quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Obama força reforma da imigração

Barack Obama deu início à primeira grande iniciativa deste seu segundo mandato na Casa Branca e, como se esperava, o tema escolhido foi a reforma da imigração norte-americano. Num discurso no Nevada, um dos Estados do país com maior número de hispânicos, o Presidente pressionou o Congresso a agir e deu a conhecer a sua pretensão de assinar brevemente uma lei que permita que cerca de onze milhões de imigrantes ilegais tenham a possibilidade de conseguir a cidadania norte-americana.
Esta era uma acção aguardada, já que a reforma da imigração foi uma das grandes promessas da sua campanha para a reeleição (já o havia sido em 2008, mas, dessa vez, o capital político de Obama foi consumido com a reforma do sistema de saúde) e o eleitorado hispânico constituiu-se como um dos principais pilares da coligação que reelegeu Obama no ano passado. Para fazer avançar esta reforma, a Casa Branca conta com o apoio bipartidário de um grupo de senadores. Entre os republicanos, as maiores esperanças de Obama recaem em John McCain, outrora um defensor da reforma da imigração, e Marco Rubio, ele próprio descendente de imigrantes.
Depois do falhanço do DREAM Act, esta nova tentativa de fazer passar legislação que permita e legalização de imigrantes ilegalmente nos Estados Unidos tem boas hipóteses de ser aprovada pelo Congresso. Com amplo apoio dos democratas, também os republicanos terão grande dificuldade em opor-se a esta proposta, cientes de que o seu partido não pode continuar a alcançar tão fracos resultados junto dos eleitores hispânicos, que são, afinal, o grupo eleitoral em maior crescimento demográfico no país. Assim, e mesmo que os republicanos mais conservadores continuem a ser opositores da suavização da política norte-americana em relação à imigração, é expectável que os membros mais moderados permitam a passagem desta legislação.
Tudo indica, por isso, que os democratas alcançarão com esta reforma uma importante vitória. Barack Obama, em especial, junta o seu nome a mais uma peça legislativa de referência, solidificando o seu legado na Casa Branca. Contudo, nem tudo é perfeito para o Partido Democrata, já que, com a aprovação da reforma da imigração, perdem um dos seus principais argumentos para atraírem os eleitores latinos, que, sendo, por norma, socialmente conservadores e pro-business podem ser mais facilmente cativados pelo GOP. Neste caso, porém, o mérito da legislação deverá sobrepor-se ao interesse político envolvido.

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

O ocaso de Sarah Palin

O contrato de Sarah Palin com a Fox News, cadeia noticiosa de cariz conservador, terminou na passada Sexta-feira e não foi renovado, alegadamente por vontade da da antiga Governadora do Alasca e candidata vice-presidencial republicana em 2008. Assim sendo, Palin perde o seu meio de maior de exposição pública e de influência na arena política norte-americana. 
Decorridos pouco mais de quatro anos desde a entrada fulgurante em cena de Sarah Palin, que varreu como um furacão o panorama político dos Estados, a sua chama parece estar a apagar-se. De grande esperança e símbolos dos conservadores, Palin é agora uma figura praticamente marginal, mantendo a sua legião de fãs entusiastas, mas tendo uma má imagem junto da maioria dos cidadãos norte-americanos.
Com este passo, Sarah Palin dá a entender que estará pouco interessada em prosseguir a sua carreira pública. Contudo, é ainda muito cedo para decretarmos a morte política do maior fenómeno de massas que o Partido Republicano deu a conhecer aos Estados Unidos nas últimas décadas. Palin é ainda nova e tem tempo de recuperar a sua imagem pública, de forma a tornar viável uma nova candidatura a um cargo público. Aliás, manter-se afastada dos holofotes é até uma boa maneira de o conseguir, alheando-se de polémicas e preparando-se para um eventual comeback.
Seja como for, só a própria Sarah Palin saberá ao certo o que vai na sua cabeça. Nós, que vemos de forma, apenas podemos especular e desejar que este não seja o fim da carreira política da running mate  de John McCain. Até porque uma coisa é certa: goste-se ou não de Palin, a verdade é que ela não deixa ninguém indiferente.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Resultados do Concurso Blogs do Ano

Chegou ao fim o "Concurso Blogs do Ano", organizado pelo Aventar. O Máquina Política, que concorreu pela primeira vez, obteve excelentes resultados, alcançando mesmo um lugar no pódio (3º) na categoria de "Actualidade Política Internacional" e ainda um honroso quinto posto na categoria "Actualidade Política - Blog Individual". A todos os que votaram, o meu muito obrigado!

sábado, 26 de janeiro de 2013

Reforma do filibuster cancelada

Durante as últimas semanas, democratas e republicanos do Senado estiveram envolvidos em negociações com vista a uma eventual reforma do sistema do filibuster, o famoso e polémico do funcionamento da câmara alta do Congresso que permitia a uma minoria de pelo menos 40 dos 100 senadores o bloqueio de qualquer medida ou legislação que passasse pelo Senado. Contudo, no final desta semana, o líder da maioria do Senado, o democrata Harry Reid, anunciou a desistência da intenção de reformar o sistema, afirmando não estar preparado para, nesta altura, abandonar o actual sistema que obriga ao acordo de 60 votos para que qualquer lei de relevo seja aprovada pelo Senado.
Fica assim sem efeito uma reforma que poderia ter importantes repercussões a médio prazo no funcionamento político do Governo Federal dos Estados Unidos. Durante muitos anos, o método de filibuster funcionou (apesar de não ter sido concebido pelos Founding Fathers) como um dos mais proeminentes instrumentos de checks and balances do sistema político norte-americano, impedindo que uma maioria simples no Senado fosse suficiente para permitir a passagem de legislação fulcral pelo Congresso. Assim, o filibuster foi importante para garantir a essência do Senado, que foi pensado como um órgão mais ponderado e responsável do que a mais volátil Câmara dos Representantes.
Contudo, nas últimas décadas, o filibuster foi sendo utilizado abusivamente e deixou de ser uma medida de último recurso e para ocasiões de superior interesse para ser usada "a torto e a direito", servindo  para a minoria impedir o partido maioritário de passar praticamente qualquer medida na câmara alta. Este fenómeno foi sendo progressivamente mais sentido com a crescente polarização do Senado, outrora um órgão legislativo relativamente moderado e onde era possível ver-se dois senadores de partidos opostos a unirem-se para patrocinarem em conjunto uma proposta de lei. Agora, com o Senado, à imagem da Câmara dos Representantes, a dividir-se de forma praticamente perfeita entre as linhas partidárias, torna-se praticamente impossível para qualquer dos lados conseguir fazer passar legislação, a não ser que um dos partidos consiga a tal super maioria de 60 Senadores, o que, apesar de possível, é altamente improvável (nos últimos anos, apenas o Partido Democrata o conseguiu e apenas durante um ano).
Assim sendo, parece-me que era importante uma reforma no sistema de filibuster, mantendo-se esta provisão, mas reservando-a apenas para questões de fundo, permitindo que as matérias mais corriqueiras da governação pudessem ser aprovadas por uma maioria simples no Senado. Mas, mais uma vez, a visão política falou mais alto e os democratas, cientes que, uma vez na minoria, necessitarão do filibuster para bloquear a legislação republicana, preferiram colocar esta reforma na gaveta. 
Neste caso, a posição democrata é compreensível. Durante os próximos anos, pelo menos até 2022, o Partido Democrata terá enormes dificuldades em recuperar a Câmara dos Representantes, dada a grande vantagem obtida pelos republicanos no processo de redistribuição dos círculos uninominais de 2011. Assim, o partido de Obama precisa de se agarrar com unhas e dentes ao Senado, de forma a poder evitar que uma eventual vitória republicana em eleições presidenciais e para o Congresso crie um cenário perfeito para um total domínio do GOP em matéria legislativa.

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Obama, o liberal

Depois da tomada de posse formal, pouco antes das doze horas do dia 20 de Janeiro, como manda a Constituição dos Estados Unidos, realizou-se ontem, na escadaria ocidental do Capitólio, a cerimónia tradicional e protocolar diante de uma assistência que terá rondado o milhão de espectadores. Como sempre nestas ocasiões, o momento mais aguardado por todos era o discurso do Presidente, já que os discursos inaugurais costumam marcar o tom para o mandato que se inicia, sendo várias as frases ou soundbytes destes discursos que têm ficado para a história, como o "ask what you can do for you country" de John Kennedy ou o "the only thing we have to fear is fear itself" de Franklin Roosevelt.
Desta vez, não terá havido no discurso de Obama uma frase tão memorável, mas foi, é certo, uma comunicação relevante e que está a dar que falar. Confiante após uma robusta vitória eleitoral e pelos bons números nas sondagens, o 44º Presidente dos Estados Unidos adoptou uma postura determinada e um discurso marcadamente liberal. Talvez por saber que nunca mais terá de concorrer a uma eleição, Obama destacou temas queridos para a Esquerda norte-americana, com destaque para o ambiente e para os direitos dos homosexuais (foi mesmo o primeiro Presidente a dizer a palavra "gay" num discurso inaugural). Fez ainda uma apaixonada defesa do Estado Social e da importância e justiça do papel Estado na defesa dos mais fracos e dos mais necessitados. Aliás, neste ponto, Obama deixou mesmo um "recado" ao ticket que o defrontou nas últimas eleições, quando referiu que os Estados Unidos não são uma nação de takers, numa alusão ao infame comentário dos 47% de Romney.
O Inaugural Speech de Barack Obama foi, por isso, muito bem recebido pelos liberais norte-americanos e Andrew Sullivan até afirmou que Obama se tornará o Ronald Reagan dos democratas, dando a entender que o actual presidente se poderá tornar no grande símbolo político e ideológico da Esquerda Americana. Por outro lado, e como seria de esperar, os conservadores não ficaram particularmente entusiasmados com o discurso de Obama, criticando o tom pouco conciliatório e a ausência de referências a um entendimento com o partido adversário.
No final de contas, este foi um discurso de alguém que, mais do que mudar Washington foi mudado por Washington. Quando assumiu, em 2009, pela primeira vez, a presidência, Obama procurava consensos e tencionava chegar a entendimentos com o Partido Republicano. Contudo, por falhas suas, mas principalmente pelo obstrucionismo de um GOP muito acossado pelas suas facções mais conservadoras, o Presidente norte-americano foi incapaz de alcançar a nova era bipartidária com que sonhava. Assim sendo, a sua nova estratégia é passar por cima dos seus adversários e levar as suas ideias avante. Em resumo, e como escreveu Chris Cillizza no Washington Post, Obama utilizou o discurso de ontem para enviar uma mensagem aos seus detractores: "I'm the President, deal with it".

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Os três desafios de Obama

A convite do site da TVI 24, escrevi um texto, publicado no Sábado, onde faço a antevisão dos maiores desafios que Barack Obama enfrentará neste seu segundo e último mandato na Casa Branca.

domingo, 20 de janeiro de 2013

Obama toma posse para novo mandato

Barack Hussein Obama já tomou posse para o seu segundo mandato como Presidente dos Estados Unidos. Como manda a Constituição norte-americana, a tomada de posse oficial ocorreu antes das doze horas do dia 20 de Janeiro, hora exacta do início do mandato presidencial. Neste caso, como o dia 20 calhou num Domingo, o juramento foi privado, na Sala Azul da Casa Branca e, ao contrário de há quatro anos, o Chief Justice, John Roberts, não se enganou no texto do juramento (levou mesmo um invulgar auxiliar de memória) e tudo correu dentro da normalidade. Pouco antes, também Joe Biden havia prestado juramento à juíza do Supremo Tribunal Sonia Sotomayor. Amanhã, terá lugar a tradicional cerimónia da Inauguração Presidencial e Obama proferirá, perante centenas de milhares de cidadãos, o seu primeiro discurso do segundo mandato.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

3 anos de Máquina Política

Cumprem-se hoje precisamente três anos do início de actividade deste blogue. Agora, 614 posts e muito trabalho depois, o Máquina Política já conquistou o seu espaço na blogosfera. No futuro, e apesar do tempo para escrever ser cada vez menos, aqui continuaremos a escrever sobre aquilo que de mais importante se passa no país do Tio Sam. Mas hoje é dia de festejar, por isso, parabéns, Máquina Política!

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

O regresso de Charlie Crist?

Charlie Criste foi, em tempos, um dos mais promissores políticos republicanos. Moderado, com boa imagem e Governador do mais importante Estado em eleições presidenciais, a Florida, Crist tinha tudo para ser, a médio prazo, um fortíssimo candidato a mais altos voos, incluindo, claro está, à Presidência dos Estados Unidos.
Todavia, em 2009, o então Governador da Florida demonstrou o seu apoio ao programa de estímulos da Administração Obama e chegou mesmo a comparecer num evento com o Presidente. Ora, o abraço trocado entre os dois políticos foi fatal para Charlie Crist que, quando concorreu, no ano seguinte, ao cargo de Senador, teve de enfrentar a ira dos republicanos e a forte concorrência de uma estrela em ascensão no GOP, Marco Rubio. Com a derrota nessas eleições primárias, muitos pensaram que Crist estaria arrumado para a política e que acabaria por cair no esquecimento. 
Mas Crist, sempre ambicioso, respondeu à desfeita com uma viragem de rumo. Deixou o Partido Republicano, registou-se como independente e, após esta espécie de período de carência, filiou-se no Partido Democrata. Logo surgiram rumores de que o antigo Governador da Florida poderia juntar-se à Administração Obama ou mesmo concorrer ao seu antigo cargo, nas eleições de 2014. Rick Scott, o republicano que lhe sucedeu, tem uma fraca popularidade no Estado e, por isso, é considerado vulnerável na corrida para a reeleição. Ontem, foi conhecida uma sondagem da PPP que, num hipotético frente-a-frente entre Scott e Crist, dá vantagem de 14% ao (agora) democrata.
Estes números deverão levar Charlie Crist a ponderar um regresso à mansão do Governador do Sunshine State. Além disso, também a liderança democrata deverá pressionar Crist para que volte a concorrer, cientes de que o antigo republicano é a sua melhor hipótese para conquistar um dos mais importantes cargos estratégicos a nível nacional. Parece, assim, estarem a reunir-se todas as condições para assistirmos, no próximo ano, ao regresso político de um dos mais polémicos políticos norte-americanos da sua geração.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

As críticas à (pouca) diversidade da Administração Obama

Nos últimos tempos, Barack Obama tem recebido críticas oriundas de sectores liberais devido às suas mais recentes nomeações para os mais altos cargos da nação. Dizem estas franjas do Partido Democrata que Obama tem escolhido apenas homens branco, como são o caso de John Kerry (o nomeado para Secretário de Estado), Chuck Hagel (Secretário da Defesa) e Jack Lew (Secretário do Tesouro), não promovendo, por isso, a diversidade na sua Administração e não respeitando as minorias étnicas e as mulheres, que foram, no fim de contas, os grupos eleitorais responsáveis pela sua (re)eleição).
Todavia, estas críticas são, na minha opinião, exageradas e, diria até, injustas. É necessário recordar que o Cabinet de Obama conta com vário representantes de minorias (além do próprio Obama, claro está): o Attorney General, Eric Holder, é afro-americano; duas hispânicas, Janet Napolitano e Kathleen Sebelius, são, respectivamente, Secretárias da Segurança Interna e dos Serviço de Saúde e Humanos; dois asian-americans, Stevem Chu e Eric Shinseki são os responsáveis pela Energia e pelos Assuntos dos Veteranos. Além disso, importa não esquecer que a primeira escolha de Obama para o Departamento de Estado foi Susan Rice, uma mulher afro-americana. Finalmente, Obama poderá ainda silenciar ou acalmar as reprimendas que se têm ouvido, utilizando, para o efeito, as duas vagas ainda por preencher no seu Cabinet (Comércio e Trabalho) e que podem ser ocupadas com representantes das minorias.
Apesar de não passarem, na sua maioria, de ruído, estas críticas têm o condão de nos recordar um dos grandes feitos das campanhas presidenciais de Obama: a voz política das minorias e das mulheres subiu muito de tom desde que o 44º Presidente dos Estados Unidos chegou à Casa Branca. Há não muito tempo atrás, a falta de diversidade numa Administração não seria alvo de tanto burburinho e seria até considerado normal. Contudo, o grande movimento catapultado pelas duas corridas presidenciais de Obama, alicerçadas precisamente nas mulheres, nos jovens e nas minorias étnicas colocou estes grupos, outrora algo marginalizados politicamente, com uma efectiva presença na arena política. Não admira, por isso, que estes grupos do eleitorado, que votaram em grande número em Obama e sem os quais este não venceria, se sintam agora merecedores de se fazerem representar entre as mais altas figuras dos Estados Unidos.

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Máquina Política no "Blogues do Ano"

Com quase três anos de existência, nunca o Máquina Política ganhou coisa nenhuma, nem sequer ao berlinde. Por isso, resolvi tentar a minha sorte e participar no concurso "Blogues do Ano", organizado pelo Aventar. Este vosso espaço concorre em três categorias: "Actualidade política - blog individual", "Actualidade política - internacional" e "blogger do ano" (eu próprio). Assim sendo, todos os leitores e visitantes podem votar, uma vez por dia, aqui, para as duas primeiras categorias e aqui para a terceira. A votação termina no próxima dia 19, precisamente no dia seguinte ao terceiro aniversario desta Máquina Política. Por isso, nada melhor do que nos presentearem com o vosso voto!

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Chuck Hagel para o Pentágono

Depois de Robert Gates, Barack Obama parece decidido a nomear mais um republicano para liderar o Departamento de Defesa dos Estados Unidos. Ao que tudo indica, o Presidente já fez a sua escolha e irá indicar o Chuck Hagel, antigo Senador pelo Nebraska, para o cargo de Secretário da Defesa.
Desta vez, e ao contrário de Gates, o último SecDef de Bush, e que Obama reconduziu no cargo quando chegou à Casa Branca, não é crível que Hagel passe por um suave processo de confirmação no Senado. Com inimizades dos dois lados da bancada da câmara alta, o antigo Senador tem à sua espera uma batalha pela sua confirmação. De um lado, os republicanos não perdoam a sua deserção (em 2008, Hagel apoiou Obama em detrimento de John McCain) e não vêm com bons olhos as suas posições pouco amigáveis em relação a Israel, um dos principais aliados estratégicos dos norte-americanos. Por outro lado, os democratas também não deverão facilitar muito a vida de Hagel, especialmente a ala liberal do partido, pouco agradada com alguns comentários pouco abonatórios do antigo Senador relativamente aos homossexuais.
Assim, Obama terá obrigatoriamente de praticar uma complexa ginástica para conseguir reunir os votos suficientes para a confirmação de Chuck Hagel como o próximo líder do Pentágono. Terá ainda de apagar alguns fogos no interior do seu próprio partido, já que os democratas não deverão estar muito contentes pelo facto de Obama parecer disposto a arriscar grande parte do seu capital político a favor de uma eventual confirmação de Chuck Hagel, um republicano, quando não o quis fazer em prol de Susan Rice, democrata e muito próxima do Presidente, aquando da escolha para o Departamento de Estado.
O antigo Senador, apesar de polémico, é qualificado para o cargo, sendo um ex-militar (recebeu mesmo duas Pearple Hurt, pelas suas feridas de combate no Vietname) e com um distinto percurso no Comité das Forças Armadas do Senado. Assim sendo, a luta pela confirmação de Hagel será dura, mas, no final, é provável que Obama leve mesmo a sua avante, ainda que possa vir a ser obrigado a gastar muito do seu capital político (que pode ainda vir a fazer muita falta ao Presidente em "batalhas" futuras) para o conseguir.

quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Fiscal cliff evitado

O suspense manteve-se até ao fim, mas, literalmente no último minuto, democratas e republicanos chegaram a um acordo que permitisse escapar ao precipício fiscal e, consequentemente, evitar que milhões de americanos tenham de pagar mais impostos, ao mesmo tempo que o Estado corta substancialmente nas suas despesas.
Foi já na madrugada do dia 1 de Janeiro que o Senado votou e aprovou, de forma esmagadora (89 votos favoráveis contra apenas 8 votos negativos) uma proposta que mantinha os cortes de impostos para todos os norte-americanos, excepto para os que têm rendimentos anuais superiores a 400 mil dólares. Mais tarde, a Câmara dos Representantes também passou a legislação que evitou o fiscal cliff, com 257 votos e favor e 167 contra.
Apesar da proposta ter recebido um amplo apoio por parte da grande maioria dos legisladores dos dois lados, a verdade é que parece que ninguém está verdadeiramente satisfeito com o acordo alcançado. Do lado democrata, os liberais acusam Barack Obama de ter mais uma vez cedido face aos republicanos, ao deixar cair a sua intenção de subir os impostos para para os rendimentos superiores a 250 mil dólares por ano. Por seu lado, os republicanos fiscalmente mais conservadores enfureceram-se com a ausência de cortes na despesa nesta proposta e ameaçaram mesmo rejeitar o acordo na Câmara dos Representantes. Seja como for, estas críticas das franjas menos moderadas dos dois partidos são normais e inevitáveis sempre que um acordo bipartidário é alcançado. No fundo, demonstram apenas que houve cedências de parte a parte.
Ainda assim, importa salientar que este acordo evita o fiscal cliff apenas de forma temporária. Nos próximos meses, a Casa Branca e o Congresso terão de continuar as negociações de forma a chegarem a um entendimento global, que deverá prever mais subidas de impostos mas também cortes na despesa, de forma selar definitivamente esta questão.
Em jeito de balanço, parece-me que Obama, apesar das críticas liberais, não se saiu nada mal desta sua primeira "batalha" pós-eleitoral. Obrigou os republicanos a votarem a favor de subidas de impostos (algo que, há pouco tempo atrás, parecia impensável) sem ter de ceder nos cortes de despesa em programas sociais. Dessa forma, fica com margem para, nas futuras negociações, conseguir aumentar os impostos para os mais abastados que ficaram de fora desta vez. Porém, é cedo para sabermos quem ficou ganhou politicamente, pois esta "partida" não acabou: vai apenas para intervalo.