segunda-feira, 7 de novembro de 2016

Os Estados a seguir

Devido ao sistema eleitoral das presidenciais norte-americanas, a corrida decide-se num punhado de Estados, os chamados swing states, ou, como eu prefiro, os battleground states. Com o grande dia a chegar, deixo aqui uma espécie de guia para os Estados que decidirão quem será o 45º presidente dos Estados Unidos.

New Hampshire - O swing state perfeito, sendo um Estado que replica, nos últimos anos, quase a 100%, o voto a nível nacional. Hillary Clinton parecia levar uma vantagem confortável no granite state, mas tem vindo a perder terreno, talvez pela subida nas sondagens do candidato libertário Gary Johnson, cuja votação neste Estado conhecido pelas suas tendências libertárias pode chegar aos 10%. A democrata ainda é a (ligeira) favorita, mas, numa eleição decidida ao milímetro, o New Hampshire pode muito bem vir a atribuir os 4 votos eleitorais decisivos. Toss up.

Pennsylvania - Desde 1992 que a história se repete. Os republicanos sonham sempre com a vitória neste Estado que este ano atribui 18 votos eleitorais, mas, no final, são sempre os democratas que levam a melhor. Em 2016, o GOP volta a apostar numa vitória na Pennsylvania como forma de derrubar a blue wall. Até ao momento, porém, Trump não liderou uma única sondagem e seria uma grande surpresa se ultrapassasse Clinton na noite de amanhã. Como este Estado não tem voto antecipado, o ground game será decisivo e os democratas terão de contar com uma grande afluência às urnas nas grandes cidades (principalmente em Philadelphia) de forma a contrariar a vantagem republicana nos meios suburbanos e rurais. Com a participação afro-americana em queda relativamente há quatro anos, esse poderá ser um problema. Ainda que Hillary seja claramente favorita, este é um Estado a seguir com atenção: se Trump vencer aqui, poderá mesmo estar a caminho da Casa Branca. Leaning Democrat.

Ohio - Este Estado, sempre altamente competitivo e disputado em eleições presidenciais, parece ter virado à direita neste ciclo eleitoral. Com um grande número de eleitores brancos de classe média, em especial de blue collar workers muito afectados pela crise económica de 2008 e pela fuga de empregos de manufactura para países com mão-de-obra mais barata, o Ohio é terreno fértil para o discurso populista de Trump. Assim, depois de ter votado duas vezes em Obama, é bem possível que o buckeye state seja "pintado" a vermelho na noite de amanhã, ainda que, nos últimos dias, as sondagens mostrem uma corrida equilibrada. O GOP parece em vantagem, mas, numa eleição muito renhida, o ground game pode ser decisivo e nisso os democratas são superiores. Toss up.

Michigan - Em 2008, o Michigan esteve na origem de uma polémica no seio da candidatura de John McCain, quando Sarah Palin se pronunciou contra a desistência da campanha neste Estado. Agora, em 2016, o cenário é quase inverso, com os democratas a terem de apostar forte num Estado que parecia decidido a seu favor. Apesar de as sondagens mostrarem uma corrida a apertar (com diferenças que chegam a apenas quatro pontos percentuais), é pouco crível que o Michigan vote em Trump. Porém, com os democratas a enviaram para o grate lake state todos os seus pesos pesados (a própria candidata, Obama e Michelle Obama, Bill Clinton e Joe Biden), tudo indica que os seus números internos estão a preocupar os democratas. Leaning Democrat.

Iowa - Foi este o Estado que catapultou Barack Obama para a Casa Branca, depois da vitória do actual Presidente no caucus do Iowa. Todavia, e apesar de Obama ter vencido aqui em 2008 e 2012, tudo indica que, desta vez, os democratas sairão derrotados, já que Trump tem surgido constantemente na frente das sondagens do hawkeye state. De facto, o Iowa, com uma população quase exclusivamente branca e tradicionalmente rural, é um perfect match para o apelo de Donald Trump que deve amealhar aqui 6 votos eleitorais. Se amanhã o Iowa for equilibrado ou cair para Hillary Clinton, então é porque teremos uma vitória folgada da antiga Secretária de Estado. Leaning Republican.

North Carolina - Outrora um Estado fortemente republicano, a North Carolina é, agora, um verdadeiro swing state, tendo votado Obama em 2008 e em Romney há quatro anos. A forte imigração de jovens com elevada instrução para o Estado, conjugada com uma grande comunidade afro-americana e cada vez mais eleitores hispânicos, tem tornado o Estado cada vez mais democrata. Se Hillary vencer aqui, tem a eleição ganha, por isso este é um Estado obrigatório para Trum - Toss up.

Florida - O sunshine state é, por norma, o prémio mais apetecível nas eleições presidenciais. Com 29 votos eleitorais, a Florida, por si só, garante mais de 1/10 dos votos necessários para se chegar à Casa Branca. Tendo uma população muito heterogénea, fruto da elevada imigração para o Estado, a Florida é sempre um battleground state por excelência e é disputado ao máximo por ambas as partes. Se Hillary conseguir motivar a comunidade hispânica a votar e se conseguir imitar Obama e retirar o voto dos cubano-americanos (tendencialmente republicanos) a Trump, então será a próxima Presidente norte-americana, pois Trump não tem como substituir os votos eleitorais em disputa na Florida. Toss up.

Nevada - As sondagens mostram que o equilíbrio é a nota dominante no Estado dominado por Las Vegas. Contudo, os números do voto antecipado, contam outra história, já que a participação hispânica disparou e pode mesmo acontecer que este eleitorado venha a representar 20% do total, o que, por si só, deverá ser suficiente para Hillary conquistar estes 5 votos eleitorais. Harry Reid, o líder democrata no Senado, que se reforma este ano, montou uma poderosa máquina neste Estado, contando com a preciosa colaboração dos sindicatos dos trabalhadores dos casinos. Com um ground game muito superior, os democratas poder\ao levar vantagem. Leaning Democrat.

Arizona - Estive para não colocar o Arizona como um Estado decisivo, porque, normalmente, uma vitória de um democrata num Estado tradicionalmente republicano significaria um triunfo folgado no Colégio Eleitoral, com este Estado a ser apenas um extra. Todavia, o Arizona é um Estado especial porque a recuperação democrata neste Estado deve-se, quase exclusivamente, ao aumento da população hispânica e ao sucesso do Partido Democrata em registar os elementos desta comunidades como eleitores. Assim, é possível que, num cenário em que Donald Trump vença Estados do Este e do midwest com grandes maiorias brancas, Hillary Clinton alcance, ainda assim, o triunfo, com uma coligação de Estados com forte presença latina como o Colorado, o New Mexico, o Nevada e, claro, o Arizona. Ainda assim, Trump parte em clara vantagem. Leaning Republican. 

Quem quiser aprofundar um pouco mais esta questão, poderá consultar a minha dissertação de mestrado, precisamente sobre os Battleground States of America, disponível aqui.

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