sábado, 26 de outubro de 2024

Onde seguir os últimos 10 dias da campanha


A dez dias da eleição nos Estados Unidos (ainda que já se esteja a votar antecipadamente), a corrida tem-se mantido estável e sem grandes surpresas ou alterações nos números das sondagens. Nos últimos dias, a photo op de Donald Trump num McDonalds, a parada de estrelas, como Barack Obama, Bruce Springsteen ou Beyoncé nos comícios de Kamala Harris ou, ontem, a decisão do Washington Post em não anunciar o seu apoio oficial a um dos candidatos têm marcado a agência mediática.

Para que se possa fazer o melhor e mais detalhado acompanhamento possível destes últimos dez dias de campanha eleitoral, deixo aqui as minhas sugestões dos melhores locais para seguir aquela que muitos consideram como a mais importante eleição presidencial norte-americana de sempre. 

New York Times - Provavelmente o mais conceituado órgão de comunicação social dos Estados Unidos, o NYT é um gigante dos media e apresenta um acompanhamento exaustivo de tudo o que tem a ver com a eleição presidencial. Além da qualidade e quantidade dos artigos, o diário nova-iorquino conta com uma das melhores equipas de sondagens e análise de resultados. Nate Cohn e a já famosa The Needle serão de consulta constante e obrigatória na noite eleitoral. Apesar de existir paywall, neste momento é possível assinar  a versão digital o por apenas 2€/mês. Acreditem que vale bastante a pena.

Politico - Com o advento da internet como a principal fonte de conteúdo noticioso sobre política, o site politico.com tornou-se uma referência e foi capaz de ombrear com nomes históricos do jornalismo norte-americano, como o New York Times, o Washington Post, a CNN ou a NBC. Apesar de já não contar com o factor "novidade", o Politico continua a ter imenso conteúdo e merece uma visita atenta por parte dos verdadeiros political junkies

FiveThirtyEight - Agora integrado na ABC News, o site fundado por Nate Silver (que, entretanto, abandonou o projecto), continua a ser local de visita obrigatória quando queremos saber mais sobre o panorama pré-eleitoral norte-americano. Ainda que a experiência de navegação não seja actualmente a melhor (tenho sempre dificuldades em, por exemplo, encontrar o seu forecast eleitoral), o conteúdo continua muito interessante e com uma apresentação bastante apelativa. Além do site, aconselho o seu podcast, apresentado por Galen Druke, que já sigo religiosamente desde 2016. 

Real Clear Politics - Apesar de contar com muito conteúdo e de agregar muita informação de outros locais, uso principalmente o RCP para conhecer as mais recentes sondagens. No âmbito dos estudos de opinião, o Real Clear Politcs é, porventura, o local com mais informação disponível e conta ainda com os seus próprios mapas eleitorais, onde apresenta o estado da corrida e faz previsões de resultados, tanto para a presidência como para as outras corridas mais importantes. 

Political Wire - Fora da época alta da política americana (leia-se, em anos em que não há eleições presidenciais), o site de Taegen Goddard (tem nome de persondagem de Game of Thrones) é a minha principal fonte de informação. Com um ritmo de actualização verdadeiramente frenético, podemos encontrar neste local, de forma muito resumida, todos os principais destaques do dia no que diz respeito à política norte-americana. 

CNN - Seguir a noite eleitoral neste já histórico canal de notícias é um clássico. A CNN conta, a meu ver, com a melhor equipa de pivots da televisão norte-americana, com destaque para Wolf Blitzer e Jake Tapper. Além disso, John King e a sua magic wall são absolutamente indispensáveis para percebemos ao pormenor o que se passa no terreno e quais as tendências que possibilitam antever o desfecho da noite eleitoral. Em 2024, como em todas as noites eleitorais que acompanho desde 2008, terei a minha tv ligada na CNN. 

Newsletters - Qualquer site ou meio de comunicação social conta com uma ou mesmo várias newsletters para criar engagement e entrar directamente na caixa de correio dos leitores. Contudo, aqui, queria deixar apenas duas sugestões, ambas relacionadas com sondagens. A newsletter do Silver Bulletin, do acima mencionado Nate Silver, e a Christal Ball de Larry Sabato. Silver e Sabato são verdadeiros ícones da análise de sondagens e das corridas presidenciais e eu sou um leitor fiel de ambos, há já muitos anos. 

Nestes ou noutros locais, pois cada um terá os seus gostos e as suas preferências, esta eleição será acompanhada, a par e passo, por milhões de pessoas espalhadas por todo o mundo. Espero que também o Máquina Política seja um local de passagem para muitos interessados ou simples curiosos neste incrível acontecimento que são as eleições presidenciais dos Estados Unidos da América. 

sábado, 19 de outubro de 2024

Vantagem para Trump?


A presente campanha pela presidência dos Estados Unidos tem sido marcada, como tenho dito, por um enorme equilíbrio, à imagem do que aconteceu nas duas últimas corridas pela Casa Branca, em 2016 e 2020. Nos últimos, dias, porém, assistiu-se a um (muito) pequeno movimento nas sondagens em favor de Donald Trump. Apesar de ser uma tendência pouco perceptível, parece-me que é algo mais do que mero ruído estatístico e que o candidato republicano, a pouco mais de duas semanas do dia das eleições, melhorou ligeiramente a sua posição na corrida.

Depois do desastroso debate de Joe Biden e até ao ainda presidente abdicar da candidatura à reeleição a favor da sua vice-presidente, Kamala Harris, Trump parecia lançado para um segundo mandato na Casa Branca, pois eram muitas as dúvidas sobre a capacidade de Biden conseguir cumprir mais quatro anos na presidência. Mas, com Harris, o entusiasmo democrata ressurgiu e a boa prestação da democrata no seu único debate com Trump, bem como a bem sucedida convenção nacional democrata foram dois importantes momentos que catapultaram a actual vice-presidente para bons números nas sondagens e a ter um pequeno favoritismo na corrida.

Contudo, nas últimas duas ou três semanas, a campanha estabilizou e não houve grandes motivos de destaque. Talvez isso tenha levado alguns independentes com maior tendência para votar no GOP a "voltar para casa", depois de terminado o período de "lua de mel" de Kamala Harris. Estamos a falar de uma ínfima percentagem de eleitores e não de um movimento significativo. As sondagens nacionais, por exemplo, mostravam uma vantagem da democrata na casa dos 3%, quando, agora, esse número desceu para cerca de 2%, o que pode ser suficiente para que Trump vença o colégio eleitoral, mesmo saindo derrotado no número total de votos a nível nacional. 

Nos sete battleground states decisivos, Trump tem também mostrado sinais de força e o site Real Clear Politics atribui já vantagem ao candidato republicano em todos eles. Todavia, é preciso ter em atenção que, neste ciclo eleitoral, e especialmente nos dias mais recentes, temos sido inundados por sondagens de empresas de estudos de opinião com ligação ao partido Republicano e que isso tem sempre influência nos números, mesmo que os modelos agregadores de sondagens tenham em consideração esse house effect nos resultados que apresentam. 

Este alegado movimento nas sondagens foi já detectado pelos modelos que tentam prever o resultado da corrida. Tanto o FiveThirtyEight como o SilverBulletin atribuem, à hora que escrevo, um ligeiro favoritismo a Trump, que conta, em ambos os modelos, com uma probabilidade de vitória de 52%, tendo Harris 48% de hipóteses de ganhar a eleição.  

Também as duas campanhas parecem observar, nos seus números e sondagens internos, esta mesma tendência, pelo menos a julgar pela sua estratégia actual. Trump comporta-se como o frontrunner da corrida, a recusar um segundo debate com a sua opositora e dando-se ao luxo de desperdiçar tempo e recursos em eventos em estados que estão fora do seu alcance, como em Nova Iorque e na Califórnia. Por sua vez, Kamala insiste num segundo debate que possa voltar a ser-lhe favorável e mostra-se mais propensa ao risco e tenta alargar o seu universo de eleitores, tendo mesmo dado uma entrevista à conservadora Fox News, procurando uma incursão no eleitorado do seu adversário.

Significa tudo isto que Donald Trump tem agora um momentum decisivo e que a eleição começa a escapar a Kamala Harris? Neste momento, a minha resposta é "não". Ainda que Trump tenha melhorado a sua posição, a verdade é que a corrida continua virtualmente empatada e ter 48% ou 52% de hipóteses não é uma diferença estatisticamente relevante. Assim, o desfecho da disputa pela Casa Branca continua tão incerto como um coin flip

sexta-feira, 18 de outubro de 2024

A batalha pelo Congresso

Como não podia deixar de ser, a corrida pela Casa Branca captará a maior parte das atenções na noite eleitoral de 5 de Novembro. Contudo, os eleitores norte-americanos irão às urnas para decidir um enorme número de outras eleições, sejam elas para órgãos locais (como cargos de xerife, por exemplo), referendos vários (os que têm como tema o aborto terão destaque nacional), para os governos estaduais ou para o Congresso federal. Com mais impacto a nível nacional e até internacional, são estas últimas eleições que, depois das presidenciais, suscitam maior interesse para os observadores internacionais. 

Em 2024, e como sempre acontece a cada dois anos, todos os 435 lugares da Câmara dos Representantes vão a votos, enquanto que, no Senado, são 34 dos 100 assentos que estarão em disputa. À imagem do que acontece na corrida presidencial, também a disputa pelo controlo das duas câmaras do órgão legislativo do governo federal dos Estados Unidos da América está a ser marcado pelo equilíbrio entre democratas e republicanos.

Actualmente, a Câmara dos Representantes é controlada pelo GOP, ainda que por uma margem muitíssimo curta - existem 220 congressistas republicanos e 212 democratas (três lugares estão, por agora, vagos). Tudo indica que 2024 será muito semelhante aos últimos ciclos eleitorais da House e que, independentemente do vencedor, a diferença em número de congressistas entre os dois partidos se mantenha em números reduzidos. 

A pouco mais de duas semanas das eleições, as previsões não permitem arriscar que partido poderá indicar o Speaker of the House. O FiveThirtyEigth, por exemplo, atribui 53% de hipóteses para uma vitória republicana e 47% para um triunfo democrata. Já no Cook Political Report, podemos consultar uma visão mais abrangente do estado da corrida pela Câmara dos Representantes e perceber que, dos 435 lugares, 202 estarão, com diferentes graus de certeza, do lado democrata e 208 deverão cair para os republicanos. Sobram, assim, 27 corridas empatadas que decidirão quem consegue alcançar, pelo menos, os 218 assentos necessários para controlar a câmara baixa. 

Como se percebe por estes números, o equilíbrio é a nota dominante e qualquer um dos lados pode sair vitorioso. Contudo, as eleições para a Câmara dos Representantes, por terem um universo relativamente pequeno e poderem ser mais voláteis, são mais propícias a surpresas - não é invulgar o resultado final de uma corrida para a House diferir em dezenas de pontos percentuais dos números das sondagens. Além disso, pode também existir um spillover de dimensão nacional nestas eleições e um dos partidos conseguir bater as sondagens e amealhar todas as corridas tossup e até algumas que pareciam estar relativamente seguros no campo adversário. 

Se na disputa pela Câmara dos Representantes a situação é a de um verdadeiro empate, já a decisão do controlo do Senado parece estar bastante encaminhada a favor do Partido Republicano. Se hoje os democratas são maioritários na câmara alta, contando com 51 senadores democratas ou independentes que votam do seu lado, o panorama deste ciclo eleitoral para 2024 é-lhes imensamente desfavorável, já que, dos 34 lugares em jogo, 23 são ocupados por democratas. Desses 23, é certo que perderão o assento na West Virginia, com a reforma de Joe Manchin, o último dos Blue Dogs (democratas conservadores). Além disso, tudo indica que sairão ainda derrotados no Montana, onde o Senador Jon Tester tem surgido consistentemente atrás do challenger republicano, Tim Sheehy. 

Por seu lado, os democratas não têm grandes perspectivas de virarem qualquer lugar em mãos republicanas, ainda que existam alguns long shots no Nebraska, no Texas e na Florida. Não acredito, porém, que consigam vencer qualquer uma destas eleições, sendo que será no Nebraska, um bastião republicano, que terão mais probabilidades de sucesso. Vencendo uma destas corridas, terão ainda de triunfar em todas as corridas actualmente empatadas - Ohio, Pennsylvania, Michigan e Wisconsin (e, não por coincidência, todos estes estados situam-se no Midwest e, com excepção do Ohio, são também battleground states na corrida pela Casa Branca) e de esperar que Kamala Harris derrote Donald Trump para que seja o vice-presidente democrata a desempatar esse eventual cenário de 50 democratas e 50 republicanos no Senado. 

Assim, temos em perspectiva uma longa e interessante noite (madrugada, no caso dos portugueses) eleitoral. Além de ficarmos a saber (será?) quem ocupará a Sala Oval, também descobriremos se o novo presidente terá no Congresso um aliado para fazer passar os seus pacotes legislativos, se terá um Congresso hostil, ou se assistiremos a um cenário híbrido, com uma câmara de cada cor partidária (como agora acontece) para baralhar ainda mais o já turbulento panorama político norte-americano. 

sábado, 12 de outubro de 2024

The Issues




















Num panorama político cada vez mais polarizado e onde existem menos indecisos e menos swing voters, os grandes temas das campanhas vão perdendo destaque e importância na corrida eleitoral, mas, ainda assim, existem alguns assuntos que dominam as atenções e são decisivos aquando da escolha do sentido de voto dos eleitores. Importa, por isso, passar em revista os principais temas que têm dominado a campanha pela Casa Branca e que determinarão o vencedor da eleição.

Economia - Como sempre, "it's the economy, stupid" e a economia continua a ser o factor mais importante que os eleitores analisam quando decidem o seu voto. Actualmente, a economia norte-americana está numa situação relativamente positiva, com o desemprego em baixa, a bolsa em alta e o poder de compra a subir ligeiramente. Segundo as tendências, a economia ainda melhorará, ainda que pouco significativamente, até 5 de Novembro.

Posto isto, seria de esperar que Kamala Harris, vice-presidente na actual administração, colheria os louros da boa prestação económica dos Estados Unidos. Contudo, no tema da economia, é Donald Trump que tem levado vantagem junto dos eleitores, principalmente pelo trauma que a alta inflação de 2022 e 2023 deixou na população norte-americana durante o mandato de Biden e porque a maioria dos eleitores tem memória positiva do mandato de Trump no que à economia diz respeito.  

Democracia - A insurreição de 6 de Janeiro de 2021 e a negação da derrota na última eleição por parte de Trump, colocou dúvidas sobre a saúde da democracia dos Estados Unidos da América. Muitos democratas temem que, caso perca, Donald Trump volte a não assumir a derrota e apele à revolta dos seus apoiantes, o que pode originar numa nova onda de violência. Temem ainda que, caso vença, Trump utilize o seu poder presidencial para atacar até acusar judicialmente os seus adversários políticos. 

Por seu lado, grande parte do eleitorado republicano, baseado em informação falsa e totalmente infundada, preocupa-se com uma eventual fraude eleitoral, como votos de imigrantes ilegais, que impeçam a vitória do seu candidato, como alegam, falsamente, ter acontecido há quatro anos. 

Segurança e Imigração - Apesar de serem dois temas claramente distintos, escolhi juntar a segurança e imigração num só tópico dada a clara estratégia da campanha republicana em ligar a imigração a uma alegada sensação de insegurança no país. Para a história dos debates presidenciais americanos ficou já a estapafúrdia frase de Trump "They're eating cats and dogs", alegando que imigrantes do Haiti estariam a raptar e comer animais domésticos numa pequena cidade do Ohio. Apesar dos exageros e da retórica incendiária de Trump, a verdade é que os americanos estão mesmo preocupados com o aumento dos números da imigração e com a situação na fronteira com o México, que continua a ser atravessada por milhares de imigrantes ilegais à procura de uma vida melhor.

Apesar de os Estados Unidos serem, desde a sua fundação, a Terra da Oportunidade e de a Estátua da Liberdade ter uma inscrição que começa com "Give me your tired, your poor", a desconfiança em relação aos que chegam do exterior tem vindo a crescer. E já não são apenas os brancos a defender uma maior restrição à imigração: os afro-americanos e mesmo os hispânicos de segunda ou terceira geração temem uma grande vaga migratória que ameace os seus empregos e mesmo a sua segurança. Por isso, este é um tema onde a mensagem republicana, de fecho de fronteiras e deportação de imigrantes ilegais leva vantagem sobre a posição mais permissiva dos democratas.

Educação e Saúde - Menos presenet do que noutros ciclos eleitorais, os assuntos internos da nação americana, como a educação, a saúde ou a segurança social, têm sido, desta vez, menos falados. Isto acontece, principalmente, porque é menor a diferença entre as posições dos dois grandes partidos. Trump é um populista e não um conservador fiscal e defensor de um small government, como os candidatos republicanos tradicionais, e até já deixou de tentar desmantelar o Obamacare, o sistema de saúde reformado por Barack Obama que, ao longo dos anos, se tornou bastante popular. Como é tradicional, os norte-americanos continuam a confiar mais nos democratas para estes temas, mais relacionados com o welfare state e com os serviços providenciados pelo estado, por isso talvez não seja uma boa notícia para eles que estes assuntos estejam menos presentes na campanha. 

Aborto - Se no tópico anterior falei num assunto caro aos democratas, mas agora menos premente na opinião pública, o aborto pode muito bem ter sido o tema que veio compensar essa perda. A revogação da "Roe v Wade" pelo Supremo Tribunal voltou a trazer o aborto para a linha da frente das campanhas eleitorais norte-americanas. Este tema tem sido bastante "cavalgado" pelos candidatos democratas e essa estratégia teve resultados muito positivos nas eleições intercalares de 2022. Sem uma resposta coerente e eficaz para um assunto onde a posição republicana é altamente impopular, o GOP tem procurado não falar no tema, o que não tem resultado perante a insistência democrata em apostar no aborto como tópico constante no trilho de campanha. Donald Trump tem feito grandes flip flops sobre este tema, o que ainda tem ajudado mais a campanha de Kamala Harris, que aposta forte neste tópico para incentivar o eleitorado feminino (em especial, as jovens) a votar na candidata democrata. 

Política Externa - Deixei para o fim o tema que nos diz mais a nós, não norte-americanos: a política externa dos Estados Unidos. Este ano, a guerra na Ucrânia e o conflito israelo-palestiniano têm dominado as notícias e trazem algumas da mais profundas diferenças entre Kamala Harris e Donald Trump. Se Kamala quer manter e até aumentar o apoio norte-americano à Ucrânia, já Donald Trump, cuja boas relações com Putin são conhecidas, já disse querer cortar o apoio à nação invadida pela Rússia e ajudar a encontrar uma solução imediata para o fim da guerra na Europa Oriental. No que diz respeito à situação no Médio Oriente, o candidato republicano é totalmente pró-israelita enquanto que a democrata tenta um maior equilíbrio entre o apoio a Israel e a procura de uma solução de dois estados para o conflito, apelando à contenção de Israel nas suas acções militares, reflectindo esta posição uma maior divisão do eleitorado democrata à relativamente questão israelo-palestiniana. 

Assim, se Putin e Netanyahu preferirão, obviamente, uma vitória de Donald Trump, já a esmagadora maioria do mundo ocidental torcerá pela vitória de Kamala Harris, até porque o anterior presidente continua a ameaçar com um isolacionismo cada vez mais pronunciado e que poderá minar a coligação política e militar do Ocidente. Porém, para os norte-americanos, em 2024, a política externa continuará a ser muito pouco relevante na hora de escolherem em quem votar, já que serão os assuntos internos, referidos em cima, a revestirem-se de maior importância para a grande decisão de 5 de Novembro.

quarta-feira, 9 de outubro de 2024

O que os números nos dizem


Abri este ciclo de 2024 no Máquina Política a apresentar os battleground states decisivos para a escolha do próximo presidente dos Estados Unidos. Nesse post, salientei que a corrida está empatada e totalmente em aberto, mesmo que hoje tenha saído uma sondagem Reuters/Ipsos nacional que apresenta uma vantagem de sete pontos percentuais para Kamala Harris (47%-40%). Todavia, e tendo em conta todos os estudos de opinião conhecidos, é provável que esta sondagem seja um outlier, ainda que não se possa descurar que este resultado seja a primeira manifestação de uma tendência que venha a ser confirmada mais tarde.

A menos de um mês do dia das eleições, é previsível que não haja grandes alterações no estado da corrida, salvo uma surpresa de Outubro ou se Donald Trump aceitar um novo debate televisivo. Assim, podemos antever que aquilo que as sondagens no dizem hoje é muito representativo dos resultados eleitorais definitivos. Isto, claro, se considerarmos que as sondagens não falharão, como aconteceu em 2016 e em 2020.

Em média, as sondagens têm um desvio de cerca de 4% relativamente ao resultado final. Por isso, e como o consenso dos estudos de opinião é que a corrida se encontra empatada, podemos ainda ter um resultado relativamente desnivelado para qualquer um dos lados, sendo que, a verificar-se tal desvio, será mais provável que aconteça a favor de Trump, cujos resultados foram subvalorizados nas duas anteriores eleições. Porém, com dois ciclos eleitorais para analisarem, e com o fenómeno Trump hoje bem mais consolidado, é natural que as empresas de sondagens tenham conseguido adaptar os seus modelos de forma a preverem com mais exactidão os resultados do nomeado do GOP.

Por outro lado, importa perceber que, por causa do sistema de Colégio Eleitoral, os números nacionais pouco importam para termos uma noção de quem lidera a disputa pela Casa Branca. Como aconteceu em 2016 e 2020, os republicanos contam com uma importante vantagem nos votos eleitorais, porque os democratas "desperdiçam" muitos votos em estados muito populosos (a Califórnia é o melhor exemplo) e porque os republicanos vencem em muitos dos estados mais pequenos, cujo peso no Colégio Eleitoral é desproporcionalmente elevado. Desta forma, calcula-se que Kamala Harris terá de vencer pelo menos por 3% no total dos votos para estar confortável na contagem dos votos eleitorais.

Assim, o mais relevante será seguir os números nos sete estados decisivos, mas como todas as sondagens têm colocado a corrida em todos eles como estando dentro da margem de erro, também não conseguimos, neste momento, retirar grandes ilações a não ser aquela que já fiz: a eleição está empatada e é impossível antecipar um vencedor. Seja como for, deixo em baixo um apanhado das previsões dos vários analistas e modelos de agregação de sondagens, ficando bem demonstrado a total imprevisibilidade da corrida pela presidência norte-americana. 

Nate Silver Bulletin - Harris 55% - Trump 45% (hipóteses de vitória)

FiveThirtyEight - Harris - 53% - Trump 46% (hipóteses de vitória)

Cook Political Report - Harris 226 - Trump 219 (votos eleitorais)

Larry Sabato's Christal Ball - Harris 226 - Trump 219  (votos eleitorais)

Real Clear Politics - Harris 215 - Trump 219 (votos eleitorais)

The Economist - Harris 273 - Trump 265 (votos eleitorais, sem toss ups)

segunda-feira, 7 de outubro de 2024

The Donald













Em 2016, no início da campanha das primárias presidenciais republicanas, disse, num programa da TSF, que fazia todo o sentido que a candidatura de Donald Trump fosse seguida, como fazia o Huffington Post, nas secções de entretenimento dos media e não nas de política. Não podia ter dito um maior disparate, pois, hoje, oito anos depois, Trump já venceu três nomeações presidenciais pelo GOP e ocupou, durante um mandato, a Sala Oval. Como em 2016 e em 2020, The Donald é novamente o candidato do partido conservador à Casa Branca.

Trump nasceu em 1946, no seio de uma família abastada. O seu pai era um empresário de sucesso no sector do imobiliário e Donald frequentou sempre escolas privadas de Nova Iorque, incluindo a escola militar local. Tirou um degree em Economia, primeiro em Warthon e, depois, na Universidade da Pennsylvania. 

Terminados os estudos, Donald Trump empregou-se na empresa do pai, a Trump Management, e começou uma vida dedicada ao imobiliário. Primeiro, sob a alçada do pai e, mais tarde, de forma independente, o magnata tornou-se um nome incontornável na cena imobiliária de Nova Iorque e dos Estados Unidos. O seu sucesso é alvo de muita polémica e o seu império sofreu muitos altos e baixos, mas é indesmentível que, durante décadas, o nome Trump foi sinónimo de prosperidade e riqueza. 

O seu império, mas também as suas várias polémicas, tanto a nível profissional como pessoal, fizeram dele uma das grandes figuras da vida cor-de-rosa de Nova Iorque. Trump tornou-se um ícone da cultura popular norte-americana e, depois de ganhar fama no imobiliário, apostou forte no show business (quem não se lembra do seu cameo no Home Alone 2?). No início dos anos 2000, lançou o seu próprio reality show, o The Apprentice, que rapidamente se tornou um grande sucesso e duraria até ao seu protagonista chegar à Casa Branca. 

Depois dos negócios e do entretenimento, Trump procurou uma nova arena para brilhar e, naturalmente, virou-se para a política. Registado como republicano, apesar de ter contribuído para vários candidatos democratas - como os Clinton -, nunca se definiu propriamente como conservador. Como em tudo na sua vida, Donald procurava criar controvérsias, trazendo-se a si próprio para as luzes da ribalta. Foi assim, por exemplo, que, em 1988, se auto-proclamou como candidato a vice-presidente de George Bush ou que se tornou uma das principais vozes que acusavam Barack Obama de não ter nascido nos Estados Unidos e, por isso, não ser elegível para a presidência da nação norte-americana. 

Em 2000, chegou a ser candidato às primárias presidenciais do Partido Reformista, apenas para desistir pouco tempo depois. Mas o momento decisivo chegaria em 2011, num célebre jantar dos correspondentes da Casa Branca, em que marcou presença e em que foi alvo das piadas de Barack Obama. Visivelmente incomodado e sentindo-se publicamente humilhado, terá sido nessa ocasião que decidiu concorrer à Casa Branca para se vingar de Obama e dos democratas. Contudo, foi a partir daí que se assumiu definitivamente como republicano e conservador, tendo mesmo participado na CPAC e marcado presença nos primeiros estados a terem primárias. Estava a lançar as sementes que dariam frutos quatro anos mais tarde.

Em 2016, os republicanos tinham de decidir quem seria o seu candidato presidencial num ano em que os democratas deixavam de ter o popular Obama no boletim de voto. Com boas hipóteses de vitória, foram muitos e de nomeada os concorrentes republicanos, como, por exemplo, Jed Bush, Marco Rubio ou Ted Cruz. Todavia, esse ciclo eleitoral foi absolutamente tomado de assalto por Donald Trump, mesmo quando muitos (eu incluído) pensavam que a sua candidatura não era séria, mas apenas uma publicity stunt destinada a aumentar as audiências do seu reality show. 

Ao longo das primárias, foram caindo um a um os vários candidatos "anti-Trump" que se destacavam nas sondagens momentaneamente. No final, a nomeação foi para Donald e essa vitória haveria de transformar radicalmente o Partido Republicano, quiçá para sempre. Trump, com o seu discurso disruptivo e sem filtros, agradou a um grande segmento do eleitorado republicano, tornando-se o herdeiro e grande representante do movimento populista Tea Party. A partir daí, o GOP passou a ser o partido de Trump e os republicanos clássicos tornaram-se uma espécie em vias de extinção. 

Contudo, na eleição geral, Trump era visto como o underdog face à favorita Hillary Clinton. A antiga primeira-dama, senadora e secretária de estado, tinha um currículo impressionante, enorme experiência e contava com o Partido Democrata totalmente do seu lado (apesar de alguns ruidosos apoiantes de Bernie Sanders). Já Donald não tinha qualquer experiência política e era visto com muita desconfiança por parte do establishment republicano. Acossado por escândalos e atrás de Hillary nas sondagens, nem o próprio Trump acreditava na sua eleição. 

Aconteceu, porém, que Hillary Clinton demonstrou ser uma candidata sofrível, tendo cometido muitos erros de palmatória. Além disso, as sondagens subvalorizaram repetidamente as hipóteses de vitória de Donald Trump e os democratas apostaram recursos em estados que não teriam hipóteses de ganhar, descurando locais onde pensavam, erradamente, estar seguros. A poucos dias da eleição, a famosa carta de James Comey terá também sido decisiva e selou a vitória de Trump que se tornou, contra todas as expectativas, o 45º presidente dos Estados Unidos.

O seu mandato presidencial foi marcado, primeiro, pela desregulação, pela quebra de acordos e tratados e internacionais e até pela ameaça da retirada dos Estados Unidos da NATO. A boa prestação da economia norte-americana nos primeiros anos do seu mandato, haveria de ser totalmente revertida pela eclosão da COVID-19. A sua gestão da pandemia foi um verdadeiro desastre e isso poderá ter ditado a sua derrota nas eleições de 2020. Do seu mandato na Casa Branca, ficam ainda para a história os dois processos de impeachment que lhe foram movidos pela maioria democrata na Câmara dos Representantes - primeiro por ter, alegadamente, sugerido trocar favores políticos por armamento numa conversa telefónica com Vladimir Zelenksy e, depois, pelo seu papel na insurreição de 6 de Janeiro de 2021.

Vencido nas urnas por Joe Biden, Trump nunca assumiu a derrota, preferindo esconder-se atrás de teorias completamente infundadas, alegando que venceu a eleição e que esse triunfo lhe foi roubado por uma massiva fraude eleitoral. Assim, Trump evitava a assunção da derrota, algo que seria fatal para alguém que, como ele,  vê o mundo dividido entre vencedores e falhados. A reação violenta dos seus apoiantes haveria de tornar o 6 de Janeiro num dia infame. Na altura, pensou-se que Trump tinha ido longe demais e que estaria acabado para a política. Porém, o seu poder total sobre a sua falange de apoio não esmoreceu e o GOP resignou-se a esquecer o sucedido e a continuar a apoiar o seu líder. Ainda hoje, a maioria dos eleitores republicanos acredita na mentira da eleição roubada, prova de que Trump controla, ainda, o eleitorado e, consequentemente, o partido republicano. 

Agora, em 2024, Donald Trump tenta a reeleição para a Casa Branca. Se contra Joe Biden a vitória parecia certa, já face a Kamala Harris a conversa é outra e o triunfo incerto. Até ao momento, Trump mantém-se igual a ele mesmo, talvez ainda mais irascível e fora de controlo. A tentativa de assassinato a que sobreviveu deu-lhe ainda mais confiança e sente-se, agora, uma figura messiânica destinada a salvar os Estados Unidos. Ou, pelo menos, é isso que gosta de dizer, ao mesmo tempo que vende bíblias, relógios e todo o tipo de parafernália com o seu nome e cara para aumentar a sua riqueza pessoal.

Acossado por vários processos judiciais, tendo já sido declarado culpado num deles, Donald Trump precisa desesperadamente de ser eleito para, pelo menos, adiar a conclusão destes processos e, até, quem sabe, perdoar-se a si próprio através do poder presidencial. Com as sondagens a darem a corrida como empatada, a vitória está em dúvida, mas uma coisa é certa: Trump já entrou para a história como, porventura, a figura mais polarizadora da história dos Estados Unidos. 

domingo, 6 de outubro de 2024

Kamala Harris, no lugar certo e à hora certa


Kamala Devi Harris é a candidata democrata à Presidência dos Estados Unidos, após a histórica (e tardia) desistência do ainda presidente Joe Biden, que havia vencido as primárias do partido, praticamente sem oposição de relevo. Apesar de ter entrado tarde na corrida, Kamala teve um impacto imediato e rapidamente agregou o Partido Democrata em torno da sua candidatura à Casa Branca. 

Filha de uma imigrante indiana e de um jamaicano negro, Kamala nasceu em Oakland, na Califórnia e seguiu Direito, tendo estudado na histórica universidade afro-americana de Howard e na Universidade da Califórnia. E foi neste estado do Oeste americano que Harris fez carreira como prosecutor, primeiro como District Attorney de São Francisco e, mais tarde, como Attorney General do estado californiano. 

Em 2016, decidiu, sem surpresa, prosseguir a sua carreira na política, tendo concorrido para o cargo no Senado deixado vago pela consagrada senadora Barbara Boxer, eleição que venceu sem dificuldade. Na câmara alta do Congresso dos Estados Unidos, Kamala Harris cedo se destacou pelas suas posições progressistas, como na defesa pela legalização da cannabis ou do DREAM act. Contudo, foi principalmente nas audiências de confirmação de Brett Kavanaugh para o Supremo Tribunal que a então senadora ganhou notoriedade nacional. Na altura, utilizou a sua experiência como advogada de acusação para colocar o juiz Kavanaugh em sérias dificuldades, tanto que a sua confirmação para o Supremo esteve em dúvida mesmo até ao último momento.

Com a popularidade junto do eleitorado mais à esquerda em alta, Kamala decidiu candidatar-se à presidência em 2020 e era vista, no início desse ciclo eleitoral, como uma das principais favoritas a ser a nomeada democrata para enfrentar o então presidente Donald Trump. A sua campanha até começou bem e ficou famoso o debate em que usou a sua herança cultural para atacar Joe Biden e o seu passado no Senado, quando se dava amigavelmente com senadores republicanos sulistas (leia-se, racistas). Porém, o destaque que ganhou fez dela um alvo e nos debates que se seguiram foi atacada pelos seus adversários e o seu passado como prosecutor foi utilizado para a desacreditar junto do eleitorado mais progressista. Além disso, Harris, que nunca tinha participado numa eleição verdadeiramente competitiva, demonstrou não estar à vontade no trilho da campanha e foi perdendo momentum e apoios financeiros, até, eventualmente,  ter de desistir da candidatura e passar a apoiar Joe Biden para a nomeação democrata. 

Curiosamente, foi também um momento num debate das primárias democratas que estaria na origem da sua escolha como candidata à vice-presidência no ticket democrata, juntamente com Biden. Antes das primárias da Carolina do Sul, Joe Biden, na época quase afastado da luta pela nomeação democrata, anunciou no debate que antecedeu essa primária, que, caso fosse eleito, escolheria uma mulher afro-americana para a vice-presidência. Com essa promessa, Joe Biden tinha selado o endorsement do influente congressista da Carolina do Sul, James Clyburn, que carrega um enorme peso junto da comunidade afro-americana neste estado do sul dos Estados Unidos. Com Clyburn do seu lado, Biden venceu folgadamente as primárias do estado, conquistou o apoio do establishment democrata e garantiu a nomeação. Após a promessa que fez nesse debate, Harris foi sempre vista como a principal favorita para ser Veep de Biden, como acabaria por acontecer. 

Com a nomeação à vice-presidência garantida, Kamala Harris não se destacou de sobremaneira na campanha nacional de 2020, muito por culpa da pandemia de 2020. Cumpriu o seu papel no debate vice-presidencial face a Mike Pence, mas não deslumbrou e a sua fama como candidata medíocre em campanhas não desapareceu, mesmo após a vitória do ticket Biden/Harris que fez dela a primeira mulher na vice-presidência.

Na Casa Branca, Kamala ocupou um lugar de relativo destaque, tendo em conta que o papel do vice-presidente, sem funções executivas definidas pela Constituição, depende sempre do portfolio que lhe é atribuído pelo chefe de estado. Em especial, a vice de Biden foi mais relevante na política externa e na questão da imigração, tendo sido escolhida pelo Presidente para tentar resolver o problema da imigração ilegal na fronteira entre os Estados Unidos e o México.

O papel de um vice-presidente é sempre ingrato e os quatro anos de Kamala Harris na Casa Branca também não foram pacíficos. Com a avançada idade de Biden a assombrar as suas hipóteses da reeleição, o senior staff presidencial viu sempre a vice-presidente, bem mais jovem e enérgica, como uma ameaça à recandidatura do presidente octogenário. Não admira, por isso, que Kamala tenha ficado com a batata quente da questão da imigração, que nunca teria hipóteses de resolver, ou que saíssem constantes leaks da West Wing da Casa Branca que prejudicavam a sua imagem. 

No final, uma desastrosa prestação de Joe Biden no debate face a Trump e a enorme pressão por parte dos líderes democratas - com Nancy Pelosi a assumir a dianteira das manobras de bastidores -, levou à desistência do ainda Presidente que abdicou a favor da sua vice. Harris, herdeira da nomeação democrata sem ter de passar por primárias, assumiu a tocha do combate contra Trump e entusiasmou, de imediato, a base do Partido Democrata que voltou a acreditar numa vitória na eleição, algo que parecia já quase impossível dada a fragilidade de Biden. 

Apesar da tardia entrada na corrida, Kamala Harris tem quebrado com o passado e tem-se revelado uma boa candidata. Apesar dos problemas anteriores, manteve no lugar quase todo o staff da campanha de Biden e chamou David Plouffe, um dos grandes arquitectos das campanhas vitoriosas de Barack Obama, tendo conseguido uma transição pacífica e suave. Nos dois grandes momentos da campanha, o discurso de aceitação da nomeação e no debate frente a Trump, apresentou-se sem falhas e conseguiu duas grandes prestações. De menos positivo, até agora, apenas se lhe pode apontar ser pouco propensa para tomar riscos, como se pode ver no facto de evitar ao máximo a exposição ao media e na escolha do seu candidato a vice-presidente (continuo a achar que não escolher Josh Shapiro foi um erro). 

Kamala Harris tem, ao longo da sua vida, demonstrado uma enorme capacidade para se retransformar. Veja-se, por exemplo, que, em 2020, foi uma das candidatas mais progressistas nas primárias mais à esquerda da história do Partido Democrata para, em 2024, ser uma das nomeadas presidenciais democratas mais moderadas dos tempos modernos. Para alguns, isso representa inteligência e adaptabilidade, enquanto que, para outros, isso significará vazio ideológico e uma coluna cervical demasiado flexível.

Como se viu, fruto da sorte, das circunstâncias, ou da sua adaptabilidade, a história de vida de Kamala prova-nos que tem estado sempre no lugar certo à hora certa. Falta saber se a 20 de Janeiro de 2025, pelas 12 horas de Washington D.C. também estará no Capitólio, a prestar juramento como a primeira mulher presidente dos Estados Unidos da América. 

sábado, 5 de outubro de 2024

Os sete magníficos

Sim, ainda existem blogues e o Máquina Política é um desses dinossauros que sobrevivem à mudança dos tempos. Bem, pelo menos de quatro em quatro anos.

A exactamente um mês do dia das eleições nos Estados Unidos, o Máquina Política regressa da hibernação para acompanhar a mais importante, interessante e apaixonante eleição política do mundo, na opinião desta maquinista. 

Como não podia deixar de ser, o primeiro post sobre a corrida pela Casa Branca de 2024 é uma espécie de snapshot da disputa pelos 538 votos eleitorais que decidirão quem se sentará na Sala Oval a partir de 20 de Janeiro de 2025: Kamala Harris ou Donald Trump.

À imagem do que tem acontecido nas últimas duas eleições, em que Trump foi o candidato republicano, esta campanha pela presidência norte-americana está a ser marcada pelo equilíbrio e, neste momento, a corrida é um verdadeiro empate, sem que nenhum dos candidatos possa ser considerado favoritos. Se ouvirem ou lerem o contrário, trata-se apenas de wishful thinking, seja de um lado ou de outro.

Por causa do sui generis sistema eleitoral norte-americano, estas eleições serão decididas, como sempre acontece, num punhado de estados, já que em 43 dos 50 estados (sem contar com Washington DC, verdadeiro bastião democrata), o vencedor parece, à partida, mais ou menos decidido, salvo grandes surpresas ou erros de monta das sondagens. Se distribuirmos os votos eleitorais desses estados pelo seu presumível vencedor, percebemos que a vice-presidente Kamala Harris conta já com 226 votos eleitorais bem encaminhados e o ex-presidente Donald Trump tem 219 grandes eleitores relativamente seguros do seu lado. Ou seja, nenhum dos dois candidatos está perto de atingir o número mágico de 270 electoral votes necessários para a vitória. 

Assim sendo, as atenções estão viradas para os sete super swing states deste ciclo eleitoral: Wisconsin, Pennsylvania, Michigan, North Carolina, Georgia, Arizona e Nevada. Em qualquer um dos destes estados, o equilíbrio tem sido a nota dominante, com as sondagens a mostrarem empates técnicos em todos eles. Consequentemente, ambas as campanhas estão a apostar tudo nestes sete estados que decidirão, certamente, o vencedor da eleição presidencial.

Neste momento, e apesar de, segundo as sondagens, as diferenças entre Harris e Trump estarem, em todos estes estados, dentro da margem de erro, diria que, se tivesse de apostar, a candidata democrata terá uma minúscula vantagem no Michigan, no Nevada e no Wisconsin, enquanto Trump estará, por muito pouco, na frente na Georgia e no Arizona. Já na Pennsylvania e na North Carolina, ainda não arriscaria um favorito. 

Está, por isso, ainda tudo por decidir na corrida pela Casa Branca. Com o equilíbrio a ser a nota dominante, o mais provável é termos, de hoje a um mês, uma longa noite pela frente, sendo até provável que não seja a 5 de Novembro que ficaremos a saber quem sucederá a Joe Biden à frente dos destinos dos Estados Unidos da América. 

sábado, 7 de novembro de 2020

President-elect Joe Biden























Como se esperava, Joe Biden foi declarado, esta tarde, como o próximo presidente dos Estados Unidos, sucedendo a Donald Trump na Casa Branca. Até 20 de Janeiro, será o Presidente-elect e Kamala Harris a Vice-President-elect. A CNN foi a primeira cadeia noticiosa a quebrar o impasse e a atribuir a vitória na corrida a Biden, tendo sido seguida, pouca depois, por todas as outras.

Foram longas horas de espera, ainda que logo na manhã de quarta-feira fosse já possível antever um triunfo do democrata. Contudo, com a demora no processo de contagem de votos, apenas hoje, depois de Biden ter reforçado a sua liderança na contagem dos votos da Pennsylvania, as networks arriscaram anunciar a vitória do ex-vice-presidente.

Desfeitas as dúvidas, e com os resultados a serem conhecidos na sua totalidade, já será possível, nos próximos dias, fazer um balanço mais aprofundado à eleição que pôs todo o mundo a seguir a escolha do líder norte-americano durante quatro longos dias. Mas, agora, é altura de dizer simplesmente: Congrats, Mr. President-Elect!

quinta-feira, 5 de novembro de 2020

O rescaldo provisório

À hora que escrevo, início da tarde de dia 5, ainda não é conhecido oficialmente o vencedor. Até agora, optei por não escrever, dado que fazer contas antes de haver grande parte dos votos contados, não costuma dar bons resultados. Neste ciclo eleitoral, esse foi um problema particularmente sentido, devido à demora na contagem dos votos por correio em muitos estados e por esse factor novidade dificultar ainda mais a projecção de um possível vencedor. Contudo, arrisco, neste momento, algumas notas.

As sondagens voltaram a falhar, nomeadamente em alguns battleground states, com destaque para a Florida e para os estados do midwest. No primeiro caso, não conseguiram prever o colapso do condado de Miami-Dade para os democratas. Aqui, Joe Biden venceu por apenas 7 pontos percentuais, quando Clinton, em 2016, conseguiu uma margem de 30%. Assim, e apesar de ter melhorado a perfomance do candidato presidencial democrata no resto do estado, nomeadamente, Biden viu fugir a possibilidade de vencer os 29 votos eleitorais da Florida. No midwest, não foi o passeio que alguns estudos apontavam. O Michigan e o Wisconsin foram decididos apenas ontem e a Pennsylvania ainda está por ser declarada para qualquer um dos candidatos. 

Ainda assim, pode muito bem acontecer que cheguemos à conclusão que a eleição presidencial não foi tão equilibrada como agora parece. Joe Biden já tem, neste momento, cerca de 3,5 milhões de votos de vantagem no voto popular sobre Donald Trump. Este número continuará a crescer nos próximos dias, à medida que se vão contando votos por correio, maioritariamente democratas. Só na California, Biden deverá conseguir cerca de mais dois milhões de vantagem sobre Trump. Também no Colégio Eleitoral, o cenário pode mudar radicalmente a favor do democrata. Neste momento, o antigo vice-presidente é favorito para vencer na Pennsylvania, no Arizona e no Nevada, tendo ainda boas possibilidades na Georgia. Vencendo nestes quatro estados, Joe Biden ultrapassa a marca dos 300 votos eleitorais.

Se a corrida presidencial parece favorecer Biden, a noite foi muito negativa para o partido democrata nas eleições para o congresso. Na Câmara dos Representantes, esperava-se que os democratas reforçassem a sua maioria, ganhando aos republicanos entre 5 a 15 lugares. Contudo, tal previsão não se confirmou e os democratas podem vir mesmo a perder assentos na House. No Senado, também não se confirmou a reconquista da maioria pelos democratas, após a derrota no Maine e a provável desfeita na Carolina do Norte. Resta agora aos democratas vencer a segunda volta nas duas corridas para o Senado na Georgia (uma delas ainda por confirmar), para assim chegar aos 50 assentos e poder contar com o voto de desempate de uma eventual vice-presidente Kamala Harris.

Agora, resta esperar pela contagem dos votos nos estados onde ainda não conhecemos o vencedor. Neste momento, apenas a Carolina do Norte parece favorável para o ainda presidente Trump. Na Pennsylvania, no Arizona e no Nevada é Biden quem tem melhores possibilidades. Por fim, a Georgia é impossível de prever, sendo um verdadeiro toss-up. Com Joe Biden muito perto dos 270 votos eleitorais para conseguir a nomeação, tudo indica que será mesmo o 46º presidente dos Estados Unidos. Contudo, e para não cometer o erro que muitos cometeram na noite de dia 3 ao prever uma vitória de Trump como muito provável, o melhor é mesmo esperar pela contagem de todos os votos.

terça-feira, 3 de novembro de 2020

Horários de fecho das urnas
































Espera-se uma longa noite, para quem, como eu, tenciona ficar acordado a seguir o (possível) contar dos votos nos Estados Unidos. Para ajudar os political junkies que queiram assistir ao desenrolar dos acontecimentos, fica aqui o horário de fecho das urnas em cada estado, segundo a hora de Lisboa. A negrito, assinalo os estados a seguir com mais atenção:

23:00: A maior parte do Indiana e metade do Kentucky;

24:00: A maior parte da Florida; o resto do Indiana, o resto do Kentucky, Georgia, a maior parte do New Hampshire, South Carolina, Vermont e Virginia;

00:30: Ohio; North Carolina; West Virginia; 

01:00: Alabama, Connecticut, o resto da Florida, Illinois, parte do Kansas, Maine, Maryland, Massachusetts, a maior parte do Michigan, Mississippi, Missouri, o resto do New Hampshire, New Jersey, a maior parte do North Dakota, Oklahoma, Pennsylvania, Rhode Island, metade do South Dakota, Tennessee, a grande maioria do Texas, D.C.;

01:30: Arkansas;

02:00: Arizona, Colorado, o resto do Kansas, Louisiana, o resto do Michigan, Minnesota, Nebraska, New Mexico, New York, o resto do North Dakota, o resto do South Dakota, o resto do Texas, Wisconsin e Wyoming;

03:00: Parte do Idaho, Iowa, Montana, Nevada, parte do Oregon e Utah;

04:00: Califórnia, a maior parte do Oregon e Washington (estado);

05:00: Parte do Alaska e Hawaii;

06:00: O resto do Alaska.

Os battleground states

Feita a minha previsão para os resultados das eleições norte-americanas, importa clarificar as minhas decisões e fazer um ponto de situação nos battleground states, aqueles onde os eleitores escolherão, na verdade, o próximo presidente dos Estados Unidos.

OS ESTADOS DECISIVOS

Flórida (29 votos eleitorais) - Sendo o derradeiro battleground state, a Florida tem sido, nas últimas décadas, o mais disputado dos estados em corridas presidenciais e, este ano, não é diferente. Com sondagens para todos os gostos, é muito difícil antever o vencedor no sunshine state. Se num primeiro momento, os democratas pareceram levar vantagem no voto antecipado, uma onda posterior de votantes do GOP, veio equilibrar as contas. Neste estado, o voto latino será decisivo, até porque existe um sub-grupo de eleitores, os cubano-americanos, que votam tendencialmente no GOP (ainda que essa tendência venha a esmorecer). Como habitualmente, o condado de Miami-Dade será decisivo, com Biden a ter que conseguir margens junto dos jovens e minorias nos centros urbanos para contrariar a força de Trump junto dos eleitores rurais. Sendo um estado muito envelhecido por ser destino de reforma para muitos idosos, a forma como o presidente geriu a pandemia pode favorecer Biden junto de uma facção do eleitorado que, há quatro anos, preferiu Trump a Hillary Clinton. Contudo, o histórico recente na Florida é favorável ao GOP, pelo que aposto, sem convicção, na sua vitória.

Pennsylvania (20 VE) - Provavelmente, será o tipping point state, ou seja, o estado que dará a vitória a um dos candidatos. Sem a Pennsylvania, Trump não tem chances de ser reeleito, mas, vencendo aqui, passa a ser o favorito à vitória. Para vencer, Joe Biden precisa de uma operação de turnout melhor do que a de Hillary há quatro anos, especialmente junto dos jovens e das minorias. Devido ao voto antecipado, pode demorar alguns dias até conhecermos o vencedor, particularmente se a corrida for muito equilibrada. As sondagens têm dado uma vantagem constante ao democrata, ainda que por uma margem relativamente curta. Aposto numa vitória Biden, já que Trump venceu por uma unha negra em 2016 e , este ano, num clima muito mais negativo para o actual presidente, duvido que consiga aguentar o seu score na Pennsylvania. 

Georgia (16 VE) - Um sonho antigo para os democratas, que já tentaram vencer aqui em 2016, a Georgia parece agora verdadeiramente em jogo. Em 2018, a democrata Stacey Abrams perdeu a corrida para Governador por 1,2% e provou a competitividade democrata no estado. Depois disso, o partido de Biden manteve a sua estrutura intacta e continuou a registar eleitores. Numa eleição mais concorrida, e por isso mais propensa a atrair jovens e eleitores das minorias, o Partido Democrata tem hoje uma grande possibilidade de vencer num estado que lhe foge desde 1992. A crer nas sondagens, a corrida será disputada até ao último voto.

North Carolina (15 VE) - Este é porventura o estado globalmente mais importante da noite, dado que tem corridas competitivas para a eleição do Presidente, de um lugar no Senado e do cargo de Governador do estado. Por isso, muitos milhões de dólares foram gastos, pelos dois lados, nas campanhas da Carolina do Norte. Barack Obama venceu o estado em 2008, mas perdeu-o em 2012. Há quatro anos, Trump voltou a dar a vitória aos republicanos. Sendo um estado com grandes mudanças demográficas, teima em não seguir o caminho que fez a sua vizinha Virginia, rumo ao domínio democrata. Este ano, Joe Biden parece ligeiramente à frente, mas não seria uma surpresa assistir a um triunfo de Donald Trump.

Arizona (11 VE) - Depois de as sondagens terem dado, durante largas semanas, uma vantagem relativamente confortável a Joe Biden no Arizona, os últimos estudos de opinião parecem indicar uma ligeira recuperação do actual presidente. Contudo, os democratas parecem ter já um pé firme no estado e são favoritos à vitória, fruto da sua vantagem em Phoenix, o grande centro urbano do Arizona, e entre os eleitores hispânicos, que representam uma importante fatia do eleitorado. Uma vitória democrata neste estado, poderá ser decisiva, pois permite a Biden um caminho para os 270 votos eleitorais sem precisar dos 20 votos eleitorais da Pennsylvania. 

OS ESTADOS LEANING BIDEN

Michigan (16 VE) e Wisconsin (10 VE) - Juntei estes dois estados, por terem muito em comum. São ambos da zona do midwest, com muitos blue collar works e deram a vitória a Trump, há quatro anos. Além disso, é muito provável que, desta vez, repitam a tendência e apostem no mesmo candidato. Segundo as sondagens, estes dois estados estão relativamente seguros para Joe Biden, que consegue melhores resultados com os eleitores brancos do que aqueles que Clinton alcançou há quatro anos. Em particular no Michigan, com uma forte comunidade afro-americana, a presença de Kamala Harris no ticket democrata pode ajudar a motivar os eleitores negros a comparecer às urnas e a votar democrata. Um triunfo de Trump nestes estados (ou apenas num), ainda que muito improvável, será, certamente, sinal que continuará na Casa Branca. 

New Hampshire (4 VE) e Nevada (5 VE) - Dois estados pequenos, mas que são, por normal, muito importantes nas eleições presidenciais dos Estados Unidos. Ambos são early states nas primárias e ambos deverão atribuir os seus votos eleitorais aos democratas, como tem acontecido desde 2008. Contudo, as semelhanças acabam aí. O New Hampshire é um estado do nordeste, maioritariamente branco e com um eleitorado tendencialmente independente e moderado. Segundo as sondagens, Biden segue confortavelmente para a vitória. Ainda que no Nevada a corrida parece relativamente mais equilibrada, acredito que o eleitorado hispânico e a grande influência dos sindicatos de trabalhadores de casinos, aliados dos democratas, serão suficientes para garantir a vitória de Joe Biden.

OS ESTADOS LEANING TRUMP

Texas (38 VE) - Este será um dos estados mais interessantes de seguir, mais logo. Com uma grande comunidade hispânica e vários centros urbanos em rápido crescimento, o Texas já alguns ciclos eleitorais que vem sendo apontado, erroneamente, como possível battleground state. Parece, porém, que chegou finalmente a vez do The Lone Star State merecer esse título, pois as sondagens indicam uma clara aproximação de Joe Biden. Ainda antes de chegar o dia de hoje, já os texanos tinham batido os anteriores recordes de participação eleitoral, pelo que será muito difícil prever o resultado no Texas com base nos dados de eleições anteriores. A prudência diz-me para esperar uma vitória republicana, mas, se tivesse que apostar numa surpresa, seria no Texas que colocaria as minhas fichas.

Ohio (18 VE) e Iowa (6 VE) - O Ohio tem a fama de votar sempre no candidato que vence a eleição geral, mas poderá muito bem perder o título nesta eleição. Nos últimos anos, o estado tem virado à Direita, fruto do declínio dos seus centros urbanos e do ressentimento de muitos eleitores brancos pelo desaparecimento de postos de trabalho ligados à indústria e à extracção de recursos minerais. Esse ressentimento foi aproveitado por Donald Trump que, com o seu discurso proteccionista, atraiu muitos blue collar workers para as suas fileiras. Este ano, a corrida deverá ser mais apertada do que em 2016, mas Trump parte na frente. O Iowa, um estado predominantemente rural e branco, é terreno favorável para o perfil do Presidente, ainda que tenha perdido popularidade devido à sua gestão da pandemia, pois o Iowa tem sido especialmente fustigado pelo vírus nas últimas semanas. Contudo, se, no final da noite, Donald Trump não tiver vencido estes dois estados, então é porque deixará a Casa Branca em Janeiro de 2021.

E AINDA...

1 VE no Maine e 1 VE no Nebraska - O Maine e o Nebraska quebram o tradicional winner takes all e atribuem os seus votos eleitorais de uma forma mista: 2 votos ao vencedor no estado e 1 voto ao vencedor em cada distrito. Por isso, e apesar de os estados em si não parecerem estar em disputa, um distrito em cada um dos estados pode diferir do resultado do estado como um todo. No Nebraska, Joe Biden parece bem colocado para conquistar o voto eleitoral do 2º distrito do estado, que abrange a cidade de Omaha. No Maine, também no 2º distrito, existe um maior equilíbrio, mas eu atribuo melhores possibilidades para o candidato democrata. São apenas dois votos eleitorais, mas, numa corrida muito equilibrada, podem fazer a diferença.

As minhas apostas

 
















A poucas horas de abrirem as urnas nos Estados Unidos, deixo aqui a minha aposta para o figurino do Colégio Eleitoral depois de se contarem todos os votos. Este foi um exercício especialmente difícil de fazer, tão grande é o número de battleground states com sondagens a mostrarem diferenças entre os dois candidatos dentro da margem de erro. 

Entre eles, o mais difícil de prever foi a Florida, mas dadas as vitórias republicanas neste estado em 2016 e 2018, atribuo favoritismo mínimo a Donald Trump. Mas que isso não descanse os simpatizantes do GOP, já que, em 2012, apostei na vitória de Romney no sunshine state e, em 2016, num triunfo de Hillary Clinton. Por isso, o meu histórico na Florida não é o melhor.

A confirmar-se a minha previsão, Joe Biden será o próximo presidente norte-americano, relegando Trump para a condição de one term President. Com uma margem clara, mas não tão grande como se poderia prever, Biden conseguiria uma coligação alargada de estados do Nordeste, do Sul, do Midwest e do Oeste. 

Maior que a vitória de Biden no Colégio Eleitoral, deverá ser o seu triunfo no total de votos a nível nacional. Nesse campo, que não conta para o apuramento do resultado final, mas é sempre importante para a legitimação do mandato presidencial, Biden poderá mesmo conseguir uma margem de dois dígitos. No mínimo, conseguirá, pelo menos 5/6 pontos percentuais de vantagem. Na minha opinião, a diferença entre os dois concorrentes deverá rondar os 7/8%, o que demonstra bem a actual desvantagem dos democratas no Colégio Eleitoral - em 2008, Barack Obama, com uma margem de 7,2% no voto popular, amealhou 365 votos eleitorais.

















Passemos agora para a disputa pelo Senado, que, nos últimos dias, ganhou um maior equilíbrio fruto de uma ligeira recuperação dos candidatos republicanos em alguns estados. Com muitas corridas equilibradas, foi bastante difícil apresentar um mapa sem toss ups, pelo que este é cenário mapa com muitas interrogações. 

Em primeiro lugar, deixei ficar sem decisão as duas eleições na Georgia, já que ambas deverão obrigar a uma segunda volta. Depois, atribuí triunfos aos democratas no Maine, onde a republicana Susan Collins se tem aguentado, mas continua atrás nas sondagens, na North Carolina, onde o candidato democrata tem surgido constantemente na frente apesar de um escândalo sexual a semanas da eleição, e no Arizona. Para o GOP, ficaram os lugares no Kansas, no Montana, na South Carolina, estados profundamente republicanos, e os assentos no Iowa e no Texas. Nestes dois últimos estados, a minha decisão foi mais difícil: com as sondagens a dizerem que ambas as corridas estão muito equilibradas, favoreci os dois senadores do GOP, pois, tradicionalmente, o estatuto de incumbent confere alguma vantagem.

Com este cenário, os democratas têm vantagem na disputa pelo controlo da câmara alta, pois conseguem metade dos assentos e podem ainda alcançar pelo menos mais um lugar nas corridas da Georgia. Além disso, contarão, a confirmar-se a minha previsão de uma vitória de Joe Biden, com o voto de desempate da vice-presidente Kamala Harris. 

Finalmente, na Câmara dos Representantes, o Partido Democrata deverá reforçar a sua maioria e conquistar mais uma dezena de assentos, podendo esse número variar entre cinco e quinze. Desta forma, os democratas completam o tri-factor, fazendo o pleno nas eleições para a Casa Branca, Senado e Câmara dos Representantes, o que poderá ser fundamental para o sucesso legislativo dos democratas nos próximos dois anos. 

Nota ainda para as eleições para Governador em alguns estados. Sem grandes motivos de interesse a este nível no presente ciclo eleitoral, as corridas mais interessantes estão no Montana, onde o candidato republicano é favorito, e na North Carolina, onde é o democrata que parte com vantagem. 

Terminadas as previsões, importa agora seguir as contagens dos votos e consultar os resultados finais. Para ajudar, apresentarei, mais logo, um resumo dos estados a seguir e os horários dos fechos das urnas em todos os estados. Afinal, este é o dia mais longo do ano e está apenas a começar.

segunda-feira, 2 de novembro de 2020

As últimas previsões

É (finalmente) amanhã o grande dia das eleições nos Estados Unidos. Com mais de metade dos votos já submetidos, os restantes eleitores deslocam-se às urnas para escolher os seus governantes e legisladores. A pouco mais de 24 horas do fecho das urnas, é altura de fazer uma última ronda pelas previsões, sendo que a mais importante (a minha) ficará para o dia de amanhã.

FiveThirtyEight

Hipóteses de vitória: Biden 90%; Trump 10%

Votos eleitorais: Biden 351; Trump 187

Real Clear Politics

Votos eleitorais: Biden 335Trump 203

Cook Political Report

Votos eleitorais: Biden 290Trump 125; Toss up 123

The Economist

Hipóteses de vitória: Biden 95%Trump 5%

Votos eleitorais: Biden 351Trump 187

Electoral Polls

Hipóteses de vitória: Biden 96%; Trump 4%

Votos eleitorais: Biden 335; Trump 203

Larry Sabato's Crystal Ball

Biden 321Trump 217; 

Como se pode verificar, a vantagem de Joe Biden face a Donald Trump tem sido constante e estabilizou desde o último debate. Se confiarmos nas sondagens, então o ex-vice de Barack Obama será o 45º presidente dos Estados Unidos e substituirá Trump a partir de 20 de Janeiro de 2021. 

Contudo, como costumam dizer os políticos da nossa praça, "sondagens valem o que valem" e temos de esperar pelos resultados oficiais, que podem demorar alguns dias, para saber se, desta vez, os estudos de opinião acertaram ou se temos um novo golpe de teatro, como o que aconteceu em 2016. 


Argumentos finais: Donald Trump

Argumentos finais: Joe Biden

domingo, 1 de novembro de 2020

The Lincoln Project

Hoje em dia, Donald Trump tem controlo total e absoluto sobre o Partido Republicano.  Se nos recordarmos das primárias de 2016, isso pode parecer estranho, pois, na altura, o establishment republicano combateu ferozmente o actual presidente. Nomes como Marco Rubio ou Lindsey Graham, agora 100% alinhados com Trump, eram grandes críticos do mogul de Nova Iorque. Mas, com a vitória nas primárias, Donald Trump conquistou uma enorme popularidade junto das bases republicanas, pelo que, agora, a esmagadora maioria dos políticos eleitos do GOP, usando de um natural instinto de sobrevivência, não ousa desafiar o actual presidente norte-americano.

Existem, porém, raras excepções. John McCain foi o exemplo mais notório, o que lhe valeu um ódio visceral por parte de Trump em resposta. Mais tarde, também o senador Jeff Flake, depois de anunciar que não se candidataria a um novo mandato no Senado, se tornou uma voz dissonante no partido na crítica ao presidente. Mais recentemente, o voto de Mitt Romney a favor da destituição de Trump foi uma rara demonstração de resistência no seio do partido Republicano.

Mas este ciclo eleitoral trouxe um movimento de operativos republicanos que se juntaram para fazer frente a Donald Trump e auxiliarem a candidatura de Joe Biden no objectivo comum da derrota do trumpismo. Constituído por nomes como Steve Schmidt, director da campanha de McCain em 2008, George Conway, advogado e marido da assessora de Trump, Kellyanne Conway, ou Michael Steele, antigo presidente do Partido Republicano, o The Lincoln Project tem feito uma  grande e colorida campanha contra o 45º presidente dos Estados.

Com uma forte operação nas redes sociais, o grupo já conseguiu, por diversas vezes, enervar Donald Trump, ao ponto de este ter atacado com violência, via Twitter, o grupo e os seus mais proeminentes membros. Além disso, o The Lincoln Project tem-se mostrado eficaz em angariar fundos para criar conteúdos e difundir sua própria campanha anti-Trump e pró-Biden. Com um grande conhecimento do eleitorado republicano, o grupo tem criado alguns dos mais eficazes vídeos de campanha, como o que encabeça este post. 

Se Joe Biden vencer, pode muito bem agradecer ao Lincoln Project, pois o grupo de republicanos anti-Trump terá dado uma importante contribuição para o fim de The Donald na Casa Branca. Já o Partido Republicano, se quiser mudar de rumo e cortar com os loucos anos Trump, bem pode olhar para este grupo como motivação e inspiração para se reinventar e voltar a ser "o partido de Lincoln".

sábado, 31 de outubro de 2020

O controlo do Senado está em jogo
















Como o prometido é devido, hoje abordo a disputa pelo Senado, a câmara alta do Congresso dos Estados Unidos, actualmente dominada pelo Partido Republicano, que conta com 53 dos 100 lugares do mais conceituado dos órgãos legislativos norte-americanos. Ao contrário do que acontece na contenda pela Câmara dos Representantes, onde uma vitória democrata é praticamente certa, o controlo do senado está em jogo neste ciclo eleitoral e, a crer nas sondagens, é muito provável que os democratas consigam, a 3 de Novembro voltar a uma posição maioritária na câmara alta.

Este ano, acontecem 35 eleições para o Senado, sendo que 33 são  regulares e 2 eleições especiais no Arizona e na Georgia, para os eleitores escolherem os sucessores eleitos de John McCain, falecido em 2018, e de Johnny Isakson, que se demitiu em 2019, respectivamente (até agora, esses lugares foram ocupados de forma provisória por políticos nomeados pelos governadores dos seus estados). 

Entre assentos que não vão a votos e aqueles que é certo que seguirão nas mãos dos democratas, temos 44 lugares, à partida, no lado azul. Depois, podemos já atribuir o Colorado ao Partido Democrata, já que o candidato democrata, John Hickenlooper, tem surgido com sucessivas e folgadas vantagens nas sondagens sobre o senador do GOP, Cory Gardner. Sendo o Colorado, hoje em dia, um estado com grande inclinação para os liberais, este será o primeiro lugar a mudar de mãos.

Por sua vez, os republicanos contam, inicialmente, com 41 assentos do seu lado, contando os lugares que não se disputam e aqueles onde contam com uma vantagem insuperável. Entre estes, coloco a corrida do Mississippi, apesar de alguns analistas considerarem que poderá ser competitiva. Além disso, parece quase certo que, no Alabama, o senador democrata, Doug Jones, não conseguirá manter o seu lugar e será derrotado pelo republicano Tommy Tuberville. 

Sobram, assim, 13 corridas cujo desfecho está em dúvida, pelo que serão essas que teremos de seguir com mais atenção na noite eleitoral e que decidirão, contados os votos, qual dos partidos controlará o Senado. Com base na minha perceção das várias contendas, colori o mapa eleitoral da forma que podem ver na imagem de cima. Dividindo os estados por categorias, cheguei às seguintes escolhas:

Leaning Republican - Texas, South Carolina e Alaska. 

O Alaska é sempre um estado difícil de prever, por causa da falta de sondagens, sendo que os poucos estudos de opinião mostram uma curta vantagem republicana. O Texas e a South Carolina são ambos estados do Sul, onde os republicanos são claramente favoritos, mas em que o simples facto de serem considerados relativamente competitivos demonstra como o clima político actual nos Estados Unidos é desfavorável ao GOP. Ainda assim, é o senador da SC, Lindsey Graham que parece em pior situação (ponderei mesmo colocar esta corrida como toss-up).

Leaning Democrat - Minnesota, Michigan, Maine

À imagem do que acontece nas corridas presidenciais, o upper midwest  parece terreno favorável para os liberais, pelo que os actuais senadores democratas deverão manter os seus assentos no Minnesota e no Michigan. Já no Maine, a senadora republicana, Susan Collins, muito dificilmente será reeleita e a democrata Sara Gideon está numa posição muito favorável para ficar com o seu lugar.

Toss-up - Montana, Iowa, Arizona, North Carolina, Kansas, Georgia 1 e 2

Estas são as corridas mais equilibradas e onde é mais difícil prever um vencedor. No Arizona, na North Carolina e no Iowa os democratas parecem estar em melhor posição, ao passo que no Kansas e no Montana os candidatos republicanos podem ter uma ligeira vantagem. Já na Georgia, a situação é muito complicada, porque, aqui, há lugar a segunda ronda, caso nenhum dos candidatos consiga uma maioria absoluta. Em ambas as eleições, será difícil que não venha a ser necessária a eleição runnoff (segunda volta), ainda que seja possível que o democrata Jon Ossof consiga ultrapassar os 50% na sua corrida face ao senador republicano David Perdue, que está a ter muitas dificuldades. Talvez o mais importante factor a reter destas sete disputadas eleições é que todas elas têm um ponto em comum - todos os lugares em disputa são, actualmente, ocupados por senadores republicanos. 

Assim se percebe que o Partido Democrata tem um caminho muito mais desimpedido rumo à maioria no Senado do que o GOP. E os democratas poderão mesmo precisar apenas de alcançar 50 assentos, pois cabe ao vice-presidente o voto de desempate em caso de igualdade numa votação do Senado e, nesta altura, é Joe Biden o favorito a vencer a eleição presidencial. Nesse caso, apenas precisariam de vencer dois dos sete estados toss-up, algo que parece bastante provável, pelo que se pode prever que uma vitória democrata, ainda que não seja certa, é bastante provável.

sexta-feira, 30 de outubro de 2020

Vamos saber o resultado na noite eleitoral?

Por esta altura, esta é uma das perguntas que mais se faz. E a resposta mais correcta é que é possível que se conheça oficialmente o vencedor da eleição presidencial na noite de 3 de Novembro (madrugada em Portugal), mas que isso é pouco provável. 

Nunca como este ano, por causa da pandemia, os norte-americanos votaram tanto por correspondência e de forma antecipada. Por isso, muitos estados onde o early voting e o mail voting não eram tão habituais, terão maior dificuldade em gerir o grande fluxo de votos que chegam por correio. Consequentemente, a contagem dos votos poderá demorar mais tempo e isso deverá fazer com que o vencedor em alguns estados só seja conhecido alguns dias depois da noite eleitoral.

Um desses estados é a Pennsylvania, precisamente um swing state decisivo para a disputa pela Casa Branca. Aqui, tudo aponta para que os resultados só estejam todos apurados até ao final da próxima semana, podendo mesmo acontecer que demore mais do que isso, como sucedeu nas primárias presidenciais de Junho neste estado. 

Outros estados, já com experiência neste tipo de votação, começam a contar os votos por correio ainda antes do dia das eleições e esperam ter todos os boletins contados poucas horas após o fecho das urnas. A Florida, com 29 votos eleitorais, é o exemplo mais importante, pelo que saberemos de forma relativamente rápida o vencedor no sunshine state.

No caso de uma eleição muito disputada em vários estados, dificilmente conheceremos, com elevado grau de certeza, quem ganhou a corrida presidencial. Contudo, basta a Joe Biden vencer na Florida para ser possível antever a vitória do democrata, já que Donald Trump precisa de vencer este estado para continuar na Casa Branca. Além disso, deveremos conhecer os resultados noutros swing states que o actual presidente precisa de conquistar, casos da North Carolina e do Arizona. 

Já nos estados do midwest, como no Michigan, e no Wisconsin, o retorno dos resultados deverá ser mais lento e demorado. Nesses estados, must win para Biden, não deveremos conhecer, sem margem para dúvidas, o vencedor na noite eleitoral, salvo no caso de uma vitória folgada de um dos candidatos. 

Assim, em resumo, podemos dizer que um triunfo de Biden poderá ser conhecido na própria noite das eleições, ainda que as cadeias noticiosas não a oficializem. Já no caso de uma vitória de Trump, que acontecerá sempre no cenário de uma corrida muito equilibrada, deverá obrigar a alguns dias de espera. Seja como for, esperemos que os votos sejam contados de forma pacífica e sem polémicas, de forma a que decisão caiba aos eleitores e não aos tribunais.

Nota: aconselho a consulta do manual do 538.com, precisamente sobre este tema.

quinta-feira, 29 de outubro de 2020

A disputa pela House













Na próxima Terça-feira, os eleitores norte-americanos não escolhem apenas o seu presidente para os próximos quatro anos. Além de uma quase infinita variedade de eleições e referendos de nível local e estadual, irá a votos o Congresso, mais precisamente 35 dos 100 senadores e todos os 435 representantes. Sobre o Senado, cujas corridas merecem uma atenção mais detalhada, falarei mais à frente. Hoje, importa prever o que será a configuração da Câmara dos Representantes após as eleições que se aproximam.

Actualmente os democratas controlam a câmara baixa do Congresso, ocupando 232 dos 435 assentos. Em 2018, o Partido Democrata voltou a assumir posição maioritária na House, que lhe escapava desde 2010. Nesse ano, marcado pelas ascensão do Tea Party e pela impopularidade da reforma do sistema de saúde apresentado por Barack Obama (curiosamente, o Obamacare é, hoje, muito popular), os democratas sofreram uma copiosa derrota. Ora, a distribuição dos círculos eleitorais que acontece a cada dez anos sucedeu precisamente após esse ciclo eleitoral, e, por isso, os republicanos, tendo alcançado maiorias em grande parte das legislaturas estaduais, conseguiram uma importante vantagem na forma como os círculos eleitorais foram desenhados. Assim, nas eleições seguintes, apesar de os democratas receberem, um maior número total de votos para a Câmara dos Representantes, ficaram aquém no que diz respeito ao número de deputados.

Em 2018, uma onda democrata com base no sentimento anti-Donald Trump fez com que os liberais conseguissem, finalmente, contrariar esse handicap e voltassem à maioria na House. Este ano, a tendência mantém-se e é praticamente certo que os democratas continuarão a controlar a câmara baixa. Aliás, a sua vantagem em número de assentos deverá mesmo aumentar, já que, nesta altura, segundo as previsões, o número de lugares que o GOP deve perder para os seus adversários ronda a dezena. Mas vejamos o que dizem as principais projecções:

538.com

Possibilidades de vitória: Democratas - 98%; GOP - 2%

Assentos: Democratas - 232; GOP - 187; Toss-up - 16

Cook Political Report

Assentos: Democratas - 228; GOP - 181; Toss-up - 26

Real Clear Politics

Assentos: Democratas - 214; GOP - 182; Toss-up - 39

Total nacional dos votos para a Câmara dos Representantes: Democratas - 50,4%; GOP - 42%

The Economist

Possibilidades de vitória: Democratas - 99%; GOP - 1%

Assentos: Democratas - 243; GOP - 192

Como se vê, tudo indica que a Câmara dos Representantes continuará a ser pintada, na sua maioria, em tons de azul, o que poderá ser importante para uma eventual presidência Biden, em especial se à manutenção da House os democratas juntarem a conquista do Senado. De qualquer forma, o que é certo é que, entre as três principais disputas (Casa Branca, Senado e Câmara dos Representantes), esta é aquela com desfecho mais previsível. Nancy Pelosi, continuará, por isso, como Speaker of the House.