domingo, 25 de outubro de 2020

O Estado tipping point


























Uma das noções mais importantes na definição das estratégias das campanhas presidenciais é a do Estado tipping point, isto é, o Estado com maior probabilidade de ser, quando se contarem os votos, aquele que atribui o voto decisivo ao vencedor no colégio eleitoral. Ou seja, se colocarmos todos os estados por ordem de diferença na margem de vitória, começando naquele em que o vencedor venceu por maior diferença, aquele Estado que fizer o candidato vencedor alcançar os 270 votos eleitorais é o tipping point state. 

Segundo o 538.com de Nate Silver, o tipping point state deste ciclo eleitoral é a Pennsylvania com os seus 20 votos eleitorais. Há quatro anos, quando todos esperavam uma vitória de Hillary Clinton, Donald Trump venceu no keystone state e esse foi um dos factores decisivos para o triunfo do republicano no colégio eleitoral (juntamente com as suas vitórias no Michigan e no Wisconsin).

A Pennsylvania começou como o centro da América. Tendo sido uma das primeiras colónias, cedo ganhou protagonismo e atraiu milhares de Britânicos de várias confissões religiosas e Alemães. Philadelphia tornou-se a maior cidade norte-americana e foi aí que se reuniu o Congresso Continental, em 1776, e que decorreu a Convenção Constitucional, em 1787. Nessa época, Philadelphia parecia destinada a tornar-se a Londres da América e o seu centro económico, comercial e financeiro.

Contudo, tanto Philadelphia como a Pennsylvania não conseguiram manter o papel fulcral que desempenharam no início da União. Perdida a capital federal, que se mudou para Washington D.C., cidade edificada propositadamente para albergar o governo dos Estados Unidos, a Pennsylvania tornou-se a capital da indústria do aço e da indústria energética, principalmente devido ao carvão, matéria-prima abundante no território do estado. O crescimento industrial foi acompanhado pela chegada de grandes vagas de imigração para o estado e, em 1910, a Pennsylvania era o segundo estado mais populoso da União.

O crescimento da Pennsylvania seria interrompido pela Grande Depressão de 1929 e, em algumas regiões do estado, nunca seria retomado e isso teve como resultado a mais baixa taxa de crescimento populacional entre os maiores estados da União. Por isso, se em 1930 este estado atribuía 36 votos eleitorais, agora, esse número está reduzido a 20. Nos últimos anos, essa tendência alterou-se ligeiramente, devido à taxa de impostos praticada na Pennsylvania, que é mais baixa do que na maioria dos estados vizinhos, à chegada de idosos oriundos de New York que procuram uma região mais sossegada para viver a sua reforma, à imigração de hispânicos para trabalharem nas indústrias da Pennnsylvania e à reemergência da zona rural do estado como produtor energético por excelência.

Politicamente, a Pennsylvania constituiu-se, após a Guerra Civil, como o mais pró-republicano dos maiores estados norte-americanos. Em 1932, foi mesmo o único dos grandes estados a preferir o republicano Herbert Hoover em detrimento de Franklin Roosevelt. Todavia, o New Deal e os movimentos sindicais alteraram o panorama político do Estado e tornaram a Pennsylvania industrial dos anos 30 e 40 quase tão democrata como, nas décadas anteriores, havia sido republicana. Mesmo assim, algumas zonas menos industriais do estado mantiveram-se fortemente republicanas e serviram de contrapeso à preponderância democrata em Philadelphia e noutros centros urbanos. 

Nos anos 80, o Leste do estado, mais próspero tinha uma tendência pró-republicana, ao passo que o Oeste tendia para o lado democrata. A situação inverteu-se na década seguinte, quando o Leste virou à Esquerda em questões culturais e passou a apoiar o Partido Democrata, enquanto que o Oeste, mais conservador, se passou para o GOP. Como o Leste do estado é mais populoso e, consequentemente, tem maior peso eleitoral, os candidatos republicanos dominaram o estado nos anos 80 e os democratas saíram vencedores a partir da década de 90.

Em 2008 e 2012, Barack Obama venceu na Pennsylvania de forma relativamente fácil, usufruindo da vantagem democrata proporcionada pelo crescimento das áreas urbanas e suburbanas de Philadelphia, um bastião democrata. Contudo, em 2016, Trump conseguiu um esmagador apoio nas zonas rurais do estado, o que foi suficiente para ultrapassar as margens das vitórias democratas nas zonas urbanas. 

Este ano, as tendências deverão ser as mesmas e os democratas tudo farão para alargar ao máximo as suas margens nos centros urbanos. Para isso acontecer terão de apostar forte na comparência às urnas dos eleitores afro-americanos. A presença de Kamala Harris no ticket democrata poderá dar um importante empurrão para que o voto negro volte aos números dos anos Obama e melhore as hipóteses democratas. Mas, por sua vez, os republicanos deverão continuar a contar com um apoio maioritário nas zonas rurais da Pennsylvania, terreno que pode ser chamado de Trumpland

Com as cidades do lado democrata e os campos no sector de Trump, as zonas suburbanas deverão ser decisivas para a vitória no Estado, representando uma espécie de swing state dentro de um swing state. A julgar pelas sondagens, Joe Biden leva vantagem na Pennsylvania suburbana, o que se pode revelar decisivo para a vitória do democrata no estado e, consequentemente, na eleição geral, já que, ao que tudo indica, quem vencer na Pennsylvania será o ocupante da Casa Branca a partir de 20 de Janeiro de 2021.

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