sábado, 26 de outubro de 2024

Onde seguir os últimos 10 dias da campanha


A dez dias da eleição nos Estados Unidos (ainda que já se esteja a votar antecipadamente), a corrida tem-se mantido estável e sem grandes surpresas ou alterações nos números das sondagens. Nos últimos dias, a photo op de Donald Trump num McDonalds, a parada de estrelas, como Barack Obama, Bruce Springsteen ou Beyoncé nos comícios de Kamala Harris ou, ontem, a decisão do Washington Post em não anunciar o seu apoio oficial a um dos candidatos têm marcado a agência mediática.

Para que se possa fazer o melhor e mais detalhado acompanhamento possível destes últimos dez dias de campanha eleitoral, deixo aqui as minhas sugestões dos melhores locais para seguir aquela que muitos consideram como a mais importante eleição presidencial norte-americana de sempre. 

New York Times - Provavelmente o mais conceituado órgão de comunicação social dos Estados Unidos, o NYT é um gigante dos media e apresenta um acompanhamento exaustivo de tudo o que tem a ver com a eleição presidencial. Além da qualidade e quantidade dos artigos, o diário nova-iorquino conta com uma das melhores equipas de sondagens e análise de resultados. Nate Cohn e a já famosa The Needle serão de consulta constante e obrigatória na noite eleitoral. Apesar de existir paywall, neste momento é possível assinar  a versão digital o por apenas 2€/mês. Acreditem que vale bastante a pena.

Politico - Com o advento da internet como a principal fonte de conteúdo noticioso sobre política, o site politico.com tornou-se uma referência e foi capaz de ombrear com nomes históricos do jornalismo norte-americano, como o New York Times, o Washington Post, a CNN ou a NBC. Apesar de já não contar com o factor "novidade", o Politico continua a ter imenso conteúdo e merece uma visita atenta por parte dos verdadeiros political junkies

FiveThirtyEight - Agora integrado na ABC News, o site fundado por Nate Silver (que, entretanto, abandonou o projecto), continua a ser local de visita obrigatória quando queremos saber mais sobre o panorama pré-eleitoral norte-americano. Ainda que a experiência de navegação não seja actualmente a melhor (tenho sempre dificuldades em, por exemplo, encontrar o seu forecast eleitoral), o conteúdo continua muito interessante e com uma apresentação bastante apelativa. Além do site, aconselho o seu podcast, apresentado por Galen Druke, que já sigo religiosamente desde 2016. 

Real Clear Politics - Apesar de contar com muito conteúdo e de agregar muita informação de outros locais, uso principalmente o RCP para conhecer as mais recentes sondagens. No âmbito dos estudos de opinião, o Real Clear Politcs é, porventura, o local com mais informação disponível e conta ainda com os seus próprios mapas eleitorais, onde apresenta o estado da corrida e faz previsões de resultados, tanto para a presidência como para as outras corridas mais importantes. 

Political Wire - Fora da época alta da política americana (leia-se, em anos em que não há eleições presidenciais), o site de Taegen Goddard (tem nome de persondagem de Game of Thrones) é a minha principal fonte de informação. Com um ritmo de actualização verdadeiramente frenético, podemos encontrar neste local, de forma muito resumida, todos os principais destaques do dia no que diz respeito à política norte-americana. 

CNN - Seguir a noite eleitoral neste já histórico canal de notícias é um clássico. A CNN conta, a meu ver, com a melhor equipa de pivots da televisão norte-americana, com destaque para Wolf Blitzer e Jake Tapper. Além disso, John King e a sua magic wall são absolutamente indispensáveis para percebemos ao pormenor o que se passa no terreno e quais as tendências que possibilitam antever o desfecho da noite eleitoral. Em 2024, como em todas as noites eleitorais que acompanho desde 2008, terei a minha tv ligada na CNN. 

Newsletters - Qualquer site ou meio de comunicação social conta com uma ou mesmo várias newsletters para criar engagement e entrar directamente na caixa de correio dos leitores. Contudo, aqui, queria deixar apenas duas sugestões, ambas relacionadas com sondagens. A newsletter do Silver Bulletin, do acima mencionado Nate Silver, e a Christal Ball de Larry Sabato. Silver e Sabato são verdadeiros ícones da análise de sondagens e das corridas presidenciais e eu sou um leitor fiel de ambos, há já muitos anos. 

Nestes ou noutros locais, pois cada um terá os seus gostos e as suas preferências, esta eleição será acompanhada, a par e passo, por milhões de pessoas espalhadas por todo o mundo. Espero que também o Máquina Política seja um local de passagem para muitos interessados ou simples curiosos neste incrível acontecimento que são as eleições presidenciais dos Estados Unidos da América. 

sábado, 19 de outubro de 2024

Vantagem para Trump?


A presente campanha pela presidência dos Estados Unidos tem sido marcada, como tenho dito, por um enorme equilíbrio, à imagem do que aconteceu nas duas últimas corridas pela Casa Branca, em 2016 e 2020. Nos últimos, dias, porém, assistiu-se a um (muito) pequeno movimento nas sondagens em favor de Donald Trump. Apesar de ser uma tendência pouco perceptível, parece-me que é algo mais do que mero ruído estatístico e que o candidato republicano, a pouco mais de duas semanas do dia das eleições, melhorou ligeiramente a sua posição na corrida.

Depois do desastroso debate de Joe Biden e até ao ainda presidente abdicar da candidatura à reeleição a favor da sua vice-presidente, Kamala Harris, Trump parecia lançado para um segundo mandato na Casa Branca, pois eram muitas as dúvidas sobre a capacidade de Biden conseguir cumprir mais quatro anos na presidência. Mas, com Harris, o entusiasmo democrata ressurgiu e a boa prestação da democrata no seu único debate com Trump, bem como a bem sucedida convenção nacional democrata foram dois importantes momentos que catapultaram a actual vice-presidente para bons números nas sondagens e a ter um pequeno favoritismo na corrida.

Contudo, nas últimas duas ou três semanas, a campanha estabilizou e não houve grandes motivos de destaque. Talvez isso tenha levado alguns independentes com maior tendência para votar no GOP a "voltar para casa", depois de terminado o período de "lua de mel" de Kamala Harris. Estamos a falar de uma ínfima percentagem de eleitores e não de um movimento significativo. As sondagens nacionais, por exemplo, mostravam uma vantagem da democrata na casa dos 3%, quando, agora, esse número desceu para cerca de 2%, o que pode ser suficiente para que Trump vença o colégio eleitoral, mesmo saindo derrotado no número total de votos a nível nacional. 

Nos sete battleground states decisivos, Trump tem também mostrado sinais de força e o site Real Clear Politics atribui já vantagem ao candidato republicano em todos eles. Todavia, é preciso ter em atenção que, neste ciclo eleitoral, e especialmente nos dias mais recentes, temos sido inundados por sondagens de empresas de estudos de opinião com ligação ao partido Republicano e que isso tem sempre influência nos números, mesmo que os modelos agregadores de sondagens tenham em consideração esse house effect nos resultados que apresentam. 

Este alegado movimento nas sondagens foi já detectado pelos modelos que tentam prever o resultado da corrida. Tanto o FiveThirtyEight como o SilverBulletin atribuem, à hora que escrevo, um ligeiro favoritismo a Trump, que conta, em ambos os modelos, com uma probabilidade de vitória de 52%, tendo Harris 48% de hipóteses de ganhar a eleição.  

Também as duas campanhas parecem observar, nos seus números e sondagens internos, esta mesma tendência, pelo menos a julgar pela sua estratégia actual. Trump comporta-se como o frontrunner da corrida, a recusar um segundo debate com a sua opositora e dando-se ao luxo de desperdiçar tempo e recursos em eventos em estados que estão fora do seu alcance, como em Nova Iorque e na Califórnia. Por sua vez, Kamala insiste num segundo debate que possa voltar a ser-lhe favorável e mostra-se mais propensa ao risco e tenta alargar o seu universo de eleitores, tendo mesmo dado uma entrevista à conservadora Fox News, procurando uma incursão no eleitorado do seu adversário.

Significa tudo isto que Donald Trump tem agora um momentum decisivo e que a eleição começa a escapar a Kamala Harris? Neste momento, a minha resposta é "não". Ainda que Trump tenha melhorado a sua posição, a verdade é que a corrida continua virtualmente empatada e ter 48% ou 52% de hipóteses não é uma diferença estatisticamente relevante. Assim, o desfecho da disputa pela Casa Branca continua tão incerto como um coin flip

sexta-feira, 18 de outubro de 2024

A batalha pelo Congresso

Como não podia deixar de ser, a corrida pela Casa Branca captará a maior parte das atenções na noite eleitoral de 5 de Novembro. Contudo, os eleitores norte-americanos irão às urnas para decidir um enorme número de outras eleições, sejam elas para órgãos locais (como cargos de xerife, por exemplo), referendos vários (os que têm como tema o aborto terão destaque nacional), para os governos estaduais ou para o Congresso federal. Com mais impacto a nível nacional e até internacional, são estas últimas eleições que, depois das presidenciais, suscitam maior interesse para os observadores internacionais. 

Em 2024, e como sempre acontece a cada dois anos, todos os 435 lugares da Câmara dos Representantes vão a votos, enquanto que, no Senado, são 34 dos 100 assentos que estarão em disputa. À imagem do que acontece na corrida presidencial, também a disputa pelo controlo das duas câmaras do órgão legislativo do governo federal dos Estados Unidos da América está a ser marcado pelo equilíbrio entre democratas e republicanos.

Actualmente, a Câmara dos Representantes é controlada pelo GOP, ainda que por uma margem muitíssimo curta - existem 220 congressistas republicanos e 212 democratas (três lugares estão, por agora, vagos). Tudo indica que 2024 será muito semelhante aos últimos ciclos eleitorais da House e que, independentemente do vencedor, a diferença em número de congressistas entre os dois partidos se mantenha em números reduzidos. 

A pouco mais de duas semanas das eleições, as previsões não permitem arriscar que partido poderá indicar o Speaker of the House. O FiveThirtyEigth, por exemplo, atribui 53% de hipóteses para uma vitória republicana e 47% para um triunfo democrata. Já no Cook Political Report, podemos consultar uma visão mais abrangente do estado da corrida pela Câmara dos Representantes e perceber que, dos 435 lugares, 202 estarão, com diferentes graus de certeza, do lado democrata e 208 deverão cair para os republicanos. Sobram, assim, 27 corridas empatadas que decidirão quem consegue alcançar, pelo menos, os 218 assentos necessários para controlar a câmara baixa. 

Como se percebe por estes números, o equilíbrio é a nota dominante e qualquer um dos lados pode sair vitorioso. Contudo, as eleições para a Câmara dos Representantes, por terem um universo relativamente pequeno e poderem ser mais voláteis, são mais propícias a surpresas - não é invulgar o resultado final de uma corrida para a House diferir em dezenas de pontos percentuais dos números das sondagens. Além disso, pode também existir um spillover de dimensão nacional nestas eleições e um dos partidos conseguir bater as sondagens e amealhar todas as corridas tossup e até algumas que pareciam estar relativamente seguros no campo adversário. 

Se na disputa pela Câmara dos Representantes a situação é a de um verdadeiro empate, já a decisão do controlo do Senado parece estar bastante encaminhada a favor do Partido Republicano. Se hoje os democratas são maioritários na câmara alta, contando com 51 senadores democratas ou independentes que votam do seu lado, o panorama deste ciclo eleitoral para 2024 é-lhes imensamente desfavorável, já que, dos 34 lugares em jogo, 23 são ocupados por democratas. Desses 23, é certo que perderão o assento na West Virginia, com a reforma de Joe Manchin, o último dos Blue Dogs (democratas conservadores). Além disso, tudo indica que sairão ainda derrotados no Montana, onde o Senador Jon Tester tem surgido consistentemente atrás do challenger republicano, Tim Sheehy. 

Por seu lado, os democratas não têm grandes perspectivas de virarem qualquer lugar em mãos republicanas, ainda que existam alguns long shots no Nebraska, no Texas e na Florida. Não acredito, porém, que consigam vencer qualquer uma destas eleições, sendo que será no Nebraska, um bastião republicano, que terão mais probabilidades de sucesso. Vencendo uma destas corridas, terão ainda de triunfar em todas as corridas actualmente empatadas - Ohio, Pennsylvania, Michigan e Wisconsin (e, não por coincidência, todos estes estados situam-se no Midwest e, com excepção do Ohio, são também battleground states na corrida pela Casa Branca) e de esperar que Kamala Harris derrote Donald Trump para que seja o vice-presidente democrata a desempatar esse eventual cenário de 50 democratas e 50 republicanos no Senado. 

Assim, temos em perspectiva uma longa e interessante noite (madrugada, no caso dos portugueses) eleitoral. Além de ficarmos a saber (será?) quem ocupará a Sala Oval, também descobriremos se o novo presidente terá no Congresso um aliado para fazer passar os seus pacotes legislativos, se terá um Congresso hostil, ou se assistiremos a um cenário híbrido, com uma câmara de cada cor partidária (como agora acontece) para baralhar ainda mais o já turbulento panorama político norte-americano. 

sábado, 12 de outubro de 2024

The Issues




















Num panorama político cada vez mais polarizado e onde existem menos indecisos e menos swing voters, os grandes temas das campanhas vão perdendo destaque e importância na corrida eleitoral, mas, ainda assim, existem alguns assuntos que dominam as atenções e são decisivos aquando da escolha do sentido de voto dos eleitores. Importa, por isso, passar em revista os principais temas que têm dominado a campanha pela Casa Branca e que determinarão o vencedor da eleição.

Economia - Como sempre, "it's the economy, stupid" e a economia continua a ser o factor mais importante que os eleitores analisam quando decidem o seu voto. Actualmente, a economia norte-americana está numa situação relativamente positiva, com o desemprego em baixa, a bolsa em alta e o poder de compra a subir ligeiramente. Segundo as tendências, a economia ainda melhorará, ainda que pouco significativamente, até 5 de Novembro.

Posto isto, seria de esperar que Kamala Harris, vice-presidente na actual administração, colheria os louros da boa prestação económica dos Estados Unidos. Contudo, no tema da economia, é Donald Trump que tem levado vantagem junto dos eleitores, principalmente pelo trauma que a alta inflação de 2022 e 2023 deixou na população norte-americana durante o mandato de Biden e porque a maioria dos eleitores tem memória positiva do mandato de Trump no que à economia diz respeito.  

Democracia - A insurreição de 6 de Janeiro de 2021 e a negação da derrota na última eleição por parte de Trump, colocou dúvidas sobre a saúde da democracia dos Estados Unidos da América. Muitos democratas temem que, caso perca, Donald Trump volte a não assumir a derrota e apele à revolta dos seus apoiantes, o que pode originar numa nova onda de violência. Temem ainda que, caso vença, Trump utilize o seu poder presidencial para atacar até acusar judicialmente os seus adversários políticos. 

Por seu lado, grande parte do eleitorado republicano, baseado em informação falsa e totalmente infundada, preocupa-se com uma eventual fraude eleitoral, como votos de imigrantes ilegais, que impeçam a vitória do seu candidato, como alegam, falsamente, ter acontecido há quatro anos. 

Segurança e Imigração - Apesar de serem dois temas claramente distintos, escolhi juntar a segurança e imigração num só tópico dada a clara estratégia da campanha republicana em ligar a imigração a uma alegada sensação de insegurança no país. Para a história dos debates presidenciais americanos ficou já a estapafúrdia frase de Trump "They're eating cats and dogs", alegando que imigrantes do Haiti estariam a raptar e comer animais domésticos numa pequena cidade do Ohio. Apesar dos exageros e da retórica incendiária de Trump, a verdade é que os americanos estão mesmo preocupados com o aumento dos números da imigração e com a situação na fronteira com o México, que continua a ser atravessada por milhares de imigrantes ilegais à procura de uma vida melhor.

Apesar de os Estados Unidos serem, desde a sua fundação, a Terra da Oportunidade e de a Estátua da Liberdade ter uma inscrição que começa com "Give me your tired, your poor", a desconfiança em relação aos que chegam do exterior tem vindo a crescer. E já não são apenas os brancos a defender uma maior restrição à imigração: os afro-americanos e mesmo os hispânicos de segunda ou terceira geração temem uma grande vaga migratória que ameace os seus empregos e mesmo a sua segurança. Por isso, este é um tema onde a mensagem republicana, de fecho de fronteiras e deportação de imigrantes ilegais leva vantagem sobre a posição mais permissiva dos democratas.

Educação e Saúde - Menos presenet do que noutros ciclos eleitorais, os assuntos internos da nação americana, como a educação, a saúde ou a segurança social, têm sido, desta vez, menos falados. Isto acontece, principalmente, porque é menor a diferença entre as posições dos dois grandes partidos. Trump é um populista e não um conservador fiscal e defensor de um small government, como os candidatos republicanos tradicionais, e até já deixou de tentar desmantelar o Obamacare, o sistema de saúde reformado por Barack Obama que, ao longo dos anos, se tornou bastante popular. Como é tradicional, os norte-americanos continuam a confiar mais nos democratas para estes temas, mais relacionados com o welfare state e com os serviços providenciados pelo estado, por isso talvez não seja uma boa notícia para eles que estes assuntos estejam menos presentes na campanha. 

Aborto - Se no tópico anterior falei num assunto caro aos democratas, mas agora menos premente na opinião pública, o aborto pode muito bem ter sido o tema que veio compensar essa perda. A revogação da "Roe v Wade" pelo Supremo Tribunal voltou a trazer o aborto para a linha da frente das campanhas eleitorais norte-americanas. Este tema tem sido bastante "cavalgado" pelos candidatos democratas e essa estratégia teve resultados muito positivos nas eleições intercalares de 2022. Sem uma resposta coerente e eficaz para um assunto onde a posição republicana é altamente impopular, o GOP tem procurado não falar no tema, o que não tem resultado perante a insistência democrata em apostar no aborto como tópico constante no trilho de campanha. Donald Trump tem feito grandes flip flops sobre este tema, o que ainda tem ajudado mais a campanha de Kamala Harris, que aposta forte neste tópico para incentivar o eleitorado feminino (em especial, as jovens) a votar na candidata democrata. 

Política Externa - Deixei para o fim o tema que nos diz mais a nós, não norte-americanos: a política externa dos Estados Unidos. Este ano, a guerra na Ucrânia e o conflito israelo-palestiniano têm dominado as notícias e trazem algumas da mais profundas diferenças entre Kamala Harris e Donald Trump. Se Kamala quer manter e até aumentar o apoio norte-americano à Ucrânia, já Donald Trump, cuja boas relações com Putin são conhecidas, já disse querer cortar o apoio à nação invadida pela Rússia e ajudar a encontrar uma solução imediata para o fim da guerra na Europa Oriental. No que diz respeito à situação no Médio Oriente, o candidato republicano é totalmente pró-israelita enquanto que a democrata tenta um maior equilíbrio entre o apoio a Israel e a procura de uma solução de dois estados para o conflito, apelando à contenção de Israel nas suas acções militares, reflectindo esta posição uma maior divisão do eleitorado democrata à relativamente questão israelo-palestiniana. 

Assim, se Putin e Netanyahu preferirão, obviamente, uma vitória de Donald Trump, já a esmagadora maioria do mundo ocidental torcerá pela vitória de Kamala Harris, até porque o anterior presidente continua a ameaçar com um isolacionismo cada vez mais pronunciado e que poderá minar a coligação política e militar do Ocidente. Porém, para os norte-americanos, em 2024, a política externa continuará a ser muito pouco relevante na hora de escolherem em quem votar, já que serão os assuntos internos, referidos em cima, a revestirem-se de maior importância para a grande decisão de 5 de Novembro.

quarta-feira, 9 de outubro de 2024

O que os números nos dizem


Abri este ciclo de 2024 no Máquina Política a apresentar os battleground states decisivos para a escolha do próximo presidente dos Estados Unidos. Nesse post, salientei que a corrida está empatada e totalmente em aberto, mesmo que hoje tenha saído uma sondagem Reuters/Ipsos nacional que apresenta uma vantagem de sete pontos percentuais para Kamala Harris (47%-40%). Todavia, e tendo em conta todos os estudos de opinião conhecidos, é provável que esta sondagem seja um outlier, ainda que não se possa descurar que este resultado seja a primeira manifestação de uma tendência que venha a ser confirmada mais tarde.

A menos de um mês do dia das eleições, é previsível que não haja grandes alterações no estado da corrida, salvo uma surpresa de Outubro ou se Donald Trump aceitar um novo debate televisivo. Assim, podemos antever que aquilo que as sondagens no dizem hoje é muito representativo dos resultados eleitorais definitivos. Isto, claro, se considerarmos que as sondagens não falharão, como aconteceu em 2016 e em 2020.

Em média, as sondagens têm um desvio de cerca de 4% relativamente ao resultado final. Por isso, e como o consenso dos estudos de opinião é que a corrida se encontra empatada, podemos ainda ter um resultado relativamente desnivelado para qualquer um dos lados, sendo que, a verificar-se tal desvio, será mais provável que aconteça a favor de Trump, cujos resultados foram subvalorizados nas duas anteriores eleições. Porém, com dois ciclos eleitorais para analisarem, e com o fenómeno Trump hoje bem mais consolidado, é natural que as empresas de sondagens tenham conseguido adaptar os seus modelos de forma a preverem com mais exactidão os resultados do nomeado do GOP.

Por outro lado, importa perceber que, por causa do sistema de Colégio Eleitoral, os números nacionais pouco importam para termos uma noção de quem lidera a disputa pela Casa Branca. Como aconteceu em 2016 e 2020, os republicanos contam com uma importante vantagem nos votos eleitorais, porque os democratas "desperdiçam" muitos votos em estados muito populosos (a Califórnia é o melhor exemplo) e porque os republicanos vencem em muitos dos estados mais pequenos, cujo peso no Colégio Eleitoral é desproporcionalmente elevado. Desta forma, calcula-se que Kamala Harris terá de vencer pelo menos por 3% no total dos votos para estar confortável na contagem dos votos eleitorais.

Assim, o mais relevante será seguir os números nos sete estados decisivos, mas como todas as sondagens têm colocado a corrida em todos eles como estando dentro da margem de erro, também não conseguimos, neste momento, retirar grandes ilações a não ser aquela que já fiz: a eleição está empatada e é impossível antecipar um vencedor. Seja como for, deixo em baixo um apanhado das previsões dos vários analistas e modelos de agregação de sondagens, ficando bem demonstrado a total imprevisibilidade da corrida pela presidência norte-americana. 

Nate Silver Bulletin - Harris 55% - Trump 45% (hipóteses de vitória)

FiveThirtyEight - Harris - 53% - Trump 46% (hipóteses de vitória)

Cook Political Report - Harris 226 - Trump 219 (votos eleitorais)

Larry Sabato's Christal Ball - Harris 226 - Trump 219  (votos eleitorais)

Real Clear Politics - Harris 215 - Trump 219 (votos eleitorais)

The Economist - Harris 273 - Trump 265 (votos eleitorais, sem toss ups)

segunda-feira, 7 de outubro de 2024

The Donald













Em 2016, no início da campanha das primárias presidenciais republicanas, disse, num programa da TSF, que fazia todo o sentido que a candidatura de Donald Trump fosse seguida, como fazia o Huffington Post, nas secções de entretenimento dos media e não nas de política. Não podia ter dito um maior disparate, pois, hoje, oito anos depois, Trump já venceu três nomeações presidenciais pelo GOP e ocupou, durante um mandato, a Sala Oval. Como em 2016 e em 2020, The Donald é novamente o candidato do partido conservador à Casa Branca.

Trump nasceu em 1946, no seio de uma família abastada. O seu pai era um empresário de sucesso no sector do imobiliário e Donald frequentou sempre escolas privadas de Nova Iorque, incluindo a escola militar local. Tirou um degree em Economia, primeiro em Warthon e, depois, na Universidade da Pennsylvania. 

Terminados os estudos, Donald Trump empregou-se na empresa do pai, a Trump Management, e começou uma vida dedicada ao imobiliário. Primeiro, sob a alçada do pai e, mais tarde, de forma independente, o magnata tornou-se um nome incontornável na cena imobiliária de Nova Iorque e dos Estados Unidos. O seu sucesso é alvo de muita polémica e o seu império sofreu muitos altos e baixos, mas é indesmentível que, durante décadas, o nome Trump foi sinónimo de prosperidade e riqueza. 

O seu império, mas também as suas várias polémicas, tanto a nível profissional como pessoal, fizeram dele uma das grandes figuras da vida cor-de-rosa de Nova Iorque. Trump tornou-se um ícone da cultura popular norte-americana e, depois de ganhar fama no imobiliário, apostou forte no show business (quem não se lembra do seu cameo no Home Alone 2?). No início dos anos 2000, lançou o seu próprio reality show, o The Apprentice, que rapidamente se tornou um grande sucesso e duraria até ao seu protagonista chegar à Casa Branca. 

Depois dos negócios e do entretenimento, Trump procurou uma nova arena para brilhar e, naturalmente, virou-se para a política. Registado como republicano, apesar de ter contribuído para vários candidatos democratas - como os Clinton -, nunca se definiu propriamente como conservador. Como em tudo na sua vida, Donald procurava criar controvérsias, trazendo-se a si próprio para as luzes da ribalta. Foi assim, por exemplo, que, em 1988, se auto-proclamou como candidato a vice-presidente de George Bush ou que se tornou uma das principais vozes que acusavam Barack Obama de não ter nascido nos Estados Unidos e, por isso, não ser elegível para a presidência da nação norte-americana. 

Em 2000, chegou a ser candidato às primárias presidenciais do Partido Reformista, apenas para desistir pouco tempo depois. Mas o momento decisivo chegaria em 2011, num célebre jantar dos correspondentes da Casa Branca, em que marcou presença e em que foi alvo das piadas de Barack Obama. Visivelmente incomodado e sentindo-se publicamente humilhado, terá sido nessa ocasião que decidiu concorrer à Casa Branca para se vingar de Obama e dos democratas. Contudo, foi a partir daí que se assumiu definitivamente como republicano e conservador, tendo mesmo participado na CPAC e marcado presença nos primeiros estados a terem primárias. Estava a lançar as sementes que dariam frutos quatro anos mais tarde.

Em 2016, os republicanos tinham de decidir quem seria o seu candidato presidencial num ano em que os democratas deixavam de ter o popular Obama no boletim de voto. Com boas hipóteses de vitória, foram muitos e de nomeada os concorrentes republicanos, como, por exemplo, Jed Bush, Marco Rubio ou Ted Cruz. Todavia, esse ciclo eleitoral foi absolutamente tomado de assalto por Donald Trump, mesmo quando muitos (eu incluído) pensavam que a sua candidatura não era séria, mas apenas uma publicity stunt destinada a aumentar as audiências do seu reality show. 

Ao longo das primárias, foram caindo um a um os vários candidatos "anti-Trump" que se destacavam nas sondagens momentaneamente. No final, a nomeação foi para Donald e essa vitória haveria de transformar radicalmente o Partido Republicano, quiçá para sempre. Trump, com o seu discurso disruptivo e sem filtros, agradou a um grande segmento do eleitorado republicano, tornando-se o herdeiro e grande representante do movimento populista Tea Party. A partir daí, o GOP passou a ser o partido de Trump e os republicanos clássicos tornaram-se uma espécie em vias de extinção. 

Contudo, na eleição geral, Trump era visto como o underdog face à favorita Hillary Clinton. A antiga primeira-dama, senadora e secretária de estado, tinha um currículo impressionante, enorme experiência e contava com o Partido Democrata totalmente do seu lado (apesar de alguns ruidosos apoiantes de Bernie Sanders). Já Donald não tinha qualquer experiência política e era visto com muita desconfiança por parte do establishment republicano. Acossado por escândalos e atrás de Hillary nas sondagens, nem o próprio Trump acreditava na sua eleição. 

Aconteceu, porém, que Hillary Clinton demonstrou ser uma candidata sofrível, tendo cometido muitos erros de palmatória. Além disso, as sondagens subvalorizaram repetidamente as hipóteses de vitória de Donald Trump e os democratas apostaram recursos em estados que não teriam hipóteses de ganhar, descurando locais onde pensavam, erradamente, estar seguros. A poucos dias da eleição, a famosa carta de James Comey terá também sido decisiva e selou a vitória de Trump que se tornou, contra todas as expectativas, o 45º presidente dos Estados Unidos.

O seu mandato presidencial foi marcado, primeiro, pela desregulação, pela quebra de acordos e tratados e internacionais e até pela ameaça da retirada dos Estados Unidos da NATO. A boa prestação da economia norte-americana nos primeiros anos do seu mandato, haveria de ser totalmente revertida pela eclosão da COVID-19. A sua gestão da pandemia foi um verdadeiro desastre e isso poderá ter ditado a sua derrota nas eleições de 2020. Do seu mandato na Casa Branca, ficam ainda para a história os dois processos de impeachment que lhe foram movidos pela maioria democrata na Câmara dos Representantes - primeiro por ter, alegadamente, sugerido trocar favores políticos por armamento numa conversa telefónica com Vladimir Zelenksy e, depois, pelo seu papel na insurreição de 6 de Janeiro de 2021.

Vencido nas urnas por Joe Biden, Trump nunca assumiu a derrota, preferindo esconder-se atrás de teorias completamente infundadas, alegando que venceu a eleição e que esse triunfo lhe foi roubado por uma massiva fraude eleitoral. Assim, Trump evitava a assunção da derrota, algo que seria fatal para alguém que, como ele,  vê o mundo dividido entre vencedores e falhados. A reação violenta dos seus apoiantes haveria de tornar o 6 de Janeiro num dia infame. Na altura, pensou-se que Trump tinha ido longe demais e que estaria acabado para a política. Porém, o seu poder total sobre a sua falange de apoio não esmoreceu e o GOP resignou-se a esquecer o sucedido e a continuar a apoiar o seu líder. Ainda hoje, a maioria dos eleitores republicanos acredita na mentira da eleição roubada, prova de que Trump controla, ainda, o eleitorado e, consequentemente, o partido republicano. 

Agora, em 2024, Donald Trump tenta a reeleição para a Casa Branca. Se contra Joe Biden a vitória parecia certa, já face a Kamala Harris a conversa é outra e o triunfo incerto. Até ao momento, Trump mantém-se igual a ele mesmo, talvez ainda mais irascível e fora de controlo. A tentativa de assassinato a que sobreviveu deu-lhe ainda mais confiança e sente-se, agora, uma figura messiânica destinada a salvar os Estados Unidos. Ou, pelo menos, é isso que gosta de dizer, ao mesmo tempo que vende bíblias, relógios e todo o tipo de parafernália com o seu nome e cara para aumentar a sua riqueza pessoal.

Acossado por vários processos judiciais, tendo já sido declarado culpado num deles, Donald Trump precisa desesperadamente de ser eleito para, pelo menos, adiar a conclusão destes processos e, até, quem sabe, perdoar-se a si próprio através do poder presidencial. Com as sondagens a darem a corrida como empatada, a vitória está em dúvida, mas uma coisa é certa: Trump já entrou para a história como, porventura, a figura mais polarizadora da história dos Estados Unidos. 

domingo, 6 de outubro de 2024

Kamala Harris, no lugar certo e à hora certa


Kamala Devi Harris é a candidata democrata à Presidência dos Estados Unidos, após a histórica (e tardia) desistência do ainda presidente Joe Biden, que havia vencido as primárias do partido, praticamente sem oposição de relevo. Apesar de ter entrado tarde na corrida, Kamala teve um impacto imediato e rapidamente agregou o Partido Democrata em torno da sua candidatura à Casa Branca. 

Filha de uma imigrante indiana e de um jamaicano negro, Kamala nasceu em Oakland, na Califórnia e seguiu Direito, tendo estudado na histórica universidade afro-americana de Howard e na Universidade da Califórnia. E foi neste estado do Oeste americano que Harris fez carreira como prosecutor, primeiro como District Attorney de São Francisco e, mais tarde, como Attorney General do estado californiano. 

Em 2016, decidiu, sem surpresa, prosseguir a sua carreira na política, tendo concorrido para o cargo no Senado deixado vago pela consagrada senadora Barbara Boxer, eleição que venceu sem dificuldade. Na câmara alta do Congresso dos Estados Unidos, Kamala Harris cedo se destacou pelas suas posições progressistas, como na defesa pela legalização da cannabis ou do DREAM act. Contudo, foi principalmente nas audiências de confirmação de Brett Kavanaugh para o Supremo Tribunal que a então senadora ganhou notoriedade nacional. Na altura, utilizou a sua experiência como advogada de acusação para colocar o juiz Kavanaugh em sérias dificuldades, tanto que a sua confirmação para o Supremo esteve em dúvida mesmo até ao último momento.

Com a popularidade junto do eleitorado mais à esquerda em alta, Kamala decidiu candidatar-se à presidência em 2020 e era vista, no início desse ciclo eleitoral, como uma das principais favoritas a ser a nomeada democrata para enfrentar o então presidente Donald Trump. A sua campanha até começou bem e ficou famoso o debate em que usou a sua herança cultural para atacar Joe Biden e o seu passado no Senado, quando se dava amigavelmente com senadores republicanos sulistas (leia-se, racistas). Porém, o destaque que ganhou fez dela um alvo e nos debates que se seguiram foi atacada pelos seus adversários e o seu passado como prosecutor foi utilizado para a desacreditar junto do eleitorado mais progressista. Além disso, Harris, que nunca tinha participado numa eleição verdadeiramente competitiva, demonstrou não estar à vontade no trilho da campanha e foi perdendo momentum e apoios financeiros, até, eventualmente,  ter de desistir da candidatura e passar a apoiar Joe Biden para a nomeação democrata. 

Sendo uma das primeiras apoiantes proeminentes de Biden, e apesar dos ataques que lhe desferiu durante a campanha, Kamala era vista como uma das favoritas a ser escolhida para a vice-presidência. Com a nomeação de Biden, este tinha a necessidade de "equilibrar" o ticket. Assim, uma mulher negra parecia o perfil certo para se assumir como running mate de Joe Biden e, por isso, não foi nenhuma surpresa quando o nomeado presidencial democrata a anunciou como a sua escolha para concorrer como sua veep. 

Com a nomeação à vice-presidência garantida, Kamala Harris não se destacou de sobremaneira na campanha nacional de 2020, muito por culpa da pandemia de 2020. Cumpriu o seu papel no debate vice-presidencial face a Mike Pence, mas não deslumbrou e a sua fama como candidata medíocre em campanhas não desapareceu, mesmo após a vitória do ticket Biden/Harris que fez dela a primeira mulher na vice-presidência.

Na Casa Branca, Kamala ocupou um lugar de relativo destaque, tendo em conta que o papel do vice-presidente, sem funções executivas definidas pela Constituição, depende sempre do portfolio que lhe é atribuído pelo chefe de estado. Em especial, a vice de Biden foi mais relevante na política externa e na questão da imigração, tendo sido escolhida pelo Presidente para tentar resolver o problema da imigração ilegal na fronteira entre os Estados Unidos e o México.

O papel de um vice-presidente é sempre ingrato e os quatro anos de Kamala Harris na Casa Branca também não foram pacíficos. Com a avançada idade de Biden a assombrar as suas hipóteses da reeleição, o senior staff presidencial viu sempre a vice-presidente, bem mais jovem e enérgica, como uma ameaça à recandidatura do presidente octogenário. Não admira, por isso, que Kamala tenha ficado com a batata quente da questão da imigração, que nunca teria hipóteses de resolver, ou que saíssem constantes leaks da West Wing da Casa Branca que prejudicavam a sua imagem. 

No final, uma desastrosa prestação de Joe Biden no debate face a Trump e a enorme pressão por parte dos líderes democratas - com Nancy Pelosi a assumir a dianteira das manobras de bastidores -, levou à desistência do ainda Presidente que abdicou a favor da sua vice. Harris, herdeira da nomeação democrata sem ter de passar por primárias, assumiu a tocha do combate contra Trump e entusiasmou, de imediato, a base do Partido Democrata que voltou a acreditar numa vitória na eleição, algo que parecia já quase impossível dada a fragilidade de Biden. 

Apesar da tardia entrada na corrida, Kamala Harris tem quebrado com o passado e tem-se revelado uma boa candidata. Apesar dos problemas anteriores, manteve no lugar quase todo o staff da campanha de Biden e chamou David Plouffe, um dos grandes arquitectos das campanhas vitoriosas de Barack Obama, tendo conseguido uma transição pacífica e suave. Nos dois grandes momentos da campanha, o discurso de aceitação da nomeação e no debate frente a Trump, apresentou-se sem falhas e conseguiu duas grandes prestações. De menos positivo, até agora, apenas se lhe pode apontar ser pouco propensa para tomar riscos, como se pode ver no facto de evitar ao máximo a exposição ao media e na escolha do seu candidato a vice-presidente (continuo a achar que não escolher Josh Shapiro foi um erro). 

Kamala Harris tem, ao longo da sua vida, demonstrado uma enorme capacidade para se retransformar. Veja-se, por exemplo, que, em 2020, foi uma das candidatas mais progressistas nas primárias mais à esquerda da história do Partido Democrata para, em 2024, ser uma das nomeadas presidenciais democratas mais moderadas dos tempos modernos. Para alguns, isso representa inteligência e adaptabilidade, enquanto que, para outros, isso significará vazio ideológico e uma coluna cervical demasiado flexível.

Como se viu, fruto da sorte, das circunstâncias, ou da sua adaptabilidade, a história de vida de Kamala prova-nos que tem estado sempre no lugar certo à hora certa. Falta saber se a 20 de Janeiro de 2025, pelas 12 horas de Washington D.C. também estará no Capitólio, a prestar juramento como a primeira mulher presidente dos Estados Unidos da América. 

sábado, 5 de outubro de 2024

Os sete magníficos

Sim, ainda existem blogues e o Máquina Política é um desses dinossauros que sobrevivem à mudança dos tempos. Bem, pelo menos de quatro em quatro anos.

A exactamente um mês do dia das eleições nos Estados Unidos, o Máquina Política regressa da hibernação para acompanhar a mais importante, interessante e apaixonante eleição política do mundo, na opinião desta maquinista. 

Como não podia deixar de ser, o primeiro post sobre a corrida pela Casa Branca de 2024 é uma espécie de snapshot da disputa pelos 538 votos eleitorais que decidirão quem se sentará na Sala Oval a partir de 20 de Janeiro de 2025: Kamala Harris ou Donald Trump.

À imagem do que tem acontecido nas últimas duas eleições, em que Trump foi o candidato republicano, esta campanha pela presidência norte-americana está a ser marcada pelo equilíbrio e, neste momento, a corrida é um verdadeiro empate, sem que nenhum dos candidatos possa ser considerado favoritos. Se ouvirem ou lerem o contrário, trata-se apenas de wishful thinking, seja de um lado ou de outro.

Por causa do sui generis sistema eleitoral norte-americano, estas eleições serão decididas, como sempre acontece, num punhado de estados, já que em 43 dos 50 estados (sem contar com Washington DC, verdadeiro bastião democrata), o vencedor parece, à partida, mais ou menos decidido, salvo grandes surpresas ou erros de monta das sondagens. Se distribuirmos os votos eleitorais desses estados pelo seu presumível vencedor, percebemos que a vice-presidente Kamala Harris conta já com 226 votos eleitorais bem encaminhados e o ex-presidente Donald Trump tem 219 grandes eleitores relativamente seguros do seu lado. Ou seja, nenhum dos dois candidatos está perto de atingir o número mágico de 270 electoral votes necessários para a vitória. 

Assim sendo, as atenções estão viradas para os sete super swing states deste ciclo eleitoral: Wisconsin, Pennsylvania, Michigan, North Carolina, Georgia, Arizona e Nevada. Em qualquer um dos destes estados, o equilíbrio tem sido a nota dominante, com as sondagens a mostrarem empates técnicos em todos eles. Consequentemente, ambas as campanhas estão a apostar tudo nestes sete estados que decidirão, certamente, o vencedor da eleição presidencial.

Neste momento, e apesar de, segundo as sondagens, as diferenças entre Harris e Trump estarem, em todos estes estados, dentro da margem de erro, diria que, se tivesse de apostar, a candidata democrata terá uma minúscula vantagem no Michigan, no Nevada e no Wisconsin, enquanto Trump estará, por muito pouco, na frente na Georgia e no Arizona. Já na Pennsylvania e na North Carolina, ainda não arriscaria um favorito. 

Está, por isso, ainda tudo por decidir na corrida pela Casa Branca. Com o equilíbrio a ser a nota dominante, o mais provável é termos, de hoje a um mês, uma longa noite pela frente, sendo até provável que não seja a 5 de Novembro que ficaremos a saber quem sucederá a Joe Biden à frente dos destinos dos Estados Unidos da América.