quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Depois da tempestade vem a bonança

A tragédia que ocorreu na cidade de Tucson, no Arizona, onde uma acção da congressista democrata, Gabrielle Giffords foi atacada a tiro por um lunático, levando à morte de seis pessoas e a ferimentos graves na própria legisladora, teve um impacto brutal na sociedade americana e, em particular, no clima político em Washington. Porém, apesar de fatídico, o sucedido pode produzir consequências positivas para o panorama político norte-americano. 
Nos últimos anos, a crispação e a conflitualidade entre os dois grandes partidos americanos tem sido levada ao limite, com uma retórica agressiva e quase bélica. Tudo terá começado com o impeachement movido a Bill Clinton pelos republicanos do Congresso, por ocasião do Monicagate, na parte final do segundo mandato do último presidente democrata antes de Barack Obama. No altura, o debate rondou mais questões da vida privada de Clinton, do que propriamente políticas. Depois, os democratas não perdoaram a George W. Bush o modo como este venceu a eleição de 2000 frente a Al Gore, em outro gate, mas desta vez com o prefixo Florida, e fizeram, literalmente, a vida negra a Bush durante os oito anos em que esteve na Casa Branca. Com a chegada de Barack Obama à presidência, julgou-se que a polarização partidária seria suavizada, até porque essa foi uma das principais promessas eleitorais do actual presidente. Contudo, verificou-se que tal não aconteceu, e a emergência dos movimentos Tea Party, com a sua mensagem em alguns casos radical levou o extremismo partidário para um novo nível.
Não quero com isto dizer que o ataque à congressista Giffords tenha sido responsabilidade da classe política, até porque tudo indica que tudo se tenha devido à demência do assassino. Considero ainda ridículas algumas acusações que têm sido levantadas aos Tea Party e a Sarah Palin, responsabilizando-os por esta tragédia. Contudo, este acto selvagem no Arizona constitui uma oportunidade para os políticos pararem um momento para reflectir sobre a sua actuação nos últimos anos. E pelo que se tem visto das reacções e declarações dos políticos dos dois lados, parece que essa tal reflexão está a ser feita e está a produzir resultados. É de esperar que a tensão partidária seja atenuada nos próximos tempos, mas o ideal será que esse fenómeno não dure apenas enquanto estiver fresca a memória dos acontecimentos de Tucson. Afinal, esta tragédia devia lembrar todos os actores políticos de uma golden rule primária: em democracia não deve haver inimigos, apenas adversários. 

6 comentários:

  1. E quem foi, João Luís, que chamou os adversários de «inimigos»? E de «tomadores de reféns»? Barack Obama. Que também disse que, com eles (os republicanos), havia que «ir-lhes à cara», «arranjar uma arma se eles trouxessem uma faca» e travar «combate(s) corpo a corpo», entre outras «pérolas» de oratória. Sendo ele, supostamente, o «supremo magistrado da nação» norte-americana, não deveria ser o primeiro a dar o (bom) exemplo?
    E mais: na Flórida, em 2000, não houve qualquer «(...)gate» - embora por pouco, GWB ganhou inequivocamente naquele Estado. E, de facto, tudo poderá ter começado com Bill Clinton, não com o «caso Monica» mas antes - quando o ex-presidente acusou os conservadores de terem levado, influenciado Timothy McVeigh a colocar a bomba em Oklahoma City. Uma acusação que, verificou-se posteriormente, não tinha qualquer fundamento.

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  2. Octávio, o objectivo deste post não foi o de encontrar culpados nem responsáveis pelo clima conflituoso que domina a política norte-americana nos últimos anos. De qualquer forma, acho que os dois lados são igualmente culpados.
    Em relação ao Floridagate, não me parece que tenha razão. Apesar de George W. Bush ter, no final, sido considerado vencedor, a verdade é que essa foi a eleição presidencial mais polémica e disputada de sempre, com toda a celeuma em seu redor a merecer que esse processo receba a tal designação de "gate". E a vitória de Bush na Florida foi, a meu ver, tudo menos inequívoca. Aliás, o próprio Supremo Tribunal americano esteve profundamente dividido, com a votação final acerca da retoma da recontagem dos votos nas 4 "preccints" da Florida a ficar em 5-4.

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  3. O João Luís está a confundir os factos com as suas opiniões... e com os mitos.

    Na Flórida em 2000 a vitória de GWB foi mais do que confirmada, após várias recontagens, oficiais e oficiosas (incluindo uma pelo New York Times), e não dependeu exclusivamente da decisão do Supremo Tribunal. Mas, se quiser, podemos falar de outras eleições, em que as suspeitas de fraude por parte dos democratas se avolumaram, começando com a presidencial de 1960 em que John Kennedy foi declarado vencedor (parece que aconteceram então coisas estranhas em... Chicago), e acabando com as mais recentes para o Senado, mais concretamente, os «triunfos» de Al Franken e de Harry Reid.

    E quanto ao «clima conflituoso» na política norte-americana... não, não é verdade que «os dois lados são igualmente culpados». Há muito mais violência verbal... e física por parte da esquerda, e isso é facilmente demonstrável.

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  4. Octávio, acho que é um facto que a eleição de 2000 foi polémica e conturbada. Acho que ninguém pôs em causa a vitória de Bush nas contagens. O problema residiu sempre nos critérios de aceitação de boletins de voto como válidos. E essa é uma questão muito complexa, logo por ser subjectiva. Mas penso ser interessante ver como a opinião de George Bush se alterou, desde o seu tempo de Governador do Texas até à eleição presidencial.
    Em relação a 1960, são famosos os relatos de manipulação eleitoral no Illinois, sob a influência do poderoso Mayor de Chicago, Richard Daley. Contudo, também já li que em outros Estados houve irregularidades a favor de Nixon e que as "falcatruas" dos dois candidatos se anulavam mutuamente. Agora essa visão de que as vitórias tangenciais dos democratas são "roubos", enquanto que as dos republicanos são inequívocas, parece-me visivelmente tendenciosa.
    Costumo vê-lo frequentemente a criticar a forma parcial como a comunicação social portuguesa cobre a política norte-americana (e até lhe dou razão em certo ponto), mas parece-me que incorre repetidamente no mesmo erro, já que a sua análise da política que se faz nos "states" também acaba por ser unidimensional e redutora, dada a divisão que faz entre os bons (os democratas) e os maus (republicanos).

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  5. João Luís, se você começar, ou continuar, a fazer generalizações abusivas sobre o que eu escrevo, e a colocar na minha boca coisas que eu não disse... então não há motivo para entrarmos em debate.

    Acaso eu escrevi que (todas) as vitórias tangenciais dos democratas são «roubos»? Referi três casos concretos, um mais antigo (Kennedy) e dois mais recentes (Franken e Reid), em que de facto existiram indícios sérios de «falcatruas». E essa de que houve, supostamente, «irregularidades» a favor de Nixon em 1960... para mim é nova, nunca tinha ouvido falar disso! Já agora, indique-me onde é que leu essa «teoria». De qualquer forma, isso até que nem me admira muito, porque desde Watergate que o homem é acusado de tudo...

    E quanto à suposta divisão que eu faço entre «bons» (R) e «maus» (D)... o que eu já afirmei, mais do que uma vez, é que há uns melhores, ou menos maus, do que outros. É claro que a correlação não é de «100-0», mas também não é de «50-50»: será, vá lá, de «60-40» ou de «70-30». E tenho demonstrado isso sucessivamente no Obamatório. Se não quer aceitar esta evidência... é um problema seu. Mas, por favor, não adultere aquilo que eu digo.

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  6. Octávio, se critica o que os outros escrevem/fazem, também devia "encaixar" melhor as críticas. Não o quis ofender, apenas apontar uma contradição que, na minha opinião, existe na sua forma de ver as coisas. Se calhar o melhor é mesmo concordarmos em discordar.

    Em relação a 1960 é preciso ainda não esquecer que mesmo que JFK tivesse perdido no Illinois teria, ainda assim, sido o vencedor das eleições com 276 votos eleitorais. Para ser franco não me lembro onde li essa afirmação, mas admito estar equivocado.

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