deverá perder por mais nos Estados normalmente republicanos e deverá ganhar por menos nos Estados tradicionalmente democratas.
Assim, e com base nestes resultados contraditórios, é totalmente possível que Mitt Romney, mesmo conseguindo um maior número de votos a níve nacional, não seja capaz de derrotar Obama no Colégio Eleitoral. Não seria um cenário inédito na história dos Estados Unidos, pois tal situação já ocorreu por três vezes, a última das quais, em 2000, quando Al Gore, o candidato mais votado, perdeu no Colégio Eleitoral para George W. Bush.
Não seria, a meu ver, a forma ideal de terminar uma campanha eleitoral interessante e bastante renhida, ao mesmo tempo que colocaria, uma vez mais, o sistema eleitoral norte-americano debaixo de fogo, deixando-o vulnerável a alterações que, para um apaixonado das eleições norte-americanas como eu, retirariam emoção e interesse ao processo de escolha do líder político dos Estados Unidos.

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Obama já votou

Barack Obama depositou, ontem, no Illinois, o seu boletim de voto (depositou é uma força de expressão, já que o Presidente votou de forma electrónica) e, ao fazê-lo, tornou-se o primeiro Presidente da história norte-americana a votar antecipadamente. Com esta iniciativa, Obama espera também dar seguimento à estratégia da sua campanha, que tem incentivado os eleitores democratas a votarem antes do tempo. E, segundo as sondagens, esta estratégia democrata está a ser bem sucedida, porque, entre os eleitores que já votaram, Obama parece levar uma significativa vantagem sobre Mitt Romney.

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

As Ohio goes...

... so goes the nation. Esta é uma frase muitas vezes ouvida em vésperas de eleições presidenciais norte-americanas. De facto, o Ohio é, porventura, o principal Estado barómetro quando se trata de escolher o próximo Presidente dos Estados Unidos. Para percebermos o porquê de isso suceder, importa fazermos uma análise à história política e eleitoral do Estado.
O Nordeste do Ohio foi povoado por New England Yankees, ao passo que o Sul do Estado foi ocupado por cidadãos provenientes da Vírginia. Isso resultou numa divisão cultural, social e mesmo política no Estado, levando mesmo a que, durante a Guerra da Secessão, a simpatia da população do Ohio variasse entre um dos lados em disputa, dependendo da zona do Estado em que se estivesse.
O facto de o Estado dividir as suas preferências políticas de forma quase igualitária entre os dois grandes partidos, fez do Ohio um prémio apetecível em eleições nacionais. A década de 1890 inaugurou um período de domínio republicano que durou mais de 30 anos. Apesar de perder as regiões rurais do Estado, a primazia do GOP nas zonas urbanas em crescimento proporcionaram-lhe muitas vitórias durante esse período.
Esse cenário seria alterado com o período de depressão económica dos anos 30 do século XX, altura em que o Ohio se tornou palco de uma acentuada luta de classes, com os sindicatos das maiores indústrias do Estado a conseguirem importantes vitórias sobre os patrões. A partir daí, as zonas de maior implantação dos sindicatos tornaram-se pró-democratas, enquanto que as regiões com menor presença de sindicatos continuaram terreno favorável para o Partido Republicano.
Desde essa altura, o Ohio tem oscilado as suas preferências e, com o seu grande número de votos eleitorais (ainda que tenha vindo a perder peso no colégio eleitoral) é constantemente um dos principais alvos das campanhas presidenciais. Curiosamente, nunca um candidato republicano foi eleito sem ter ganho o Ohio e, desde 1960, nunca o vencedor do Estado perdeu a eleição geral.
Nas eleições presidenciais mais recentes, Bill Clinton e George W. Bush venceram por duas vezes cada um o Ohio, mas sempre por curta margem, o que demonstrava o estatuto de battleground state por excelência do Ohio. Em 2006, porém, o Ohio virou a favor do Partido Democrata, na sequência do fraco crescimento do Estado, mesmo antes da crise económica e financeira, e da insatisfação com a liderança republicana, minada por escândalos e por sucessivos aumentos de impostos, que fizeram do Ohio um dos Estados com mais alta carga fiscal da União.
A eleição presidencial de 2008 veio confirmar o bom momento dos Democratas no Ohio, já que Obama conseguiu uma vitória relativamente folgada no Estado, apesar de este ter sido um dos Estados mais disputados na corrida presidencial. Mas é possível que o desfecho da eleição de há quatro anos no Ohio possa ter tido mais a ver com o demérito dos Republicanos do que com o mérito da campanha democrata, já que a margem entre os dois candidatos é mais explicada por uma drástica redução de votantes no Partido Republicano, do que por uma grande subida no número de votos no Partido Democrata.A corrida presidencial de 2008 também demonstrou que as antigas lealdades políticas do Estado se mantêm actuais, com o Nordeste do Estado a constituir-se ainda como o bastião liberal do Ohio, servindo de contraponto ao restante território, em especial o Sul do Estado, terreno favorável aos conservadores.
Este ano, mais uma vez, o Ohio deverá ser o Estado mais importante da eleição presidencial. Muito provavelmente, o candidato vencedor estará, pelo meio-dia do dia 20 de Janeiro de 2013, a prestar juramento como Presidente dos Estados Unidos. Por isso, até 6 de Novembro, todos os olhos estarão focados no Ohio.

Este texto foi adaptado da minha dissertação de mestrado, intitulada The Battleground States of America, apresentada à Universidade Fernando Pessoa, em Outubro de 2012.

terça-feira, 23 de outubro de 2012

Combate de Blogues 23/10/2012

Nos Estados Unidos, a Terça-feira é, normalmente, sinónimo de eleições. Em Portugal, porém, é dia de Combate de Blogues, versão hangout. Desta vez, eu e o Carlos Manuel castro, do EUA2012, estivemos, juntamente com o Filipe Caetano, a analisar o debate presidencial de ontem e o estado da corrida pela Casa Branca. 

Obama vence último debate

Terminou a época de debates presidenciais nos Estados Unidos, depois de ontem ter decorrido o terceiro e último frente-a-frente entre os dois candidatos à Casa Branca. Na Florida, Barack Obama voltou a sair-se melhor do que o seu adversário e sua vitória no debate, confirmada pela maioria dos analistas e pelas sondagens realizadas, foi provavelmente mais clara do que a do segundo debate (que alguns consideraram ter-se tratado de um empate), mas, ainda assim, não tão evidente como o triunfo de Romney no debate inaugural.
Sentindo-se à vontade na temática da política externa, Obama surgiu confiante e ao ataque, talvez acossado pela melhor momento que a campanha de Romney atravessa. Esteve bem ao nível do conteúdo, demonstrando dominar perfeitamente as matérias em discussão, e também da forma, com algumas tiradas (fruto do trabalho de casa) bem conseguidas, como quando afirmou, referindo-se a uma posição de Romney, que os anos 80 queriam a sua política externa de volta, ou quando deu o exemplo das baionetas e dos cavalos para explicar a necessidade de mudanças na afectação de recursos das forças armadas.
Em sentido contrário, Mitt Romney apostou numa postura serena, praticamente abstraindo-se de atacar ou mesmo de discordar do seu adversário. Aliás, foi notório que as suas posições no campo da política externa pouco ou nada diferiram das de Barack Obama, o que o obrigou a mudar o tema da conversa para a economia, onde Romney poderia ter mais hipóteses de somar pontos no debate. Em suma, o nomeado republicano não esteve desastrado, mas a verdade é que pareceu um pouco ausente do debate, tentando, principalmente, não cometer qualquer grande erro que comprometesse o momentum actual da sua campanha.
Após o debate de ontem, e com duas semanas de campanha até à grande noite eleitoral, é tempo de os candidatos apresentarem os seus argumentos finais. Em relação aos quatro debates, se contabilizarmos apenas as vitórias de um lado e outro, até poderiamos pensar que o saldo final foi um empate ou mesmo uma vitória para os democratas, dado que Romney venceu um debate, Obama outro, enquanto o segundo debate presidencial e o vice-presidencial foram, dependendo do ponto de vista, empates ou vitórias tangenciais democratas. Contudo, o grande momento desta campanha é, sem dúvida, a esmagadora vitória de Romney no primeiro debate, momento esse que foi um verdadeiro game changer na campanha eleitoral. Até aí, Obama era o favorito ao triunfo, mas, a partir desse momento, a corrida transformou-se totalmente, estando, agora, demasiado equilibrada para ser possível antever o vencedor final. Por isso, se tivermos que indicar quem foi o vencedor da época de debates, apenas poderemos apontar um nome: Mitt Romney.

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Debate final

Realiza-se, hoje, na Lynn University, na Florida, o terceiro e último debate entre os candidatos à Presidência dos Estados Unidos. Moderado por Bob Schieffer, jornalista da CBS, este embate será totalmente dedicado à política externa e promete ser bastante importante na definição do vencedor da corrida pela Casa Branca.
À partida, o tema do debate favorece Barack Obama, já que o actual Presidente conseguiu muito crédito nos domínios da política externa com a morte de Osama Bin Laden. Por outro lado, Mitt Romney tem cometido vários erros relacionados com assuntos internacionais, como se viu, por exemplo, com o seu atribulado périplo europeu, ou, no último debate, com a sua fraca resposta relativamente à questão da Líbia.
Salvo qualquer surpresa de última hora, este será o último momento decisivo da campanha, pelo que os dois candidatos deverão apostar forte numa boa prestação, em especial Obama, que precisa a todo o custo de evitar uma vitória de Romney que poderia ser fatal para as suas aspirações a um segundo mandato. Mas Romney também quererá emendar a mão numa temática onde tem vacilado. Se o conseguir, então terá passado em todos os testes necessários para assumir a Presidência e ameaçará, ainda mais, o actual Commander-in-Chief.
Assim, estão reunidas todas as condições para um debate interessante e emocionante. Para quem quiser seguir em directo, Obama e Romney subirão ao palco às duas da manhã, hora portuguesa.

domingo, 21 de outubro de 2012

George McGovern (1922-2012)

Faleceu, hoje, George McGovern, histórico senador pelo Dakota do Sul e um dos mais influentes ideológicos democratas durante os anos 60 e 70 do século XX. Em 1972, foi o candidato presidencial do Partido Democrata, mas não evitou uma pesada derrota inflingida por Richard Nixon. Tinha 90 anos de idade.

Cartoons: reacções aos debates


sexta-feira, 19 de outubro de 2012

O mapa eleitoral


A menos de três semanas da eleições presidenciais, a corrida pela Casa Branca está mais animada e equilibrada do que nunca. Após o primeiro debate, em que Mitt Romney saiu vitorioso, o republicano anulou a vantagem de que Obama vinha a beneficiar nas sondagens e colocou novamente em dúvida o vencedor da disputa. Nas sondagens nacionais, Romney chegou mesmo a ultrapassar o Presidente, ainda que, neste momento, os números estejam muito próximos. Contudo, o vencedor das eleições presidenciais norte-americanas é determinado pelo Colégio Eleitoral e, aí, Obama ainda é o favorito.
Na figura de cima, surge a minha opinião sobre o que é o actual estado da corrida nos 50 Estados norte-americanos. Neste mapa eleitoral, Obama já ultrapassou o número mágico de 270 votos eleitorais necesssários para alcançar um segundo mandato. Actualmente, no que diz respeito aos battleground states Barack leva vantagem nos no Ohio, no Iowa, no Wisconsin e no Nevada, o que é suficiente para sair vencedor na eleição, desde que não haja surpresas na Pennsylvania e no Michigan.
Mitt Romney, por sua vez, parece neste momento levar vantagem na Carolina do Norte (que pode estar já fora do alcance dos democratas) e na Florida, ainda que o destino do sunshine state continue em aberto. O Missouri, a Georgia e o Arizona, que em alguma altura desta campanha chegaram a parecer estar em jogo, estão agora bem encaminhados para se manterem na coluna de Romney.
Finalmente, neste momento, não arrisco prognósticos para o vencedor no Colorado, na Virginia e no New Hampshire, três verdadeiros Estados toss-up, em que as sondagens não indiciam uma liderança clara, ou mesmo tangencial, para qualquer dos candidatos à Presidência. Ainda assim, mesmo que Romney consiga atrair estes três Estados para o seu lado, isso não seria suficiente para, a 6 de Novembro, ser eleito como o próximo Presidente dos Estados Unidos. Por isso, neste momento, ainda que a corrida esteja equilibradíssima, considero que Obama está ligeiramente em melhor posição para se sagrar vencedor e, consequentemente, chegar a um segundo mandato na Casa Branca.

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

O momento "gotcha" do debate

Com uma ajuda da moderadora, a jornalista da CNN, Candy Crowley, Mitt Romney teve aqui aquele que foi o seu pior momento no debate de ontem e que muito contribuiu para que Barack Obama fosse considerado o vencedor da noite.

Obama contra-ataca

Depois de duas semanas terríveis na sequência de uma má prestação no primeiro debate entre os candidatos à Presidência dos Estados Unidos, Barack Obama precisava de uma boa performance no segundo frente-a-frente com Mitt Romney, de modo a estancar a hemorragia que os seus números nas sondagens estavam a sofrer nos últimos dias. E, ontem à noite, foi mesmo isso que Obama fez, alcançando uma vitória sobre o seu adversário, num debate com um formato que lhe assentou como uma luva.
Ainda assim, os primeiros minutos de Obama não foram muito convincentes, mostrando-se algo nervoso e talvez pouco confiante, na sequência da sua fraca prestação anterior. Contudo, com o passar do tempo, o Presidente soltou-se e pareceu à vontade na interacção com os eleitores que estavam na audiência e que iam fazendo perguntas aos candidatos presidenciais. Mostrou ter a lição bem estudada e deixou a postura desinteressada do debate anterior, apresentando-se mais envolvido e motivado neste momento que podia ser decisivo para as suas aspirações a um segundo mandato. Tinha algumas linhas de ataque preparadas para encostar Romney às cordas e, em alguns momentos, conseguiu fazê-lo. Além disso, Obama foi também capaz de defender o seu mandato, ao mesmo tempo que apontava as contradições entre as posições de Mitt Romney durante as primárias e as que agora o republicano defende. No cômputo geral, Obama foi extremamente competente e bateu Romney, ainda que não tenha sido uma vitória tão clara como a do antigo Governador do Massachusetts no primeiro debate.
Apesar de, a meu ver, Romney ter saído derrotado do debate de ontem, a verdade é que não esteve mal. Mostrou uma atitude semelhante à de há duas semanas e também se mostrou capaz de dialogar e interagir com o público, o que constituiu um ponto a seu favor, tendo em conta os problemas de falta de ligação com o cidadão comum que lhe têm sido apontados. Todavia, os pontos que marcou durante o debate foram, de alguma forma, anulados pelo erro táctico que cometeu ao afirmar que Obama nunca denominou os ataques ao consulado norte-americano de Benghazi como um ataque terrorista, algo que Obama fez e que foi mesmo confirmado pela moderadora, Candy Crowley (que, por sinal, esteve muito bem). A reacção da audiência a este momento, aplaudindo o fact checking de Crowley, pareceu destabilizar Romney, que, por momentos, perdeu o fio à meada.
Agora, com esta vitória de Obama, confirmada pelas sondagens realizadas a seguir ao debate, é possível que o candidato democrata recupere algum terreno nas sondagens. Pelo menos, a sua prestação de ontem deverá servir para pausar o momentum de Romney. Mas, se há coisa que ficou provada pelo debate de ontem, foi que os dois candidatos estão à altura do momento e que não será por incompetência ou falta de jeito para debater que qualquer um deles não chegará à Casa Branca. A menos de três semanas da eleição, a corrida promete!

terça-feira, 16 de outubro de 2012

Mais um saudável Combate de Blogues

Após muitos problemas técnicos, lá consegui marcar presença em mais uma versão hangout do Combate de Blogues. Desta vez, os meus colegas de discussão foram o Nuno Gouveia do Era Uma Vez na América e o Carlos Manuel Castro do EUA2012 e o moderador foi, como sempre, o Filipe Caetano. A antevisão do debate de hoje à noite entre Obama e Romney foi o tópico principal, mas também se abordaram questões como a política externa, a matemática eleitoral e a importância do eleitorado hispânico. Mas o melhor é mesmo verem o vídeo.

Um momento decisivo

Realiza-se esta noite, na Hofstra University, em Nova Iorque, o segundo debate entre os candidatos à Presidência dos Estados Unidos. Moderado por Candy Crowley, da CNN, o embate promete ser, pelo menos, muito importante para a determinação desta louca corrida pela Casa Branca.
Se há cerca de duas semanas, Barack Obama parecia imparável rumo a um segundo mandato, agora, após a copiosa derrota que sofreu no primeiro debate televisivo, as coisas parecem estar muito mais complicadas para o actual ocupante da Sala Oval. Nas tracking polls tem surgido constantemente atrás do seu adversário (apesar de noutras sondagens nacionais continuar a surgir à frente de Romney) e mesmo nos battleground states, onde Obama parecia mais forte do que o seu opositor republicano, a corrida está agora too close to call.
Assim, o debate desta noite surge numa altura em que a disputa presidencial está mais renhida do que nunca, podendo mesmo dizer-se que Romney começa a levar alguma vantagem. Obama está, por isso, obrigado a mudar a actual narrativa da campanha e deverá apostar forte neste frente-a-frente para o fazer. Até porque o modelo do debate de logo à noite é-lhe mais favorável, dado que se trata de um formato em town-hall, onde Obama e Romney estarão rodeados de público, que colocará questões e interagirá com os candidatos à Presidência. Desta vez, e ao contrário do debate de Denver, Barack Obama não deverá ter uma prestação tão passiva nem adoptar uma postura tão cinzenta como a do embate anterior. Sabendo que esta é uma altura crucial da campanha, terá de ser mais agressivo e mais envolvido na discussão, de forma fazer recordar aos americanos o Obama que elegeram em 2008 e não o aborrecido Presidente que viram no Colorado, há duas semanas.
Mas, como é óbvio, Romney também terá uma palavra a dizer. Após a sua indiscutível vitória no primeiro debate, não terá, é certo, a mesma vantagem no jogo das expectativas, visto que os americanos e a comunicação social já não estarão à espera de uma vitória relativamente fácil de Obama. Contudo, o candidato republicano está já muito calejado em debates deste nível e tem-se saído sempre bem, especialmente nos momentos decisivos, como quando, na época de primárias, esmagou completamente Newt Gingrich, numa altura em que o antigo Speaker parecia uma ameaça à sua nomeação, ou, mais recentemente, no debate de Denver, onde bateu Obama e melhorou substancialmente as suas hipóteses para a eleição de 6 de Novembro.
São, então, muito altas as expectativas para o embate desta noite, em Nova Iorque. Com uma corrida tão equilibrada, uma vitória num debate pode muito bem ser o facto decisivo para a determinação do vencedor na noite de 6 de Novembro. Barack Obama e Mitt Romney, cientes da importância do momento, darão certamente o seu melhor, na ânsia de vencerem a corrida à Casa Branca. Do outro lado do ecrã, milhões de norte-americanos (mas não só) estarão muito atentos ao seu desempenho.

sábado, 13 de outubro de 2012

Biden vs Ryan

Como não vi em directo o debate entre os candidatos à vice-presidência dos Estados Unidos, apenas hoje me foi possível fazer a análise ao que de mais importante se passou na noite de Quinta-feira. Depois de ver a gravação, pareceu-me que Joe Biden foi o vencedor, ainda que não tenha sido, de maneira nenhuma, um triunfo com a dimensão da vitória de Mitt Romney no primeiro debate entre os nomeados presidenciais.
O debate foi interessante, com substância e entre dois candidatos que mostraram estar à altura do momento. A primeira parte do debate foi dominada pela temática da política externa, onde Joe Biden se sente como peixe na água e esteve, sem surpresas, por cima de Paul Ryan, ainda que este, apesar de não ter grande experiência nesta matéria, não se saiu mal. Nesta secção, o melhor momento do actual Vice-presidente terá sido quando respondeu às críticas lançadas por Ryan relativamente às condições de segurança do Embaixador norte-americano assassinado em Benghazi, lembrando que foi Paul Ryan, enquanto Presidente da Comissão do Orçamento na Câmara dos Representantes a reduzir em 300 milhões de euros os fundos para a segurança das embaixadas dos Estados Unidos.
Se na política externa era Biden o favorito, já nas questões do foro interno, em especial nos temas económicas, esperava-se que Ryan estivesse por cima. E, de facto, o candidato republicano atacou de forma assertiva o registo económico do primeiro mandato da dupla Obama/Biden na Casa Branca. Mas Biden, experiente nestas andanças, reagiu eficazmente e colocou pressão em Ryan para que o congressista do Wisconsin desse mais detalhes sobre a proposta de orçamento republicana. Contudo, Ryan não foi específico e voltou a não dar explicações sobre como uma administração republicana irá ser capaz de descer os impostos sem agravar o défice federal.
A nível de conteúdo, o vencedor foi, e de forma relativamente clara, Joe Biden. Mas, na forma, o Vice-presidente pecou por algumas expressões e comportamentos que demonstraram um certo desdém, se não mesmo desprezo, pelo seu adversário, chegando mesmo a rir-se enquanto Paul Ryan falava. Biden tentou, claramente, cumprir onde Obama falhou, mostrando-se dinâmico, envolvido no debate e agressivo. Por sua vez, Ryan adoptou uma postura tranquila, parecendo apenas irritado por ser repetidamente interrompido por Biden.
No fim de contas, Joe Biden pareceu-me levar a melhor sobre Paul Ryan, o que não deixa de ser natural, já que o antigo Senador do Delaware é um político mais experiente e que, em 2008, teve de passar por inúmeros debates nas primárias presidenciais democratas e por um debate vice-presidencial face a Sarah Palin. Ainda assim, o debate foi equilibrado e muitos analistas consideraram que o resultado final se saldou num empate. Por isso, o debate vice-presidencial não deverá ter grande impacto na corrida pela Casa Branca, que, desde o frente-a-frente de Obama e Romney, está mais renhida do que nunca.

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Combate de blogues - Antevisão do debate entre os vices

Hoje ao final da tarde tive a honra e o prazer de participar num debate de antevisão ao frente-a-frente entre Joe Biden e Paul Ryan, juntamente com o Nuno Gouveia e o José Gomes André, do Era Uma Vez na América, e com moderação do Filipe Caetano. Para quem não viu, fica aqui o vídeo desta saudável e interessante discussão. Agora, venha o debate "a sério".

O debate vice-presidencial

Após o debate da semana passada, o primeiro entre os candidatos à Presidência, hoje é dia de debate entre os running mates de Barack Obama e Mitt Romney. Mais logo, às 2 da madrugada em Portugal, no Kentucky, Joe Biden e Paul Ryan estarão frente-a-frente para esgrimir argumentos, num debate que ganhou uma renovada importância após a péssima prestação de Obama, na semana passada, e que resultou na recolagem de Romney ao Presidente nas sondagens.
O actual Vice-Presidente está, por isso, sob intensa pressão, obrigado a uma boa performance de forma a não permitir ao ticket republicano renovar o seu momentum. Mas Biden é um político muitíssimo experiente e, em 2008, nas primárias presidenciais democratas, mostrou ser muito competente em debates, ganhando, inclusivamente, vários deles (na altura, como ocupava os últimos lugares das sondagens, ninguém prestou muita atenção a isso). Mais tarde, na eleição geral, debateu face a Sarah Palin, mas teve a ingrata tarefa de ter de enfrentar um adversário que tinha, porventura, as mais baixas expectativas de sempre numa corrida presidencial. Ainda assim, Joe Biden saiu-se muito bem e evitou a arrogância ou o paternalismo, posturas que poderiam prejudicar a sua imagem junto dos telespectadores. Biden tem a vantagem de se conseguir mostrar aos eleitores como sendo um deles, adoptando um discurso simples e directo. Contudo, essa frontalidade também lhe traz, por vezes, dissabores, porque, como se sabe, o Veep de Obama é propenso a gaffes que podem comprometer a mensagem que pretende transmitir.
Já Paul Ryan, seguro e constante, é um caso totalmente distinto. Sem qualquer tipo de experiência em debates a este nível, torna-se muito difícil de prever como será a prestação do congressista do Wisconsin. Terá certamente de ser capaz de lidar com um Biden agressivo e que atacará o seu plano fiscal. Nos últimos tempos, Ryan tem sido bastante pressionado pela imprensa para que seja mais específico em relação a um eventual orçamento de uma administração republicana. Todavia, o vice de Romney tem preferido fugir à questão, afirmando que necessita de muito tempo para essa explicação. Esse argumento, porém, não deve resultar esta noite e espera-se algo mais substancial por parte do Presidente da Comissão do Orçamento da Câmara dos Representantes. Outro tema que pode dar que falar é a questão do aborto, novamente em voga depois de Romney ter vindo a público suavizar a sua posição que, de momento, é diferente da do seu running mate que, como católico, é um pro-life convicto.
É, então, com muito expectativa que se aguarda este debate vice-presidencial que poderá resultar no estancamento da hemorragia democrata ou para a piorar, dependendo de como se saírem Joe Biden e Paul Ryan. Por isso, mais logo, milhões de norte-americanos (e não só) estarão em frente às televisões para assistirem a um debate que, ao contrário do que costuma acontecer, pode mesmo ter um impacto decisivo na corrida pela Casa Branca.

Para fazer a antevisão deste debate estarei, a partir das 18:30, numa versão hangout do programa Combate de Blogs da TVI24.

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Corrida empatada

Pois é, a actual disputa pela Casa Branca não pára de nos surpreender. Antes do debate da passada Quarta-feira, Barack Obama parecia bem encaminhado para a reeleição, com as sondagens a mostrarem o candidato democrata na dianteira a nível nacional, mas, principalmente, com uma vantagem aparentemente decisiva em quase todos os battleground states.
Contudo, o resultado do debate televisivo em Denver mudou drasticamente o cenário da corrida. Logo nos primeiros dias seguintes ao frente-a-frente, algumas sondagens começaram a dar a entender que Mitt Romney poderia estar a recuperar terreno face ao Presidente. Inicialmente, esses indicadores poderiam não passar de ruído estatístico, ou um bump natural e decorrente da boa prestação no debate do nomeado republicano. Porém, neste momento, quase uma semana depois do debate, é já possível perceber que a recuperação de Mitt Romney ultrapassa mesmo as melhores expectativas do mais optimista dos republicanos.
As sondagens nacionais mostram agora que a corrida pode muito bem estar empatada. Esse é, aliás, o resultado da última tracking poll da Rasmussen, que mostra os dois candidatos com 48% dos votos. Na Gallup, Obama surge ainda com 5% de avanço em relação ao seu opositor, mas, com esta entidade e alterar, hoje mesmo, a sua amostra (passando de eleitores registados para apenas eleitores prováveis), é bem possível que os próximos números indiquem, também, um empate entre Obama e Romney. Outra sondagem nacional, da Pew Research, é ainda mais negativa para o actual ocupante da Sala Oval, já que aponta agora para uma vantagem de quatro pontos percentuais para o republicano, em grande contraste com a anterior sondagem da mesma empresa, que atribuia a Obama uma liderança com 8% de diferença relativamente a Romney. Com estes dados, a média das sondagens do RealClearPolitics já atribui a Obama uma vantagem de apenas 0,5% (no Pollster, Obama ainda lidera por 2 pontos percentuais).
Também nas sondagens estaduais se assistiu a uma acentuada recuperação de Mitt Romney, ainda que Obama mantenha, na maior parte dos casos, uma ligeira vantagem. Estados como a Florida e a Virginia, onde Obama vinha a solidificar a sua posição, parecem agora totalmente empatados ou mesmo a inclinarem-se novamente para o candidato republicano. Noutros locais, onde Barack Obama tinha lideranças firmes, como no Ohio, no Wisconsin e mesmo na Pennsylvania, voltam agora a estar ao alcance de Mitt Romney. Ou seja, o Colégio Eleitoral, que há uma semana parecia um pesadelo para Romney, volta a estar totalmente em aberto.
É possível que o inevitável contra-ataque democrata sirva para compensar parte das perdas de Obama no pós-debate. Além disso,  dificilmente o debate vice-presidencial de Quinta-feira (assim como os posteriores dois debates entre os "chefes de fila") correrá tão mal aos democratas como o da semana passada. Até porque, agora, o jogo das expectativas está virado do avesso e espera-se que o ticket do GOP volte a derrotar copiosamente o adversário. Ainda assim, é realmente notável a mudança brutal numa corrida que já leva largos meses de duração devido ao impacto de um evento de 90 minutos. Costuma-se dizer que os debates raramente têm grande influência numa campanha eleitoral. Todavia, a manter-se a dinâmica actual, é bem possível que esse mito venha a cair em 2012.

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Desemprego abaixo dos 8%

Depois da sua medíocre prestação no debate da passada Quarta-feira, Barack Obama recebeu hoje uma boa notícia: a taxa de desemprego desceu de 8,1% para 7,8%, baixando, finalmente, da barreira simbólica dos 8%. O número de pessoas sem emprego nos Estados Unidos volta, assim, a níveis do início de 200, mas mantém-se ainda a um nível extremamente elevado e, desde a II Guerra Mundial, nunca um Presidente foi reeleito com a taxa de desemprego acima dos 7,2%, valor que se verificava em 1984, quando Ronald Reagan garantiu o seu segundo mandato.
Não obstante, trata-se de uma excelente notícia para a campanha de Barack Obama que pode utilizar estas novidades para contrabalançar o momento menos positivo que a sua campanha atravessa desde o debate televisivo em que foi copiosamente derrotado por Mitt Romney. A manter-se esta tendência para a diminuição do desemprego, os republicanos vêm o seu maior argumento na campanha eleitoral - a incapacidade da economia americana criar emprego a um ritmo aceitável durante a Administração Obama -  perder parte do seu impacto. Nos próximos dias, será interessante seguir as sondagens que forem sendo divulgadas, para se perceber como é que estes acontecimentos contraditórios, o debate e os números do emprego, se reflectem na intenção de voto dos eleitores americanos.

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Romney vence por KO

Antes do debate, era opinião praticamente generalizada que Mitt Romney precisava de alcançar uma vitória no seu frente a frente com Barack Obama para ser capaz de alterar o rumo da corrida presidencial, que parecia, até ontem, encaminhar-se para a reeleição do actual Presidente.
Na verdade, ontem à noite, Romney não só conseguiu sair vitorioso do debate, como amealhou um triunfo por KO, derrotando Obama sem apelo nem agravo. A diferença entre os dois candidatos à Casa Branca foi de tal ordem que, no rescaldo do debate, a atribuição da vitória ao nomeado republicano foi totalmente consensual e até a própria campanha de Obama admitiu a derrota. À Direita, os conservadores rejubilaram com a actuação de Romney, enquanto que, à Esquerda, os liberais criticaram Obama pela sua medíocre prestação.
Nos dias que antecederam este primeiro debate, a campanha democrata tentou reduzir as expectativas, lembrando que Romney havia já passado por um enorme número de debates durante as primárias republicanas, ao passo que Obama já não era posto à prova desta forma desde 2008. E, de facto, o Presidente pareceu completamente enferrujado e pouco à vontade no debate de ontem. Aliás, um dos seus principais problemas prendeu-se com a atitude com que enfrentou o debate, mostrando-se cansado, com pouca vontade de participar neste momento importante para a sua reeleição e algo condescendente em relação ao seu adversário. A nível de conteúdo, Barack Obama também desiludiu: não atacou alguns pontos sensíveis de Romney, como o comentário dos 47%, e mostrou-se algo defensivo quando viu o seu mandato ser atacado, desviando as culpas para o seu antecessor. Foi, portanto, um Barack Obama irreconhecível que esteve ontem em cima do palco, em Denver. Se quiser ser reeleito, o ainda Presidente tem de dar a volta a esta sua prestação extremamente negativa e melhorar substancialmente nos dois próximos debates.
Por seu turno, Mitt Romney esteve à altura do momento e obteve uma excelente prestação na altura em que mais precisava de o fazer. Nesse aspecto fez lembrar o Romney que, durante as primárias, destroçou Newt Gingrich num debate decisivo, quando o antigo Speaker parecia estar a tornar-se uma real ameaça para a sua nomeação pelo GOP. Confiante e seguro, Mitt Romney pareceu mais "presidencial" do que o próprio ocupante da Casa Branca e manteve, durante todo o debate, um semblante positivo que contrastou com o enfado evidente do seu oponente. Se no que diz respeito à forma esteve bem, também não esteve pior no conteúdo, ainda que não tenha sido verdadeiramente pressionado por Obama. O seu discurso foi mais moderado e centrista do que alguma vez se lhe viu nesta campanha eleitoral, o que mostra que Romney já percebeu que tem de se afastar da ala mais radical do seu partido para ter hipóteses de vencer a eleição.
No final do debate, o vencedor era inquestionável (uma sondagem da CNN mostrou que 67% dos telespectadores atribuiram o triunfo a Romney, enquanto apenas 25% consideraram ter sido Obama a estar melhor). Contudo, o impacto do desfecho do debate na corrida eleitoral é uma incógnita e teremos de estar atentos às sondagens dos próximos dias para percebermos se Romney consegue ou não uma subida nas intenções de voto dos eleitores americanos com base na noite de ontem. Normalmente, os debates não resultam em grandes mexidas nas sondagens, mas o triunfo de Romney sobre Obama foi tão esmagador que é de crer que os números da corrida voltem a apertar e que o equilíbrio volte a imperar nesta disputa pela Presidência dos Estados Unidos.

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

O primeiro debate

Realiza-se hoje à noite (início de madrugada em Portugal), o primeiro dos quatro debates (um deles entre os candidatos vice-presidenciais) da campanha presidencial norte-americana. Na Universidade do Colorado, em Denver, e com moderação de Jim Lehrer, da PBS, os dois candidatos à Casa Branca enfrentam-se, durante hora e meia, num momento que se pode revelar decisivo para a definição do vencedor da corrida presidencial.
Barack Obama teve um mês de Setembro muito positivo e colocou-se numa posição privilegiada para alcançar um novo mandato de quatro anos à frente dos destinos dos Estados Unidos. Parte, por isso, em vantagem para este debate e deverá adoptar uma postura moderada, sem grande agressividade, tentando mostrar-se "presidencial". Foi isso, aliás, que sucedeu nos debates da campanha de 2008, que também ocorreram num momento em que Obama estava na frente das sondagens. Nessas ocasiões, Obama foi um candidato sereno e confiante, que não marcou grandes pontos nos debates, mas também não cometeu erros que lhe pudessem custar o seu estatuto de frontrunner. Há quatro anos, a estratégia de Obama foi vitoriosa já que, apesar de não ter sido brilhante nos debates, demonstrou estar pronto para ocupar a Sala Oval. Agora, o actual Presidente deverá repetir essa fórmula, evitando correr riscos, ao mesmo tempo que tentará utilizar o seu estatuto de Commander-in-Chief para se demarcar do seu opositor, que, afinal, é apenas alguém a concorrer ao seu emprego.
Para Mitt Romney este debate é fundamental. As sondagens têm mostrado que o nomeado republicano está solidamente abaixo de Obama e tem uma importante desvantagem para anular se quiser chegar à Casa Branca. Por isso, tem-se dito que Romney precisa de vencer o debate de hoje para voltar a equilibrar a corrida e que a melhor forma de o fazer é ser agressivo e atacar sem quartel o seu adversário. Contudo, essa táctica é arriscada, porque pode levar os cidadãos norte-americanos, que gostam, a nível pessoal, do seu Presidente, a simpatizarem com Barack Obama. Além disso, Romney é visto, por muitos eleitores, como alguém pouco amigável e com quem não tomariam uma cerveja. Assim sendo, uma postura demasiadamente agressiva por parte do ex-Governador do Massachusetts poderia agravar ainda mais essa sua imagem. Como tal, considero ser mais provável assistirmos a uma postura algo neutra por parte de Romney, tentando mostrar-se conhecedor de todos os dossiers que passam na secretária do Presidente e pronto a assumir a liderança dos Estados Unidos.
Num debate politico, o vencedor é também determinado pelo jogo das expectativas. Antes de cada debate, cada campanha tenta reduzir as expectativas relativas à prestação do seu candidato, de forma a ser mais fácil ao político alcançar um desempenho considerado positivo. Por exemplo, em 2008, esperava-se tão pouco de Sarah Palin que, após ter realizado um desempenho, no máximo, mediano, muitos analistas consideraram que a candidata vice-presidencial republicana havia sido a vencedora do debate frente a Joe Biden. Desta vez, assiste-se, como sempre, a este jogo, com ambas as campanhas a inflaccionarem as capacidades do adversário e a reduzirem as do seu chefe de fila. 
Seja como for, o vencedor da noite só será conhecido após o debate e resta-nos, agora, esperar pelo grande evento que colocará milhões de americanos (mas não só) em frente à televisão. Contudo, e apesar de todo o buzz mediático à volta do frente a frente entre os dois candidatos presidenciais, é bem possível que este evento não venha a ter um grande impacto na corrida pela Casa Branca. Mas isso só saberemos mais tarde. Agora, let the games begin!