quarta-feira, 28 de agosto de 2013

O sonho de Martin Luther King


Martin Luther King ficou para sempre como o rosto mais visível do movimento pelos direitos civis dos afro-americanos. Contudo, a primeira acção simbólica com verdadeiro impacto foi praticada por Rosa Parks, em 1955. Nesse ano, a 1 de Dezembro, na cidade de Montgomery, no Alabama, Rosa Parks, uma mulher afro-americana, recusou ceder o seu lugar no autocarro a um passageiro branco, sendo detida, julgada e condenada por desobediência e conduta desordeira. O seu gesto chamou a atenção de vários líderes da comunidade negra que fundaram o movimento Montgomery Bus Boycott, apelando a uma reforma que acabasse com a segregação nos transportes públicos. Falhado este objectivo, partiram para um boicote aos autocarros públicos de Montgomery, protesto que durou quase um ano e reduziu em 80% a utilização dos transportes da cidade e que só terminou quando um tribunal federal ordenou o fim da segregação nos autocarros. Com a sua atitude, Rosa Parks ficou conhecida como a mãe do Movimento dos Direitos Civis.
Um dos líderes do boicote de Montgomery transformou-se no rosto mais visível e mais iconográfico do Movimento dos Direitos Civis: Martin Luther King, um doutorado em Teologia e pastor protestante que, inspirado no activismo pacífico de desobediência civil de Ghandi, se tornou um dos mais proeminentes líderes da comunidade afro-americana, vencendo, em 1964, o Prémio Nobel da Paz.
O Movimento dos Direitos Civis ganhou dimensão nacional e, sempre baseado no método de desobediência civil, realizou diversos protestos e manifestações para chamar a atenção para a grave descriminação de que as minorias étnicas eram alvo na América – não só negros, mas também latinos, nativos, asiáticos, etc. – e para pressionar o governo federal a agir para acabar com esta situação.
Importa referir alguns deles, pela sua dimensão e importância. Em 1962, um jovem estudante negro, James Meredith, viu os tribunais federais darem-lhe razão e deliberaram o seu livre acesso à Universidade do Mississipi. Porém, o Governador do Estado, um fervoroso segregacionista impediu a entrada de Meredith no campus universitário. Só após novo recurso de Meredith para os tribunais federais e com uma escolta de US Marshalls é que o estudante conseguiu ter acesso à universidade. Isto despoletou uma furiosa reacção de estudantes e civis brancos que se envolveram em graves confrontos com os agentes federais, de que resultaram dois mortos e cerca de 188 feridos, 28 dos quais polícias. No dia seguinte, o Presidente Kennedy foi obrigado a enviar forças do exército para permitir a permanência de Meredith na universidade e manter a calma na cidade.
Há precisamente 50 anos,  a 28 de Agosto 1963, cerca de 250 mil pessoas, brancos e negros, reuniram-se na capital, Washington, para se manifestarem a favor dos Direitos Civis para todos os cidadãos americanos. Foi nessa ocasião que Martin Luther King proferiu o seu célebre discurso “I Have a Dream”, que entraria na história como um dos mais importantes e brilhantes discursos de todos os tempos. Apelando a uma sociedade mais igualitária e justa, Dr. King lançou as raízes para a viragem da opinião pública em relação à luta pelos direitos civis da comunidade afro-americana. E fê-lo em frente ao Memorial Lincoln, precisamente o presidente que libertou os escravos.
E foi outro presidente, cem anos depois do tempo de Abraham Lincoln, que colocaria, finalmente, em marcha uma legislação que garantiria, definitivamente o fim da segregação e da discriminação racial, pelo menos ao nível de organismos e agentes públicos. No ano seguinte, o Presidente Lyndon Johnson assinaria a Civil Rights Act colocando um ponto final na discriminação e segregação racial até aí ainda praticada por alguns Estados norte-americanos. Estava alcançada a grande vitória da vida de Dr. King. Vida essa que seria interrompida bruscamente quatro anos depois, em Memphis, por uma bala assassina. Contudo, Martin Luther King já havia garantido o seu lugar na história. Por isso, hoje, nesta data simbólica, o mundo volta a recordar o seu nome e, acima de tudo, a sua obra.