Há bem pouco tempo atrás, quando se fazia a antevisão das eleições intercalares de Novembro deste ano e se analisavam as corridas mais problemáticas para os democratas, surgia, no topo da lista, a previsível derrota do líder da maioria no Senado, Harry Reid, cuja reeleição no seu Estado do Nevada parecia, então, muito complicada. Reid, há 23 anos no Senado, é uma figura que polariza o eleitorado e, além disso, a sua postura e actuação durante algumas das mais duras batalhas na câmara alta do Congresso garantiram-lhe muitos anti-corpos, alguns mesmo dentro do Partido Democrata.
Contudo, os republicanos do Nevada fizeram um favor a Reid e aos democratas e, nas primárias do seu partido, nomearam Sharron Angle - que tinha, em 2006, concorrido, sem sucesso, à Câmara dos Representantes - como a sua candidata. Acontece que Angle é uma figura com ideias bem fora do mainstream político americano. Defende, por exemplo, o abandono da ONU por parte dos Estados Unidos, a extinção do Departamento da Educação e de programas como o Medicare ou a Segurança Social. A concorrente escolhida pelo GOP acredita ainda que o aquecimento global não passa de uma fraude e chegou mesmo a falar em voltar a ilegalizar as bebidas alcoólicas, no que seria um retorno à famosa "lei seca". Além das suas ideias políticas, Angle também tem atraído diversas polémicas, como a que se geraram em torno da sua suposta adesão à Cientologia e da sua proposta de conceder programas de massagens aos presidiários do Nevada.
Assim, não admira que, agora, várias sondagens atribuam a Harry Reid vantagem na corrida frente a Sharron Angle. É ainda previsível que, à medida que os eleitores do Nevada vão conhecendo melhor a candidata republicana e que a vantagem financeira de Reid se acentue, esta diferença entre os dois aumente ainda mais. A confirmar-se uma vitória do líder democrata em Novembro, esta será um exemplo raro de uma má escolha republicana nas suas primárias, pois os eleitores do GOP são, habitualmente, práticos e pragmáticos nas suas escolhas, elegendo o candidato que mais garantias lhes dá numa eleição geral contra o Partido Democrata.
Porém, é possível que este caso não seja um fenómeno isolado, mas sim um sinal do crescente peso das franjas mais conservadoras, com destaque para o Tea Party, no interior do Partido Republicano, o que pode empurrar o GOP para a direita do espectro político, com óbvia repercussão nos candidatos escolhidos nas primárias do partido. Se for o caso, tratar-se-á de uma óptima notícia para os democratas, que sairão, com toda a certeza, a ganhar de um cenário deste género.
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