Li finalmente a obra autobiográfica de Sarah Palin, "Going Rogue", mas na versão portuguesa, cujo título foi traduzido para "Cortar a Direito". A tradução é competente, mas ao ler o livro fiquei com a impressão que a editora não se quis dar ao trabalho de pagar a um revisor, já que os erros são abundantes, sejam gramaticais, semânticos ou palavras em falta.
Este tipo de publicação, onde o autor conta a sua história de vida e anuncia as suas ideias políticas e ideológicas, é praticamente um pré-requisito para qualquer político americano que se preze. Normalmente, os livros são lançados pouco antes de uma eleição importante para que o seu autor tenha direito a algum destaque na imprensa e surja num ou noutro talk-show. Contudo, este "Going Rogue" foi um autêntico fenómeno de popularidade e de mediatismo, aliás, à imagem da sua autora. Com o sucesso do livro, Palin gozou de uma espécie de segunda campanha eleitoral ao realizar uma tournée nacional de apresentação da obra, que serviu para aumentar o seu perfil político a nível nacional e contactar directamente com os cidadãos.
A nível de conteúdo, esta obra pouco oferece. O início até é prometedor, com Palin a fazer uma engraçada narrativa sobre os seus primeiros tempos no Alasca, com algumas histórias interessantes e que ilustram o que é viver no maior e mais inóspito estado americano. Porém, quando a ex-candidata à vice-presidência começa a entrar no âmbito político, a obra perde consistência. No que diz respeito a ideias, Sarah Palin pouco ou nada oferece neste livro. Limita-se a debitar alguns chavões habituais (o direito à vida, a diminuição do peso do Estado,o mercado livre, a segurança nacional e pouco mais) como as suas grandes bandeiras, além de citar e a referir Ronald Reagan até à exaustão, como é da praxe para qualquer conservador.
Durante as 420 páginas do livro, Palin defende-se de muitas das acusações que lhe foram feitas durante a campanha, como o caso do guarda-roupa milionário ou do troopergate. Mas são também notórios os seus esforços para se distanciar da imagem de ser pouco culta ou informada e de não estar preparada para servir ao mais alto nível, pois abundam as citações de personalidades das mais diversas áreas ou referências literárias de todo a espécie. No que diz respeito à campanha de 2008, onde foi a running mate de John McCain, Palin usa esta obra para trucidar os responsáveis pela campanha presidencial de McCain, acusando-os de a gerirem mal e de a utilizaram como bode expiatório para a derrota (o que não deixa de ser verdade).
Como é óbvio, este "Going Rogue" é uma objecto de promoção pessoal e serve para Palin contar a sua versão da história. Aconselho a sua leitura aos mais interessados na política dos Estados Unidos, aos grandes admiradores de Sarah Palin ou a quem estiver a pensar visitar o Alasca. Se não for o caso, então não vale a pena darem-se ao trabalho. Finalmente, confesso que a minha parte preferida foi quando Palin sugeriu que a campanha vitoriosa de Barack Obama foi inspirada na sua corrida à governação do Alasca. É caso para dizer: gotcha!
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