sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Palin ao ataque

Devido à época de Thanksgiving, a actividade política e mediática nos Estados Unidos tem sido bastante reduzida. Contudo, Sarah Palin continua a ser a excepção à regra, já que se mantém na ordem do dia, provando ser uma força tremenda, que se sobrepõe mesmo a um dos principais feriados norte-americanos. E, apesar da época festiva, a antiga Governadora do Alasca não se inibe de disparar em todas as direcções, entre antigos ou novos inimigos, democratas ou republicanos.
Na sua mensagem de Thanksgiving, divulgada, como habitualmente, na sua página no Facebook, Palin lançou farpas a Barack Obama, dedicando a mensagem aos "57 Estados", numa referência a uma anterior gaffe do Presidente e ponto de partida para as suas críticas aos "lamestream media" que a potencial candidata à presidência acusa de serem parciais na sua cobertura política. Isto porque, segundo ela, a comunicação social amplifica qualquer erro ou deslize seu (como quando, na passada Quarta-feira, se referiu à Coreia do Norte como aliado dos Estados Unidos), enquanto que os enganos dos seus adversários não merecem grande destaque nos media.

Mas se Obama e a comunicação social são alvos tradicionais para Sarah, esta semana trouxe-nos uma novidade, com uma quezília entre a candidata republicana à vice-presidência em 2008 e a ex-Primeira-Dama, Barbara Bush, esposa de George H. W. Bush, o 41º presidente americano. Na Segunda-feira, B. Bush, quando questionada sobre a possibilidade de Palin concorrer à Casa Branca, foi bastante clara,  respondendo que Sarah deveria ficar no Alasca. A Mamma Grizzlie, como era previsível, não deixou de responder à antiga Primeira-Dama, dizendo que aqueles de "sangue azul" (numa clara alusão à quasi-monarquia hereditária da família Bush) querem escolher os vencedores, em vez de permitir a livre competição entre os candidatos.

Esta é uma pequena amostra do que pode ser a candidata presidencial Sarah Palin, à imagem da aguerrida (frequentemente agressiva) running mate de John McCain, que serviu, variadíssimas vezes, de attack dog da campanha republicana de 2008. Para vencer a nomeação republicana e, posteriormente, a presidência, Palin terá de jogar sempre ao ataque, até porque terá poucos aliados, mesmo no interior do Partido Republicano. Assim, uma candidatura da mulher mais famosa da América será sempre a garantia de uma corrida interessante, animada e polémica.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Os perdões de Obama

Amanhã, Quinta-feira, os norte-americanos celebram um dos seus mais célebres e apreciados feriados: o Thanksgiving Day. E, nas vésperas desse dia, cabe ao Presidente dos Estados Unidos uma já tradicional tarefa: perdoar um peru - o animal que serve de ementa principal nas comemorações - que tem a sorte de escapar ao forno. Esse perdão é normalmente acompanhado de um discurso em tom humorístico, que os presidentes costumam aproveitar para mostrar a sua faceta mais descontraída. 
Este é já o segundo peru que Barack Obama perdoa, depois de se ter estreado nessas lides há precisamente um ano. Contudo, curiosamente, o actual presidente americano tem sido criticado por ainda não ter exercido o seu poder de perdão ou comutação de penas judiciais, que é uma das prerrogativas que estão à disposição do líder dos Estados Unidos. Assim, parece que os perus estão a ser favorecidos por Obama em relação aos seres humanos. Mas também é preciso lembrar que os animais foram apenas considerados culpados de um crime: o de serem saborosos.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Palin dita as regras

Tradicionalmente, a temporada das eleições presidenciais norte-americanas têm o seu pontapé de saída no primeiro trimestre do ano anterior ao ano eleitoral. Dessa forma, seria de esperar que dentro de pouco tempo fossem iniciadas as hostilidades, com os primeiros lançamentos oficiais de candidaturas. Contudo, este ciclo eleitoral promete ser bastante diferente, principalmente por causa de um factor: Sarah Palin.
Com o seu reconhecimento nacional praticamente a 100%, o seu programa na Fox News e, agora, o seu reality show, Palin, se desejar mesmo tentar a sua sorte rumo à Casa Branca (e os sinais nesse sentido são cada vez mais intensos), não precisa de lançar uma campanha presidencial "normal", onde teria de cumprir os passos comuns para qualquer outro candidato. Assim, pode esperar até mais tarde para entrar na corrida, porventura mesmo apenas no Outono de 2011, com a certeza que a simples especulação em torno da sua eventual candidatura será suficiente para a deixar na berlinda. E, quando, finalmente, anunciar a sua decisão de disputar a nomeação do GOP, poderá ganhar um momentum tal que a coloque numa posição favorável face aos seus adversários.
De facto, a antiga Governadora do Alasca é muito bem capaz de representar uma espécie de buraco negro no contexto das primárias republicanas, sugando toda a atenção mediática, reduzindo os seus concorrentes a meros also runs, mesmo que, entre eles, se encontrem alguns pesos pesados, como Mitt Romney ou Newt Gingrich. Além disso, os adversários de Sarah Palin serão, muito provavelmente, relegados para uma posição defensiva, obrigados a reagir às acções da running mate de John McCain. E esse fenómeno poderá ser observado logo com o adiamento dos anúncios de candidaturas, com os concorrentes a esperarem para ver o que faz Palin. É, por isso, muito provável que a campanha para as primárias do Partido Republicano comece mais tarde do que seria normal num cenário Palin-free.
Porém, apesar de ser indiscutível que o furacão Sarah Palin será o grande centro de atenção das próximas eleições presidenciais, isso não quer dizer que a Mamma Grizzly seja, inevitavelmente, a nomeada republicana. Se é verdade que as eleições de 2010 trouxeram uma nova grande vaga conservadora, com os Tea Party a serem, em grande parte, responsáveis pela onda de entusiasmo do eleitorado de Direita, também não se pode esquecer que os eleitores americanos rejeitaram muitos dos candidatos mais radicais e que mostraram estar pouco preparados para subir ao grande palco político americano. Além disso, o Partido Republicano tem a tradição de nomear os candidatos mais fortes e melhor posicionados para disputarem a eleição geral, algo que Palin está muito longe de ser. De qualquer forma, uma contenda entre Barack Obama e Sarah Palin seria, sem sombra de dúvidas, uma corrida histórica e electrizante!

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

O primeiro discurso de Obama em Portugal

No Palácio de Belém, onde se encontrou com o Chefe de Estado português, Cavaco Silva, Barack Obama proferiu o seu primeiro discurso em solo nacional, onde reafirmou a forte parceria entre os dois países e agradeceu o esforço das forças armadas portuguesas no Afeganistão. Além do vídeo com os highlights, aqui fica a transcrição, íntegra, do discurso do Presidente dos Estados Unidos.

Thank you for your warm welcome. Thank you to the people of Lisbon and Portugal for welcoming us to this beautiful, ancient city.

It is very fitting that we are gathering here in Lisbon. It was from here that the great explorers set out to discover new worlds. It was here, a gateway of Europe, through which generations of immigrants and travelers have passed and bound our countries together. It was here that Europeans came together to sign the landmark treaty that strengthened their union.
Now we’ve come to Lisbon again to revitalize the NATO alliance for the 21st century and to strengthen the partnership between the United States and the European Union.

Mr. President, I thank you and all the people of Portugal for everything you’ve done to make these summits a success.
Our meeting was also an opportunity to reaffirm the strong partnership between the United States and Portugal. President Cavaco Silva is commander of Portugal’s armed forces, and will be representing Portugal at the NATO Summit.

We pledged to continue the excellent cooperation between our militaries, especially Lajes Field in the Azores, which provides critical support to American and NATO forces in Iraq and Afghanistan.

I expressed my gratitude to the Portuguese armed forces who are serving alongside us in Afghanistan. And here in Lisbon, I look forward to working with our NATO and our ISAF partners as we move towards a new phase, a transition to Afghan responsibility that begins in 2011, with Afghan forces taking the lead for security across Afghanistan by 2014.

So this summit is an important opportunity for us to align an approach to transition in Afghanistan.

Finally, we discussed ways to expand our bilateral cooperation. On the economic front, we’re looking to deepen our partnership in trade and investment, in science and technology. I am very impressed with the outstanding work that Portugal has done in areas like clean energy, and we think that we can collaborate more.
On the security front, Portugal’s upcoming seat at the U.N. Security Council will be an opportunity to advance peace and security that both our nations seek around the world.

So, Mr. President, I want to thank you and the Portuguese people for your hospitality. I’m confident that we’re going to have two successful summits and that we will continue to deepen an extraordinarily strong partnership between the United States and Portugal -- one that’s based not just on relations between heads of state, not just on the basis of treaties, but based on an enormous warmth between our two peoples; one that in part is forged by the wonderful contributions that are made by Portuguese Americans each and every day.

So thank you so much, Mr. President.

Obama chega hoje

O Presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, chega a hoje a Portugal para participar na cimeira da NATO, que se realiza até ao dia de amanhã, em Lisboa. Na sua primeira visita ao nosso país, Obama terá a sua agenda muito preenchida. Isto porque, além do programa da cimeira da Aliança Atlântica, o presidente norte-americano terá várias reuniões bilaterais, incluindo um almoço com o seu homólogo português, Cavaco Silva, e um encontro com o primeiro-ministro José Sócrates, onde um dos temas abordados será, seguramente, a crise financeira que assola Portugal.
A cimeira da NATO de Lisboa, afinal o motivo da presença de Obama no nosso país, tem, também, um programa extenso e ambicioso. Os aliados esperam aprovar o novo conceito estratégico da organização, continuar a sua política de aproximação à Rússia (durante décadas, o grande inimigo e a razão de existir da NATO) e avançar no projecto do escudo anti-míssil europeu. Contudo, em cima da mesa estará também a questão do Afeganistão, aquela que é já apelidada de "a guerra de Obama". Nesta cimeira, o presidente americano não deixará de apelar ao empenho dos europeus nesta teatro de guerra, pedindo-lhes um último esforço num conflito que se arrasta há já nove anos.
Apesar de não se saber o que resultará das reuniões de Lisboa, é já certo que esta será uma cimeira histórica, até porque ultrapassa o âmbito da NATO, com a presença, principalmente, do presidente russo, Dmitri Medvedev, mas também do presidente afegão, Hamid Karzai. Contudo, a verdadeira estrela da cimeira e o principal alvo das atenções será sempre, no fim de contas, Barack Obama.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Obama quer o START aprovado já

Apesar de o novo tratado START (STrategic Arms Reduction Treaty) já ter sido assinado pelos presidentes dos Estados Unidos e da Federação Russa em Abril, o Senado norte-americano ainda não votou a sua ratificação, processo necessário para a entrada em vigor deste importante tratado bilateral entre as duas maiores potências nucleares do mundo. 
Cansado de esperar, Barack Obama veio hoje pressionar o Senado a votar e aprovar o START, afirmando que este acordo com a Rússia representa um passo fundamental para a segurança nacional americana. A seu lado, para aumentar o impacto e o peso das suas palavras, estavam, entre outros, antigos Secretários de Estado, tanto democratas, como Madeleine Albright, como republicanos, casos de James Baker e Henry Kissinger.

Por detrás deste vigoroso empurrão do presidente norte-americano à votação e ratificação do START está o seu desejo de que isso aconteça antes que o actual elenco do Congresso seja substituído por aquele que foi escolhido pelos eleitores americanos nas últimas midterms. Isto porque, para ser aprovado, o tratado necessita do voto favorável de dois terços dos senadores (67), número que será mais fácil de atingir para os democratas se puderem contar com os seus actuais 59 senadores em vez dos 53 que terão a partir de Janeiro do próximo ano. 
É verdade que esta insistência dos democratas em agendarem a votação de uma matéria tão importante pode parecer pouco ética, colocando em causa aquela que foi a vontade dos americanos expressa nas últimas eleições. Contudo, os republicanos também não se podem colocar numa posição em que transmitam a imagem de estarem fazer jogos políticos com uma questão de segurança nacional, nem podem "matar" um tratado tão popular como este que reduz os arsenais nucleares dos dois países e até permite aos EUA fazerem a fiscalização do desarmamento russo.
Alguns influentes senadores republicanos, como Jon Kyl, têm expressado dúvidas relativamente às novas provisões constantes no tratado, mas isso não deverá ser suficiente para pôr em perigo a sua ratificação, até porque quase todas os grandes líderes do GOP para questões de política externa, assim como toda a estrutura militar americana, são favoráveis ao tratado de redução nuclear. Desta forma, é muito improvável que o Senado dos Estados Unidos seja o fim do START.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Murkowski na frente

As eleições intercalares já foram há duas semanas, mas existem algumas corridas onde o vencedor ainda não foi encontrado. Nesta situação estão sete eleições para a Câmara dos Representantes, a corrida para Governador do Minnesota (parece que estas demoras são já uma tradição do estado, visto que já em 2008, numa eleição para o Senado, apenas várias semanas depois foi declarado o vencedor) e aquela que tem merecido maior destaque: a luta por um assento no Senado norte-americano em representação do Alasca. 
E é mesmo no estado mais remoto dos Estados Unidos que se desenrola a situação mais curiosa e interessante. A história começou em 2002, quando Lisa Murkowski foi nomeada para o Senado pelo seu pai, Frank Murkowski, que, tendo sido eleito Governador do Alasca, teve de abandonar o seu lugar na câmara alta do Congresso e apontar o seu sucessor. Naturalmente, não faltaram acusações de despotismo a marcar o início da carreira política nacional de Lisa Murkowski. Contudo, dois anos depois, Lisa conseguiu vencer uma dura batalha pela reeleição, ao bater o ex-governador democrata Tomy Knowles por uma curta margem.
Mas, este ano, a história foi outra e Murkowski enfrentou um duro desafio nas primárias, perdendo a nomeação republicana para Joe Miller, um candidato apoiado por Sarah Palin e pelos movimentos Tea Party. Contudo, Lisa não se deu por batida e, mesmo assim, concorreu à eleição geral como candidata write in. Este método permite aos eleitores escreverem no boletim de voto o nome de um candidato, apesar do seu nome não surgir no ballot. Como é lógico, este sistema faz com que a contagem dos votos seja demorada e complexa, até porque os candidatos "oficiais" podem contestar a validade do voto, quando, por exemplo, o nome do candidato write in não foi escrito correctamente pelo eleitor. 
Na noite das eleições, apenas foram disponibilizados resultados relativos aos candidatos cujo nomes constavam nos boletins de voto e o total de votos write in. Na altura, Joe Miller surgia com 35% dos votos, enquanto todos os write in contabilizavam 40%. Porém, à medida que se ia realizando o escrutínio, o candidato republicano vinha a conseguir manter uma ligeira vantagem sobre Murkowski. Até ontem, dia em que, pela primeira vez, a actual senadora passou para a frente da contagem, ainda que por apenas cerca de dois mil votos. Essa vantagem, apesar de reduzida, deverá ser suficiente para que Murkowski vença esta eleição, dado que grande parte dos boletins ainda por contar são votos write in. 
Todavia, é preciso relembrar que o desfecho desta corrida é irrelevante para o novo figurino do Senado, já que qualquer um dos candidatos fará parte da bancada republicana. Ainda assim, esta situação não deixa de ser merecedora de todo o interesse, pois, além de se tratar de um processo algo caricato, retrata também mais um episódio da guerra civil que se instalou no seio do GOP, entre o establshiment republicano e a facção mais próxima dos Tea Party.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Sarah Palin's Alaska

Estreou, ontem à noite, na cadeia televisa norte-americana TLC, a grande sensação do momento nos Estados Unidos: o reality show de Sarah Palin, baptizado de Sarah Palin's Alaska. No programa, as câmaras seguem o dia-a-dia da política republicana mais famosa do mundo no seu frio e distante estado natal do Alasca. 
Mas quais serão os objectivos de Palin com este programa de televisão? Os analistas dividem-se relativamente à resposta a esta questão. Por um lado, uns afirmam que esta é a prova definitiva de que a running mate de John McCain em 2008 não se candidatará à presidência, dado que participar num programa deste género lhe retira credibilidade política junto do eleitorado e que a faz parecer pouco "presidencial". Mas, por outro lado, há quem defenda que Palin está com esta jogada a tentar mudar a imagem pouco positiva que muitos americanos têm de si, mostrando a sua faceta de mãe e cidadã comum, igual a qualquer um dos seus compatriotas, em oposição aos políticos de Washington, elitistas e out of touch com a realidade do país.
Qualquer uma das respostas pode estar correcta e é bem possível que a própria Sarah Palin ainda não se tenha decidido em relação a uma eventual candidatura à Casa Branca, em 2012. Contudo, este não deixa de ser um passo inteligente da antiga Governadora do Alasca rumo, pelo menos, à nomeação republicana. No fundo, trata-se de um anúncio político de longa duração (supostamente, não se fala de política no programa, mas, como não podia deixar de ser, ela está sempre presente) e, ainda por cima, grátis.
Mas o Sarah Palin's Alaska também serve para por a nu o lado mais demagogo e até ridículo da grande estrela do GOP. Por exemplo, a um dado momento. os Palin queixam-se da intromissão na sua vida pessoal que representou a mudança de um biógrafo não-autorizado de Sarah para a casa ao lado da família. E fazem-no diante de várias câmaras, que os seguem passo a passo, praticamente 24 horas por dia...

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

2010 foi mau, mas 2012 pode ser pior

Um dos principais talking points da recente noite eleitoral nos Estados Unidos foi a ideia que, apesar da forte derrota na Câmara dos Representantes, os democratas tinham conseguido salvar a face ao saírem-se bem nas eleições para o Senado, com vitórias algo surpreendentes no Colorado e no Nevada. Contudo, ao contrário da câmara baixa do Congresso, apenas pouco mais de um terço do Senado foi a votos e, mesmo assim, o GOP foi capaz de "roubar" seis lugares ao Partido Democrata. Não tenho a menor dúvida que os republicanos tomariam o controlo do Senado se a totalidade da câmara alta estivesse em jogo.
E se 2010 foi um ano terrível para os democratas, a verdade é que 2012 pode ser ainda pior, em especial no que diz respeito às contas do Senado. Isto porque os democratas terão de defender 23 dos 33 (incluindo os dois democratas que ocupam a bancada democrata) assentos que estarão em jogo no próximo ciclo eleitoral, muito menos do que os dez lugares actualmente ocupados por republicanos. Além disso, é esperado que muito dos senadores democratas que, em 2012, disputarão a reeleição, tenham uma tarefa bastante complicada, já que representam battleground states ou mesmo estados que tradicionalmente favorecem os republicanos. Já a maioria dos senadores do GOP cujo lugar estará em jogo foram eleitos por estados tendencialmente conservadores. As excepções serão Olympia Snowe, no Maine e Scott Brown, no Massachusetts.
Assim, não admira que a liderança democrata esteja com grandes dificuldades em arranjar quem assuma o cargo de chairman do Democratic Senatorial Campaign Committee, o órgão no interior do Partido Democrata com a responsabilidade de programar, organizar e gerir as próximas eleições para o Senado, em 2012. Ao que consta, Harry Reid convidou Michael Bennet para o lugar, mas o actual senador pelo Colorado, que foi um dos poucos vencedores democratas das últimas eleições, ainda não deu uma resposta definitiva.
Porém, a favor dos democratas estará o facto de, em 2012, também estar em jogo a presidência do país, o que leva, por norma, a uma maior mobilização e afluência às urnas de grupos do eleitorado tradicionalmente afectos aos democratas, como os jovens e os afro-americanos. Mesmo assim, e a não ser que o actual panorama político nos Estados Unidos mude imenso (o que pode muito bem acontecer), não será surpresa nenhuma se, daqui a dois anos, os republicanos juntarem à maioria na Câmara dos Representantes (que dificilmente mudará de mãos) a maioria no Senado.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Terá Bush votado em Obama?

Surgiu, ontem, num blogue do jornal Financial Times, uma curiosa e surpreendente história que remonta ao pico da campanha presidencial de 2008, quando Barack Obama e John McCain disputavam a presidência americana. Segundo o autor do artigo, o então Presidente George W. Bush terá dito, numa reunião na Sala Oval com dignitários britânicos, que provavelmente nem iria votar em McCain e que teve de apoiar o candidato oficial do seu partido, mas que teria dado o seu endorsement a Obama se este lhe tivesse pedido para o fazer. 
George W. Bush já veio desmentir categoricamente tal história, que apelidou de ridícula. Porém, não é segredo nenhum que a relação entre W. e McCain nunca foi a melhor. Os problemas entre os dois vêm já desde que os dois disputaram a nomeação presidencial republicana, em 2000. Nessa altura, particularmente aquando das primárias da Carolina do Sul, o despique foi aceso, ultrapassando, frequentemente, a barreira do aceitável.
Depois disso, as relações entre o Presidente e o Senador do Arizona foram-se suavizando, com McCain a "engolir um sapo" e a apoiar Bush, na sua batalha pela reeleição, em 2004. Quatro anos depois, foi a vez de Bush retribuir o favor e apoiar publicamente o seu antigo adversário. Porém, John McCain, que pretendia distanciar-se o máximo possível do impopular presidente, não se fez nunca acompanhar de Bush durante a sua falhada campanha presidencial.
Agora, no seu livro Decision Points, George W. Bush não foi brando com McCain. Em primeiro lugar, questionou o seu afastamento do trilho da campanha, dizendo que podia ter auxiliado o candidato republicano junto de alguns grupos do eleitorado. Depois, foi ainda mais longe ao criticar o comportamento de McCain após o despoletar da crise financeira no apogeu da campanha. Ao recordar o encontro na Sala Oval com os candidatos dos dois partidos sobre a grave situação do país, realizada após exigência do republicano, Bush afirmou ter ficado espantado pela falta de preparação e de ideias de McCain, enquanto Obama, pelo contrário, parecia em cima dos acontecimentos e presidencial.
Contudo, não quero com isto dizer que Bush tenha mesmo votado em Obama. Mesmo que estas declarações que são relatadas na história sejam verdadeiras, o mais provável é que o anterior ocupante da Casa Branca estivesse apenas a fazer trash talk e a tentar impressionar os seus convivas, entre eles Gordon Brown. Mas esta não deixa de ser mais uma engraçada curiosidade/rumor sobre a mais dissecada e esmiuçada campanha eleitoral de todos os tempos.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

2012: A luta vai começar

Ultrapassadas que estão as eleições intercalares, as atenções viram-se já para o próximo ciclo eleitoral, em 2012, que terá como maior ponto de destaque a eleição presidencial, onde Barack Obama disputará a reeleição com um concorrente republicano, que, por sua vez, terá de lutar pela nomeação nas primárias do seu partido. Com os caucus do Iowa, o primeiro momento das primárias presidenciais, a apenas 14 meses de distância, é de prever que as hostilidades na disputa pela nomeação republicana se iniciem a qualquer momento.
É grande o leque de nomes que se afiguram como potenciais desafiadores de Barack Obama na eleição geral. Apesar de todos irem lutar pelo mesmo objectivo (a nomeação pelo GOP), os candidatos podem ser divididos em dois grandes grupos, o que deve levar a que, no final, a disputa se resuma a um representante de cada um deles. Assim, de um lado, temos os candidatos ditos insurgentes, que apelam às franjas mais conservadoras do Partido Republicano e que contarão com o apoio entusiasta dos Tea Party. Nomes como Sarah Palin, Mike Huckabee podem ser porta-estandartes desta facção no interior do GOP. No outro lado, estarão os concorrentes conotados com o establishment republicano e que apelarão às alas mais moderadas do partido. Este grupo poderá ter representantes como Mitt Romney, Tim Pawlenty ou Mitch Daniels.
O eleitorado do GOP tem a fama de ser bastante pragmático nas suas nomeações presidenciais, escolhendo, por norma, o candidato com as melhores possibilidades de ser bem sucedido na eleição geral. Porém, como se viu no ciclo eleitoral deste ano, os movimentos Tea Party conseguiram ganhar uma importante influência no processo de nomeações do Partido Republicano. Se esse fenómeno se mantiver em 2012, isso poderá significar que a escolha recaia, por exemplo, em Sarah Palin, o que, diga-se, seria um autêntico desastre para os republicanos e uma dádiva para Barack Obama.
Mas Obama tem, também, com que se preocupar relativamente à sua posição no Partido Democrata. Muitos rumores têm surgido que indicam a vontade de alguns grupos mais liberais em desafiar o Presidente pela sua esquerda, apresentando uma candidatura que represente, do seu ponto vista, os verdadeiros valores progressistas. Howard Dean, candidato presidencial em 2000, antigo governador do Vermont e um verdadeiro herói para a esquerda americana, é um dos nomes mais falados, apesar de já ter recusado tal hipótese. Ainda a ameaçar Obama está um possível avanço de Michael Bloomberg, o actual Mayor de Nova Iorque, seja nas primárias democratas ou na eleição geral, como independente.
As eleições presidenciais de 2012 prometem, então, ser muito interessantes e disputadas. Barack Obama ainda é, a meu ver, favorito a conseguir um segundo mandato. Todavia, muito dependerá de quem os republicanos nomearem para a eleição geral e do sucesso da Casa Branca em "limpar" as primárias democratas de eventuais desafiadores internos. Estas e muitas outras dúvidas irão persistir durante os próximos dois anos, até ao dia 6 de Novembro de 2012, quando os americanos escolherem o seu novo (ou o mesmo) presidente.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Pelosi não desarma

Apenas dois dias depois de ter sofrido uma retumbante derrota eleitoral, Nancy Pelosi anunciou, hoje, via Twitter, que é candidata a manter-se como líder dos democratas na Câmara dos Representantes. Desta vez, depois de o seu partido ter perdido o controlo da câmara baixa do Congresso, não terá o cargo de Speaker, tendo de se contentar (se for eleita) com o título de minority leader.
O anúncio de intenções de Pelosi não deixa de ser surpreendente, já que a congressista californiana foi uma das grandes derrotadas das eleições intercalares. A sua tremenda impopularidade junto do eleitorado fez mesmo com que os republicanos a elegessem como o principal alvo nos seus anúncios e discursos eleitorais, associando cada político democrata à sua impopular líder. Dessa forma, era esperado que pusesse o seu lugar à disposição, de modo a que os democratas pudessem renovar a sua imagem, para começarem, desde já, a preparar o seu contra-ataque para 2012.
Contudo, Nancy Pelosi resolveu continuar a liderar os democratas e, apesar dos anti-corpos que reúne junto da população americana, a verdade é que tem boas hipóteses de ser novamente escolhida para a função, pois é uma heroína dos liberais e tem fortes laços com a ala mais à esquerda do Partido Democrata. Além disso, o grupo dos democratas que terá, porventura, menos interesse em continuar a ser liderado por Pelosi são os Blue Dogs. Contudo, não deverão ter a força necessária para fazerem frente à ainda Speaker, já que foram literalmente trucidados nas últimas eleições, com cerca de metade dos membros da Blue Dog Coalition a ser derrotados pelos republicanos.
Não há dúvidas que Nancy Pelosi provou ser uma Speaker eficaz e muitíssimo bem sucedida. Porém, nessa posição, a sua principal função era garantir a coesão partidária e evitar divisões, enquanto que, agora, à frente de uma bancada minoritária, os democratas necessitam de alguém com menos anti-corpos no GOP e melhor capacidade de fazer a ponte com a oposição.
Assim, parece-me que quem sai a ganhar desta jogada é mesmo o GOP, que continua a ter como principal adversário no Congresso uma figura que os americanos não vêem de forma favorável. Pelo contrário, Barack Obama não deve ficar muito satisfeito com a "nuvem" Pelosi a ensombrar a sua campanha de reeleição, mas também nada pode fazer para o evitar, correndo o risco de irritar e alienar os democratas mais liberais.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Os vencedores e derrotados das midterms

Os vencedores
GOP - Há dois anos, quando os democratas juntaram a Casa Branca, uma grande maioria no Congresso - que, no Senado, era mesmo à prova de fillibuster - e a maior parte dos governadores estaduais, muitos pensaram que isto seria o princípio do fim do Partido Republicano. Pois bem, se mais provas eram necessárias, depois das vitórias de 2009 na Virginia, New Jersey e Massachusetts, os republicanos voltaram a demonstrar, ontem, que ainda estão aí para as curvas.
John Boehner - Foi, porventura, o grande vencedor da noite eleitoral. Apesar de ainda ser pouco conhecido a nível nacional, o até agora líder da minoria na Câmara dos Representantes eleva-se à condição de uma das principais figuras políticas norte-americanas, já que será o novo Speaker, substituindo Nancy Pelosi. Da sua relação com Barack Obama (boa ou má) depende o futuro próximo da política dos Estados Unidos.
Marco Rubio - O recém-eleito Senador pelo estado da Florida realizou um percurso brilhante para derrotar (duplamente) Charlie Crist. Numa a corrida a três, conseguiu mesmo mais de 50% dos votos, o que, num estado moderado como a Florida, é um facto assinalável. Pode estar aqui um dos futuros líderes do Partido Republicano.
Harry Reid - Quando já poucos esperavam, o Senador do Nevada conseguiu garantir a reeleição, podendo continuar, pelo menos durante mais dois anos, como líder da maioria no Senado. Contudo, a sua vitória deveu-se mais aos defeitos de Sharron Angle, a sua adversária, do que propriamente à sua popularidade entre o eleitorado.
Democratas da Califórnia - Para os democratas, as eleições na Califórnia representaram uma espécie de oásis no meio de um enorme deserto que foram os seus resultados a nível nacional. Jerry Brown venceu folgadamente o governo do estado, sucedendo ao republicano Schwarzenneger, e Barbara Boxer foi reeleita para o Senado também sem dificuldades.

Os derrotados

Barack Obama - O nome do Presidente dos Estados Unidos não aparecia nos boletins de voto das eleições de ontem. Contudo, parece claro que muitos dos eleitores que se deslocaram às urnas fizeram-no com Barack Obama no pensamento, decididos a expressarem o seu descontentamento com o rumo que o país leva sob o leme do Chefe de Estado.

Nancy Pelosi - A ainda Speaker of the House é uma figura altamente impopular nos Estados Unidos. Assim, não admira que a liderança republicana tenha utilizado a sua imagem para atacar os candidatos democratas um pouco por todo o país. E, tendo em conta os resultados na Câmara dos Representantes, parece que essa estratégia resultou. Pelosi cede a Boehner o lugar de Speaker, mas ninguém pode negar que, nesse cargo, foi uma das mais influentes e bem-sucedidas de sempre.

Russ Feingold e Blanche Lincoln - Estes foram os dois senadores democratas que perderam ontem o seu lugar na câmara alta do Congresso (Arlen Specter já tinha sido derrotado nas primárias). Se o caso de Lincoln é mais compreensível, visto que representa o Arkansas, um estado bastante conservador, já a situação de Feingold é mais surpreendente, dado tratar-se de um senador conceituado e com fama de independente. Porém, num ano em que o sentimento anti-Washington e anti-incumbentes esteve presente de forma muito intensa, a campanha inteligente e sem erros do seu adversário foi suficiente para o derrotar.

Candidatos senatoriais do Tea Party - É um facto que os movimentos Tea Party foram bastante importantes para o rebranding do Partido Republicano e para a onda de entusiasmo entre os conservadores que resultou na vitória de ontem para o GOP. Contudo, não fossem as desastrosas vitórias de candidatos apoiados pelos Tea Party em algumas primárias republicanas, como no Delaware, no Colorado e no Nevada, é quase certo que o mapa do Senado teria ainda mais lugares pintados de vermelho.

Charlie Crist - Quando o Governador da Florida se candidatou ao Senado, a sua vitória parecia um dado adquirido. Contudo, um tal de Marco Rubio surgiu a disputar consigo a nomeação republicana. Quando Crist percebeu que seria incapaz de o bater nas primárias do GOP, deixou o seu partido de sempre para concorrer na eleição geral como independente, onde foi mesmo copiosamente derrotado pelo mesmo Rubio.

Controlo de danos no Senado

Se nas eleições para a Câmara dos Representantes a vitória republicana foi em toda a linha, no Senado os democratas aguentaram-se melhor. Faltando ainda encontrar os vencedores em três corridas, o Partido Democrata tem já garantidos 51 senadores, o que lhes garante a maioria. Além disso, nas três eleições - Colorado, Washington e Alasca - ainda indefinidas têm boas hipóteses de vencer nas duas primeiras, dado que grande parte dos votos por contar nestes estados são referentes a distritos tendencialmente democratas. No Alasca, Lisa Murkowski leva vantagem sobre Joe Miller. Este resultado, porém, não terá qualquer influência no elenco do Senado, já que qualquer um dos dois, uma vez no Senado, sentar-se-á na bancada republicana.
Ao início da noite, os democratas chegaram a estar bem colocados para vencer no Illinois e na Pennsylvania. Contudo, a contagem final viria a traduzir-se numa vitória dos candidatos republicanos, ainda que por uma margem apertada. No Illinois estava em jogo o antigo lugar de Obama, que agora passará a ser ocupado pelo republicano Mark Kirk, ainda assim um dos candidatos mais moderados apresentados pelo GOP neste ciclo eleitoral. Por seu lado, Pat Toomey, que venceu na Pennsylvania, é consideravelmente mais conservador do que é tradicional num senador eleito por este estado. Teve, porém, de enfrentar uma dura batalha pela vitória, visto que o democrata Joe Sestak provou ser um candidato de muito valor, lutando praticamente até ao último voto.
A melhor notícia da noite de ontem para os democratas veio do Nevada, onde Harry Reid bateu a candidata tea partier, Sharron Angle. Apesar de as últimas sondagens apontarem para uma vitória da republicana, a verdade é que Reid conseguiu ser eleito para um novo mandato. Esta corrida estava carregada de simbolismo, dado que estava em jogo a reeleição do líder da maioria no Senado. Contudo, não é certo que Reid mantenha o seu cargo de liderança, mesmo com esta vitória importante.
Em conclusão, os democratas não tiveram tão maus resultados nas eleições para o Senado como nas que diziam respeito à Câmara dos Representantes. Este fenómeno pode ser explicado por várias razões, mas é preciso lembrar que, em primeiro lugar, isso aconteceu porque, enquanto foi a votos a totalidade da House, no caso do Senado apenas houve eleições para pouco mais de um terço da câmara. Depois, as eleições para o Senado costumam ser acompanhadas mais de perto pelos eleitores, que olham atentamente para os candidatos e fazem uma decisão mais ponderada. Já nas eleições para a Câmara dos Representantes, o factor "partido" tem mais importância e, dessa forma, o voto de "castigo" aos democratas pode ter sido sentido de forma mais premente. 
De qualquer forma, e mesmo que os candidatos democratas vençam no Colorado e em Washington - esses resultados podem ainda demorar vários dias a ser conhecidos - não se poderá dizer nunca que se tratou de uma vitória democrata. Na melhor das hipóteses, o Partido Democrata ficou sem seis assentos no Senado, o que é sempre uma perda significativa. Mas, pelo menos, os democratas conseguiram controlar os danos, evitando a hecatombe que se chegou a pensar ir acontecer.

House sweep

Este é o novo mapa da distribuição dos representantes por partido político relativo à Câmara dos Representantes. Como se pode ver, o vermelho é, agora, a cor dominante, já que a imponente vitória republicana fez com que o GOP passasse a ser o partido maioritário na câmara baixa do Congresso. Agora, quando há ainda 13 corridas sem vencedor anunciado, os republicanos contam com 239 representantes, enquanto os democratas se ficam pelos 183. A perda de lugares pelo Partido Democrata vai já em 60, o que representa uma maior derrota do que em 1994, durante o primeiro mandato de Bill Clinton, quando perderam 52 assentos na House.
Está, assim, concretizada uma pesadíssima derrota para os democratas, que vêem Nancy Pelosi abandonar o cargo de speaker, lugar que passará a ser ocupado pelo republicano John Boehner. A partir de agora, o panorama político dos Estados Unidos vai mudar completamente, já que a Casa Branca de Obama e a Câmara dos Representantes controlada pelo GOP terão de ser capazes de se entender e alcançar compromissos, caso contrário o país ficará ingovernável. E o primeiro passo nesse sentido deverá ser dado pelo Presidente americano, já hoje, quando falar ao país.

Por hoje é tudo

Antes de saber os resultados de eleições decisivas em estados como a California, Washington, Nevada, Colorada e Alasca, parece já claro que os republicanos alcançaram uma vitória de proporções históricas na Câmara dos Representantes, podendo mesmo chegar à marca das seis dezenas de lugares conquistados aos democratas.
Por sua vez, à hora que escrevo estas linhas, a manutenção do controlo do Senado pelos democratas está quase garantida. Durante a noite, chegou mesmo a parecer que as corridas do Illinois e da Pennsylvania iam cair para o lado democrata, mas os candidatos republicanos conseguiram, na recta final, passar para a frente. Contudo, estas são eleições muito equilibradas e as cadeias noticiosas americanas ainda não declararam vitória a favor de nenhum dos lados. 
Nas eleições para os governadores há também algumas eleições interessantes, mas sem nenhuma surpresa de maior, pelo menos até ao momento. Assim, salvo a grande margem da vitória republicana na house, esta tem sido uma noite eleitoral sem grandes surpresas. E, além do Partido Republicano, também as empresas de sondagens estão de parabéns, já que têm acertado na maior parte dos resultados já anunciados. Amanhã, estarei por cá para a divulgação e análise de todos os resultados destas eleições intercalares de 2010.

GOP ganha a Câmara dos Representantes

É praticamente oficial. A CNN e a NBC já declararam a vitória do Partido Republicano na câmara baixa do Congresso. Assim, Nancy Pelosi deixa o cargo de speaker, que deverá passar a ser ocupado pelo republicano John Boehner. Este era um desfecho esperado, mas que não deixa de constituir um enorme triunfo para o GOP. Com a vitória assegurada, falta agora perceber qual a sua dimensão.

Balanço inicial

Apesar de ainda estarmos no início da noite eleitoral, parece já claro que os democratas vão manter o controlo do Senado, podendo mesmo conseguir manter uma maioria mais folgada do que parecia possível. Por outro lado, os republicanos estão a conseguir os ganhos que eram esperados na Câmara dos Representantes. Nesta altura, a maior dúvida é perceber se os resultados deste ano serão superiores ou não aos de 1994, quando os republicanos retiraram 54 assentos aos democratas na House. Pelo que vi até agora, parece-me que a vitória do GOP deverá rondar esses números.

Joe Manchin vence na West Virginia

Está definido o primeiro grande resultado da noite relativo ao Senado: o democrata Joe Manchin venceu na West Virginia, segundo a CNN e a Fox News. Assim sendo, aumentam substancialmente as hipóteses de os democratas manterem o controlo do Senado.

No Senado, ainda não há surpresas

Eleições onde já foram declaradas vitórias: triunfos republicanos no New Hampshire, Ohio, Indiana (que muda de mãos), Kentucky, North Carolina, South Carolina, Georgia e Florida. Os democratas vencem no Delaware, Maryland, Vermont e Connecticut. Sem surpresas, portanto.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Primeiras impressões

Enquanto vou vendo os primeiros resultados oficiais e analisando algumas exit polls, fico com a sensação que a noite de hoje poderá trazer desfechos diferentes para cada uma das câmaras do Congresso. No Senado, a situação para os democratas poderá ser melhor do que se previa, já que parecem estar em boa posição nas corridas de Washington, da California, da West Virginia e mesmo nas do Colorado e do Nevada. Contudo, na disputa pela Câmara dos Representantes a história é bem diferente, visto que os resultados já conhecidos em alguns distritos do Kentucky e do Indiana parecem indicar que se está a preparar uma grande vitória republicana. Assim, pode muito bem acontecer que, com um empate no Congresso (apesar de, na prática, os republicanos também irem ganhar lugares no Senado), sejam as eleições para os governadores estaduais que decidam quem cantará vitória nestas midterms de 2010.

Harry Reid vence, segundo Frank Luntz

Afinal, no Nevada, Harry Reid pode mesmo derrotar Sharron Angle e continuar no Senado. Pelo menos é nisso que acredita o pollster republicano Frank Luntz, que, pelo que viu das sondagens à boca da urna, atribuiu a vitória ao democrata. Reid, que é o líder da maioria no Senado, surgiu, nas últimas sondagens, constantemente atrás da sua opositora republicana. Para já, são as primeiras boas notícias da noite para os democratas, mas a noite ainda agora começou.

Indiana e Kentucky para o GOP

A CNN acaba de declarar as primeiras vitórias em corridas para o Senado: os republicanos Dan Coats, no Indiana, e Rand Paul, no Kentucky, são os mais recentes senadores dos Estados Unidos.

Sinais contraditórios

Como é costume em qualquer eleição, seja ela em Portugal ou nos Estados Unidos, as estruturas partidárias de ambos os lados estão a lançar mensagens que se contradizem. Os democratas afirmam que a afluência às urnas na costa Leste e entre os jovens está a exceder as expectativas. A própria Nanci Pelosi voltou a afirmar, hoje, que os democratas manterão o controlo da Câmara dos Representantes.
Por outro lado, os republicanos mostram-se confiantes numa vitória de proporções históricas. Alguns dados retirados das sondagens à boca das urnas parecem indicar que esta pode ser uma boa noite para o GOP, em especial a constituição do eleitorado, com uma maior proporção de brancos, idosos e conservadores, em relação a 2008 e 2006, onde os democratas saíram vencedores. 
Tendo em conta que os dois lados continuam a enviar sinais contraditórios e que as exit polls não permitem tirar grandes ilações, o melhor é mesmo esperar pelos primeiros resultados concretos, para, nessa altura, procedermos às primeiras análises.

Já se contam votos

As primeiras urnas a fechar foram as dos estados do Indiana e do Kentucky. Aqui já se contam os votos e, sem surpresas, foram imediatamente declaradas vitórias em três eleições para a Câmara dos Representantes para o Partido Republicano. Contudo, os resultados de corridas mais equilibradas ainda demorarão algum tempo. No que diz respeito à disputa pelo Senado, estes dois estados não devem trazer grandes novidades, já que em ambos se espera uma vitória republicana. Daqui a meia hora, quando forem 23 horas em Portugal, fecham as urnas em mais seis estados, com destaque para a Florida, onde tem lugar uma muito disputada corrida para governador estadual.

Primeiras notas sobre a afluência às urnas

Os dados oficiais apurados até ao momento apontam para uma abstenção mais elevada do que era esperado no estado do Nevada, em especial no condado de Clark, que engloba a cidade de Las Vegas. Como esta zona é uma área onde os democratas são tradicionalmente fortes, estes dados podem representar más notícias para Harry Reid, que luta pela sua reeleição para o Senado.
Em sentido contrário está a West Virginia, onde os eleitores se têm deslocado às urnas em grande número, porventura animados por uma animada e disputada corrida entre o governador do estado, o democrata Joe Manchin, e o republicano John Raese. Esta eleição poderá fornecer o primeiro grande indicador em relação à batalha pelo Senado, dado que as urnas na West Virginia são das primeiras urnas a fechar, já daqui a menos de duas horas.

Obama fala amanhã

O Presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, marcou uma conferência de imprensa para amanhã, quando forem 17 horas em Portugal. A comunicação de Obama terá lugar na Sala Este da Casa Branca e o evento servirá, certamente, para o presidente americano reagir aos resultados eleitorais da noite de hoje, que prometem trazer notícias negativas para a administração democrata.

Mark Halperin: How republicans won

O jornalista e comentador da revista Time, Mark Halperin, adianta-se aos resultados e explica como é que o Partido Republicano venceu estas eleições intercalares. A principal razão que apresenta é simples e eu concordo com ela: os republicanos passaram melhor a sua mensagem.

America votes

Os eleitores americanos vão hoje às urnas para tomarem várias e importantes decisões. Nas eleições de hoje estão em jogo todos os 435 lugares na Câmara dos Representantes, 37 assentos no Senado e 37 cargos de Governador, além de um grande número de outras eleições a nível estadual. Apesar das eleições intercalares não terem o destaque de que gozam as presidenciais, a verdade é que  as midterms são também fundamentais. Aliás, é provável que, este ano, se batam todos os recordes de afluência às urnas em eleições intercalares, esperando-se que cerca de 90 milhões de americanos cumpram o seu direito de voto.
Para nós, portugueses que acompanham estas andanças, a primeira boa notícia é que a hora ainda não mudou nos Estados Unidos, o que faz com que a diferença horária seja de "apenas" quatro horas para a costa Leste e sete para a costa Oeste. Assim, as primeiras urnas fecharão quando forem 22 horas em Portugal Continental, mas, nos estados mais distantes - Alasca e Hawaii - isso acontecerá apenas quando já forem cinco da manhã no nosso país. A noite promete, então, ser muito interessante, mas também longa e cansativa para quem, por cá, pretende acompanhar todos os desenvolvimentos eleitorais que terão lugar do outro lado do Atlântico. Mas, no fim de contas, o esforço valerá sempre a pena, ou não fosse a política norte-americana o maior espectáculo do mundo!

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Projecções finais: Senado


Esta é a minha projecção relativamente ao figurino do Senado que resultará das eleições de amanhã. Como na minha última previsão, os democratas mantém a sua maioria por uma unha negra, ficando com 51 assentos, perdendo oito para os republicanos. A única mudança operada é a mudança do Nevada para a coluna do GOP, enquanto que a West Virginia fez o percurso inverso. Ainda assim, há algumas corridas que merecem uma maior atenção:
Califórnia - O golden state parece um dos poucos estados em que a hecatombe democrata não se deve fazer sentir. Assim sendo, a Senadora Barbara Boxer aparece cada vez mais confortável na disputa face à republicana Carly Fiorina. Salvo uma enorme surpresa, a democrata continua no Senado.
Washington - A democrata Pat Murray estava a fazer um percurso semelhante ao de Barbara Boxer. Porém, nos últimos dias, as sondagens indicam um equilibrar da corrida que coloca em perigo a sua reeleição. Esta é uma das eleições que terá de ser seguida mais atentamente na madrugada e manhã de Quarta-feira e cujo desfecho pode demorar vários dias a ser conhecido.
Nevada- Na minha previsão anterior ainda atribuí a vitória a Harry Reid. Contudo, desde essa altura, a republicana Sharron Angle tem surgido constantemente à frente das sondagens. Para piorar a situação do líder da maioria no Senado, foram mais os republicanos do que os democratas que votaram antecipadamente. Assim, tudo indica que o Partido Democrata terá de escolher um novo líder para a sua bancada.
Colorado - A mais equilibrada e imprevisível de todas as corridas de amanhã. Decidi atribuir esta vitória ao candidato do GOP, Ken Buck, mas, de todos os estados onde previ um triunfo republicano, é este que mais facilmente pode virar para o lado democrata.
Wisconsin - Parece que o Senador Russ Feingold não vai ser capaz de recuperar da desvantagem relativamente ao republicano Ron Johnson. Dessa forma, a eleição de amanhã significará a despedida de um dos mais conhecidos e conceituados senadores democratas.
Illinois - As sondagens mais recentes têm sido favoráveis a Mark Kirk, o candidato republicano. Todavia, esta é uma corrida que ainda está longe de estar decidida, tendo em conta o elevado número de indecisos que as mesmas sondagens indicam. 
Pennsylvania - Depois de uma surpreendente recuperação de Joe Sestak (D), o candidato do GOP, Pat Toomey, conseguiu estabilizar a sua vantagem, ainda que curta, face ao seu adversário. Essa diferença deverá bastar para ser eleito para o Senado, mas esta é uma corrida que merece ser acompanhada ao pormenor.
West Virginia - Poderá ser a eleição-chave para o controlo do Senado. Num ciclo eleitoral normal, o Governador democrata, Joe Manchin, seria eleito numa landslide. Porém, a sua associação a Barack Obama, altamente impopular neste estado, está a causar-lhe grandes problemas. O mais provável é que Manchin consiga, ainda assim, o triunfo, mas, como já disse aqui, esta poderá ser apenas uma meia-vitória para o Partido Democrata.

Projecções finais: Governadores

Distribuição actual, por partido, dos governadores
Existem hoje, entre os 50 governadores de cada um dos estados americanos, 26 democratas, 23 republicanos e o (agora) independente Charlie Crist, na Florida. E, há cerca de um ano atrás, o Partido Democrata contava com ainda mais dois governadores, mas, entretanto, foi derrotado nas urnas em New Jersey e na Virginia. Contudo, amanhã, o mais provável é o cenário alterar-se profundamente a favor do GOP.
Os democratas até deverão recuperar algumas state houses, com destaque para a provável vitória na Califórnia, onde o Governator, Arnold Schwarzenneger, muito impopular no estado, deverá ceder o seu lugar ao democrata Jerry Brown, que surge nas sondagens com uma confortável vantagem sobre a sua opositora republicana, Meg Whitman. Também no Minnesota e no Hawaii os candidatos democratas têm boas chances de vencer. Por fim, o Vermont e o Connecticut são ainda toss-ups, mas onde uma vitória democrata é um cenário perfeitamente possível. 
Contudo, os republicanos têm ao seu alcance um grande número de governos estaduais até agora na posse dos democratas. O Iowa, o Kansas, o Maine, o Michigan, o New Mexico, o Wisconsin e a Pennsylvania deverão todos mudar de mãos a favor do GOP. 
Contudo, as corridas que merecem mais atenção são aquelas que se disputam nos gigantes Florida, Illinois e Ohio. Destes, os dois últimos são actualmente controlados pelos democratas, mas, em todos, os candidatos republicanos partem como favoritos, apesar que muito ligeiramente, para a noite eleitoral. Dada a importância destes três estados, os resultados das suas  eleições serão uma parte fulcral da narrativa eleitoral.
Assim, é possível que os republicanos consigam ficar perto da marca das três dezenas de governos estaduais, com os democratas a rondar as 20. É também provável que continue a existir um governador independente, mas, agora, no Rhode Island, já que o ex-republicano Lincoln Chafee saiu, aparentemente, a ganhar da polémica envolvendo Barack Obama e a eleição neste pequeno estado.
Por fim, é importante sublinhar que, apesar das eleições para os governadores terem um cariz primordialmente local, elas são também determinantes a nível nacional. Em primeiro lugar, porque cabe aos governos estaduais o redesenho dos distritos eleitorais e já se sabe que o partido no poder se esforça por definir um mapa que favoreça os seus interesses. Depois, porque neste ciclo eleitoral estão em jogo alguns dos maiores battlegrounds em eleições presidenciais, como a Florida, o Ohio e a Pennsylvania, e a vantagem de contar com o Governador do estado do seu lado (com o seu apoio, influência e organização) não é nada negligenciável para um candidato presidencial. Assim sendo, importa seguir com muita atenção o que se vai passar nestas eleições.