terça-feira, 26 de outubro de 2010

A gestão das expectativas

As eleições intercalares dos Estados Unidos são já de hoje a oito dias. Com menos de uma semana de campanha, parece cada vez mais evidente que está em formação uma grande vitória republicana, comparável à de 1994, ou possivelmente ainda de dimensões superiores. Contudo, em política, um dos factores mais decisivos quando se preparam momentos eleitorais é a gestão das expectativas. E agora, na recta final da campanha, os dois lados da barricada - democratas e republicanos - empenham-se intensamente nesse delicado jogo de cintura.
Nas fileiras do Partido Republicano nota-se a euforia de quem está perto de alcançar uma grande vitória, sentimento ainda mais veemente devido às grandes derrotas eleitorais sofridas pelo partido nos últimos quatro anos. Porém, essa euforia pode-se transformar em excesso de optimismo e, consequentemente, no elevar das expectativas para um patamar demasiado difícil de atingir. Há cerca de um ano, a liderança republicana certamente pensaria que ganhar o controlo da Câmara dos Representantes e conquistar meia dúzia de lugares no Senado seria um cenário de sonho. Só que agora esse sonho tornou-se praticamente uma certeza e os objectivos do GOP passam, além da vitória na House (um dado praticamente adquirido, segundo todas as sondagens e analistas) pela retoma do controlo do Senado, o que implica, no mínimo, a retirada de dez assentos aos democratas. Assim sendo, talvez o GOP não ficasse a perder se começasse a refrear as suas ambições, de modo a evitar que, na noite eleitoral, um cenário que deveria ser caracterizado como uma grande vitória (ganhar "in extremis" a Câmara dos Representantes e cinco ou seis assentos no Senado, por exemplo) possa ser visto como uma desilusão, por ter ficado áquem das expectativas.
Por seu lado, os democratas baixam as expectativas o mais que podem para que seja mais fácil atingi-las ou até ultrapassá-las. Assim, a situação actual até lhes pode ser favorável. Com todo o país à espera da anunciada hecatombe democrata, o partido actualmente no poder pode reivindicar vitória se os resultados, ainda que medíocres, não forem totalmente desastrosos. Se os democratas perderem, por exemplo, cerca de 35 lugares na House e uma meia dúzia no Senado, esta seria, pelos números em si, uma estrondosa derrota. Não obstante, isto significaria a manutenção da maioria em ambas as câmaras do Congresso pelos democratas, o que seria sempre traduzido como uma enorme vitória para o partido de Barack Obama. E este é um cenário possível, ainda que improvável.
Assim, é no interesse de ambos os partidos baixar as respectivas perspectivas relativamente aos resultados eleitorais. E, como não podia deixar de ser, temos vindo a assistir a isso mesmo. Muitos analistas e líderes republicanos colocam água na fervura, ao lembrarem que a vitória no Senado chegará, sem dúvida, mas apenas em 2012, ano em que os democratas defendem muitos mais assentos que o GOP. Já na facção democrata, o próprio Press Secretary da Casa Branca, Robert Gibbs, causou polémica e atritos com a liderança democrata no Congresso, por ter afirmado que a perda do controlo da Câmara dos Representantes era um cenário possível para as eleições intercalares. Nancy Pelosi pode ter ficado irritada, mas a verdade é que Gibbs estava apenas a fazer o seu trabalho: a gestão das expectativas.

1 comentário:

  1. nao e sempre assim?

    o partido do Presidente eleito perde sempre estas eleições?

    os americanos tambem gostam de castigar logo á primeira

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