sábado, 26 de junho de 2010

We'll be back



O Máquina Política está sem actualizações e novos textos por motivos de férias do maquinista, férias essas que serão aproveitadas para trocar o óleo à máquina e recarregar as baterias. Contudo, já em Julho, o blogue estará de volta, com o volume de posts do costume. Até já!

terça-feira, 22 de junho de 2010

McChristal ataca a administração Obama

Estalou mais uma polémica para a administração Obama, desta vez envolvendo o meio militar. Como se já não bastassem os problemas com a economia, as duas guerras distantes e o desastre ambiental no Golfo do México, Barack Obama vê-se agora a braços com um possível caso de insubordinação de um dos seus mais altos responsáveis militares, uma questão sempre muito sensível.
O general Stanley McChrystal, o comandante das forças da NATO no Afeganistão, em declarações reproduzidas pela revista Rolling Stone, criticou o Presidente (e seu comandante-em-chefe) e outros membros da sua administração, como Joe Biden ou o National Security Adviser Jim Jones. McChristal acusou Obama de não estar preparado para a primeira reunião que teve consigo depois de assumir a presidência e foi ainda mais duro com Jim Jones, chamando-lhe "palhaço". O famoso general já veio a público pedir desculpas pelo sucedido, dizendo que errou e que sente respeito e admiração por Obama e a sua equipa de Segurança Nacional. Contudo, as suas declarações tiveram uma repercussão de tal modo forte que o presidente convocou de imediato McChristal para uma reunião na Casa Branca, onde terá de prestar contas por estas controversas afirmações.

São várias as vozes que já se fazem ouvir, exigindo a demissão do comandante americano no Afeganistão e, ao que parece, nem mesmo os militares irão sair em defesa de McChristal, dado tratar-se de um ataque sem precedentes (pelo menos recentes) de um militar no activo aos seus líderes civis. A má relação de McChristal e de Obama nunca foi segredo, mas esperava-se que o general, respeitando a instituição militar, muito conceituada nos Estados Unidos pela honra, disciplina e rígida cadeia de comando, se abstivesse de criticar abertamente os seus superiores. Assim, depois desta entrevista à Rolling Stone, McChristal pode muito bem ser a próxima pedra a rolar.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

A (im)possibilidade da revogação da reforma da saúde

Depois de um ano em que a reforma do serviço de saúde americano foi o principal tema debatido na sociedade e na política dos Estados Unidos, agora, pouco tempo depois da sua polémica e conturbada aprovação pelo Congresso americano, o assunto parece estar algo esquecido na agenda do Partido Republicano, que, logo após a promulgação da reforma pelo Presidente Barack Obama, prometeu ir lutar pela revogação da legislação.
Esta realidade talvez seja reflexo de uma ligeira melhoria nos índices de aprovação da reforma da saúde, mas mais importante que isso será o facto de os republicanos terem a perfeita noção que a anulação da histórica reforma do sistema de saúde americano será algo muito difícil de ser conseguido. De facto, para o GOP ser capaz de atingir esse seu objectivo seria necessária que se conjugassem uma série de factores: em primeiro lugar, os republicanos precisam de conseguir a maioria nas duas câmaras do Congresso, o que é possível de suceder na Câmara dos Representantes, mas improvável no Senado. Porém, mesmo que tal cenário se concretize, Obama vetaria certamente qualquer tentativa republicana de revogar o seu maior feito legislativo. Assim, os republicanos, além do Congresso, teriam de conseguir mudar o ocupante da Casa Branca em 2012, e, nas eleições desse ano, manter a dupla maioria no Senado e na Câmara dos Representantes.

Depois, também é possível que, com o passar do tempo e com a entrada em vigor das primeiras medidas desta reforma, os cidadãos americanos vejam com melhores olhos as mudanças no seu sistema de saúde. O mesmo se passou com outras marcantes legislações progressivas, como a segurança social, ou o medicare. Mesmo com as sondagens actuais, é preciso ter em conta que uma parte das pessoas que se dizem contrárias a estas mudanças no serviço de saúde fazem-no não por serem contrárias a uma reforma, mas sim por não a considerarem suficientemente progressiva. Por tudo isto, se afigura muito improvável a anulação pelos republicanos desta legislação que marcou, até agora, o primeiro mandato de Obama. Desta forma, percebe-se que os republicanos não estejam muito interessados em fazer deste tema um dos destaques da sua agenda, pois percebem que estariam a fazer uma promessa que, muito provavelmente, não seriam capazes de cumprir.

quinta-feira, 17 de junho de 2010

O ambiente na ordem do dia

Na passada Terça-feira, na véspera da primeira reunião com a direcção da BP, Obama proferiu um discurso, transmitido pela televisão para todos os americanos. O discurso, realizado a partir da Sala Oval, com toda a solenidade e importância que o gabinete oficial do Presidente americano confere, partiu do desastre ambiental no Golfo do México para salientar a importância de uma mudança de comportamentos na sociedade americana em relação à utilização das energias fósseis e para sublinhar a necessidade da criação de uma nova lei energética que o Congresso americano tarda em aprovar.

O objectivo desta comunicação presidencial seria o de aproveitar a excelente capacidade comunicativa de Barack Obama para motivar os americanos a apoiarem a busca por energias alternativas e a exigirem a redução da emissão de gases nefastos à atmosfera terrestre. Numa altura em que as costas americanas são assoladas pela mancha de crude, as questões ambientais estão, mais do que nunca, na ordem do dia. Porém, o discurso de Obama tem sido criticado por todos os analistas, desde os mais liberais até aos mais conservadores, em particular pelo contéudo vago e pouco específico da sua mensagem aos americanos. Apesar das críticas, a verdade é que a nova lei ambiental, que Obama e os democratas perseguem, pode receber um importante empurrão depois do desastre do Deepwater Horizon, apesar de o cenário não parecer muito favorável para os apoiantes desta legislação, pois o acordo por uma reforma bipartidária patrocinada pelo democrata John Kerry, pelo independente Joe Lieberman e pelo republicano Lindsay Graham, continua muito distante de ser alcançado.

A questão ambiental é mais uma entre muitas matérias fracturantes nos Estados Unidos. Enquanto os democratas defendem a necessidade de se encontrarem alternativas às fontes energéticas convencionais, a maioria dos republicanos entende que a melhor solução é a aposta na exploração petrolífera, tanto em terra como no mar, posição que ainda ontem foi novamente defendida por Sarah Palin. É preciso ainda ter em conta que, nas terras do Tio Sam, este assunto é visto também como uma matéria de segurança nacional, visto que a dependência energética americana de uma região tão instável como a do Médio Oriente, pode, no futuro, trazer consequências diplomáticas e militares.

Ao contrário do que acontece na Europa, na América o tema não é consensual. Apesar do que sucedeu no Golfo do México, uma maioria dos americanos continua a favorecer a exploração petrolífera marítima. Além disso, a percentagem de pessoas que não acreditam no fenómeno do aquecimento global é bastante considerável. Agora que o tema ambiental promete dominar os próximos debates políticos na América, iremos ver se esta discussão irá ter consequências na posição dos norte-americanos em relação ao ambiente. Afinal, como os EUA são o segundo maior emissor de CO2 do mundo, este assunto interessa-nos a todos.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Podem os democratas apoiar Crist?


Desde que Charlie Crist, o actual Governador da Florida, anunciou a sua decisão de concorrer ao Senado americano como candidato independente tudo indicava que, na eleição de Novembro, os eleitores do sunshine state tivessem pela frente uma decisão entre três candidatos: o próprio Crist, o republicano Marco Rubio e o democrata Kendrick Meek.

Meek, um congressista afro-americano, apoiado pelo establishment democrata, parecia o inevitável nomeado pelo partido de Obama, mas, agora, surgiu um novo nome pela corrida à nomeação democrata, o bilionário Jeff Greene que pode intrometer-se nesta luta. Se Meek for mesmo o candidato oficial na eleição geral, o Partido Democrata ver-se-á obrigado a colocar atrás de si toda a estrutura partidária, mesmo que o congressista tenha minúsculas hipóteses de ganhar (as sondagens colocam-no muito longe de Rubio e Crist). Contudo, uma vitória nas primárias de Greene, que não tem qualquer passado no partido, proporcionaria um cenário bem diferente, com muitos dos principais democratas da Florida e do país a poderem sentir-se tentados a apoiar Charlie Crist que, coincidência ou não, até tem realizado, desde que deixou o GOP, uma curiosa viragem à Esquerda.

Um hipotético apoio democrata a Charlie Crist seria a escolha do mal menor, tendo em conta que Rubio, vencendo a eleição, representaria, certamente, um voto bem mais conservador do que Crist. Assim, a pergunta que encabeça este post é colocada cada vez mais frequentemente nos Estados Unidos. Porém, a resposta é ainda uma incógnita e terá de esperar, muito provavelmente, pelo resultado das primárias democratas de Agosto. Mas uma coisa parece certa: o apoio a Charlie Crist é a única possibilidade de o Partido Democrata conseguir uma vitória na Florida.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Daniels vs Huckabee: a antecâmara de 2012

A luta pela nomeação presidencial do Partido Republicano ainda não começou (pelo menos oficialmente), mas já há cisões entre dois potenciais candidatos a destronar Barack Obama da Casa Branca: Mike Huckabee e Mitch Daniels.
Huckabee, antigo governador do Arkansas e o candidato presidencial republicano que, em 2008, mais tempo resistiu à caminhada triunfal de John McCain, tem sabido manter-se debaixo dos holofotes mediáticos, com vista, talvez, a uma nova corrida presidencial em 2012. Já Mitch Daniels é um dos dark horses com melhores hipóteses de se intrometer com sucesso na luta pela nomeação do GOP, pois é um republicano moderado a nível social, com boas credenciais nas matérias económicas, com experiência executiva e que apresenta excelentes índices de popularidade no seu Estado.

Os dois proeminentes republicanos mantiveram uma relação pacífica até à semana passada, quando Daniels apontou a necessidade de o próximo presidente declarar tréguas em relação à discussão em torno de assuntos sociais, para dar prioridade às questões económicas. Porém, Huckabbe, um dos baluartes do conservadorismo social, veio publicamente discordar desta posição do seu colega de partido, catalogando Daniels como um dos republicanos que vêem os eleitores que priveligiam os valores tradicionais como sendo "single-minded".

Esta discórdia antecipa o debate entre duas facções do GOP que irão estar frente a frente nas primárias de 2012. De um lado, a ala mais conservadora, que poderá apresentar candidatos como o próprio Huckabee ou Sarah Palin, e que darão especial atenção e destaque aos assuntos sociais, como o aborto, os valores familiares ou o combate ao crime . Do outro lado, a ala mais moderada, de onde poderão sair concorrentes como Mitt Romney, Tim Pawlenty ou Daniels, e que prefirão abordar os problemas económicos que o país atravessa ou o aumento do tamanho e do peso do governo federal liderado por Obama.

Apesar de as primárias republicanas terem como alvo primordial o eleitorado mais conservador, o que, aparentemente, favorece os candidatos mais à Direita no espectro político, a história diz-nos que os eleitores do GOP costumam ser bastante pragmáticos no momento de escolherem o seu nomeado. Assim, no actual clima político e económico, parece-me que o segundo grupo terá bastantes mais hipóteses de conseguir pôr em perigo um segundo mandato do actual presidente.

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Mensagem de Hillary Clinton para Portugal

Ontem, 10 de Junho, foi Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas e o Departamento de Estado americano, pela pessoa da Secretária de Estado Hillary Clinton, enviou uma mensagem ao povo português. Aqui fica:
On behalf of President Obama and the people of the United States, I congratulate the people of Portugal as you celebrate your National Day on June 10. The United States and Portugal have long enjoyed a vibrant partnership rooted in shared values, mutual interests, and common history. On this occasion, we celebrate the enduring friendship between our two countries.

From the age of exploration and discovery, to Portugal’s early recognition of a young United States, to the continued cultural contributions of Americans of Portuguese ancestry, Portugal has helped shaped the United States. Today, our nations continue to bridge the Atlantic as partners and allies. As a valued member of NATO and the Community of Democracies, Portugal provides leadership on a range of vital global challenges and common concerns. The United States appreciates Portugal’s support of the ISAF mission in Afghanistan, assistance in the resettlement of Guantanamo detainees, and efforts to combat climate change, among its many other contributions.

On this Portugal Day, I wish Portuguese people everywhere the very best, and look forward to our continued collaboration to advance the cause of peace, security, and prosperity in the 21st century.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

O centro responde; os democratas sorriem

Sucedem-se as primárias para as eleições intercalares de Novembro e ontem foi uma das noites mais importantes do ano nessa matéria. Foram a votos 12 Estados da União, mas, aqui, irei destacar apenas três, onde tiveram lugar as corridas mais importantes: o Arkansas, o Nevada e, claro, a Califórnia.
No Arkansas disputava-se a segunda volta das primárias democratas para o Senado, onde a senadora Blanche Lincoln tinha a forte e perigosa oposição de Bill Halter, o Lieutenant Governor do Estado, apoiado pela ala mais liberal do Partido Democrata e pelos sempre influentes sindicatos. Apesar das últimas sondagens atribuírem o favoritismo a Halter, Lincoln conseguiu a vitória nesta disputada contenda eleitoral. Para isso, muito deve agradecer ao filho pródigo do Arkansas, Bill Clinton, que, como a grande maioria do establishment democrata (Obama incluído) apoiou a ainda senadora. Porém, na eleição geral, Blanche Lincoln terá uma dificílima tarefa para bater o candidato republicano, o congressista John Boozman, que surge em todos os estudos de opinião com uma tremenda vantagem.

No Nevada, o líder da maioria democrata no Senado, Harry Reid, tem, também, uma dura batalha pela frente para conseguir a reeleição. Contudo, ontem, a sua tarefa poderá ter ficado mais acessível, fruto da vitória de Sharron Angle, a candidata apoiada pelo Tea Party, nas primárias do Partido Republicano e que as sondagens indicam ser uma concorrente mais frágil frente a Reid do que os republicanos que ontem derrotou. Mas, ontem, também outro Reid teve motivos para sorrir: Rory, filho de Harry, conseguiu a nomeação democrata para disputar a eleição para Governador do Nevada, podendo, assim, estar na forja mais uma dinastia política nos Estados Unidos, depois de outras como a Bush, a Clinton, a Biden ou a Paul.

Para o fim fica o maior Estado americano, a Califórnia. Aqui, o destaque vai para o GOP e para as vitórias de duas mulheres nas primárias para o Senado e para o cargo de Governador estadual. No primeiro caso, Carly Fiorina, ex-CEO da HP, venceu facilmente a sua oposição e disputará, em Novembro próximo, um lugar no Senado americano com a sua oponente democrata, Barbara Boxer, há 17 anos em Washington. Já na disputa pela mansão do Governador, actualmente ocupada por Arnold Schwarzenegger, Meg Whitman venceu a sua primária e enfrentará o democrata Jerry Brown, antigo governador da golden state. Em ambos os casos, os democratas são os favoritos, mas, no clima actual, estas duas corridas estão mais abertas do que seria expectável, visto que a Califórnia é um dos Estados americanos mais liberais.

A cada primária que passa fica mais definido o cenário para as importantes eleições de 2 de Novembro. Em certa medida, especialmente pela vitória da Lincoln no Arkansas, a ronda eleitoral de ontem marca a reacção dos candidatos moderados e apoiados pelo establishment partidário face aos anteriores triunfos dos políticos mais outsiders, como Joe Sestak na Pennsylvania. Mas, por outro lado, os resultados na Califórnia e no Nevada foram "simpáticos" para os democratas, tendo em conta a vitória, nas primárias do GOP, de candidatos que poderão estar mais facilmente ao alcance dos concorrentes pelo partido de Obama.

terça-feira, 8 de junho de 2010

O grande teste de Obama


A poucos dias de completar um ano e meio na Casa Branca, Barack Obama já teve, neste curto espaço de tempo, vários desafios à sua capacidade de liderar a maior potência mundial. Uma crise económica, duas guerras longínquas, a reforma da saúde e duas nomeações para o Supremo Tribunal, entre outras situações, fazem deste início de mandato um dos mais activos e atribulados da história presidencial americana. Porém, o desastre ambiental do Golfo do México parece querer assumir-se como o maior teste a Obama e à sua presidência.

Obama é um presidente sem experiência executiva - o seu passado político foi apenas em órgãos legislativos: no Senado do Illinois e no Senado americano - o que não tem sido habitual, visto que os norte-americanos têm eleito, nas últimas décadas, políticos que tenham passado por cargos executivos, como a vice-presidência ou governos estaduais. Dessa forma, a sua actuação em crises como a do derrame de crude no Golfo do México é ainda mais atentamente seguida e dissecada ao pormenor pelos media e pelos cidadãos americanos.

A resposta da sua administração à tragédia ambiental em curso começou por ser pouco visível, pelo menos aos olhos da população. Nestas situações, o público precisa de ver o seu presidente em acção para ter a certeza que o líder da nação está empenhado e decidido a resolver o problema. Foi essa a grande falha de Obama, nos primeiros dias da crise. Quando se percebeu do seu erro, mudou de estratégia e apareceu mais envolvido e mais activo na situação. Dirigiu-se por três vezes à costa americana afectada pela mancha de crude, criticou furiosamente a BP, responsável pela plataforma que provocou o derrame e reconheceu falhas federais na fiscalização.

Crises como estas podem acabar com uma presidência, como o provam acontecimentos do passado: Jimmy Carter "queimou-se" de tal maneira com a crise dos reféns no Irão que não conseguiu a reeleição para um segundo mandato; mais recentemente, na sequência da resposta federal à tragédia do Katrina, George W. Bush viu a sua presidência praticamente terminar, perdendo o pouco capital político que ainda tinha e entregando, um ano depois, o Congresso aos democratas. A propósito, uma sondagem recente, indicou que os americanos estão ainda mais insatisfeitos com a resposta do governo federal a esta crise do que à do Katrina, o que representa mais uma má notícia para Obama.

Assim, o presidente americano terá de se esforçar por alterar a narrativa e passar a sua própria mensagem aos americanos. Se conseguir, poderá sair desta situação delicada contendo os danos e mantendo a imagem de um presidente capaz. Caso contrário, poderá ter neste derrame de crude o seu Katrina ou os seus reféns do Irão.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

A reforma forçada de Helen Thomas

A questão israelita está na ordem do dia em todo o mundo e nos Estados Unidos já há, inclusive, uma baixa decorrente de todo o aparato que o tema tem merecido, na sequência do ataque de Israel ao navio turco que se dirigia para Gaza. Depois de ter prestado declarações polémicas sobre Israel, a jornalista Helen Thomas demitiu-se da Hearst Newspapers e passou à reforma.
Helen Thomas, a poucos meses de celebrar o seu 90º aniversário, é uma das grandes figuras do jornalismo americano e era há 50 anos correspondente na Casa Branca, cobrindo todos os presidentes americanos desde John Kennedy. A mais veterana de todos os correspondentes da Casa Branca, era conhecida como uma repórter "dura" para os presidentes e os press secretaries, mas gozava de um grande respeito entre os seus colegas e entre o staff presidencial.

Contudo, a sua prestigiada e longa carreira terminou abruptamente, após ter prestado declarações que caíram muito mal no meio político americano. A 27 de Maio, à saída de um evento judaico da Casa Branca, Helen Thomas, quando questionada sobre Israel, respondeu, como se pode ver e ouvir aqui, que os israelitas deviam sair da Palestina e regressar às suas casas, na Polónia e na Alemanha. Estes comentários, apesar de rapidamente retractados pela própria, foram duramente criticados por todos os quadrantes, inclusive pela Casa Branca, e levaram à demissão da histórica jornalista que, assim, passa à reforma e termina da pior maneira a sua notável carreira jornalística, durante a qual conheceu e escreveu sobre os últimos dez presidentes dos Estados Unidos.

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Sugestão: América em 30 segundos

A blogosfera portuguesa tem mais um espaço dedicado, em exclusivo, à política norte-americana. Trata-se do blogue América em 30 segundos, da autoria de Vega9000. O sítio tem a particularidade de abordar um dos temas mais interessantes e singulares da política que se faz nos Estados Unidos: os anúncios televisivos.

Ao contrário do que acontece por cá, onde os tempos de antenas destinados a anúncios e propaganda política são enfadonhos, cinzentos e praticamente irrelevantes para as decisões eleitorais, no gigante do lado de lá do Atlântico os anúncios televisivos são uma das armas políticas mais letais e decisivas e, dessa forma, a sua concepção e utilização são pensadas ao pormenor pelas campanhas. Actualmente, com a expansão da Internet e de fenómenos como o Youtube ou o Facebook, a propagação destes vídeos é ainda maior, o que faz com que tenham ainda mais impacto. Assim, um anúncio original, com uma ideia central bem definida e que seja bem explanada no curto tempo de duração do vídeo, pode tornar-se um êxito instântaneo e ajudar à eleição do político em causa.

Veja-se, por exemplo, o anúncio da campanha de Hillary Clinton, em 2008, que pretendia salientar a experiência da antiga Primeira-dama, face à juventude e pouca preparação de Obama. O vídeo, apesar de não ter alterado o vencedor da corrida, teve um grande sucesso e deu um novo alento à candidatura de Hillary.

Aconselho, por isso, a visita atenta a este novo espaço, onde os vídeos são bem escolhidos, alternando entre uns com grande impacto político e outros que, pelo seu conteúdo, se tornam uma sátira à própria sociedade americana. Bons cliques!

Depois de Sestak, Romanoff

Veio a lume uma nova polémica que envolve a Casa Branca e um candidato democrata ao Senado, num cenário com moldes muito semelhantes ao que sucedeu com Sestak. Trata-se de mais um caso em que a administração Obama tentou seduzir um candidato que desafiava um sitting senator democrata nas primárias do partido. Desta vez, o envolvido é Andrew Romanoff que concorre contra Michal Bennet, actual senador pelo Colorado. Romanoff divulgou ontem um e-mail, datado de Setembro de 2009, que lhe foi enviado por Joe Messina, um proeminente membro do staff de Obama, onde este lhe falava em três possíveis cargos na administração em troca da sua desistência da intenção de se candidatar contra Bennet. Entretanto, a Casa Branca, na figura do press secretary, Robert Gibbs, já confirmou este contacto, afirmando que Messina tentou evitar uma disputa entre dois apoiantes de Obama.

É natural que a liderança democrata queira garantir que, em Novembro, o seu partido apresente os candidatos mais fortes e com mais possibilidades de derrotarem os republicanos. Além disso, este tipo de casos não é novidade nem é exclusivo do Partido Democrata. O problema para Obama e para os democratas é que o acumular deste género de polémicas marca uma narrativa tremendamente negativa e contrária à grande mensagem da campanha presidencial de 2008: a mudança e a ruptura com a politics as usual de Washignton. Ainda para mais, a mesmo estrutura de apoio a Obama, que nas campanhas vitoriosas contra McCain e Hillary provaram a sua extraordinária competência, parecem, agora, na Casa Branca, incapazes de controlar este tipo de situações. Obama necessita, e com urgência, de, como dizem os americanos, get it together.

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Blago volta a atacar

O democrata Rod Blagojevich foi Governador do Illinois de 2003 a 2009 e, apesar ser um dos governadores menos populares dos Estados Unidos, aspirava a grandes feitos e chegou mesmo a pensar numa candidatura presidencial. Contudo, em 2008, caiu definitivamente em desgraça, após ser indiciado por vários crimes de fraude e corrupção.

O caso mais mediático remonta a 2008, após a vitória de Barack Obama nas presidenciais, o que fez com que o lugar do antigo senador ficasse livre. Como cabe ao governador do Estado em questão nomear o seu substituto, Blago, como é conhecido, terá tentado "vender" essa nomeação a Vallerie Jarret, uma das pessoas mais próximas de Obama, em troca de um cargo no Cabinet de Obama, mais precisamente, o de Secretary of Health and Human Services.

Agora, quando se aproxima o julgamento, Blago não se fez rogado e intimou algumas das maiores figuras do Partido Democrata que podem, assim, ser chamadas a testemunhar neste processo que promete ser atentamente seguido pelos media americanos. Entre essa lista de políticos de nomeada notificados a depor pelo antigo governador do Illinois, encontram-se Rahm Emanuel, o Chief of Staff de Obama, a própria Vallerie Jarret, Harry Reid, o líder democrata no Senado, e o senador pelo Illinois, Dick Durbin.

Blagojevich, ao implicar tantas e tão grandes figuras do Partido Democrata neste processo, prestará um péssimo serviço à sua antiga família política. A última coisa de que Obama e os democratas necessitam, numa altura em que se vêem envolvidos em tantas frentes de batalha, é de verem os nomes de alguns dos seus principais líderes envolvidos numa questão deste género, que mais não fará que relembrar aos americanos as dirty politics de Washington, ou, neste caso, de Chicago.

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Obama vive tempos difíceis

Os últimos dias não têm sido propriamente os mais positivos para a administração Obama, que se vê a braços com diversas crises de diferentes características, desde as políticas, até às militares, passando pelas ambientais e pelas estatísticas.

O desastre ambiental no Golfo do México continua a fazer correr muito crude, mas também muita tinta, com a resposta do governo federal a ser alvo de várias críticas. Porém, a administração Obama parece já ter percebido que este tema pode trazer sérias repercussões para a imagem do presidente e, agora, a sua postura em relação à mancha de crude, originada pelo acidente na plataforma petrolífera da BP, tornou-se bem mais enérgica e com maior visibilidade.

Também o caso Joe Sestak continua a dar que falar e a embaraçar a Casa Branca. A divulgação de ter sido Bill Clinton a oferecer um cargo na administração ao congressista da Pennsylvania, em troca da sua desistência na corrida frente a Arlen Specter, e de esse mesmo cargo ser não remunerado, arrefeceu um pouco os ânimos, mas, mesmo assim, não afastou completamente a polémica e a imagem de um comportamento menos ético por parte da liderança democrata.

Na Segunda-feira, surgiu uma crise internacional que trouxe mais uma preocupação para a Casa Branca de Obama e para o Departamento de Estado de Hillary. O ataque israelita a um navio de ajuda humanitária que procurava aceder a Gaza provocou ainda mais complicações nas já conturbadas relações entre os EUA e Israel, provocando o cancelamento de um encontro entre Obama e Netanyahu. Além disso, existem também repercussões internas deste incidente, pois os americanos dividem-se entre o apoio ao seu aliado histórico e a necessidade de condenar a acção israelita.

Todos estes problemas e situações menos positivas para a administração Obama reflectem-se nos números das sondagens, que mostram uma tendência para a descida na taxa de aprovação do trabalho de Obama e, mais importante ainda, uma substancial vantagem do GOP nas intenções de voto para as intercalares de Novembro. Até lá, ainda muito pode acontecer, mas a verdade é que o cenário não parece muito risonho para o presidente americano e para os democratas.