A vitória clara de Donald Trump parece ter a economia como razão principal e os homens hispânicos e as mulheres brancas como os dois grupos demográficos fundamentais. A inflação dos últimos anos, que agora já voltou a números normais, terá estado na origem da derrocada dos democratas nos battleground states. Ironicamente, a administração Biden (e, consequentemente, a vice-presidente Kamala Harris) foi castigada nas urnas pelos efeitos secundários da cura que aplicaram à economia norte-americana na consequência da depressão causada pela pandemia da Covid-19. Apesar dos bons indicadores da economia - desemprego historicamente baixo, inflação sob controlo e a bolsa em alta -, os eleitores norte-americanos não esqueceram o trauma dos meses de grande inflação e recordam positivamente o primeiro mandato de Trump no que diz respeito ao seu poder de compra.
Neste momento, apenas alguns lugares na Câmara dos Representantes separam Donald Trump e o GOP do controlo total do governo federal dos Estados Unidos. Se juntarem as duas câmaras do Congresso à Casa Branca, os republicanos terão controlo do poder executivo e legislativo, além de contarem com uma maioria de juizes conservadores no Supremo Tribunal. A mais alta instância judicial federal pode ainda ficar com um maior pendor conservador, pois é bem possível que os dois juizes conservadores mais velhos optem por se reformar durante o mandato de Trump por forma a ser um republicano a nomear os seus sucessores. Se assim for, e com o Senado em mãos republicanas, nada impedirá Donald Trump de nomear dois juízes conservadores ainda jovens para garantir o controlo conservador do Supremo Tribunal nas próximas décadas. Dessa forma, a revogação da Roe v Wade pode ser apenas o primeiro ponto na agenda conservadora dos juizes de direita do Supreme Court.
À hora que escrevo, Kamala Harris ainda não concedeu a derrota, mas deverá fazê-lo durante ao dia de hoje. A administração Biden/Harris, ao aceitar a derrota e ao realizar uma pacífica transferência de poder, como foi (quase) sempre norma na história dos Estados Unidos, marcará a diferença relativamente ao comportamento de Trump há quatro anos e começará duro período de oposição a uma administração Trump que promete ser ainda mais radical do que a anterior, com possíveis pesadas consequências para a Ucrânia, para as relações transatlânticas e até para a própria economia dos Estados Unidos, se ideias como a aplicação de tarifas forem para a frente.
2024 foi um ciclo eleitoral como nenhum outro anterior e revelou-se uma verdadeira montanha-russa de emoções até culminar numa vitória de Donald Trump, de forma até mais fácil do que era previsível. Ao mesmo tempo que este ciclo termina, um novo começa. Em 2028 há mais.
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