sábado, 19 de outubro de 2024

Vantagem para Trump?


A presente campanha pela presidência dos Estados Unidos tem sido marcada, como tenho dito, por um enorme equilíbrio, à imagem do que aconteceu nas duas últimas corridas pela Casa Branca, em 2016 e 2020. Nos últimos, dias, porém, assistiu-se a um (muito) pequeno movimento nas sondagens em favor de Donald Trump. Apesar de ser uma tendência pouco perceptível, parece-me que é algo mais do que mero ruído estatístico e que o candidato republicano, a pouco mais de duas semanas do dia das eleições, melhorou ligeiramente a sua posição na corrida.

Depois do desastroso debate de Joe Biden e até ao ainda presidente abdicar da candidatura à reeleição a favor da sua vice-presidente, Kamala Harris, Trump parecia lançado para um segundo mandato na Casa Branca, pois eram muitas as dúvidas sobre a capacidade de Biden conseguir cumprir mais quatro anos na presidência. Mas, com Harris, o entusiasmo democrata ressurgiu e a boa prestação da democrata no seu único debate com Trump, bem como a bem sucedida convenção nacional democrata foram dois importantes momentos que catapultaram a actual vice-presidente para bons números nas sondagens e a ter um pequeno favoritismo na corrida.

Contudo, nas últimas duas ou três semanas, a campanha estabilizou e não houve grandes motivos de destaque. Talvez isso tenha levado alguns independentes com maior tendência para votar no GOP a "voltar para casa", depois de terminado o período de "lua de mel" de Kamala Harris. Estamos a falar de uma ínfima percentagem de eleitores e não de um movimento significativo. As sondagens nacionais, por exemplo, mostravam uma vantagem da democrata na casa dos 3%, quando, agora, esse número desceu para cerca de 2%, o que pode ser suficiente para que Trump vença o colégio eleitoral, mesmo saindo derrotado no número total de votos a nível nacional. 

Nos sete battleground states decisivos, Trump tem também mostrado sinais de força e o site Real Clear Politics atribui já vantagem ao candidato republicano em todos eles. Todavia, é preciso ter em atenção que, neste ciclo eleitoral, e especialmente nos dias mais recentes, temos sido inundados por sondagens de empresas de estudos de opinião com ligação ao partido Republicano e que isso tem sempre influência nos números, mesmo que os modelos agregadores de sondagens tenham em consideração esse house effect nos resultados que apresentam. 

Este alegado movimento nas sondagens foi já detectado pelos modelos que tentam prever o resultado da corrida. Tanto o FiveThirtyEight como o SilverBulletin atribuem, à hora que escrevo, um ligeiro favoritismo a Trump, que conta, em ambos os modelos, com uma probabilidade de vitória de 52%, tendo Harris 48% de hipóteses de ganhar a eleição.  

Também as duas campanhas parecem observar, nos seus números e sondagens internos, esta mesma tendência, pelo menos a julgar pela sua estratégia actual. Trump comporta-se como o frontrunner da corrida, a recusar um segundo debate com a sua opositora e dando-se ao luxo de desperdiçar tempo e recursos em eventos em estados que estão fora do seu alcance, como em Nova Iorque e na Califórnia. Por sua vez, Kamala insiste num segundo debate que possa voltar a ser-lhe favorável e mostra-se mais propensa ao risco e tenta alargar o seu universo de eleitores, tendo mesmo dado uma entrevista à conservadora Fox News, procurando uma incursão no eleitorado do seu adversário.

Significa tudo isto que Donald Trump tem agora um momentum decisivo e que a eleição começa a escapar a Kamala Harris? Neste momento, a minha resposta é "não". Ainda que Trump tenha melhorado a sua posição, a verdade é que a corrida continua virtualmente empatada e ter 48% ou 52% de hipóteses não é uma diferença estatisticamente relevante. Assim, o desfecho da disputa pela Casa Branca continua tão incerto como um coin flip

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