segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

A corrida pela Florida

Na passada Sexta-feira, falei das eleições para o Congresso que se realizarão no próximo dia 4 de Novembro. Pelo seu impacto nacional, estas eleições são as que atraem mais atenção e mediatismo, mas não são as únicas a terem lugar nesse dia, já que também irão a votos vários governos estaduais um pouco por todo o território norte-americano. Entre essas eleições estaduais, algumas merecem especial destaque, como a que decidirá o nome do governador de um dos maiores Estados do país, a Florida.
A corrida do sunshine state é especialmente interessante por marcar o regresso de Charlie Crist um dos mais polémicos políticos da Florida nos últimos anos. Crist foi governador do Estado entre 2007 e 2011, na altura como membro do Partido Republicano. Todavia, quando em 2012 concorreu ao Senado, foi desafiado nas primárias pelo carismático Marco Rubio. Com as sondagens a mostrarem uma enorme vantagem para Rubio, Charlie Crist desistiu das primárias, abandonou o Partido Republicano e concorreu na eleição geral como independente. Mas nem assim o antigo Governador conseguiu a eleição para o Senado e Marco Rubio, derrotando copiosamente Crist e o candidato democrata, foi mesmo eleito para a câmara alta do Congresso.
Agora, Charlie Crist volta a tentar a sua sorte, desta vez concorrendo pelo Partido Democrata, em mais um twist político-partidário que está a dar muito que falar. Apesar da polémica desta incessante troca de partidos, Crist parece bem lançado para derrotar o actual ocupante do cargo, o impopular Rick Scott, que será o candidato do GOP. Todas as últimas sondagens mostram Crist na liderança da corrida, com uma vantagem para Scott que varia entre os três e os doze pontos percentuais.
Os números da taxa de popularidade de Rick Scott deixam antever uma reeleição muito complicada para o actual Governador da Florida. Contudo, essa impopularidade deve-se sobretudo a posições que Scott tomou e que desagradaram às classes sociais mais baixas (como, por exemplo, a instituição da obrigatoriedade de testes de drogas para quem recebe subsídios sociais). Ora, esses eleitores têm menor propensão para votar em eleições intercalares, como é o caso das eleições deste ano. Por seu lado, Charlie Crist é um político muito conhecido, relativamente bem visto na Florida e que contará com a excelente máquina democrata no Estado. Contudo, será certamente muito atacado pela sua constante troca de partidos.
A corrida pelo controlo do quarto mais populoso Estado da União (a Florida muito brevemente ultrapassará New York, actualmente em terceiro lugar) promete dar muito que falar e será seguida com atenção pelos possíveis candidatos à Casa Branca, pois trata-se, porventura, do mais importante Estado em eleições presidenciais. Por isso, aqui, no Máquina Política, iremos dar especial atenção à disputa entre Rick Scott e Charlie Crist.

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Os democratas apostam tudo no Senado

A menos de nove meses das eleições intercalares, as atenções começam a virar-se para as várias corridas que terão lugar um pouco por todo o território dos Estados Unidos. Ainda assim, nesta altura, o centro das decisões eleitorais ainda se mantém em Washington, à medida que os diversos candidatos vão angariando os tão necessitados fundos financeiros para as suas campanhas e que as estruturas partidárias vão alinhavando estratégias para alcançar o melhor resultado possível nas eleições do dia 4 de Novembro.
No Partido Democrata, a estratégia escolhida começa a ser evidente: com fundos e recursos limitados, os líderes e estrategas democratas apontam baterias para o Senado, deixando as corridas para a Câmara dos Representantes para segundo plano. Nos últimos tempos, esta táctica tem sido evidente e abertamente discutida em público, com muitos dos maiores financiadores do Partido Democrata a revelarem que a liderança do partido tem solicitado que concentrem as suas doações em eleições para a câmara alta. 
O rumo escolhido pelos democratas parece lógico. Se há um ano atrás, após a derrota republicana no shutdown, parecia possível os democratas estarem na luta pela reconquista da Câmara dos Representantes, agora, com o deterioração da imagem do Presidente Obama, a situação é bem diferente e os democratas têm poucas hipóteses de voltarem a ser a maioria na câmara baixa. De facto, o redesenho dos distritos eleitorais está actualmente tão desequilibrado a favor dos candidatos republicanos que, mesmo que os democratas consigam  uma percentagem total de votos nacionais para a House superior a dois pontos percentuais (como apontam as previsões actuais), isso não será suficiente para o Partido Democrata eleger mais congressistas que o GOP.
Assim, os democratas preferem ir all in nas corridas para o Senado, de modo a aumentarem as suas hipóteses de manter a maioria na câmara alta, já que a derrota nas duas câmaras significaria o fim de facto da presidência Obama, que ficaria sem qualquer possibilidade de interferir na agenda doméstica, ficando relegado para a política externa, quase que como um Secretário de Estado com o Air Force One só para si.
Contudo, nem essa estratégia é garantia de sucesso, já que o cenário em 2014 é muito desfavorável para o Partido Democrata. Dos 36 assentos no Senado em discussão no próximo Outono, 21 deles são actualmente ocupados por democratas, com apenas 15 na posse de republicanos.
Entre os 21 lugares democratas, os lugares em disputa no South Dakota, no Montana e na West Virginia estão muito inclinados para o lado republicano, ao passo que outras seis corridas  (Michigan, Arkansas, Alaska, Iowa, Louisiana e North Carolina) estão actualmente muito equilibradas. Por seu lado, o GOP tem apenas dois lugares em jogo, no Kentucky e na Georgia. Curiosamente, o primeiro corresponde precisamente a Mitch McConnell, o líder da minoria republicana no Senado, que, apesar da sua posição de liderança, é altamente impopular no seu Estado e pode muito bem não conseguir a reeleição.
Ora, como o Partido Democrata conta com 55 senadores face aos 45 republicanos, o GOP necessita de ganhar seis assentos aos democratas para se afirmar como a maioria no Senado. Se segurar os seus dois lugares no Kentucky e na Georgia e se se confirmarem as vitórias republicanas no South Dakota, no Montana e na West Virginia, o Partido Republicano fica a apenas três assentos de conquistar a maioria do Senado, que podem ser alcançada se vencer em três das seis corridas actualmente muito renhidas.
Fica, por isso, demonstrado que a conquista da maioria no Senado pelos republicanos é um cenário possível e que alguns consideram até provável num ano que se espera favorável para os candidatos do GOP. Todavia, é preciso não esquecer que em todos as eleições para o Senado desde 2006 os candidatos democratas à câmara alta do Congresso superaram as expectativas e alcançaram resultados acima do esperado. Será que em 2014 isso voltará a acontecer ou teremos um Congresso totalmente republicano? Teremos de esperar para ver.