A principal mensagem da campanha presidencial vitoriosa de Barack Obama foi a mudança e o corte total com os oito anos de administração Bush, que haviam levado a América a duas guerras impopulares e a uma crise financeira sem precedentes desde a Sexta-feira Negra de 1929. Contudo, decorridos os primeiros 18 meses de Obama na Casa Branca, muitos activistas e organizações liberais americanas estão desiludidas com o presidente que ajudaram a eleger, e alguns dos mais radicais afirmam mesmo que Obama parece George W. Bush.
Porém, se virmos bem as coisas, é por demais evidente que Obama é um presidente bastante diferente de Bush e, além disso, é preciso ter em conta que uma coisa é o que as pessoas esperavam de Obama e outra bem diferente foi aquilo que o próprio prometeu durante a campanha. Vejamos as questões de política externa: se os americanos mais liberais esperavam um retirada total dos dois teatros de guerra é porque não estiveram atentos à campanha de Obama, que sempre prometeu o desvio de atenções e recursos do Iraque para o Afeganistão. Mas terá sido, porventura, no Iraque que a estratégia do actual presidente menos diferiu da do seu antecessor, mas, de qualquer forma, procedendo à retirada gradual da presença militar norte-americana no país outrora dominado por Saddam Hussein. A sua grande falha terá sido mesmo em relação à prisão de Gauntanamo Bay, que ainda não conseguiu encerrar, ao contrário do que prometeu durante a campanha.
A nível de política interna as diferenças são notórias. Apesar de Obama ter herdado e dado continuidade ao bailout iniciado por Bush, foi ainda mais longe e conseguiu aprovar uma reforma financeira com vista a evitar uma nova crise como a que se despoletou em 2008. Ainda relativamente a questões económicas, Obama rompeu totalmente com o 43º presidente, pondo um fim aos cortes fiscais para os mais ricos, uma das imagens de marca de Bush. Depois, a histórica reforma da saúde foi, sem dúvida, o momento mais importante da presidência de Obama até ao momento. Pode não ter ido tão longe como a facção mais à esquerda do Partido Democrata desejaria, mas, dadas as circunstâncias e a feroz oposição republicana, esta reforma foi a possível e, ainda assim, um tremendo avanço do welfare state norte-americano. Por fim, as duas nomeadas por Obama para o Supremo Tribunal mantiveram o equilíbrio ideológico da Instituição, além de Sonia Sottomayor se ter tornado a primeira latina na mais alta instância jurídica dos Estados Unidos.
Vistas bem as coisas, não me parece que a Esquerda americana tenha motivos suficientes para estar tão insatisfeita com Obama quanto isso. Ao contrário do que muitos quiseram dar a entender (como Hillary Clinton durante as primárias, ou os republicanos desde 2008), Obama não é um radical liberal, mas sim um moderado. Pode não ser um centrista como Bill Clinton, mas também não é um Walter Mondale ou um George McGovern. E não é, certamente, um George W. Bush.
Joao,
ResponderEliminarComo interpretas a ultima conferencia de imprensa do Gibbs em que criticou a ala mais liberal que apoiou o Obama?
Foi so desleixo ou deixa antever uma possivel virada centrista da admnistracao a seguir as eleicoes de Novembro?
Abraco,
Joao
Não se foi um simples desabafo, ou uma estratégia pensada de modo a demarcar Obama da ala mais liberal, mostrando aos americanos que o presidente é um moderado. De qualquer forma, e foi a partir desta polémica que se gerou a partir das críticas de Gibbs à "esquerda profissional" americana, que escrevi o post, para tentar demonstrar que essa mesma esquerda não tem grandes razões de queixa de Obama.
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