A reforma do sistema de saúde americano foi, sem dúvida, a mais importante realização de Barack Obama e dos democratas nos últimos dois anos. Contudo, foi também a mais polémica e, por isso, é natural que o tema mereça lugar de destaque na campanha eleitoral para as midterms.
Os candidatos republicanos, apostando na aparente impopularidade da reforma da saúde, também conhecida, com uma conotação negativa, como o Obamacare, insistem que, se regressarem ao poder, tudo irão fazer para anular a histórica legislação produzida e aprovada pelas maiorias democratas nas duas câmaras do Congresso. Apesar de ser praticamente impossível a revogação da reforma do healthcare (e sobre isso já falei aqui), o GOP aproveita este soundbyte para animar as suas bases e atrair os movimentos Tea Party, que, afinal, ganharam o destaque que têm hoje graças à sua fervorosa oposição a esta reforma.
Se no lado republicano a oposição às alterações no sistema de saúde americano é unânime, o mesmo já não acontece do outro lado da barricada. Apesar de terem sido os democratas os autores da reforma da saúde, estes parecem, agora, algo envergonhados e temerosos que essa legislação os prejudique nas eleições de Novembro. É óbvio que a liderança do partido e os seus membros mais liberais defendem e utilizam a reforma do healthcare na campanha. Porém, muitos dos seus elementos mais moderados e/ou mais vulneráveis eleitoralmente estão a ignorar ou a declararem-se contra o chamado Obamacare, com medo que o seu apoio a essa legislação hipoteque as suas hipóteses nas midterms. Veja-se o caso de Joe Manchin, da West Virginia, que concorre por um lugar no Senado americano e que, depois de ter apoiado a reforma da saúde, afirma, agora, que, se for eleito para o Senado, irá lutar por modificar essa mesma reforma.
A meu ver, os democratas estão a incorrer num erro crasso. Os eleitores sabem perfeitamente quem apoiou e votou a favor da reforma do sistema de saúde e, por isso, é contraproducente vir agora envergonhadamente mudar de opinião. Isso servirá apenas para irritar as bases democratas e para garantir automaticamente o epíteto de flip-flopper (alguém que muda de opinião em algum assunto), o que nunca favoreceu nenhum político. Dito isto, penso que os candidatos democratas deveriam assumir as suas responsabilidades e defender as suas posições originais - a reforma da saúde foi sempre um dos pontos essenciais do programa do partido - aproveitando para explicar melhor aos cidadãos as virtudes do novo figurino do sistema de saúde do país. Até porque, de qualquer forma, o que, nesta altura, verdadeiramente preocupa os americanos é a economia e os empregos.
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