quinta-feira, 3 de outubro de 2013

A posição republicana

Dois dias depois do Shutdown, continua a não haver acordo em Washington e os serviços não essenciais do governo federal continuam encerrados. Ontem, na Casa Branca, Barack Obama reuniu-se com os líderes democratas e republicanos do Congresso, mas nenhum entendimento foi alcançado. Os republicanos continuam a insistir no seu ataque ao Obamacare e Obama é intransigente na defesa da maior vitória legislativa da sua presidência.
Para muitos, pode parecer estranha a posição republicana. É verdade que a reforma do sistema de saúde norte-americano continua a dividir opiniões nos Estados Unidos. Contudo, essa reforma foi aprovada pelo Congresso, confirmada pelo Supremo Tribunal e passou o teste das urnas no ano passado. Assim sendo, porque razão continuam os congressistas republicanos tão empenhados na sua luta para derrubar o Obamacare?
Para perceber a resposta a esta questão é preciso recuarmos às eleições intercalares de 2010. Nesse ano, o Partido Republicano alcançou uma grande vitória e, além de roubar a maioria na Câmara dos Representantes aos democratas, conseguiu o controlo da maioria dos órgãos legislativos estaduais. Ora, são exatamente as legislaturas estaduais que determinam, a cada dez anos, o desenho e a distribuição dos círculos eleitorais que determinam a eleição dos congressistas para a Câmara dos Representantes. Em 2011, com as câmaras legislativas da maior parte dos Estados no seu poder, os republicanos redesenharam os círculos eleitorais de forma a que as suas hipóteses nas eleições para a House saíssem muito favorecidas. Neste momento, a distribuição dos círculos eleitorais é-lhes tão favorável que os democratas, para conseguirem uma maioria na Câmara dos Representantes, teriam de vencer o GOP por 4% ou 5% dos votos a nível nacional.
Além de garantir que a maioria dos congressistas republicanos estão seguros da sua posição eleitoral, tendo, por isso, maior margem de manobra para tomar posições impopulares, a redistribuição dos distritos congressionais também resultou numa maior polarização dos círculos eleitorais. Por norma, os distritos controlados por um congressista democrata são constítuidos por uma maioria de liberais, enquanto que os distritos nas mãos de um republicano são tendencialmente muito conservadores. Assim, os congressistas do GOP têm, grosso modo, um eleitorado significativamente mais conservador do que o eleitor médio norte-americano. E, como é óbvio, esse eleitorado opõe-se ao Obamacare, provavelmente o programa federal mais odiado de sempre pelo movimento conservador dos Estados Unidos.
Podemos, então, concluir que os congressistas republicanos, ao combaterem a implementação do novo sistema de saúde, estão apenas a cumprir a vontade dos eleitores que representam. É preciso ainda recordar que os congressistas têm, com honrosas excepções, pouca notoriedade e influência a nível nacional. Apenas um pequeno número terá a ambição de alcançar cargos estaduais ou nacionais, pelo que lhes interessa, sobretudo, manter satisfeitos os seus constituintes. 
Com esta explicação, torna-se mais compreensível a tomada de posição dos republicanos na Câmara dos Representantes. Todavia, nem o facto de a postura do GOP ser menos irracional do que à primeira vista se poderia pensar reveste de objectividade a sua posição. Isto porque, mais tarde ou mais cedo, terão de ceder de forma a permitir que o governo volte a funcionar normalmente. E, no final, o Obamacare continuará a ser the law of the land, mas o shutdown terá, ao que tudo indica, fortes consequências políticas e eleitorais para o Partido Republicano

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