As últimas semanas trouxeram, sem dúvida, muita actividade e uma nova dinâmica à corrida presidencial norte-americana. As convenções nacionais, o discurso de Bill Clinton e a crise no Médio Oriente transformaram a campanha eleitoral e alteraram o cenário da disputa pela Casa Branca, numa altura em que estamos a menos de dois meses da grande noite eleitoral.
Em primeiro lugar, as convenções dos dois partidos tiveram um forte impacto na campanha, com clara vantagem para os democratas. De facto, Barack Obama viu os seus números nas sondagens subirem significativamente depois da Convenção Nacional Democrata, e isto apesar de o seu discurso não ter sido empolgante nem brilhante. Contudo, até deverá ter sido essa a intenção de Obama, a querer assumir-se como Presidente, apostando numa postura sóbria e realista, em contraste com a imagem idealista e sonhadora da sua campanha de há quatro anos.
Assim, da convenção democrata, sobressaiu especialmente o discurso de Bill Clinton, que foi o primeiro democrata a conseguir defender de forma efectiva o primeiro mandato de Obama na Casa Branca. No fundo, os democratas foram capazes de responder à pergunta que teimava em assombrar a campanha de Obama: estão os norte-americanos melhor agora do que há quatro anos? A julgar pela subida do Presidente nas sondagens, parece que Clinton conseguiu convencer a maioria dos cidadãos norte-americanos que a resposta a esta pergunta é sim.
Mais recentemente, surgiu a inesperada crise no Médio Oriente, com um ridículo filme amador divulgado no Youtube a incendiar os ânimos do mundo muçulmano, que se vingou, em muitos países, nas embaixadas dos Estados Unidos, levando mesmo à morte de cinco americanos, entre os quais o Embaixador na Líbia. No despoletar da crise, Mitt Romney foi rápido a criticar a resposta do Departamento de Estado, em especial uma nota da Embaixada norte-americana no Cairo divulgada antes dos ataques e que simpatizava com os protestos da comunidade islâmica e criticava o filme em questão. Todavia, o tiro de Romney saiu-lhe pela culatra, com os media a condenarem a campanha do nomeado republicano por tentar retirar dividendos políticos numa altura que deveria ser de união nacional.
A posição da campanha republicana foi, a meu ver, precipitada. Terão visto nesta crise uma oportunidade para desafiarem a primazia de Obama num tema, a política externa, que, até há pouco tempo, "pertencia" aos republicanos. Acontece, porém, que o ataque político não teve o timing devido, já que é norma nos Estados Unidos que, aquando de um ataque externo, todos os agentes políticos se coloquem por detrás do Commander-in-Chief. Se as críticas de Mitt Romney tivessem vindo num momento posterior, talvez tivessem algum efeito. Assim, o que o candidato do GOP conseguiu foi minar ainda mais a sua imagem no campo da política externa, em contraste com a postural presidencial adoptada por Obama.
Todavia, não deixa de ser compreensível a precipitação da campanha republicana, que, após o bounce de Obama nas sondagens, após as convenções, necessitava urgentemente de algo que pudesse inverter o rumo dos acontecimentos. A jogada, ao que parece, não correu bem, o que veio sublinhar ainda mais a mudança do status quo da campanha pela presidência. Agora, e apesar da vitória estar ainda ao alcance de qualquer um dos candidatos, temos um claro frontrunner: Barack Obama.
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