Bernie Sanders anunciou ontem a suspensão da sua campanha presidencial, deixando Joe Biden com o caminho aberto para a nomeação presidencial. Se já o era de facto, Biden é agora oficialmente o presumptive nominee do Partido Democrata e, salvo um acontecimento excepcional, será o adversário de Donald Trump na eleição geral de Novembro.
Era evidente para todos que Bernie tinha perdido as hipóteses de vitória depois da Super Tuesday e das eleições que se seguiram. Com todo o establishment democrata a cerrar fileiras em torno do seu adversário, o senador independente pelo Vermont viu a sua coligação de eleitores - jovens, liberais e hispânicos - ser insuficiente para conseguir a maioria em qualquer primária. Assim, era uma questão de tempo até Joe Biden selar a nomeação, o que poderia até apenas acontecer na convenção nacional do partido.
Mas, e como se viu em 2016, Bernie Sanders poderia não querer baixar os braços e manter a sua candidatura até ao fim, de forma a amplificar ao máximo a transmissão da sua mensagem liberal. Só que, desta vez, Bernie optou por atirar a toalha ao chão, provavelmente por dois grandes motivos. Em primeiro lugar, a pandemia da Covid-19 retirou-lhe o palco e a atenção mediática que precisava. Com os comícios cancelados e com os media e a opinião pública totalmente focados na crise epidémica, não tinha meios nem público para a sua mensagem. Em segundo lugar, Sanders não quer repetir o que se passou em 2016 e entende que só um partido unido poderá derrotar Donald Trump. Se há quatro anos se pensava que o nomeado democrata seria o eventual vencedor (as hipóteses de uma vitória de Trump não eram levadas a sério), agora os democratas percebem que é imperioso derrotar o actual ocupante da Casa Branca e, por isso, Sanders não quer correr o risco de ficar para a história como um dos grandes responsáveis por oito anos de uma administração Trump.
Até Novembro, os democratas terão mais de meio ano para unir o partido em redor da candidatura de Joe Biden. E, aí, Bernie Sanders terá um papel importante. Numa primeira fase, vai ter de evitar a debandada dos seus apoiantes, como aconteceu, em grande parte, há quatro anos. Depois, será importante na definição da plataforma eleitoral do partido, pois conquistou um lugar de relevo na posição ideológica democrata e, além disso, o partido terá de ser visto a aplacar ideias do movimento de Sanders para convencer os seus apoiantes a irem em força às urnas, em Novembro.
Bernie Sanders pode não ter conseguido uma campanha com tanto sucesso como a de há quatro anos, mas a sua carreira política só pode ser vista como um enorme triunfo. Até há poucos anos, era visto como uma figura menor, um senador de um pequeno Estado com ideias radicais. Todavia, actualmente, Bernie transformou a sua ideologia num movimento fundamental para a transformação do Partido Democrata num partido mais progressista. As suas ideias deixaram de estar limitadas a uma pequena franja para serem discutidas e aceites no sistema mainstream. Ainda é cedo para dizer, mas é possível que, daqui a algum tempo, se diga que o movimento de Bernie esteve para os democratas como o Tea Party esteve para os republicanos.
Mas, agora, as atenções viram-se para Joe Biden, que terá a responsabilidade de evitar um segundo mandato de Donald Trump, provavelmente o presidente republicano mais odiado de sempre pelos democratas. E é certo que Bernie tudo fará para que seja Biden o 46º presidente dos Estados Unidos.
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