A Convenção Nacional Democrata está a ser um grande sucesso e, ontem, o discurso de Bill Clinton foi mais um grande momento para o partido e para Barack Obama. Contudo, e como não há bela sem senão, também tem havido alguns pontos negativos para os democratas neste seu evento em Charlotte. E, ontem, até houve dois.
Primeiro, foi o anúncio da decisão de passar o dia final da Convenção, marcado pelo discurso de Barack Obama, do Bank of America, com capacidade para 65 mil pessoas, para o interior da Time Warner Cable Arena, onde tem decorrido a Convenção Democrata. A razão apresentada pelos responsáveis democratas foi a possibilidade de ocorrência de trovoadas com relâmpagos, o que pode por em causa a segurança do evento. Contudo, os republicanos já sugeriram que a verdadeira causa da mudança dos planos democratas se deve ao facto de estes temerem que ficassem muitos lugares por preencher no estádio, o que daria uma má imagem à campanha de Obama.
Dado que os democratas tinham já distribuído todos os bilhetes, havendo mesmo uma lista de espera, não deverá ter sido essa a razão, mas a verdade é que a alteração do local do evento é uma dor de cabeça para os democratas, que vêem o grande momento da sua Convenção diminuir drasticamente de dimensão, ao mesmo tempo que têm de lidar com milhares de democratas insatisfeitos por não puderem assistir ao discurso de Obama, apesar de terem bilhete para isso, já que a Time Warner Cable Arena apenas alberga cerca de 15 mil pessoas.
Outro momento menos positivo para os democratas, que chegou mesmo a ser caricato, foi a votação da reintrodução da palavra "Deus" e da definição de Jerusalém como capital do Estado de Israel (os EUA não reconhecem oficialmente a cidade santa como a capital israelita) na plataforma do partido. Apesar de, aparentemente, se terem ouvido votos "não" do que votos "sim" no floor da Convenção quando foram propostas essas alterações, a líder do Democratic National Committee declarou-as aprovadas, tendo-se ouvido, de seguida, alguns apupos.
A reintrodução de Deus na plataforma democrata é uma pequena desilusão para o grande número de ateus do partido, mas uma medida natural em ano de eleições, num país onde a religião tem um importante peso político (a eleição de um Presidente ateu seria praticamente impossível nos EUA). Já a questão de Jerusalém é mais complexa ou não tocasse num ponto sensível da política externa norte-americana. Tanto George W. Bush como Barack Obama prometeram, em campanha eleitoral, reconhecer Jerusalém como a capital israelita, mas, até ao momento, nada aconteceu. Por isso, estamos na presença de uma forma dos democratas "piscarem o olho" ao eleitorado judaico, tradicionalmente aliado dos democratas, nas vésperas de uma corrida eleitoral que se prevê renhida e onde todos os votos serão importantes.
Estes foram pequenos percalços no segundo dia da Convenção, que, fora isso, está a ser uma grande mais-valia para Obama e os democratas. Mais tarde, falarei sobre o muito aguardado discurso de Bill Clinton, que, ontem, dominou as atenções, assim como o desfecho da Convenção, agendado para hoje, com a aceitação formal da nomeação democrata, por Joe Biden e Barack Obama.
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