segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Maioria democrata no Senado em perigo

A pouco mais de um mês das eleições intercalares de 4 de Novembro, as atenções políticas nos Estados Unidos estão principalmente dirigidas para a disputa pelo Senado. Com a Câmara dos Representantes bem segura nas mão dos republicanos, é, acima de tudo, o destino da câmara alta do Congresso que está em jogo na noite eleitoral. E, segundo as recentes sondagens, o Partido Republicano vai bem lançado para retirar a maioria no Senado aos democratas.
Para chegarem aos 51 assentos necessários para se tornarem a nova maioria na câmara alta, o GOP precisa de ganhar seis lugares ao Partido Democrata, que conta, actualmente, com 55 senadores no seu caucus. A crer nas sondagens, os republicanos são favoritos a vencer na West Virginia, no Arkansas, no Montana, no South Dakota, no Alaska e no Louisiana. Só com estas seis corridas o Partido Republicano já chegaria à maioria. 
Contudo, os democratas ambicionam ainda "roubar" um assento ao GOP. E logo num Estado onde os republicanos dominam há já várias décadas: o Kansas. Acontece, porém, que o candidato que ameaça destronar o actual ocupante do cargo, o republicano Pat Roberts, não é um democrata, mas sim um independente. Greg Orman, um ex-democrata, é um empresário de sucesso e a sua entrada na corrida foi de tal forma bem sucedida que os democratas retiraram o seu candidato, cientes de que Orman era a sua única possibilidade de derrotar o Senador Roberts. Neste momento, o concorrente independente é um ligeiro favorito a alcançar a vitória e, nesse caso, o mais provável é que, uma vez no Senado, se juntasse aos democratas. 
Assim sendo, teríamos um Senado empatado, com 50 republicanos e 50 democratas. Todavia, em caso de empate nas votações do Senado, o voto decisivo cabe ao Vice-Presidente e isso significa que, pelo menos até Janeiro de 2017, um empate no Senado favorece os democratas.
Mas calma, porque ainda não falei de dois dos três Estados que, juntamente com o Kansas, decidirão o controlo do Senado nas próximas eleições. No Colorado e no Iowa, os democratas defendem dois assentos que estão claramente em perigo para a eleição de 4 de Novembro. No Colorado, a corrida está praticamente empatada, mas, nos últimos dias, o candidato republicano, Cory Gardner, até parece levar uma ligeira vantagem em relação ao seu opositor, o senador democrata Mark Udall. No Iowa, as notícias são ainda menos animadoras para o partido de Obama. Isto porque uma sondagem do geralmente certeiro Des Moines Register colocou a candidata do GOP, Joni Ernst, seis pontos percentuais à frente do democrata Bruce Braley.
Com base neste cenário, percebemos que apenas uma perfeita conjugação de resultados permitirá ao Partido Democrata manter a sua maioria no Senado. Ou seja, precisa de contrariar as sondagens mais recentes e manter os assentos no Iowa e no Colorado do seu lado, impedir surpresas noutros Estados em que a vantagem democrata não é tão significativa quanto isso (New Hampshire, Michigan e North Carolina), ajudar o independente Orman a vencer no Kansas e depois convencê-lo a ajuntar-se ao caucus democrata no Senado.
Não parece uma tarefa nada fácil, especialmente num ano em que, ao contrário do que aconteceu em 2010 e 2012, os candidatos republicanos têm-se mostrado mais impermeáveis aos erros e às gaffes. Mas não deixa de ser verdade que, nos últimos ciclos eleitorais, os democratas têm superado as expectativas e conseguido segurar o controlo do Senado. A 4 de Novembro, tiraremos todas as dúvidas.

sexta-feira, 12 de setembro de 2014

Agenda em dia

Depois de umas merecidas férias, o Máquina Política está de regresso. Durante o período de descanso, muito se passou do lado de lá do Atlântico. Mas vamos por partes:

EUA atacam o ISIS - Depois de dois jornalistas norte-americanos terem sido decapitados pelo Islamic State in Iraq and Syria (ISIS), Barack Obama decidiu agir e, num discurso transmitido em directo pelas principais cadeias dos Estados Unidos, anunciou o seu plano para combater o ISIS, grupo radical que controla já grande parte do Iraque e da Síria. O Presidente informou os cidadãos norte-americanos que os ataques aéreos da Força Aérea dos Estados Unidos já em vigor no território iraquiano serão alargados a regiões da Síria ocupadas pelo ISIS. Além disso, Obama anunciou ainda que colocará mais conselheiros militares norte-americanos no terreno e que aumentará o apoio financeiro e militar às autoridades iraquianas e curdas que combatem o Estado Islâmico. Contudo, Barack Obama frisou que o conjunto de acções agora implementado não contempla o envio de tropas combatentes norte-americanas.
Estas novas medidas são a resposta de Obama ao choque sentido pela opinião pública dos Estados Unidos após a divulgação dos vídeos das decapitações dois dois jornalistas. Contudo, o 44º Presidente norte-americano está numa situação muito delicada, pois sempre defendeu a retirada do Iraque e, agora, está, de facto, a regressar àquele território para uma nova guerra de desgaste sem um fim à vista. Na verdade, este pode ter sido um momento decisivo para o legado de Obama que chegou ao poder como aquele que acabaria com o fim da presença norte-americana no Médio Oriente, mas que pode, como o seu antecessor, deixar a Casa Branca com um conflito em aberto e que terá de ser resolvido pelo seu sucessor.

Eleições intercalares - A menos de dois meses das eleições intercalares, as notícias não podiam ser piores para os democratas. Com uma maioria na Câmara dos Representantes a ser uma mera possibilidade matemática, está também cada vez mais complicada a tarefa do partido de Obama para manter a maioria no Senado. Se as eleições fossem hoje,  segundo tanto Nate Silver como Larry Sabato, o mais provável é que o GOP alcançasse o controlo da câmara alta do Congresso, relegando os democratas para a oposição. 
Nesse caso, o mais provável é que os dois últimos anos do mandato presidencial de Obama fossem praticamente irrelevantes no sector legislativo, dado que sem apoio do Congresso, será praticamente impossível para um presidente relativamente impopular conseguir amealhar apoios para qualquer peça legislativa de relevo (como, por exemplo, a reforma da imigração).

Corrida presidencial - Do lado democrata, não há novidades. Hillary Clinton continua a ser a presumível nomeada democrata e a antiga Primeira-Dama regressará, este Domingo, ao Iowa, o primeiro Estado a ir a votos nas primárias presidenciais. Esta será a primeira vez que Hillary se desloca ao Hawkeye State desde que, em Janeiro de 2008, foi surpreendentemente derrotada por Barack Obama (e também por John Edwards). Tudo indica que a ex-Secretária de Estado entrará mesmo na corrida, isto apesar de ter anunciado esta semana que apenas tomará uma decisão no início do próximo ano. Com todos os outros democratas de peso (que não são assim tantos como isso) a colocarem-se de fora das contas presidenciais para 2016 devido à presença de Clinton, o Partido Democrata não receberia nada bem uma decisão negativa da sua grande estrela quanto à sua candidatura à Casa Branca.
Do lado republicano, o destaque vai para Ted Cruz e para Rand Paul. O primeiro continua a dar mais indicações quanto à sua candidatura presidencial, com o seu chefe de gabinete a deixar esse cargo para assumir maiores responsabilidades políticas (leia-se, eleitorais). Todavia, o Senador pelo Texas foi também notícia pela negativa: numa gala organizada por um grupo de cristãos do Médio Oriente, Cruz abandonou o palco onde discursava, após as suas declarações vincadamente pró-Israel terem sido recebidas pela audiência com fortes vaias. Já em relação ao segundo é praticamente certo que será um candidato presidencial e as suas constantes presenças no New Hampshire, o primeiro Estado a realizar primárias indiciam que o Granite State será o centro da sua estratégia. Ora, tal facto não é surpreendente ou não fosse o eleitorado republicano do New Hampshire um dos mais favoráveis a candidaturas de candidatos com raízes libertárias, como se comprova pelo excelente resultado obtido, em 2012, por Ron Paul (pai de Rand), com 23% dos votos, apenas atrás do vencedor, Mitt Romney.