segunda-feira, 7 de outubro de 2024

The Donald













Em 2016, no início da campanha das primárias presidenciais republicanas, disse, num programa da TSF, que fazia todo o sentido que a candidatura de Donald Trump fosse seguida, como fazia o Huffington Post, nas secções de entretenimento dos media e não nas de política. Não podia ter dito um maior disparate, pois, hoje, oito anos depois, Trump já venceu três nomeações presidenciais pelo GOP e ocupou, durante um mandato, a Sala Oval. Como em 2016 e em 2020, The Donald é novamente o candidato do partido conservador à Casa Branca.

Trump nasceu em 1946, no seio de uma família abastada. O seu pai era um empresário de sucesso no sector do imobiliário e Donald frequentou sempre escolas privadas de Nova Iorque, incluindo a escola militar local. Tirou um degree em Economia, primeiro em Warthon e, depois, na Universidade da Pennsylvania. 

Terminados os estudos, Donald Trump empregou-se na empresa do pai, a Trump Management, e começou uma vida dedicada ao imobiliário. Primeiro, sob a alçada do pai e, mais tarde, de forma independente, o magnata tornou-se um nome incontornável na cena imobiliária de Nova Iorque e dos Estados Unidos. O seu sucesso é alvo de muita polémica e o seu império sofreu muitos altos e baixos, mas é indesmentível que, durante décadas, o nome Trump foi sinónimo de prosperidade e riqueza. 

O seu império, mas também as suas várias polémicas, tanto a nível profissional como pessoal, fizeram dele uma das grandes figuras da vida cor-de-rosa de Nova Iorque. Trump tornou-se um ícone da cultura popular norte-americana e, depois de ganhar fama no imobiliário, apostou forte no show business (quem não se lembra do seu cameo no Home Alone 2?). No início dos anos 2000, lançou o seu próprio reality show, o The Apprentice, que rapidamente se tornou um grande sucesso e duraria até ao seu protagonista chegar à Casa Branca. 

Depois dos negócios e do entretenimento, Trump procurou uma nova arena para brilhar e, naturalmente, virou-se para a política. Registado como republicano, apesar de ter contribuído para vários candidatos democratas - como os Clinton -, nunca se definiu propriamente como conservador. Como em tudo na sua vida, Donald procurava criar controvérsias, trazendo-se a si próprio para as luzes da ribalta. Foi assim, por exemplo, que, em 1988, se auto-proclamou como candidato a vice-presidente de George Bush ou que se tornou uma das principais vozes que acusavam Barack Obama de não ter nascido nos Estados Unidos e, por isso, não ser elegível para a presidência da nação norte-americana. 

Em 2000, chegou a ser candidato às primárias presidenciais do Partido Reformista, apenas para desistir pouco tempo depois. Mas o momento decisivo chegaria em 2011, num célebre jantar dos correspondentes da Casa Branca, em que marcou presença e em que foi alvo das piadas de Barack Obama. Visivelmente incomodado e sentindo-se publicamente humilhado, terá sido nessa ocasião que decidiu concorrer à Casa Branca para se vingar de Obama e dos democratas. Contudo, foi a partir daí que se assumiu definitivamente como republicano e conservador, tendo mesmo participado na CPAC e marcado presença nos primeiros estados a terem primárias. Estava a lançar as sementes que dariam frutos quatro anos mais tarde.

Em 2016, os republicanos tinham de decidir quem seria o seu candidato presidencial num ano em que os democratas deixavam de ter o popular Obama no boletim de voto. Com boas hipóteses de vitória, foram muitos e de nomeada os concorrentes republicanos, como, por exemplo, Jed Bush, Marco Rubio ou Ted Cruz. Todavia, esse ciclo eleitoral foi absolutamente tomado de assalto por Donald Trump, mesmo quando muitos (eu incluído) pensavam que a sua candidatura não era séria, mas apenas uma publicity stunt destinada a aumentar as audiências do seu reality show. 

Ao longo das primárias, foram caindo um a um os vários candidatos "anti-Trump" que se destacavam nas sondagens momentaneamente. No final, a nomeação foi para Donald e essa vitória haveria de transformar radicalmente o Partido Republicano, quiçá para sempre. Trump, com o seu discurso disruptivo e sem filtros, agradou a um grande segmento do eleitorado republicano, tornando-se o herdeiro e grande representante do movimento populista Tea Party. A partir daí, o GOP passou a ser o partido de Trump e os republicanos clássicos tornaram-se uma espécie em vias de extinção. 

Contudo, na eleição geral, Trump era visto como o underdog face à favorita Hillary Clinton. A antiga primeira-dama, senadora e secretária de estado, tinha um currículo impressionante, enorme experiência e contava com o Partido Democrata totalmente do seu lado (apesar de alguns ruidosos apoiantes de Bernie Sanders). Já Donald não tinha qualquer experiência política e era visto com muita desconfiança por parte do establishment republicano. Acossado por escândalos e atrás de Hillary nas sondagens, nem o próprio Trump acreditava na sua eleição. 

Aconteceu, porém, que Hillary Clinton demonstrou ser uma candidata sofrível, tendo cometido muitos erros de palmatória. Além disso, as sondagens subvalorizaram repetidamente as hipóteses de vitória de Donald Trump e os democratas apostaram recursos em estados que não teriam hipóteses de ganhar, descurando locais onde pensavam, erradamente, estar seguros. A poucos dias da eleição, a famosa carta de James Comey terá também sido decisiva e selou a vitória de Trump que se tornou, contra todas as expectativas, o 45º presidente dos Estados Unidos.

O seu mandato presidencial foi marcado, primeiro, pela desregulação, pela quebra de acordos e tratados e internacionais e até pela ameaça da retirada dos Estados Unidos da NATO. A boa prestação da economia norte-americana nos primeiros anos do seu mandato, haveria de ser totalmente revertida pela eclosão da COVID-19. A sua gestão da pandemia foi um verdadeiro desastre e isso poderá ter ditado a sua derrota nas eleições de 2020. Do seu mandato na Casa Branca, ficam ainda para a história os dois processos de impeachment que lhe foram movidos pela maioria democrata na Câmara dos Representantes - primeiro por ter, alegadamente, sugerido trocar favores políticos por armamento numa conversa telefónica com Vladimir Zelenksy e, depois, pelo seu papel na insurreição de 6 de Janeiro de 2021.

Vencido nas urnas por Joe Biden, Trump nunca assumiu a derrota, preferindo esconder-se atrás de teorias completamente infundadas, alegando que venceu a eleição e que esse triunfo lhe foi roubado por uma massiva fraude eleitoral. Assim, Trump evitava a assunção da derrota, algo que seria fatal para alguém que, como ele,  vê o mundo dividido entre vencedores e falhados. A reação violenta dos seus apoiantes haveria de tornar o 6 de Janeiro num dia infame. Na altura, pensou-se que Trump tinha ido longe demais e que estaria acabado para a política. Porém, o seu poder total sobre a sua falange de apoio não esmoreceu e o GOP resignou-se a esquecer o sucedido e a continuar a apoiar o seu líder. Ainda hoje, a maioria dos eleitores republicanos acredita na mentira da eleição roubada, prova de que Trump controla, ainda, o eleitorado e, consequentemente, o partido republicano. 

Agora, em 2024, Donald Trump tenta a reeleição para a Casa Branca. Se contra Joe Biden a vitória parecia certa, já face a Kamala Harris a conversa é outra e o triunfo incerto. Até ao momento, Trump mantém-se igual a ele mesmo, talvez ainda mais irascível e fora de controlo. A tentativa de assassinato a que sobreviveu deu-lhe ainda mais confiança e sente-se, agora, uma figura messiânica destinada a salvar os Estados Unidos. Ou, pelo menos, é isso que gosta de dizer, ao mesmo tempo que vende bíblias, relógios e todo o tipo de parafernália com o seu nome e cara para aumentar a sua riqueza pessoal.

Acossado por vários processos judiciais, tendo já sido declarado culpado num deles, Donald Trump precisa desesperadamente de ser eleito para, pelo menos, adiar a conclusão destes processos e, até, quem sabe, perdoar-se a si próprio através do poder presidencial. Com as sondagens a darem a corrida como empatada, a vitória está em dúvida, mas uma coisa é certa: Trump já entrou para a história como, porventura, a figura mais polarizadora da história dos Estados Unidos. 

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