segunda-feira, 21 de outubro de 2013

A divisão republicana ilustrada

Com a divisão que reina actualmente no seio do Partido Republicano em destaque após o acordo para o fim do shutdown, o New York Times criou um gráfico/mapa interactivo que ilustra as diferentes facções do GOP, de acordo com o sentido de voto dos congressistas republicanos no que diz respeito à proposta que resolveu, por enquanto, o impasse em Washington. A consulta deste gráfico, ajuda, e muito, a tomarmos consciência da realidade actual dos dois partidos norte-americanos: de um lado, os democratas, unidos e a votar como um bloco praticamente inexpugnável, e, do outro, os republicanos, divididos pela discórdia das suas várias facções.

sábado, 19 de outubro de 2013

Que futuro para o GOP depois do shutdown?

Na passada Quarta-feira, democratas e republicanos chegaram finalmente a um entendimento que levou ao fim do shutdown e trouxe a normalidade de volta a Washington e aos Estados Unidos. O acordo foi originalmente anunciado pelos líderes do Senado, o democrata Harry Reid e o republicano Mitch McConnell e, mais tarde, o Senado votava esmagadoramente a favor do acordo para retomar o financiamento do governo federal, com apenas 18 senadores (todos republicanos) a votarem contra o fim do shutdown. De seguida, também a Câmara dos Representantes aprovou o acordo, com os votos favoráveis de todos os democratas e 87 republicanos (144 congressistas do GOP votaram contra).
16 dias depois, chegou ao fim, pelo menos por agora, um longo e desgastante impasse que provocou grandes tumultos políticos e económicos na nação norte-americana. Contudo, o acordo agora alcançado não resolve o problema do orçamento federal, limitando-se a adiar o debate para daqui a cerca de três meses. Nessa altura, democratas e republicanos terão de chegar a um novo entendimento para que o o governo continue a funcionar.
Ainda assim, um novo shutdown deverá estar fora da mesa, já que os republicanos não quererão repetir a receita que, desta vez, lhes trouxe tantos dissabores. De facto, este frente-a-frente foi altamente prejudicial para o Partido Republicano, que saiu da crise como o grande derrotado. Considerados pela opinião pública como os principais responsáveis pelo shutdown e sem terem conseguido ganhar nada com a sua tomada de posição, os republicanos estão agora numa posição muito fragilizada e terão de correr atrás do prejuízo causado pela sua actuação ao longo da crise que agora termina.
Em sentido inverso, os democratas e Barack Obama em particular estão a ser caracterizados como os vencedores do despique. É um facto que conseguiram obrigar os republicanos a ceder sem "entregar" nada ao outro lado. Todavia, não é totalmente claro que o Presidente dos Estados Unidos tenha ganho alguma coisa com esta sua vitória. Isto porque é bem possível que, após esta derrota, os republicanos se tornem ainda mais intransigentes e ainda menos dispostos a negociar com Obama e com os democratas. E isso pode inviabilizar quaisquer novas conquistas legislativas da Casa Branca durante este segundo e último mandato de Barack Obama. A reforma da imigração, cuja aprovação no Congresso parecia, há uns meses atrás, parecia praticamente inevitável, pode ser a grande prejudicada e arrisca-se a ficar na "gaveta".
Contudo, a estratégia a seguir pelos republicanos é ainda um pouco dúbia e deverá depender do resultado da batalha interna pelo controlo do partido que se trava actualmente no seio do GOP. De um lado, os republicanos mais radicais, liderados pelos políticos mais próximos do Tea Party e, do outro, os membros do GOP mais moderados. No Congresso, essa disputa tem sido vencida pelos mais radicais e a liderança republicana, constituída principalmente por políticos mais próximos do centro, tem tido enorme dificuldade em controlar as suas bancadas, hoje em dia sob grande influência dos Tea Party. 
Ora, a posição demasiado intransigente dos republicanos do Congresso tem levado à contínua degradação da imagem do partido a nível nacional. As últimas sondagens colocam os a aprovação do trabalho dos congressistas republicanos por parte dos eleitores nos níveis mais baixo de sempre e mostram os democratas a fugir nas intenções de voto para as eleições intercalares de 2014. Assim sendo, e apesar de faltar ainda mais de um ano para este momento eleitoral, tudo aponta para que os republicanos não tenham um 2014 tão positivo como esperariam.
Em suma, o GOP atravessa, hoje, um mau momento, com o extremismo da ala mais conservadora e a impopularidade dos seus membros do Congresso a arrastarem o partido para o fundo. Assim, e com as presidenciais de 2016 cada vez mais perto, aquilo que os republicanos precisam desesperadamente a precisar é de encontrar um líder moderado, que não tenha sido "tocado" pelos vícios de Washington e que tenha experiência de governação. Neste momento, quem encaixa que nem uma luva nesta descrição é, claro está, Chris Christie.

domingo, 13 de outubro de 2013

Os republicanos em maus lençóis

Como se esperava, as consequências políticas do shutdown estão a ser muito negativas para o Partido Republicano e as sondagens mostram que a maioria dos americanos culpa principalmente os republicanos pelo impasse em Washington que levou ao encerramento parcial do governo federal norte-americano. Esta semana, uma sondagem para o Wall Street Journal e para a NBC News revelou que 53% dos norte-americanos atribuiem as culpas do shutdown ao GOP, enquanto que apenas 31% assacam as principais responsabilidades desta crise política ao Presidente Barack Obama.
Ora, a um ano das eleições intercalares, este percepção pública sobre a responsabilidade pelo shutdown poderá ter importantes consequências eleitorais para o Partido Republicano. Tradicionalmente, o GOP é mais forte em eleições intercalares do que em anos de eleições presidenciais, beneficiando da maior abstenção entre grupos eleitorais tendencialmente democratas, como os jovens ou as minorias, em eleições que não contam com o mediatismo das eleições em que se escolhe o ocupante da Casa Branca.
Contudo, os estudos de opinião mostram agora um rápido crescimento das intenções de voto para os democratas nas eleições para o Congresso. Uma sondagem da Greenberg Quinlan Rosner Research (com ligações aos democratas) indicou uma vantagem democrata que já atingiu os dois dígitos. De acordo com esta sondagem, 46% dos eleitores tencionam votar num candidato democrata e 36% preparam-se para votar num republicano para o Congresso.
É certo que falta ainda muito tempo para as eleições intercalares (terão lugar em Novembro de 2014), mas estas são péssimas notícias para os republicanos que tinham como principal objectivo político a breve prazo recuperar a maioria no Senado. Todavia, a manter-se este cenário, não só não conseguirão alcançar esse objectivo, como se arriscam a perder o controlo da Câmara dos Representantes para os democratas, algo que, há poucas semanas, parecia praticamente impossível. 
Os alarmes deverão estar a soar entre a liderança do GOP e os republicanos mais moderados. Porém, estes terão uma árdua tarefa pela frente para resgatar o partido, que se encontra actualmente refém dos sectores mais radicais e que, apesar de serem uma minoria, têm um grande poder político. Contudo, para controlar os danos, é obrigatório que o partido se desvie da retórica mais extremista e belicosa e regresse à sua mensagem tradicional que tão bons resultados lhe costuma trazer em eleições intercalares. Caso contrário, o GOP arrisca-se a sofrer uma derrota estrondosa no próximo ano.

sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Shutdown ficcional vs shutdown real

A série televisiva The West Wing (em Portugal conhecida como Os Homens do Presidente), além de ter ficado para a história como um dos melhores e mais premiados produtos televisivos de todos os tempos, é também conhecida por prever alguns acontecimentos futuros com uma curiosa precisão. Agora, sete anos depois de a sua última temporada ter ido para o ar, volta a demonstrar ser visionária, já que um episódio da quinta temporada retrata de forma muito semelhante a crise política que os Estados Unidos ultrapassam. Como não podia deixar de ser, esse episódio, de elevada qualidade, mesmo numa altura em que Aaron Sorkin já havia deixado a sériae, tem como título Shutdown.
Num excelente e pertinente artigo da Wired, Graeme McMillan recorda esse episódio e compara o shutdown do universo ficcional da série que retratava o quotidiano da Casa Branca de Jed Bartlet (magnificamente  interpretado por Martin Sheen) com o shutdown que, no presente, domina as atenções nos Estados Unidos e afecta pessoas de carne e osso. Vale a pena ler.

quinta-feira, 3 de outubro de 2013

A posição republicana

Dois dias depois do Shutdown, continua a não haver acordo em Washington e os serviços não essenciais do governo federal continuam encerrados. Ontem, na Casa Branca, Barack Obama reuniu-se com os líderes democratas e republicanos do Congresso, mas nenhum entendimento foi alcançado. Os republicanos continuam a insistir no seu ataque ao Obamacare e Obama é intransigente na defesa da maior vitória legislativa da sua presidência.
Para muitos, pode parecer estranha a posição republicana. É verdade que a reforma do sistema de saúde norte-americano continua a dividir opiniões nos Estados Unidos. Contudo, essa reforma foi aprovada pelo Congresso, confirmada pelo Supremo Tribunal e passou o teste das urnas no ano passado. Assim sendo, porque razão continuam os congressistas republicanos tão empenhados na sua luta para derrubar o Obamacare?
Para perceber a resposta a esta questão é preciso recuarmos às eleições intercalares de 2010. Nesse ano, o Partido Republicano alcançou uma grande vitória e, além de roubar a maioria na Câmara dos Representantes aos democratas, conseguiu o controlo da maioria dos órgãos legislativos estaduais. Ora, são exatamente as legislaturas estaduais que determinam, a cada dez anos, o desenho e a distribuição dos círculos eleitorais que determinam a eleição dos congressistas para a Câmara dos Representantes. Em 2011, com as câmaras legislativas da maior parte dos Estados no seu poder, os republicanos redesenharam os círculos eleitorais de forma a que as suas hipóteses nas eleições para a House saíssem muito favorecidas. Neste momento, a distribuição dos círculos eleitorais é-lhes tão favorável que os democratas, para conseguirem uma maioria na Câmara dos Representantes, teriam de vencer o GOP por 4% ou 5% dos votos a nível nacional.
Além de garantir que a maioria dos congressistas republicanos estão seguros da sua posição eleitoral, tendo, por isso, maior margem de manobra para tomar posições impopulares, a redistribuição dos distritos congressionais também resultou numa maior polarização dos círculos eleitorais. Por norma, os distritos controlados por um congressista democrata são constítuidos por uma maioria de liberais, enquanto que os distritos nas mãos de um republicano são tendencialmente muito conservadores. Assim, os congressistas do GOP têm, grosso modo, um eleitorado significativamente mais conservador do que o eleitor médio norte-americano. E, como é óbvio, esse eleitorado opõe-se ao Obamacare, provavelmente o programa federal mais odiado de sempre pelo movimento conservador dos Estados Unidos.
Podemos, então, concluir que os congressistas republicanos, ao combaterem a implementação do novo sistema de saúde, estão apenas a cumprir a vontade dos eleitores que representam. É preciso ainda recordar que os congressistas têm, com honrosas excepções, pouca notoriedade e influência a nível nacional. Apenas um pequeno número terá a ambição de alcançar cargos estaduais ou nacionais, pelo que lhes interessa, sobretudo, manter satisfeitos os seus constituintes. 
Com esta explicação, torna-se mais compreensível a tomada de posição dos republicanos na Câmara dos Representantes. Todavia, nem o facto de a postura do GOP ser menos irracional do que à primeira vista se poderia pensar reveste de objectividade a sua posição. Isto porque, mais tarde ou mais cedo, terão de ceder de forma a permitir que o governo volte a funcionar normalmente. E, no final, o Obamacare continuará a ser the law of the land, mas o shutdown terá, ao que tudo indica, fortes consequências políticas e eleitorais para o Partido Republicano

terça-feira, 1 de outubro de 2013

SHUTDOWN!

E o impensável aconteceu: à meia-noite de hoje, em Washington D.C., o governo federal norte-americano foi encerrado depois de o Congresso não ter chegado a um acordo para a aprovação de um orçamento temporário que permitiria manter os serviços geridos pelo governo dos Estados Unidos a funcionar até ao final do ano.
As negociações entre democratas e republicanos não chegaram a bom porto devido à posição inflexível dos republicanos da Câmara dos Representantes, que exigiam a eliminação ou o corte de fundos para o sistema de saúde conhecido como Obamacare, ideia totalmente rejeitada pelos democratas.
Esta é uma postura muito dura por parte dos republicanos mais radicais e que pode ter graves consequências políticas e eleitorais para o GOP. Todas as sondagens têm indicado que a grande maioria dos norte-americanos não concorda com a estratégia utilizada pelos republicanos da House e, agora, quando os efeitos do shutdown começarem a ser sentidos na pele pelos milhares de funcionários públicos que estão a ser enviados para casa sem ordenado e quando os meios de comunicação social derem um enorme destaque ao que se está a passar, é muito provável que a imagem do Partido Republicano saia muito beliscada desta crise.
No seio do GOP, há, contudo, quem esteja preocupado com a posição assumida pelo caucus republicano da Câmara dos Representantes. Chegou a falar-se mesmo de uma rebelião dos republicanos moderados face à ala mais extremista. Todavia, quando uma proposta que visava ultrapassar o bloqueio ao orçamento foi votada, apenas seis congressistas republicanos votaram ao lados dos democratas, um número insuficiente para ultrapassar a maioria do GOP. Os democratas é que não perderam tempo e encetaram de imediato uma barragem de publicidade nos distritos dos congressistas republicanos mais vulneráveis culpando-os pela crise governamental.
Agora, resta esperar que uma das partes ceda, sendo que é mais provável que sejam os republicanos a fazê-lo, dado que se espera que sejam eles os principais responsabilizados por esta crise. Aliás, tudo indica que as consequências para o Partido Republicano serão ainda mais nefastas do que aquelas que sofreram Newt Gingrich e os republicanos, em 1996, quando se deu o último shutdown em Washington, durante a Presidência de Bill Clinton. Se assim for, a vida não ficará nada fácil para o GOP e mesmo as eleições intercalares de 2014 podem vir a ser muito influenciadas pelo modo como esta crise se desenrolar.
Será também interessante perceber como reage Barack Obama a esta situação, numa altura em que os seus números de aprovação têm vindo a cair significativamente. Se conseguir parecer "presidencial" e assumir a gestão e resolução da crise, então poderá conseguir um novo balão de oxigénio para este seu segundo mandato; se, por outro lado, a sua reacção for inócua e não mostrar capacidade de liderança, então o rótulo de lame duck pode chegar mais cedo do que nunca.