Dois dias depois do Shutdown,
continua a não haver acordo em Washington e os serviços não essenciais do
governo federal continuam encerrados. Ontem, na Casa Branca, Barack
Obama reuniu-se com os líderes democratas e republicanos do Congresso,
mas nenhum entendimento foi alcançado. Os republicanos continuam a
insistir no seu ataque ao Obamacare e Obama é intransigente na defesa da
maior vitória legislativa da sua presidência.
Para
muitos, pode parecer estranha a posição republicana. É verdade que a
reforma do sistema de saúde norte-americano continua a dividir opiniões
nos Estados Unidos. Contudo, essa reforma foi aprovada pelo Congresso,
confirmada pelo Supremo Tribunal e passou o teste das urnas no ano
passado. Assim sendo, porque razão continuam os congressistas
republicanos tão empenhados na sua luta para derrubar o Obamacare?
Para
perceber a resposta a esta questão é preciso recuarmos às eleições
intercalares de 2010. Nesse ano, o Partido Republicano alcançou uma
grande vitória e, além de roubar a maioria na Câmara dos Representantes
aos democratas, conseguiu o controlo da maioria dos órgãos legislativos
estaduais. Ora, são exatamente as legislaturas estaduais que determinam,
a cada dez anos, o desenho e a distribuição dos círculos eleitorais que
determinam a eleição dos congressistas para a Câmara dos
Representantes. Em 2011, com as câmaras legislativas da maior parte dos
Estados no seu poder, os republicanos redesenharam os círculos
eleitorais de forma a que as suas hipóteses nas eleições para a House
saíssem muito favorecidas. Neste momento, a distribuição dos círculos
eleitorais é-lhes tão favorável que os democratas, para conseguirem uma
maioria na Câmara dos Representantes, teriam de vencer o GOP por 4% ou
5% dos votos a nível nacional.
Além
de garantir que a maioria dos congressistas republicanos estão seguros
da sua posição eleitoral, tendo, por isso, maior margem de manobra para
tomar posições impopulares, a redistribuição dos distritos
congressionais também resultou numa maior polarização dos círculos
eleitorais. Por norma, os distritos controlados por um congressista
democrata são constítuidos por uma maioria de liberais, enquanto que os
distritos nas mãos de um republicano são tendencialmente muito
conservadores. Assim, os congressistas do GOP têm, grosso modo, um
eleitorado significativamente mais conservador do que o eleitor médio
norte-americano. E, como é óbvio, esse eleitorado opõe-se ao Obamacare,
provavelmente o programa federal mais odiado de sempre pelo movimento
conservador dos Estados Unidos.
Podemos,
então, concluir que os congressistas republicanos, ao combaterem a
implementação do novo sistema de saúde, estão apenas a cumprir a vontade
dos eleitores que representam. É preciso ainda recordar que os
congressistas têm, com honrosas excepções, pouca notoriedade e
influência a nível nacional. Apenas um pequeno número terá a ambição de
alcançar cargos estaduais ou nacionais, pelo que lhes interessa,
sobretudo, manter satisfeitos os seus constituintes.
Com esta explicação, torna-se mais compreensível a tomada de posição dos republicanos na Câmara dos Representantes. Todavia, nem o facto de a postura do GOP ser menos irracional do que à primeira vista se poderia pensar reveste de objectividade a sua posição. Isto porque, mais tarde ou mais cedo, terão de ceder de forma a permitir que o governo volte a funcionar normalmente. E, no final, o Obamacare continuará a ser the law of the land, mas o shutdown terá, ao que tudo indica, fortes consequências políticas e eleitorais para o Partido Republicano
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