O suspense manteve-se até ao fim, mas, literalmente no último minuto, democratas e republicanos chegaram a um acordo que permitisse escapar ao precipício fiscal e, consequentemente, evitar que milhões de americanos tenham de pagar mais impostos, ao mesmo tempo que o Estado corta substancialmente nas suas despesas.
Foi já na madrugada do dia 1 de Janeiro que o Senado votou e aprovou, de forma esmagadora (89 votos favoráveis contra apenas 8 votos negativos) uma proposta que mantinha os cortes de impostos para todos os norte-americanos, excepto para os que têm rendimentos anuais superiores a 400 mil dólares. Mais tarde, a Câmara dos Representantes também passou a legislação que evitou o fiscal cliff, com 257 votos e favor e 167 contra.
Apesar da proposta ter recebido um amplo apoio por parte da grande maioria dos legisladores dos dois lados, a verdade é que parece que ninguém está verdadeiramente satisfeito com o acordo alcançado. Do lado democrata, os liberais acusam Barack Obama de ter mais uma vez cedido face aos republicanos, ao deixar cair a sua intenção de subir os impostos para para os rendimentos superiores a 250 mil dólares por ano. Por seu lado, os republicanos fiscalmente mais conservadores enfureceram-se com a ausência de cortes na despesa nesta proposta e ameaçaram mesmo rejeitar o acordo na Câmara dos Representantes. Seja como for, estas críticas das franjas menos moderadas dos dois partidos são normais e inevitáveis sempre que um acordo bipartidário é alcançado. No fundo, demonstram apenas que houve cedências de parte a parte.
Ainda assim, importa salientar que este acordo evita o fiscal cliff apenas de forma temporária. Nos próximos meses, a Casa Branca e o Congresso terão de continuar as negociações de forma a chegarem a um entendimento global, que deverá prever mais subidas de impostos mas também cortes na despesa, de forma selar definitivamente esta questão.
Em jeito de balanço, parece-me que Obama, apesar das críticas liberais, não se saiu nada mal desta sua primeira "batalha" pós-eleitoral. Obrigou os republicanos a votarem a favor de subidas de impostos (algo que, há pouco tempo atrás, parecia impensável) sem ter de ceder nos cortes de despesa em programas sociais. Dessa forma, fica com margem para, nas futuras negociações, conseguir aumentar os impostos para os mais abastados que ficaram de fora desta vez. Porém, é cedo para sabermos quem ficou ganhou politicamente, pois esta "partida" não acabou: vai apenas para intervalo.
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