quarta-feira, 4 de março de 2020

The comeback oldie

Em 1992, Bill Clinton, na altura com 45 anos, ficou conhecido como o "The Comeback Kid", após o seu surpreendente segundo lugar na primária do New Hampshire, quando a sua candidatura à Casa Branca parecia estar já condenada ao fracasso. Ontem, 28 anos depois, Joe Biden, com 78 anos, mostrou estar à altura do epíteto de "Comeback Oldie", ao amealhar uma série de vitórias na famosa e importante Super Tuesday.
Após as desastrosas prestações de Biden nos primeiros estados e a consequente fuga de contribuições financeiras, chegou mesmo a falar-se na sua possível desistência. Contudo, tudo mudou no passado Sábado, quando o ex-Vice-Presidente de Barack Obama triunfou na primária da Carolina do Sul por uma diferença (de 30 pontos percentuais) que nenhuma sondagem previu. Com essa vitória, Biden alcançou, por direito próprio, o estatuto de representante da ala moderada do Partido Democrata e, a partir daí, o establishment democrata começou a cerrar fileiras à sua volta. As desistências de Amy Klobuchar e Pete Buttigieg a seu favor foram os sinais mais visíveis da mudança no momentum da corrida, quando Bernie Sanders parecia bem lançado para a nomeação, após os bons resultados no Iowa, New Hampshire e no Nevada.
Na Super Tuesday deste ano, estavam em jogo 1617 delegados e, à hora a que escrevo estas linhas, falta apenas conhecer o vencedor no Maine (onde Biden leva uma minúscula vantagem), sabendo-se que Joe venceu os estados do Alabama, Arkansas, Massachussetts, Minnesota, Carolina do Norte, Oklahoma, Tennessee e o Texas, tendo, neste momento, cerca de 400 delegados na sua coluna. Por sua vez, Bernie Sanders foi o mais votado na Califórnia, no Colorado, no Utah e no seu home state Vermont, amealhando cerca de 320 delegados.
Michael Bloomberg e Elizabeth Warren tiveram uma noite para esquecer e é provável que desistam nos próximos dias (a campanha do antigo Mayor de Nova Iorque já anunciou estar a avaliar a situação) pois dificilmente terão relevância na disputa. Bloomberg, que sempre disse querer evitar a nomeação de Sanders, deverá anunciar o seu apoio a Biden, enquanto Warren, que pretendia manter-se na corrida até à convenção de Julho, poderá apresentar o seu endorsement ao senador independente pelo Vermont.
Agora, as primárias democratas são definitivamente uma corrida a dois entre Biden e Sanders. De um lado, o establishment democrata, que saiu em força, nos últimos dias, em auxílio de Joe Biden. No seu lado da barricada, o antigo VP conta com os eleitores mais moderados, mais velhos e com os afro-americanos. Do outro lado, com Bernie, vemos os eleitores mais liberais, os mais jovens e os hispânicos. Sem o peso do partido por detrás, mas com uma grande pujança financeira, a campanha de Sanders ainda está na luta. Contudo, depois da noite de ontem, parece claro que Biden é o frontrunner. Além de contar com o momentum  da corrida, as próximas primárias parecem favorecer o antigo senador do Delaware, com destaque para a contenda no grande e importante estado da Florida, com um perfil de eleitorado muito averso a Sanders.
No próximo dia 10, será possível tomar novamente o pulso ao eleitorado democrata, quando decorrer uma espécie de mini Super Tuesday. Será importante seguir as sondagens que forem publicadas e os endorsements que deverão começar a "sair" com mais regularidade. Todavia, o apoio mais esperado, o de Obama, tão cedo não será conhecido e pode mesmo não acontecer até haver um nomeado, sendo certo que, entre o seu Veep e Sanders, o 44º Presidente preferirá sempre o seu antigo braço direito.
Entretanto, na Casa Branca, Donald Trump, entre ataques no Twitter e declarações sobre o corona vírus, vai esperando para ver quem será o seu adversário em Novembro.

2 comentários:

  1. Bem-vindo, João Luís! E então, veio à «boleia» de Joe Biden para também «regressar», neste caso às lides blogosféricas? ;-) E o que andou a fazer nestes mais de três anos de ausência?

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  2. Obrigado, Octávio! Vim à boleia das primárias, que trouxeram o "bichinho" e me fizeram ter vontade de escrever novamente, apesar das dificuldades (leia-se: falta de tempo). Quando comecei esta máquina ainda andava na faculdade e, agora, 10 anos depois, trabalho e tenho 2 filhos. Arranjar tempo e vontade não é fácil, mas vou fazer um esforço para manter-me ligado à máquina até Novembro.

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