sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

2010 em revista

2010 foi um ano histórico, no que diz respeito à política norte-americana. Foram 365 dias repletos de pontos de interesse, emoções, derrotas e vitórias, tanto para democratas como republicanos. Agora, no último dia do ano, é altura de fazermos um pequeno balanço de tudo o que de mais importante se passou no panorama político dos Estados Unidas da América.
Para o Presidente Obama, 2010 ficará na memória como um ano agridoce. No que diz respeito a realizações legislativas, os últimos doze meses foram-lhe muito prolíferos. A reforma do sistema de saúde é um highlight óbvio, mas também a reforma financeira, o fim do "Don't Ask, Don't Tell", a assinatura e ratificação do novo tratado START, a nomeação de Elena Kagan para o Supremo Tribunal, entre várias outras, fazem deste ano um dos mais conseguidos a nível legislativo da história presidencial americana. Contudo, os índices de aprovação do trabalho do Presidente mantiveram-se, durante todo o ano, em terreno negativo, sendo Obama prejudicado pela impopular reforma de saúde que conseguiu que o Congresso aprovasse, pelo clima de conflituosidade partidária que imperou em Washington, pelo desastre ambiental no Golfo no México, mas, principalmente, pela tímida recuperação económica do país.
2010 foi também o ano do renascimento do Partido Republicano. Depois das enormes derrotas sofridas pelo GOP em 2006 e 2008, muitos previram que os republicanos estavam condenados à irrelevância política. Porém, logo no início do ano, a chocante vitória de Scott Brown no Massachusetts, um dos mais liberais Estados americanos, veio provar que esses vaticínios estavam errados. No fim do ano, as eleições intercalares trouxeram uma vitória republicana de grandes proporções: o ganho de mais de 60 assentos na Câmara dos Representantes permitiu a John Boehner substituir Nancy Pelosi como Speaker; no Senado, a conquista de seis lugares pelos republicanos praticamente impede que os democratas consigam alcançar uma maioria à prova de fillibuster em qualquer votação decisiva, obrigando-os a procurar um compromisso com a minoria republicana na câmara alta; por fim, nas eleições para os governos estaduais, o GOP "roubou" importantes Estados aos democratas, como o Ohio, ou a Pennsylvania, o Michigan ou o Iowa, o que mais que compensou a vitória democrata na Califórnia.
Para esta onda vitoriosa do Partido Republicano contribuiu, e muito, a ascensão de um novo movimento sociopolítico  nos Estados Unidos. Recuperando o nome do Tea Party de Boston, há quase 240 atrás, o movimento conservador que nasceu da contestação ao plano de estímulos à economia e à reforma da saúde de Barack Obama conseguiu, este ano, um destaque e uma importância que foi fundamental para os bons resultados eleitorais do GOP em Novembro, ao animar e mobilizar as bases conservadoras do partido. Todavia, o Tea Party foi também responsável por algumas escolhas duvidosas de candidatos nas primárias republicanas, o que impediu que a dimensão da vitória do Partido Republicano tivesse sido ainda maior.
2010 foi um ano em grande para os seguidores da política que se faz do outro lado do Atlântico, mas, agora, é tempo de nos despedirmos do ano velho e darmos as boas vindas a 2011, que promete também ser um ano bastante interessante. Durante os próximos 365 dias, assistiremos ao início da corrida pela nomeação presidencial republicana, à forma como Obama lidará com uma Câmara dos Representantes controlada pela oposição e a muitas, muitas outras situações que certamente surgirão. Mas, por agora, a ocasião é de celebração. Por isso, boas entradas e um fantástico 2011!

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Lame Duck?

Nos Estados Unidos, quando um político se aproxima do final do seu último mandato, perdendo, dessa forma, influência política, é geralmente apelidado de lame duck. Essa designação é também atribuída ao Congresso, quando este está em sessão depois de se terem realizado eleições e de já ser conhecido o futuro elenco desse órgão. Nesse caso, a actividade do Congresso costuma ser bastante reduzida, não havendo, por norma, lugar para grandes feitos legislativos. Porém, desta vez, as coisas desenrolaram-se de uma forma bastante diferente.
Tudo começou com a aprovação do acordo fiscal bipartidário, uma iniciativa em que Obama apostou muito, mas que, pelos vistos, lhe permitiu retirar elevados dividendos. Depois disso, foram-se seguindo as realizações, com especial destaque para a revogação do "Don't Ask, Don't Tell", uma promessa da campanha eleitoral de 2008 e uma peça legislativa de grande simbolismo para a comunidade homossexual americana. 
Na recta final da sessão do Congresso, antes de os seus membros partirem para as férias natalícias, o Presidente Obama e os democratas conseguiram ainda cumprir um dos seus principais objectivos: a ratificação do New START, o acordo de desarmamento nuclear assinado pelos Estados Unidos e Rússia, em Abril deste ano. Apesar de alguns senadores do GOP terem tentado impedir que fosse ainda este elenco do Senado a votar o tratado nuclear, a sua ratificação acabou por ser feita com um score de 71 votos a favor e 26 contra, bem acima da marca dos 2/3 de votos "sim" necessários para a aprovação.
Durante este período, os democratas apenas não foram capazes de fazer aprovar o DREAM Act, mas Obama já prometeu que, em 2011, a reforma da imigração estará novamente na sua agenda política. Ainda assim, o simples facto de o Partido Democrata ter conseguido levado o DREAM Act a votação é já uma prova da sua capacidade legislativa durante os últimos tempos. Assim, razão parece ter tido o Senador Joe Lieberman quando disse que este Congresso não foi um pato (duck) lame, mas antes saudável e que se fartou de correr.

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

O mais republicano dos democratas no Senado

Uma das mais difíceis vitórias democratas nas últimas eleições intercalares foi a de Joe Manchin, na altura Governador da West Virginia, na disputa por um assento no Senado por esse mesmo Estado norte-americano. Contudo, e como previ na altura, a presença de Manchin na câmara alta do Congresso dos Estados Unidos tem sido pouco proveitosa para o Partido Democrata, já que, até agora, o mais recente senador da West Virginia tem votado sempre em oposição às posições defendidas pelo partido pelo qual foi eleito.
Mais peculiar ainda foi a atitude tomada por Joe Manchin no Sábado passado, ao não comparecer às votações relativas ao "Don't Ask, Don't Tell" e do DREAM Act, tendo alegado que estava num encontro familiar com os seus netos agendado há mais de um ano. Ao dar esta original justificação, Manchin não deixou de referir que o seu voto seria negativo em ambas as propostas, já que se opõe à revogação da política que impede os homossexuais assumidos de servir nas Forças Armadas americanas e à reforma da imigração. Mais uma vez, estas posições de Manhcin são contrárias à plataforma política democrata e, no caso do DADT, caso tivesse marcado presença, o antigo Governador da West Virginia seria mesmo o único democrata a votar "Nay".
Mas Joe Manchin é um caso especial no Senado, já que como foi eleito numa eleição especial devido à morte do anterior detentor do lugar - Robert Byrd - verá o seu lugar estar novamente em jogo já em 2012. Dessa forma, o senador democrata não se pode dar ao luxo de desligar o "modo campanha". E, num estado profundamente conservador e onde o Presidente Obama é altamente impopular, Manchin tem votado ao lado dos republicanos, porque essa poderá ser a melhor forma de  se distanciar da liderança do seu partido e, consequentemente, de defender o seu lugar daqui a dois anos.

domingo, 19 de dezembro de 2010

DADT e DREAM Act KO

O Senado norte-americano, mesmo que em período lame duck, continua muito activo. Ontem, um Sábado, a câmara alta do Congresso votou duas importantes propostas, tendo cada uma recebido um destino diferente: foi aprovada a revogação da política "Don't Ask, Don't Tell" (DADT) e chumbada a reforma da imigração, conhecida como DREAM Act.
A passagem do DADT, a legislação com 17 anos de idade que proibia o acesso dos gays e lésbicas assumidos como tal às Forças Armadas americanas, representou uma surpreendente vitória para Barack Obama e o Partido Democrata, que contaram com o voto favorável de oito  senadores republicanos (um número inesperadamente elevado). Termina, assim, apesar desta revogação ir ainda demorar alguns meses a entrar em vigor, a discriminação dos homossexuais no acesso ao meio militar nos Estados Unidos, com as organizações de defesa dos direitos dos homossexuais a comemorarem um dia histórico para o seu movimento.
Menos sorte tiveram os activistas pela reforma da imigração, já que, também no Senado, o DREAM Act foi rejeitado. Esta proposta, que criaria um caminho rumo à cidadania americana para os imigrantes ilegais que tivessem sido levados para os EUA ainda crianças e que estivessem dispostos a ir para uma universidade americana ou a servir nas Forças Armadas, foi chumbada pela câmara alta, depois de ter passado na Câmara dos Representantes. A liderança democrata ainda conseguiu atrair três votos do GOP, mas o voto contra de cinco senadores democratas (Blue Dogs) impediu a aprovação do DREAM Act.
Estas duas votações serão, na minha opinião, importantes mais-valias políticas para o Partido Democrata num futuro próximo, já que estimularão e atrairão o voto de dois grupos do eleitorado muito relevantes, como são os homossexuais e os hispânicos. Em particular no caso dos eleitores latinos, o GOP continua a escolher um caminho muito sinuoso, já que alienação deste grupo eleitoral em franco crescimento pode ditar a derrota republicana em muitas eleições, com as presidenciais a serem uma delas.
Apesar de a actual sessão do Congresso estar prestes a terminar, com os novos elencos das duas câmaras a assumirem funções já no próximo mês, a liderança democrata tem sido capaz de criar condições para discutir e votar muitas e importantes medidas. Após as votações destas duas propostas, a próxima grande prioridade democrata será o New Start, já que, com o novo Congresso, as suas hipóteses de conseguirem aprovar o tratado nuclear com a Rússia diminuirão bastante. Assim sendo, os próximos dias terão de ser seguidos com muita atenção.

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Acordo fiscal aprovado!

O acordo fiscal formado entre o Presidente Barack Obama e a liderança republicana do Congresso foi aprovado, ontem, pela Câmara dos Representantes, depois de já ter passado sem problemas  no Senado (81 votos a favor, contra apenas 19 votos desfavoráveis). Assim sendo, Obama, que deve promulgar o diploma ainda hoje, conseguiu uma importante vitória legislativa, ainda por cima com o selo do bipartidarismo, pouco depois dos péssimos resultados que o seu partido obteve nas eleições intercalares.
Quem não ficou nada agradado com este acordo fiscal (que, recorde-se, prolongou os cortes de impostos da era Bush e estendeu apoios aos desempregados por mais um ano) foi a ala mais liberal do Partido Democrata, que se insurgiu contra a legislação e também contra o seu próprio presidente, criticando-o por ter faltado à sua promessa eleitoral de não prolongar os cortes fiscais para os mais ricos. Apesar de os republicanos mais conservadores também terem contestado o acordo bipartidário, os membros moderados dos dois partidos foram suficientes para garantir a passagem da legislação.
Para Obama, este acordo pode significar o seu ressurgimento político e marcar o início da sua campanha de reeleição. Ao colocar-se como o principal proponente de um compromisso bipartidário altamente popular entre aos americanos, o 44º presidente dos Estados Unidos pode passar a imagem de um líder moderado, ponderado e que procura e alcança compromissos com a oposição, em claro contraste com as facções mais radicais dos dois partidos e cumprindo, finalmente, aquilo que prometeu durante a campanha de 2008. Esse é, certamente, o objectivo de Obama. Porém, se será essa a percepção dos americanos é algo que teremos de esperar para ver.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Yes, he (still) can

Nos últimos tempos, e em especial desde a estrondosa derrota democrata nas eleições intercalares do mês passado, muitas vozes se têm levantado a vaticinar que Barack Obama não será capaz de garantir a reeleição em Novembro de 2012. Contudo, ainda é muito cedo para fazer tais previsões e, além disso, Obama não está assim em tão más condições para disputar as próximas eleições presidenciais.
É verdade que os índices de aprovação do trabalho de Obama desceram para valores negativos em 2010 e aí se têm mantido durante os últimos meses, sem grandes alterações. Porém, as mesmas sondagens indicam que os americanos continuam a gostar de Obama como pessoa, como o provam as suas taxas de favorabilidade, constantemente acima dos 50%. Mais, o meio de um primeiro mandato presidencial é, tradicionalmente, um período complicado para um Chefe de Estado norte-americano. Aliás, se compararmos a taxa de aprovação de Obama na Gallup com as de Ronald Reagan e Bill Clinton em iguais períodos da sua sua presidência, vemos que o 44º presidente dos Estados Unidos até sai a ganhar: 45% contra 41%. E, ainda por cima, Obama tomou as rédeas do seu país no meio da maior crise económica dos últimos 80 anos, o que dificultou (e de que maneira) a sua missão.
Mas, por outro lado, a grave recessão que assola a América e o mundo até pode, pelo menos em parte, ajudar o Presidente a ser reeleito, já que, em tempos difíceis, é possível que os eleitores prefiram apostar na continuidade, mantendo o Barack Obama na Casa Branca por mais quatro anos, ao invés de colocarem uma figura menos conhecida ao leme do país. É um pouco a lógica do ditado que diz: "better the devil you know than the devil you don't". 
Nesse sentido, o leque de potenciais candidatos republicanos também parece dar vantagem a Obama. Quando as sondagens fazem os habituais match-ups com os principais nomes que deverão lutar pela nomeação do GOP, o sitting president surge sucessivamente à frente. Outro aspecto que pode favorecer Obama é a crescente influência dos movimentos Tea Party e da ala mais conservadora republicana nos processos de nomeação do partido, como se viu em variados casos das recentes eleições intercalares. Assim, é bem possível que o nomeado republicano para 2012 seja um político demasiadamente conservador para o eleitor norte-americano médio, ou seja, alguém como Sarah Palin, que Obama venceria sempre com grande facilidade. Da mesma forma, alguns políticos republicanos moderados, e que podem ser mais perigosos para Obama, como Mitt Romney ou Tim Pawlenty, são capazes de ter a vida dificultada para vencerem nas primárias republicanas.
Quero com isto dizer que a derrota de Obama em 2012 não é algo inevitável. Todavia, também não é certo que conseguirá a reeleição. A toldar-nos a visão ainda subsistem muitas dúvidas e questões por resolver, como a situação económica dos Estados Unidos daqui a dois anos, o candidato apresentado pelo Partido Republicano e a estratégia da campanha de Obama, entre muitos outras. Para já, apenas uma certeza: a corrida será apaixonante!

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

TIME Person of the Year: Mark Zuckerberg

Mark Zuckerberg, criador e CEO da famosa rede social Facebook, que conta já com mais de 500 milhões de aderentes em todo o mundo, foi escolhido pela conceituada revista Time como a principal figura de 2010, sucedendo assim ao Presidente da Reserva Federal Americana, Ben Bernanke.  O movimento político Tea Party conquistou o segundo lugar na lista deste ano, enquanto que Julian Assange, criador da Wikileaks ficou com o último lugar do pódio. Depois do lançamento do filme Social Network, baseado na história da sua vida e na criação da rede social mais conhecida do planeta, e que o levou a entrar no clube dos bilionários com apenas 23 anos, este está a ser um ano verdadeiramente em cheio para Zuckerberg.

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

2012 começa a aquecer

A pouco mais de um ano do início das eleições primárias que irão decidir quem será o nomeado republicano para disputar a eleição presidencial com Barack Obama, ainda ninguém anunciou oficialmente a sua candidatura. Contudo,  é já certo e sabido que nomes como Mitt Romney, Tim Pawlenty, ou John Thune irão ser candidatos. Mas, apesar de os lançamentos oficiais das suas candidaturas só deverem surgir lá para o fim do Inverno, parece que a corrida pela nomeação do GOP já teve início.
Com a discussão do acordo entre Barack Obama e os republicanos do Senado sobre os cortes fiscais no centro das atenções, os candidatos a candidatos fazem questão de marcar a sua posição. E uma das posições mais surpreendentes foi a assumida por Mitt Romney, que veio a publico criticar e opor-se a este acordo entre os dois lados (bipartidário até nas críticas provenientes dos dois partidos). Romney, antigo Governador do  liberal Massachusetts e, em tempos, visto como um moderado, parece estar a preparar terreno para as primárias, ao colocar-se bem à Direita, de forma a, quem sabe, defender-se da eventual entrada de Sarah Palin (que também condenou este acordo) na luta pela nomeação. 
Por sua vez, John Thune, Senador do Dakota do Norte e apoiante do tax cut deal, aproveitou o seu assento no Senado para daí criticar, implicitamente, a posição de Mitt Romney relativamente a esta questão, lembrando que aqueles que se opõem a este acordo, então são favoráveis a um aumento de impostos. Com esta táctica, Thune tenta colocar Romney (e Palin) numa posição desconfortável face ao eleitorado conservador, sempre avesso a subidas de impostos. 
Estas escaramuças iniciais podem servir para dar alguns sneak peaks daquilo que será a contenda pela nomeação republicana. Pode parecer que ainda estamos muito longe de 2012, mas a verdade é que as hostilidades podem ser abertas a qualquer momento. Veja-se, por exemplo, que foi hoje marcado para 7 de Junho o primeiro debate das primárias republicanas. Não falta assim tanto tempo quanto isso.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

A 1a Família acende a Árvore de Natal nacional

Na capital dos Estados Unidos, há tempo para outras coisas que não a política. Ontem, a família Obama acendeu a árvore de Natal nacional, num momento descontraído e longe das polémicas do dia-a-dia do presidente norte-americano.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Um dia agitado no Congresso

Apesar de o actual elenco do Congresso americano estar a nos seus últimos dias de vida, já que no próximo ano entra em funções o figurino que resultou das eleições intercalares de Novembro passado, a verdade é que no Capitólio a actividade tem sido mais que muita, com vários e importantes temas a merecerem a atenção e o debate dos legisladores americanos.
Hoje mesmo, o líder da maioria democrata no Senado, Harry Reid, agendou uma votação relativa ao fim da política "Don't Ask, Don't Tell", (DADT) que veda o acesso às Forças Armadas americanas aos aspirantes que assumam ser homossexuais. Contudo, a revogação do DADT falhou, já que, tendo Reid marcado a votação antes de ter chegado a um acordo final com os senadores republicanos dispostos a votar a favor da medida, o resultado final ficou aquém dos 60 votos necessários para a aprovação do diploma. 
Noutro tema e noutra câmara do Congresso, os democratas tiveram mais sorte, já que o DREAM act, o projecto de lei que prevê a obtenção da cidadania americana para os imigrantes ilegais dispostos a frequentar a universidade ou a servir nas forças armadas, foi aprovado pela Câmara dos Representantes. A votação seguiu, em grande parte, as linhas partidárias, mas 38 democratas votaram contra, enquanto que 8 republicanos mostraram-se favoráveis ao diploma. Agora, o DREAM act passa para o Senado, que terá também de se pronunciar sobre esta legislação.
De volta ao Senado, hoje foi também votado um pacote legislativo que, a ser aprovado, providenciaria assistência médica aos voluntários, operários e residentes de Nova Iorque  que ficaram doentes em consequência da inalação de fumos e gases tóxicos provenientes do Ground Zero, depois da queda das Torres Gémeas. Mais uma vez, a votação foi em consonância com as fileiras partidárias, com os democratas a votarem a favor e os republicanos, que têm levantado dúvidas relativamente à forma como seriam pagos os 7,4 biliões de dólares que custariam esta proposta, a oporem-se e, consequentemente, a impedirem a sua aprovação.
Enquanto isso, o badalado acordo fiscal entre Barack Obama e os republicanos continua a dar muito que falar, já que ambos os lados da barricada estão a colocar muitos entraves a este compromisso bipartidário. Mas as críticas mais ferozes vêm mesmo do lado democrata, em especial dos congressistas do Partido Democrata que ameaçam não aprovar a proposta que o seu presidente defende. Esta posição de força dos liberais não significa a morte do acordo, mas poderá obrigar a que Obama e a liderança republicana no Senado sejam obrigados a fazer algumas alterações no compromisso que alcançaram.
Todos estes casos deixam bem claro que a política de Washington está cada vez mais polarizada e entrincheirada na rígida doutrina ideológica e partidária, sobrando assim pouco espaço para a moderação e o entendimento entre democratas e republicanos. Assim, numa altura em que os republicanos estão perto de assumirem o controlo da Câmara dos Representantes, mantendo-se o Senado e a Casa Branca nas mãos dos democratas, esta situação pode tornar os Estados Unidos um país ingovernável, ou, pelo menos, impedir que alguma política ou programa de relevo sejam realizados nos próximos dois anos.

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Primeiras previsões para 2012

Numa altura em que ainda se analisam as eleições intercalares deste ano, começam já a surgir as primeiras previsões para 2012. Como seria de esperar, as presidenciais têm merecido a grande maioria das atenções, mas, hoje, o conceituado site The Cook Political Report lançou os primeiros indicadores para as outras corridas que terão lugar daqui a dois anos, para o Senado, Câmara dos Representantes e Governadores estaduais.
Apesar de ser ainda muito cedo e de faltarem alguns dados para a análise ser mais conclusiva, em especial conhecer a decisão de muitos políticos que estão a ponderar a reforma e os resultados do processo de redistricting, este ponto da situação que é feito por Charlie Cook permite retirar as primeiras ilações daquilo que poderão ser as eleições de 2012, onde os republicanos terão de defender muitos lugares conquistados em 2010 na Câmara dos Representantes, enquanto que no Senado a grande maioria dos assentos em jogo pertencem a democratas.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Obama procura consenso fiscal

Uma das ideias principais da campanha presidencial de Barack Obama foi relativa aos cortes fiscais de George W. Bush que expiram no fim deste ano. Enquanto candidato à Casa Branca, Obama prometeu manter esses cortes para aqueles que ganhassem menos de 250 mil dólares por ano, ou seja, para a classe média, mas não os renovar para quem estivesse acima desse escalão de rendimentos. 
Contudo, o actual panorama político americano, depois da derrota eleitoral do mês passado e a consequente perda do controlo da Câmara dos Representantes, pode obrigá-lo a ceder nesse intento, indo de encontro aos desejos republicanos, que defendem que os cortes fiscais devem ser prolongados para todos os americanos. Nos últimos tempos, chegou a ser ventilado que o acordo poderia passar pela subida do escalão que veria os seus tax breaks terminarem, passando dos 250 mil que Obama propunha, para o patamar de 500 mil dólares, ou mesmo um milhão. Contudo, segundo as informações que começam a passar para o exterior, o mais provável é que a totalidade dos cortes de impostos sejam renovados, com os republicanos a permitirem que surjam mais subsídios e apoios para os desempregados, numa altura em que o desemprego teima em não diminuir nos Estados Unidos.

Obama será certamente muito criticado pela Esquerda do seu partido, que não ficará nada agradada com esta cedência do seu Presidente. E, de facto, parece-me que este processo não foi muito bem conduzido pela Casa Branca, que desde há muito tempo deu a entender que não teria capital político para contrariar os republicanos. A meu ver, os democratas perderam aqui uma oportunidade de se baterem mais afincadamente com o GOP e de salientarem as contradições da oposição que, ao mesmo tempo que exige a redução do défice federal, defende a redução de impostos para os mais ricos. Além disso, a opção defendida por Obama, de manter os cortes de impostos para a classe média, mas deixá-los expirar para os mais abastados, é a preferida pelos cidadãos americanos, como indicam estas sondagens.

Por outro lado, esta semi-derrota democrata, pode permitir um pequeno desanuviamento das relações entre os dois partidos, levando a que Obama consiga fazer passar outros elementos do seu programa no Congress, como o tratado START, ou o fim do "Don't Ask, Don't Tell". Depois da pesada derrota nas intercalares, Obama prometeu esforçar-se por trabalhar e cooperar com a oposição, e este parece ser o primeiro passo nesse sentido, demonstrando que também é capaz de ser reconciliador, ponderado e bipartidário. O que, convenhamos, quando as eleições de 2012 estão aí à porta, são qualidades que o ajudarão, e muito, com o eleitorado.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Obama faz visita surpresa ao Afeganistão

O presidente norte-americano, Barack Obama, aterrou hoje, de surpresa, no Afeganistão, mais precisamente na base aérea de Bagram, a cerca de 60 quilómetros de Cabul. A recebê-lo estavam as duas mais altas autoridades militares e civis dos Estados Unidos no país, o General David Petraeus e o Embaixador Karl Eikenberry. Obama deve permanecer apenas cerca de três horas em território afegão, já que a deslocação prevista até à capital do país, onde se encontraria com o presidente do Afeganistão, Hamid Karzai, foi cancelada por razões meteorológicas. Assim sendo, o Commander-in-Chief terá de permanecer na base área, onde aproveitará a oportunidade para visitar e condecorar os feridos que se encontram  no hospital de campanha aí sediado. Além disso, Obama e Karzai falarão por teleconferência, impossibilitados que estão de se encontrarem pessoalmente.
Esta visita do presidente norte-americano terá vários motivações. Em primeiro lugar, o líder supremo das forças armadas cumpre o seu dever de apoiar os milhares de soldados americanos que terão de passar mais um Natal longe de casa e das suas famílias. Depois,  convém a Barack Obama ter um contacto mais próximo com a realidade no terreno,  num momento determinante para o futuro da presença americana no Afeganistão, já que os EUA estão a fazer a revisão da sua estratégia para este conflito, com o propósito de, em Julho de 2011, iniciarem o projecto de transferência de poder para os afegãos. Por fim, as recentes e polémicas revelações atiraram ainda mais achas para a fogueira no que diz respeito à relação (já de si tensa) entre Hamid Karzai e os americanos, o que poderá ter levado Obama a querer reunir-se pessoalmente o chefe de Estado afegão.
Pela segunda vez este ano, Barack Obama visita o Afeganistão, numa prova do empenho do presidente americano naquela que sempre considerou ser a guerra onde os Estados Unidos deviam concentrar os seus esforços e atenções. Desde que chegou ao poder, já por duas vezes Obama reforçou o contingente militar norte-americano no Afeganistão. Contudo, nem o aumento dos meios humanos, nem o comando de Petraeus, o mestre das surges, têm conseguido melhorar substancialmente a situação das forças americanas e da NATO no país. Por isso, não admira que na recente cimeira da NATO, em Lisboa, os americanos e os aliados tenham (timidamente) começado a preparar o terreno para a saída deste longo conflito que se arrasta há já nove anos, mas sem fim à vista.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

A prova de fogo de Hillary

A vida de Hillary Clinton à frente do Departamento de Estado estava a ser, até agora, bastante fácil, até demasiado fácil, diriam alguns. Como líder da diplomacia norte-americana a antiga Primeira-Dama parecia ter conseguido um sweet deal: uma posição de grande visibilidade e importância, mas pouco propícia a polémicas e intrigas políticas. E, de facto, isso confirmou-se nos primeiros tempos de Clinton no Departamento de Estado, com os seus índices de favorabilidade a subirem exponencialmente, sendo nesta altura a figura mais popular da Administração Obama.
Contudo, também Hillary teria, em algum momento, de ser posta à prova e experimentar o sabor da controvérsia. E esse ponto parece ter chegado com a divulgação de cerca de 250 mil documentos diplomáticos americanos pela WikiLeaks. Esta colossal fuga de informação, que o Ministro dos Negócios estrangeiros já caracterizou como "o 11 de Setembro da diplomacia", é um enorme embaraço público para o Departamento de Estado norte-americano, que depende, em larga medida, da confiança em canais de comunicação seguros e fiáveis para realizar as suas funções.
A Secretária de Estado norte-americana já denunciou e repugnou a divulgação das comunicações diplomáticas, que, na minha opinião, representa um verdadeiro ataque aos Estados Unidos, como também o foram as anteriores revelações do WikiLeaks, sobre o Afeganistão e o Iraque. Apesar de ser um defensor da liberdade de informação e de imprensa, penso que quando estão em jogo segredos de Estado, as voláteis relações diplomáticas e internacionais, ou mesmo a vida de seres humanos, revelações como estas são irresponsáveis, negligentes e, no fundo, criminosas.
Mas isso não desculpa o falhanço total do Departamento de Estado e da intelligence americana em evitar esta fuga de informação de dimensões nunca vistas. A Secretária de Estado, em particular, não fica nada bem na fotografia e vai ter uma árdua tarefa para restabelecer a imagem  e credibilidade do seu departamento no mundo, pois uma diplomacia que é incapaz de guardar os seus segredos é uma diplomacia ineficaz e inoperante. Mas Hillary Clinton já provou, diversas vezes, que gosta de um bom desafio e até poderá fazer deste contratempo uma oportunidade para provar as suas qualidades. A ver vamos.

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Palin ao ataque

Devido à época de Thanksgiving, a actividade política e mediática nos Estados Unidos tem sido bastante reduzida. Contudo, Sarah Palin continua a ser a excepção à regra, já que se mantém na ordem do dia, provando ser uma força tremenda, que se sobrepõe mesmo a um dos principais feriados norte-americanos. E, apesar da época festiva, a antiga Governadora do Alasca não se inibe de disparar em todas as direcções, entre antigos ou novos inimigos, democratas ou republicanos.
Na sua mensagem de Thanksgiving, divulgada, como habitualmente, na sua página no Facebook, Palin lançou farpas a Barack Obama, dedicando a mensagem aos "57 Estados", numa referência a uma anterior gaffe do Presidente e ponto de partida para as suas críticas aos "lamestream media" que a potencial candidata à presidência acusa de serem parciais na sua cobertura política. Isto porque, segundo ela, a comunicação social amplifica qualquer erro ou deslize seu (como quando, na passada Quarta-feira, se referiu à Coreia do Norte como aliado dos Estados Unidos), enquanto que os enganos dos seus adversários não merecem grande destaque nos media.

Mas se Obama e a comunicação social são alvos tradicionais para Sarah, esta semana trouxe-nos uma novidade, com uma quezília entre a candidata republicana à vice-presidência em 2008 e a ex-Primeira-Dama, Barbara Bush, esposa de George H. W. Bush, o 41º presidente americano. Na Segunda-feira, B. Bush, quando questionada sobre a possibilidade de Palin concorrer à Casa Branca, foi bastante clara,  respondendo que Sarah deveria ficar no Alasca. A Mamma Grizzlie, como era previsível, não deixou de responder à antiga Primeira-Dama, dizendo que aqueles de "sangue azul" (numa clara alusão à quasi-monarquia hereditária da família Bush) querem escolher os vencedores, em vez de permitir a livre competição entre os candidatos.

Esta é uma pequena amostra do que pode ser a candidata presidencial Sarah Palin, à imagem da aguerrida (frequentemente agressiva) running mate de John McCain, que serviu, variadíssimas vezes, de attack dog da campanha republicana de 2008. Para vencer a nomeação republicana e, posteriormente, a presidência, Palin terá de jogar sempre ao ataque, até porque terá poucos aliados, mesmo no interior do Partido Republicano. Assim, uma candidatura da mulher mais famosa da América será sempre a garantia de uma corrida interessante, animada e polémica.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Os perdões de Obama

Amanhã, Quinta-feira, os norte-americanos celebram um dos seus mais célebres e apreciados feriados: o Thanksgiving Day. E, nas vésperas desse dia, cabe ao Presidente dos Estados Unidos uma já tradicional tarefa: perdoar um peru - o animal que serve de ementa principal nas comemorações - que tem a sorte de escapar ao forno. Esse perdão é normalmente acompanhado de um discurso em tom humorístico, que os presidentes costumam aproveitar para mostrar a sua faceta mais descontraída. 
Este é já o segundo peru que Barack Obama perdoa, depois de se ter estreado nessas lides há precisamente um ano. Contudo, curiosamente, o actual presidente americano tem sido criticado por ainda não ter exercido o seu poder de perdão ou comutação de penas judiciais, que é uma das prerrogativas que estão à disposição do líder dos Estados Unidos. Assim, parece que os perus estão a ser favorecidos por Obama em relação aos seres humanos. Mas também é preciso lembrar que os animais foram apenas considerados culpados de um crime: o de serem saborosos.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Palin dita as regras

Tradicionalmente, a temporada das eleições presidenciais norte-americanas têm o seu pontapé de saída no primeiro trimestre do ano anterior ao ano eleitoral. Dessa forma, seria de esperar que dentro de pouco tempo fossem iniciadas as hostilidades, com os primeiros lançamentos oficiais de candidaturas. Contudo, este ciclo eleitoral promete ser bastante diferente, principalmente por causa de um factor: Sarah Palin.
Com o seu reconhecimento nacional praticamente a 100%, o seu programa na Fox News e, agora, o seu reality show, Palin, se desejar mesmo tentar a sua sorte rumo à Casa Branca (e os sinais nesse sentido são cada vez mais intensos), não precisa de lançar uma campanha presidencial "normal", onde teria de cumprir os passos comuns para qualquer outro candidato. Assim, pode esperar até mais tarde para entrar na corrida, porventura mesmo apenas no Outono de 2011, com a certeza que a simples especulação em torno da sua eventual candidatura será suficiente para a deixar na berlinda. E, quando, finalmente, anunciar a sua decisão de disputar a nomeação do GOP, poderá ganhar um momentum tal que a coloque numa posição favorável face aos seus adversários.
De facto, a antiga Governadora do Alasca é muito bem capaz de representar uma espécie de buraco negro no contexto das primárias republicanas, sugando toda a atenção mediática, reduzindo os seus concorrentes a meros also runs, mesmo que, entre eles, se encontrem alguns pesos pesados, como Mitt Romney ou Newt Gingrich. Além disso, os adversários de Sarah Palin serão, muito provavelmente, relegados para uma posição defensiva, obrigados a reagir às acções da running mate de John McCain. E esse fenómeno poderá ser observado logo com o adiamento dos anúncios de candidaturas, com os concorrentes a esperarem para ver o que faz Palin. É, por isso, muito provável que a campanha para as primárias do Partido Republicano comece mais tarde do que seria normal num cenário Palin-free.
Porém, apesar de ser indiscutível que o furacão Sarah Palin será o grande centro de atenção das próximas eleições presidenciais, isso não quer dizer que a Mamma Grizzly seja, inevitavelmente, a nomeada republicana. Se é verdade que as eleições de 2010 trouxeram uma nova grande vaga conservadora, com os Tea Party a serem, em grande parte, responsáveis pela onda de entusiasmo do eleitorado de Direita, também não se pode esquecer que os eleitores americanos rejeitaram muitos dos candidatos mais radicais e que mostraram estar pouco preparados para subir ao grande palco político americano. Além disso, o Partido Republicano tem a tradição de nomear os candidatos mais fortes e melhor posicionados para disputarem a eleição geral, algo que Palin está muito longe de ser. De qualquer forma, uma contenda entre Barack Obama e Sarah Palin seria, sem sombra de dúvidas, uma corrida histórica e electrizante!

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

O primeiro discurso de Obama em Portugal

No Palácio de Belém, onde se encontrou com o Chefe de Estado português, Cavaco Silva, Barack Obama proferiu o seu primeiro discurso em solo nacional, onde reafirmou a forte parceria entre os dois países e agradeceu o esforço das forças armadas portuguesas no Afeganistão. Além do vídeo com os highlights, aqui fica a transcrição, íntegra, do discurso do Presidente dos Estados Unidos.

Thank you for your warm welcome. Thank you to the people of Lisbon and Portugal for welcoming us to this beautiful, ancient city.

It is very fitting that we are gathering here in Lisbon. It was from here that the great explorers set out to discover new worlds. It was here, a gateway of Europe, through which generations of immigrants and travelers have passed and bound our countries together. It was here that Europeans came together to sign the landmark treaty that strengthened their union.
Now we’ve come to Lisbon again to revitalize the NATO alliance for the 21st century and to strengthen the partnership between the United States and the European Union.

Mr. President, I thank you and all the people of Portugal for everything you’ve done to make these summits a success.
Our meeting was also an opportunity to reaffirm the strong partnership between the United States and Portugal. President Cavaco Silva is commander of Portugal’s armed forces, and will be representing Portugal at the NATO Summit.

We pledged to continue the excellent cooperation between our militaries, especially Lajes Field in the Azores, which provides critical support to American and NATO forces in Iraq and Afghanistan.

I expressed my gratitude to the Portuguese armed forces who are serving alongside us in Afghanistan. And here in Lisbon, I look forward to working with our NATO and our ISAF partners as we move towards a new phase, a transition to Afghan responsibility that begins in 2011, with Afghan forces taking the lead for security across Afghanistan by 2014.

So this summit is an important opportunity for us to align an approach to transition in Afghanistan.

Finally, we discussed ways to expand our bilateral cooperation. On the economic front, we’re looking to deepen our partnership in trade and investment, in science and technology. I am very impressed with the outstanding work that Portugal has done in areas like clean energy, and we think that we can collaborate more.
On the security front, Portugal’s upcoming seat at the U.N. Security Council will be an opportunity to advance peace and security that both our nations seek around the world.

So, Mr. President, I want to thank you and the Portuguese people for your hospitality. I’m confident that we’re going to have two successful summits and that we will continue to deepen an extraordinarily strong partnership between the United States and Portugal -- one that’s based not just on relations between heads of state, not just on the basis of treaties, but based on an enormous warmth between our two peoples; one that in part is forged by the wonderful contributions that are made by Portuguese Americans each and every day.

So thank you so much, Mr. President.

Obama chega hoje

O Presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, chega a hoje a Portugal para participar na cimeira da NATO, que se realiza até ao dia de amanhã, em Lisboa. Na sua primeira visita ao nosso país, Obama terá a sua agenda muito preenchida. Isto porque, além do programa da cimeira da Aliança Atlântica, o presidente norte-americano terá várias reuniões bilaterais, incluindo um almoço com o seu homólogo português, Cavaco Silva, e um encontro com o primeiro-ministro José Sócrates, onde um dos temas abordados será, seguramente, a crise financeira que assola Portugal.
A cimeira da NATO de Lisboa, afinal o motivo da presença de Obama no nosso país, tem, também, um programa extenso e ambicioso. Os aliados esperam aprovar o novo conceito estratégico da organização, continuar a sua política de aproximação à Rússia (durante décadas, o grande inimigo e a razão de existir da NATO) e avançar no projecto do escudo anti-míssil europeu. Contudo, em cima da mesa estará também a questão do Afeganistão, aquela que é já apelidada de "a guerra de Obama". Nesta cimeira, o presidente americano não deixará de apelar ao empenho dos europeus nesta teatro de guerra, pedindo-lhes um último esforço num conflito que se arrasta há já nove anos.
Apesar de não se saber o que resultará das reuniões de Lisboa, é já certo que esta será uma cimeira histórica, até porque ultrapassa o âmbito da NATO, com a presença, principalmente, do presidente russo, Dmitri Medvedev, mas também do presidente afegão, Hamid Karzai. Contudo, a verdadeira estrela da cimeira e o principal alvo das atenções será sempre, no fim de contas, Barack Obama.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Obama quer o START aprovado já

Apesar de o novo tratado START (STrategic Arms Reduction Treaty) já ter sido assinado pelos presidentes dos Estados Unidos e da Federação Russa em Abril, o Senado norte-americano ainda não votou a sua ratificação, processo necessário para a entrada em vigor deste importante tratado bilateral entre as duas maiores potências nucleares do mundo. 
Cansado de esperar, Barack Obama veio hoje pressionar o Senado a votar e aprovar o START, afirmando que este acordo com a Rússia representa um passo fundamental para a segurança nacional americana. A seu lado, para aumentar o impacto e o peso das suas palavras, estavam, entre outros, antigos Secretários de Estado, tanto democratas, como Madeleine Albright, como republicanos, casos de James Baker e Henry Kissinger.

Por detrás deste vigoroso empurrão do presidente norte-americano à votação e ratificação do START está o seu desejo de que isso aconteça antes que o actual elenco do Congresso seja substituído por aquele que foi escolhido pelos eleitores americanos nas últimas midterms. Isto porque, para ser aprovado, o tratado necessita do voto favorável de dois terços dos senadores (67), número que será mais fácil de atingir para os democratas se puderem contar com os seus actuais 59 senadores em vez dos 53 que terão a partir de Janeiro do próximo ano. 
É verdade que esta insistência dos democratas em agendarem a votação de uma matéria tão importante pode parecer pouco ética, colocando em causa aquela que foi a vontade dos americanos expressa nas últimas eleições. Contudo, os republicanos também não se podem colocar numa posição em que transmitam a imagem de estarem fazer jogos políticos com uma questão de segurança nacional, nem podem "matar" um tratado tão popular como este que reduz os arsenais nucleares dos dois países e até permite aos EUA fazerem a fiscalização do desarmamento russo.
Alguns influentes senadores republicanos, como Jon Kyl, têm expressado dúvidas relativamente às novas provisões constantes no tratado, mas isso não deverá ser suficiente para pôr em perigo a sua ratificação, até porque quase todas os grandes líderes do GOP para questões de política externa, assim como toda a estrutura militar americana, são favoráveis ao tratado de redução nuclear. Desta forma, é muito improvável que o Senado dos Estados Unidos seja o fim do START.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Murkowski na frente

As eleições intercalares já foram há duas semanas, mas existem algumas corridas onde o vencedor ainda não foi encontrado. Nesta situação estão sete eleições para a Câmara dos Representantes, a corrida para Governador do Minnesota (parece que estas demoras são já uma tradição do estado, visto que já em 2008, numa eleição para o Senado, apenas várias semanas depois foi declarado o vencedor) e aquela que tem merecido maior destaque: a luta por um assento no Senado norte-americano em representação do Alasca. 
E é mesmo no estado mais remoto dos Estados Unidos que se desenrola a situação mais curiosa e interessante. A história começou em 2002, quando Lisa Murkowski foi nomeada para o Senado pelo seu pai, Frank Murkowski, que, tendo sido eleito Governador do Alasca, teve de abandonar o seu lugar na câmara alta do Congresso e apontar o seu sucessor. Naturalmente, não faltaram acusações de despotismo a marcar o início da carreira política nacional de Lisa Murkowski. Contudo, dois anos depois, Lisa conseguiu vencer uma dura batalha pela reeleição, ao bater o ex-governador democrata Tomy Knowles por uma curta margem.
Mas, este ano, a história foi outra e Murkowski enfrentou um duro desafio nas primárias, perdendo a nomeação republicana para Joe Miller, um candidato apoiado por Sarah Palin e pelos movimentos Tea Party. Contudo, Lisa não se deu por batida e, mesmo assim, concorreu à eleição geral como candidata write in. Este método permite aos eleitores escreverem no boletim de voto o nome de um candidato, apesar do seu nome não surgir no ballot. Como é lógico, este sistema faz com que a contagem dos votos seja demorada e complexa, até porque os candidatos "oficiais" podem contestar a validade do voto, quando, por exemplo, o nome do candidato write in não foi escrito correctamente pelo eleitor. 
Na noite das eleições, apenas foram disponibilizados resultados relativos aos candidatos cujo nomes constavam nos boletins de voto e o total de votos write in. Na altura, Joe Miller surgia com 35% dos votos, enquanto todos os write in contabilizavam 40%. Porém, à medida que se ia realizando o escrutínio, o candidato republicano vinha a conseguir manter uma ligeira vantagem sobre Murkowski. Até ontem, dia em que, pela primeira vez, a actual senadora passou para a frente da contagem, ainda que por apenas cerca de dois mil votos. Essa vantagem, apesar de reduzida, deverá ser suficiente para que Murkowski vença esta eleição, dado que grande parte dos boletins ainda por contar são votos write in. 
Todavia, é preciso relembrar que o desfecho desta corrida é irrelevante para o novo figurino do Senado, já que qualquer um dos candidatos fará parte da bancada republicana. Ainda assim, esta situação não deixa de ser merecedora de todo o interesse, pois, além de se tratar de um processo algo caricato, retrata também mais um episódio da guerra civil que se instalou no seio do GOP, entre o establshiment republicano e a facção mais próxima dos Tea Party.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Sarah Palin's Alaska

Estreou, ontem à noite, na cadeia televisa norte-americana TLC, a grande sensação do momento nos Estados Unidos: o reality show de Sarah Palin, baptizado de Sarah Palin's Alaska. No programa, as câmaras seguem o dia-a-dia da política republicana mais famosa do mundo no seu frio e distante estado natal do Alasca. 
Mas quais serão os objectivos de Palin com este programa de televisão? Os analistas dividem-se relativamente à resposta a esta questão. Por um lado, uns afirmam que esta é a prova definitiva de que a running mate de John McCain em 2008 não se candidatará à presidência, dado que participar num programa deste género lhe retira credibilidade política junto do eleitorado e que a faz parecer pouco "presidencial". Mas, por outro lado, há quem defenda que Palin está com esta jogada a tentar mudar a imagem pouco positiva que muitos americanos têm de si, mostrando a sua faceta de mãe e cidadã comum, igual a qualquer um dos seus compatriotas, em oposição aos políticos de Washington, elitistas e out of touch com a realidade do país.
Qualquer uma das respostas pode estar correcta e é bem possível que a própria Sarah Palin ainda não se tenha decidido em relação a uma eventual candidatura à Casa Branca, em 2012. Contudo, este não deixa de ser um passo inteligente da antiga Governadora do Alasca rumo, pelo menos, à nomeação republicana. No fundo, trata-se de um anúncio político de longa duração (supostamente, não se fala de política no programa, mas, como não podia deixar de ser, ela está sempre presente) e, ainda por cima, grátis.
Mas o Sarah Palin's Alaska também serve para por a nu o lado mais demagogo e até ridículo da grande estrela do GOP. Por exemplo, a um dado momento. os Palin queixam-se da intromissão na sua vida pessoal que representou a mudança de um biógrafo não-autorizado de Sarah para a casa ao lado da família. E fazem-no diante de várias câmaras, que os seguem passo a passo, praticamente 24 horas por dia...

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

2010 foi mau, mas 2012 pode ser pior

Um dos principais talking points da recente noite eleitoral nos Estados Unidos foi a ideia que, apesar da forte derrota na Câmara dos Representantes, os democratas tinham conseguido salvar a face ao saírem-se bem nas eleições para o Senado, com vitórias algo surpreendentes no Colorado e no Nevada. Contudo, ao contrário da câmara baixa do Congresso, apenas pouco mais de um terço do Senado foi a votos e, mesmo assim, o GOP foi capaz de "roubar" seis lugares ao Partido Democrata. Não tenho a menor dúvida que os republicanos tomariam o controlo do Senado se a totalidade da câmara alta estivesse em jogo.
E se 2010 foi um ano terrível para os democratas, a verdade é que 2012 pode ser ainda pior, em especial no que diz respeito às contas do Senado. Isto porque os democratas terão de defender 23 dos 33 (incluindo os dois democratas que ocupam a bancada democrata) assentos que estarão em jogo no próximo ciclo eleitoral, muito menos do que os dez lugares actualmente ocupados por republicanos. Além disso, é esperado que muito dos senadores democratas que, em 2012, disputarão a reeleição, tenham uma tarefa bastante complicada, já que representam battleground states ou mesmo estados que tradicionalmente favorecem os republicanos. Já a maioria dos senadores do GOP cujo lugar estará em jogo foram eleitos por estados tendencialmente conservadores. As excepções serão Olympia Snowe, no Maine e Scott Brown, no Massachusetts.
Assim, não admira que a liderança democrata esteja com grandes dificuldades em arranjar quem assuma o cargo de chairman do Democratic Senatorial Campaign Committee, o órgão no interior do Partido Democrata com a responsabilidade de programar, organizar e gerir as próximas eleições para o Senado, em 2012. Ao que consta, Harry Reid convidou Michael Bennet para o lugar, mas o actual senador pelo Colorado, que foi um dos poucos vencedores democratas das últimas eleições, ainda não deu uma resposta definitiva.
Porém, a favor dos democratas estará o facto de, em 2012, também estar em jogo a presidência do país, o que leva, por norma, a uma maior mobilização e afluência às urnas de grupos do eleitorado tradicionalmente afectos aos democratas, como os jovens e os afro-americanos. Mesmo assim, e a não ser que o actual panorama político nos Estados Unidos mude imenso (o que pode muito bem acontecer), não será surpresa nenhuma se, daqui a dois anos, os republicanos juntarem à maioria na Câmara dos Representantes (que dificilmente mudará de mãos) a maioria no Senado.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Terá Bush votado em Obama?

Surgiu, ontem, num blogue do jornal Financial Times, uma curiosa e surpreendente história que remonta ao pico da campanha presidencial de 2008, quando Barack Obama e John McCain disputavam a presidência americana. Segundo o autor do artigo, o então Presidente George W. Bush terá dito, numa reunião na Sala Oval com dignitários britânicos, que provavelmente nem iria votar em McCain e que teve de apoiar o candidato oficial do seu partido, mas que teria dado o seu endorsement a Obama se este lhe tivesse pedido para o fazer. 
George W. Bush já veio desmentir categoricamente tal história, que apelidou de ridícula. Porém, não é segredo nenhum que a relação entre W. e McCain nunca foi a melhor. Os problemas entre os dois vêm já desde que os dois disputaram a nomeação presidencial republicana, em 2000. Nessa altura, particularmente aquando das primárias da Carolina do Sul, o despique foi aceso, ultrapassando, frequentemente, a barreira do aceitável.
Depois disso, as relações entre o Presidente e o Senador do Arizona foram-se suavizando, com McCain a "engolir um sapo" e a apoiar Bush, na sua batalha pela reeleição, em 2004. Quatro anos depois, foi a vez de Bush retribuir o favor e apoiar publicamente o seu antigo adversário. Porém, John McCain, que pretendia distanciar-se o máximo possível do impopular presidente, não se fez nunca acompanhar de Bush durante a sua falhada campanha presidencial.
Agora, no seu livro Decision Points, George W. Bush não foi brando com McCain. Em primeiro lugar, questionou o seu afastamento do trilho da campanha, dizendo que podia ter auxiliado o candidato republicano junto de alguns grupos do eleitorado. Depois, foi ainda mais longe ao criticar o comportamento de McCain após o despoletar da crise financeira no apogeu da campanha. Ao recordar o encontro na Sala Oval com os candidatos dos dois partidos sobre a grave situação do país, realizada após exigência do republicano, Bush afirmou ter ficado espantado pela falta de preparação e de ideias de McCain, enquanto Obama, pelo contrário, parecia em cima dos acontecimentos e presidencial.
Contudo, não quero com isto dizer que Bush tenha mesmo votado em Obama. Mesmo que estas declarações que são relatadas na história sejam verdadeiras, o mais provável é que o anterior ocupante da Casa Branca estivesse apenas a fazer trash talk e a tentar impressionar os seus convivas, entre eles Gordon Brown. Mas esta não deixa de ser mais uma engraçada curiosidade/rumor sobre a mais dissecada e esmiuçada campanha eleitoral de todos os tempos.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

2012: A luta vai começar

Ultrapassadas que estão as eleições intercalares, as atenções viram-se já para o próximo ciclo eleitoral, em 2012, que terá como maior ponto de destaque a eleição presidencial, onde Barack Obama disputará a reeleição com um concorrente republicano, que, por sua vez, terá de lutar pela nomeação nas primárias do seu partido. Com os caucus do Iowa, o primeiro momento das primárias presidenciais, a apenas 14 meses de distância, é de prever que as hostilidades na disputa pela nomeação republicana se iniciem a qualquer momento.
É grande o leque de nomes que se afiguram como potenciais desafiadores de Barack Obama na eleição geral. Apesar de todos irem lutar pelo mesmo objectivo (a nomeação pelo GOP), os candidatos podem ser divididos em dois grandes grupos, o que deve levar a que, no final, a disputa se resuma a um representante de cada um deles. Assim, de um lado, temos os candidatos ditos insurgentes, que apelam às franjas mais conservadoras do Partido Republicano e que contarão com o apoio entusiasta dos Tea Party. Nomes como Sarah Palin, Mike Huckabee podem ser porta-estandartes desta facção no interior do GOP. No outro lado, estarão os concorrentes conotados com o establishment republicano e que apelarão às alas mais moderadas do partido. Este grupo poderá ter representantes como Mitt Romney, Tim Pawlenty ou Mitch Daniels.
O eleitorado do GOP tem a fama de ser bastante pragmático nas suas nomeações presidenciais, escolhendo, por norma, o candidato com as melhores possibilidades de ser bem sucedido na eleição geral. Porém, como se viu no ciclo eleitoral deste ano, os movimentos Tea Party conseguiram ganhar uma importante influência no processo de nomeações do Partido Republicano. Se esse fenómeno se mantiver em 2012, isso poderá significar que a escolha recaia, por exemplo, em Sarah Palin, o que, diga-se, seria um autêntico desastre para os republicanos e uma dádiva para Barack Obama.
Mas Obama tem, também, com que se preocupar relativamente à sua posição no Partido Democrata. Muitos rumores têm surgido que indicam a vontade de alguns grupos mais liberais em desafiar o Presidente pela sua esquerda, apresentando uma candidatura que represente, do seu ponto vista, os verdadeiros valores progressistas. Howard Dean, candidato presidencial em 2000, antigo governador do Vermont e um verdadeiro herói para a esquerda americana, é um dos nomes mais falados, apesar de já ter recusado tal hipótese. Ainda a ameaçar Obama está um possível avanço de Michael Bloomberg, o actual Mayor de Nova Iorque, seja nas primárias democratas ou na eleição geral, como independente.
As eleições presidenciais de 2012 prometem, então, ser muito interessantes e disputadas. Barack Obama ainda é, a meu ver, favorito a conseguir um segundo mandato. Todavia, muito dependerá de quem os republicanos nomearem para a eleição geral e do sucesso da Casa Branca em "limpar" as primárias democratas de eventuais desafiadores internos. Estas e muitas outras dúvidas irão persistir durante os próximos dois anos, até ao dia 6 de Novembro de 2012, quando os americanos escolherem o seu novo (ou o mesmo) presidente.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Pelosi não desarma

Apenas dois dias depois de ter sofrido uma retumbante derrota eleitoral, Nancy Pelosi anunciou, hoje, via Twitter, que é candidata a manter-se como líder dos democratas na Câmara dos Representantes. Desta vez, depois de o seu partido ter perdido o controlo da câmara baixa do Congresso, não terá o cargo de Speaker, tendo de se contentar (se for eleita) com o título de minority leader.
O anúncio de intenções de Pelosi não deixa de ser surpreendente, já que a congressista californiana foi uma das grandes derrotadas das eleições intercalares. A sua tremenda impopularidade junto do eleitorado fez mesmo com que os republicanos a elegessem como o principal alvo nos seus anúncios e discursos eleitorais, associando cada político democrata à sua impopular líder. Dessa forma, era esperado que pusesse o seu lugar à disposição, de modo a que os democratas pudessem renovar a sua imagem, para começarem, desde já, a preparar o seu contra-ataque para 2012.
Contudo, Nancy Pelosi resolveu continuar a liderar os democratas e, apesar dos anti-corpos que reúne junto da população americana, a verdade é que tem boas hipóteses de ser novamente escolhida para a função, pois é uma heroína dos liberais e tem fortes laços com a ala mais à esquerda do Partido Democrata. Além disso, o grupo dos democratas que terá, porventura, menos interesse em continuar a ser liderado por Pelosi são os Blue Dogs. Contudo, não deverão ter a força necessária para fazerem frente à ainda Speaker, já que foram literalmente trucidados nas últimas eleições, com cerca de metade dos membros da Blue Dog Coalition a ser derrotados pelos republicanos.
Não há dúvidas que Nancy Pelosi provou ser uma Speaker eficaz e muitíssimo bem sucedida. Porém, nessa posição, a sua principal função era garantir a coesão partidária e evitar divisões, enquanto que, agora, à frente de uma bancada minoritária, os democratas necessitam de alguém com menos anti-corpos no GOP e melhor capacidade de fazer a ponte com a oposição.
Assim, parece-me que quem sai a ganhar desta jogada é mesmo o GOP, que continua a ter como principal adversário no Congresso uma figura que os americanos não vêem de forma favorável. Pelo contrário, Barack Obama não deve ficar muito satisfeito com a "nuvem" Pelosi a ensombrar a sua campanha de reeleição, mas também nada pode fazer para o evitar, correndo o risco de irritar e alienar os democratas mais liberais.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Os vencedores e derrotados das midterms

Os vencedores
GOP - Há dois anos, quando os democratas juntaram a Casa Branca, uma grande maioria no Congresso - que, no Senado, era mesmo à prova de fillibuster - e a maior parte dos governadores estaduais, muitos pensaram que isto seria o princípio do fim do Partido Republicano. Pois bem, se mais provas eram necessárias, depois das vitórias de 2009 na Virginia, New Jersey e Massachusetts, os republicanos voltaram a demonstrar, ontem, que ainda estão aí para as curvas.
John Boehner - Foi, porventura, o grande vencedor da noite eleitoral. Apesar de ainda ser pouco conhecido a nível nacional, o até agora líder da minoria na Câmara dos Representantes eleva-se à condição de uma das principais figuras políticas norte-americanas, já que será o novo Speaker, substituindo Nancy Pelosi. Da sua relação com Barack Obama (boa ou má) depende o futuro próximo da política dos Estados Unidos.
Marco Rubio - O recém-eleito Senador pelo estado da Florida realizou um percurso brilhante para derrotar (duplamente) Charlie Crist. Numa a corrida a três, conseguiu mesmo mais de 50% dos votos, o que, num estado moderado como a Florida, é um facto assinalável. Pode estar aqui um dos futuros líderes do Partido Republicano.
Harry Reid - Quando já poucos esperavam, o Senador do Nevada conseguiu garantir a reeleição, podendo continuar, pelo menos durante mais dois anos, como líder da maioria no Senado. Contudo, a sua vitória deveu-se mais aos defeitos de Sharron Angle, a sua adversária, do que propriamente à sua popularidade entre o eleitorado.
Democratas da Califórnia - Para os democratas, as eleições na Califórnia representaram uma espécie de oásis no meio de um enorme deserto que foram os seus resultados a nível nacional. Jerry Brown venceu folgadamente o governo do estado, sucedendo ao republicano Schwarzenneger, e Barbara Boxer foi reeleita para o Senado também sem dificuldades.

Os derrotados

Barack Obama - O nome do Presidente dos Estados Unidos não aparecia nos boletins de voto das eleições de ontem. Contudo, parece claro que muitos dos eleitores que se deslocaram às urnas fizeram-no com Barack Obama no pensamento, decididos a expressarem o seu descontentamento com o rumo que o país leva sob o leme do Chefe de Estado.

Nancy Pelosi - A ainda Speaker of the House é uma figura altamente impopular nos Estados Unidos. Assim, não admira que a liderança republicana tenha utilizado a sua imagem para atacar os candidatos democratas um pouco por todo o país. E, tendo em conta os resultados na Câmara dos Representantes, parece que essa estratégia resultou. Pelosi cede a Boehner o lugar de Speaker, mas ninguém pode negar que, nesse cargo, foi uma das mais influentes e bem-sucedidas de sempre.

Russ Feingold e Blanche Lincoln - Estes foram os dois senadores democratas que perderam ontem o seu lugar na câmara alta do Congresso (Arlen Specter já tinha sido derrotado nas primárias). Se o caso de Lincoln é mais compreensível, visto que representa o Arkansas, um estado bastante conservador, já a situação de Feingold é mais surpreendente, dado tratar-se de um senador conceituado e com fama de independente. Porém, num ano em que o sentimento anti-Washington e anti-incumbentes esteve presente de forma muito intensa, a campanha inteligente e sem erros do seu adversário foi suficiente para o derrotar.

Candidatos senatoriais do Tea Party - É um facto que os movimentos Tea Party foram bastante importantes para o rebranding do Partido Republicano e para a onda de entusiasmo entre os conservadores que resultou na vitória de ontem para o GOP. Contudo, não fossem as desastrosas vitórias de candidatos apoiados pelos Tea Party em algumas primárias republicanas, como no Delaware, no Colorado e no Nevada, é quase certo que o mapa do Senado teria ainda mais lugares pintados de vermelho.

Charlie Crist - Quando o Governador da Florida se candidatou ao Senado, a sua vitória parecia um dado adquirido. Contudo, um tal de Marco Rubio surgiu a disputar consigo a nomeação republicana. Quando Crist percebeu que seria incapaz de o bater nas primárias do GOP, deixou o seu partido de sempre para concorrer na eleição geral como independente, onde foi mesmo copiosamente derrotado pelo mesmo Rubio.

Controlo de danos no Senado

Se nas eleições para a Câmara dos Representantes a vitória republicana foi em toda a linha, no Senado os democratas aguentaram-se melhor. Faltando ainda encontrar os vencedores em três corridas, o Partido Democrata tem já garantidos 51 senadores, o que lhes garante a maioria. Além disso, nas três eleições - Colorado, Washington e Alasca - ainda indefinidas têm boas hipóteses de vencer nas duas primeiras, dado que grande parte dos votos por contar nestes estados são referentes a distritos tendencialmente democratas. No Alasca, Lisa Murkowski leva vantagem sobre Joe Miller. Este resultado, porém, não terá qualquer influência no elenco do Senado, já que qualquer um dos dois, uma vez no Senado, sentar-se-á na bancada republicana.
Ao início da noite, os democratas chegaram a estar bem colocados para vencer no Illinois e na Pennsylvania. Contudo, a contagem final viria a traduzir-se numa vitória dos candidatos republicanos, ainda que por uma margem apertada. No Illinois estava em jogo o antigo lugar de Obama, que agora passará a ser ocupado pelo republicano Mark Kirk, ainda assim um dos candidatos mais moderados apresentados pelo GOP neste ciclo eleitoral. Por seu lado, Pat Toomey, que venceu na Pennsylvania, é consideravelmente mais conservador do que é tradicional num senador eleito por este estado. Teve, porém, de enfrentar uma dura batalha pela vitória, visto que o democrata Joe Sestak provou ser um candidato de muito valor, lutando praticamente até ao último voto.
A melhor notícia da noite de ontem para os democratas veio do Nevada, onde Harry Reid bateu a candidata tea partier, Sharron Angle. Apesar de as últimas sondagens apontarem para uma vitória da republicana, a verdade é que Reid conseguiu ser eleito para um novo mandato. Esta corrida estava carregada de simbolismo, dado que estava em jogo a reeleição do líder da maioria no Senado. Contudo, não é certo que Reid mantenha o seu cargo de liderança, mesmo com esta vitória importante.
Em conclusão, os democratas não tiveram tão maus resultados nas eleições para o Senado como nas que diziam respeito à Câmara dos Representantes. Este fenómeno pode ser explicado por várias razões, mas é preciso lembrar que, em primeiro lugar, isso aconteceu porque, enquanto foi a votos a totalidade da House, no caso do Senado apenas houve eleições para pouco mais de um terço da câmara. Depois, as eleições para o Senado costumam ser acompanhadas mais de perto pelos eleitores, que olham atentamente para os candidatos e fazem uma decisão mais ponderada. Já nas eleições para a Câmara dos Representantes, o factor "partido" tem mais importância e, dessa forma, o voto de "castigo" aos democratas pode ter sido sentido de forma mais premente. 
De qualquer forma, e mesmo que os candidatos democratas vençam no Colorado e em Washington - esses resultados podem ainda demorar vários dias a ser conhecidos - não se poderá dizer nunca que se tratou de uma vitória democrata. Na melhor das hipóteses, o Partido Democrata ficou sem seis assentos no Senado, o que é sempre uma perda significativa. Mas, pelo menos, os democratas conseguiram controlar os danos, evitando a hecatombe que se chegou a pensar ir acontecer.

House sweep

Este é o novo mapa da distribuição dos representantes por partido político relativo à Câmara dos Representantes. Como se pode ver, o vermelho é, agora, a cor dominante, já que a imponente vitória republicana fez com que o GOP passasse a ser o partido maioritário na câmara baixa do Congresso. Agora, quando há ainda 13 corridas sem vencedor anunciado, os republicanos contam com 239 representantes, enquanto os democratas se ficam pelos 183. A perda de lugares pelo Partido Democrata vai já em 60, o que representa uma maior derrota do que em 1994, durante o primeiro mandato de Bill Clinton, quando perderam 52 assentos na House.
Está, assim, concretizada uma pesadíssima derrota para os democratas, que vêem Nancy Pelosi abandonar o cargo de speaker, lugar que passará a ser ocupado pelo republicano John Boehner. A partir de agora, o panorama político dos Estados Unidos vai mudar completamente, já que a Casa Branca de Obama e a Câmara dos Representantes controlada pelo GOP terão de ser capazes de se entender e alcançar compromissos, caso contrário o país ficará ingovernável. E o primeiro passo nesse sentido deverá ser dado pelo Presidente americano, já hoje, quando falar ao país.

Por hoje é tudo

Antes de saber os resultados de eleições decisivas em estados como a California, Washington, Nevada, Colorada e Alasca, parece já claro que os republicanos alcançaram uma vitória de proporções históricas na Câmara dos Representantes, podendo mesmo chegar à marca das seis dezenas de lugares conquistados aos democratas.
Por sua vez, à hora que escrevo estas linhas, a manutenção do controlo do Senado pelos democratas está quase garantida. Durante a noite, chegou mesmo a parecer que as corridas do Illinois e da Pennsylvania iam cair para o lado democrata, mas os candidatos republicanos conseguiram, na recta final, passar para a frente. Contudo, estas são eleições muito equilibradas e as cadeias noticiosas americanas ainda não declararam vitória a favor de nenhum dos lados. 
Nas eleições para os governadores há também algumas eleições interessantes, mas sem nenhuma surpresa de maior, pelo menos até ao momento. Assim, salvo a grande margem da vitória republicana na house, esta tem sido uma noite eleitoral sem grandes surpresas. E, além do Partido Republicano, também as empresas de sondagens estão de parabéns, já que têm acertado na maior parte dos resultados já anunciados. Amanhã, estarei por cá para a divulgação e análise de todos os resultados destas eleições intercalares de 2010.

GOP ganha a Câmara dos Representantes

É praticamente oficial. A CNN e a NBC já declararam a vitória do Partido Republicano na câmara baixa do Congresso. Assim, Nancy Pelosi deixa o cargo de speaker, que deverá passar a ser ocupado pelo republicano John Boehner. Este era um desfecho esperado, mas que não deixa de constituir um enorme triunfo para o GOP. Com a vitória assegurada, falta agora perceber qual a sua dimensão.