sexta-feira, 18 de outubro de 2024

A batalha pelo Congresso

Como não podia deixar de ser, a corrida pela Casa Branca captará a maior parte das atenções na noite eleitoral de 5 de Novembro. Contudo, os eleitores norte-americanos irão às urnas para decidir um enorme número de outras eleições, sejam elas para órgãos locais (como cargos de xerife, por exemplo), referendos vários (os que têm como tema o aborto terão destaque nacional), para os governos estaduais ou para o Congresso federal. Com mais impacto a nível nacional e até internacional, são estas últimas eleições que, depois das presidenciais, suscitam maior interesse para os observadores internacionais. 

Em 2024, e como sempre acontece a cada dois anos, todos os 435 lugares da Câmara dos Representantes vão a votos, enquanto que, no Senado, são 34 dos 100 assentos que estarão em disputa. À imagem do que acontece na corrida presidencial, também a disputa pelo controlo das duas câmaras do órgão legislativo do governo federal dos Estados Unidos da América está a ser marcado pelo equilíbrio entre democratas e republicanos.

Actualmente, a Câmara dos Representantes é controlada pelo GOP, ainda que por uma margem muitíssimo curta - existem 220 congressistas republicanos e 212 democratas (três lugares estão, por agora, vagos). Tudo indica que 2024 será muito semelhante aos últimos ciclos eleitorais da House e que, independentemente do vencedor, a diferença em número de congressistas entre os dois partidos se mantenha em números reduzidos. 

A pouco mais de duas semanas das eleições, as previsões não permitem arriscar que partido poderá indicar o Speaker of the House. O FiveThirtyEigth, por exemplo, atribui 53% de hipóteses para uma vitória republicana e 47% para um triunfo democrata. Já no Cook Political Report, podemos consultar uma visão mais abrangente do estado da corrida pela Câmara dos Representantes e perceber que, dos 435 lugares, 202 estarão, com diferentes graus de certeza, do lado democrata e 208 deverão cair para os republicanos. Sobram, assim, 27 corridas empatadas que decidirão quem consegue alcançar, pelo menos, os 218 assentos necessários para controlar a câmara baixa. 

Como se percebe por estes números, o equilíbrio é a nota dominante e qualquer um dos lados pode sair vitorioso. Contudo, as eleições para a Câmara dos Representantes, por terem um universo relativamente pequeno e poderem ser mais voláteis, são mais propícias a surpresas - não é invulgar o resultado final de uma corrida para a House diferir em dezenas de pontos percentuais dos números das sondagens. Além disso, pode também existir um spillover de dimensão nacional nestas eleições e um dos partidos conseguir bater as sondagens e amealhar todas as corridas tossup e até algumas que pareciam estar relativamente seguros no campo adversário. 

Se na disputa pela Câmara dos Representantes a situação é a de um verdadeiro empate, já a decisão do controlo do Senado parece estar bastante encaminhada a favor do Partido Republicano. Se hoje os democratas são maioritários na câmara alta, contando com 51 senadores democratas ou independentes que votam do seu lado, o panorama deste ciclo eleitoral para 2024 é-lhes imensamente desfavorável, já que, dos 34 lugares em jogo, 23 são ocupados por democratas. Desses 23, é certo que perderão o assento na West Virginia, com a reforma de Joe Manchin, o último dos Blue Dogs (democratas conservadores). Além disso, tudo indica que sairão ainda derrotados no Montana, onde o Senador Jon Tester tem surgido consistentemente atrás do challenger republicano, Tim Sheehy. 

Por seu lado, os democratas não têm grandes perspectivas de virarem qualquer lugar em mãos republicanas, ainda que existam alguns long shots no Nebraska, no Texas e na Florida. Não acredito, porém, que consigam vencer qualquer uma destas eleições, sendo que será no Nebraska, um bastião republicano, que terão mais probabilidades de sucesso. Vencendo uma destas corridas, terão ainda de triunfar em todas as corridas actualmente empatadas - Ohio, Pennsylvania, Michigan e Wisconsin (e, não por coincidência, todos estes estados situam-se no Midwest e, com excepção do Ohio, são também battleground states na corrida pela Casa Branca) e de esperar que Kamala Harris derrote Donald Trump para que seja o vice-presidente democrata a desempatar esse eventual cenário de 50 democratas e 50 republicanos no Senado. 

Assim, temos em perspectiva uma longa e interessante noite (madrugada, no caso dos portugueses) eleitoral. Além de ficarmos a saber (será?) quem ocupará a Sala Oval, também descobriremos se o novo presidente terá no Congresso um aliado para fazer passar os seus pacotes legislativos, se terá um Congresso hostil, ou se assistiremos a um cenário híbrido, com uma câmara de cada cor partidária (como agora acontece) para baralhar ainda mais o já turbulento panorama político norte-americano. 

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