Com a chegada do final de 2012, é altura de se fazer o tradicional balanço do ano que agora termina. Nos Estados Unidos, a agenda política foi marcada, como não podia deixar de ser, pelas eleições presidenciais. Contudo, nem só da corrida pela Casa Branca se fez a história do ano que agora termina.
Ainda assim, os primeiros meses de 2012 foram dedicados principalmente à campanha pela nomeação presidencial republicana. Mitt Romney, o grande favorito a vencer as primárias do GOP, enfrentou um leque de opositores que pode ser considerado relativamente fraco. Todavia, acossado pelos candidatos conservadores, especialmente Rick Santorum, Romney foi obrigado a fazer uma campanha acentuadamente à Direita, com destaque para a sua posição muito dura relativamente à imigração, e isso foi-lhe fatal quando, mais à frente, teve de enfrentar Obama na eleição geral.
Eventualmente, Mitt Romney acabou por selar a nomeação republicana. Para derrotar o Presidente, o antigo Governador do Massachusetts centrou a sua mensagem na economia, já que a recuperação económica norte-americana continuava a ser anémica. Apesar de situação da economia dos Estados não ser a melhor, a verdade é que o PIB do país manteve-se em subida (ainda que ligeira) e a taxa de desemprego desceu finalmente abaixo da barreira dos 8%. Além disso, os cidadãos americanos continuavam a ver George W. Bush como o principal culpado pelo estado da economia dos EUA, o que dava a Barack Obama algum espaço de manobra para gerir as suas próprias responsabilidades na matéria.
Outra questão que voltou a estar na ordem do dia neste último ano foi a reforma do sistema de saúde, a grande marca do primeiro mandato de Obama enquanto Presidente. Sempre debaixo de imensa polémica, esta fulcral peça legislativa esteve em risco de ser anulada por via judicial. Porém, o Supremo Tribunal, numa histórica decisão, considerou constitucional a reforma, conhecida como Obamacare. A discussão na mais alta instância judicial norte-americana foi intensa e chegou mesmo a pensar-se que o Supreme Court iria anular o Obamacare, mas, numa reviravolta surpreendente, o Chief Justice John Roberts, normalmente conservador, alinhou com os juízes liberais e permitiu a passagem da reforma da saúde, numa apertada votação de cinco votos favoráveis e quatro votos contra.
Com a chegada do Verão, começou em força a campanha pela Presidência. Barack Obama e Mitt Romney enfrentaram-se para decidir quem seria o Chefe de Estado norte-americano a partir de 20 de Janeiro de 2013. Foi, em grande parte, uma corrida mais renhida do que parece, agora que conhecemos os resultados finais. Barack Obama foi, uma vez mais, um candidato muito forte, tendo apenas falhado aquando do primeiro debate, e liderou a mais eficaz, competente e inovadora campanha da história das eleições norte-americanas. Foi capaz de convencer os norte-americanos de que era o melhor candidato para liderar o país durante mais quatro anos, ao mesmo tempo que minou a credibilidade e a imagem do seu opositor. Por sua vez, Romney, apesar de ter conseguido o que muitos consideravam impossível, ou seja, ameaçar a reeleição de Obama, cometeu demasiados erros e deixou-se caracterizar como um milionário desligado da realidade do cidadão americano comum. A 6 de Novembro, com um empurrão final proporcionado pelo furacão Sandy, Obama venceu de forma relativamente folgada a eleição e conquistou o direito a um segundo mandato na Casa Branca.
A vitória de Obama, assim como os péssimos resultados do partido nas eleições para o Congresso, levaram a uma pequena convulsão no seio do Partido Republicano. Muitas vozes, mesmo internamente, se levantaram para criticar as posições ortodoxas e rígidas do GOP relativamente à imigração, que prejudica os republicanos de forma particularmente intensa junto do eleitorado hispânico, e a questões sociais, que tem afastado os jovens e as mulheres do voto em candidatos republicanos, como ficou bem evidente nas últimas eleições. Na verdade, a crescente influência da ala mais conservadora do partido tem trazido alguns dissabores ao GOP, especialmente em eleições primárias, já que, em alguns casos, o Partido Republicano tem nomeado políticos demasiadamente conservadores, com consequências desastrosas, nomeadamente para os resultados republicanos em eleições para o Senado. Em 2012, ficou claro que o Partido Republicano tem de repensar a sua estratégia e a sua plataforma política, de forma a manter-se competitivo nas urnas, especialmente em anos de eleições presidenciais.
2012 ficou também marcado, infelizmente, por mais uma série de incidentes com armas de fogo. O mais mediático, e também o mais mortífero, foi a tragédia de Newtown, no Connecticut, em que perderam a vida 27 pessoas, incluindo 20 crianças. Este massacre voltou a colocar em cima da mesa a questão do posse de armas nos Estados Unidos, com Barack Obama a clamar por um sério debate sobre esta matéria, de modo a que se possam evitar incidentes deste género no futuro. Desta vez, e ao contrário do que aconteceu em outras ocasiões, tudo indica que a discussão vai mesmo avançar e que o entendimento bipartidário que permita a criação de nova legislação que regule a compra e o porte de armas (pelo menos as de cariz militar) pode ser alcançado.
Por fim, a terminar o ano de 2012, é o fiscal cliff que tem dominado as atenções. Sem que os democratas e republicanos cheguem a um acordo, os Estados Unidos cairão, a 1 de Janeiro de 2013, num verdadeiro "precipício fiscal", com aumentos de impostos para todos os americanos e brutais cortes na despesa federal, com os previsíveis efeitos devastadores na economia do país. Até ao momento, e a poucas horas do deadline, não notícias de um entendimento entre os dois partidos e a situação é deveras preocupante. Resta, por isso, aguardar que um compromisso entre democratas e republicanos e entre a Casa Branca e o Congresso seja ainda possível e que o adeus a 2012 e as boas-vindas a 2013 possam ser comemorados de forma mais tranquila por todos os cidadãos dos Estados Unidos da América.
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