sexta-feira, 15 de outubro de 2010

"Stay on message"

Um dos elementos mais importantes e decisivos de qualquer campanha eleitoral é a escolha de uma mensagem simples, clara e que defina o político em causa junto do grande público, de modo a que os eleitores percebam e identifiquem o que esse candidato defende e aquilo a que se opõe. 
Um bom exemplo disso mesmo foi a campanha presidencial de Barack Obama que, em 2008, escolheu como grandes temas da sua candidatura a mudança e a esperança, bem explícitos nos principais lemas da campanha - Yes we can e Change we can believe in - além, claro está, da ruptura com os anos de governação Bush. Ou seja, os americanos podiam nem saber muito bem que políticas e ideias Obama pretendia implementar se chegasse à Casa Branca, mas, através da mensagem que transmitiu, o jovem senador do Illinois  seduziu-os e entusiasmou-os, fazendo com que se deslocassem até às urnas para votar em números recordes.
Contudo, quando analisamos a presente campanha eleitoral para as eleições intercalares, percebemos que, desta vez, a vantagem em termos de mensagem está toda do lado republicano. Um pouco por todo o país, os candidatos republicanos a governadores, senadores ou congressistas falam praticamente a uma só voz, passando a mesma mensagem e tendo o mesmo discurso, baseado em alguns soudbytes que todos entendem: é necessário baixar os impostos, diminuir o peso do Estado e reduzir o défice, para que o sector privado possa recuperar o fulgor de outros tempos, criando riqueza e emprego. Esta é uma mensagem facilmente compreensível, o que faz com que todos os americanos, concordem ou não com ela, saibam e percebam o que é que os republicanos defendem.
Já do lado democrata a história é outra. Não existe uma mensagem unificada e estruturada que ajude os eleitores a perceber quais são os projectos e as ideias do Partido Democrata. Não existe, em geral, um fio condutor comum às campanhas dos vários candidatos democratas. Pelo contrário, estes parecem divididos e numa situação de "cada um por si". Veja-se que, em relação à reforma da saúde, há democratas que fazem campanha a defender a legislação, enquanto outros a criticam ou a ignoram, o que exemplifica na perfeição a confusão e divisão que reina no seio democrata. Por outro lado, o facto de vermos democratas a criticarem a liderança do seu partido, nomeadamente a speaker Nancy Pelosi, não é, de todo, um sinal positivo de bom ambiente partidário.
Esta é, a meu ver, uma das causas para a hecatombe democrata que se vislumbra para a noite de 2 de Novembro. Os liberais, à falta de um alvo claro e reconhecido nacionalmente, como foi George W. Bush em 2006 e 2008, não conseguiram definir e montar uma mensagem conjunta e eficaz. Pelos vistos, não aprenderam com os sucessos recentes, nem cumpriram um dos principais conselhos de qualquer assessor político que se preze: "stay on message!".

2 comentários:

  1. "Ou seja, os americanos podiam nem saber muito bem que políticas e ideias Obama pretendia implementar se chegasse à Casa Branca, mas através da mensagem que transmitiu, o jovem senador do Illinois, seduziu-os e entusiasmou-os, fazendo com que se deslocassem até às urnas para votar em números recordes."
    Concordo plenamente com a sua opinião a respeito da importância de umafrase para a campnhã. Eu diria mesmo que com este slogan tornou-se na maior fraude/desilusão da última década...

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  2. Eu não iria tão longe, até porque Obama já conseguiu importantes realizações. O problema foi que colocou as expectativas demasiadamente altas, num patamar que seria sempre impossível de atingir, em especial com as condições económicas com que entrou na Casa Branca.

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