No seu último debate com Bernie Sanders, a 15 de Março, Joe Biden anunciou que escolheria uma mulher para sua vice-presidente, pelo que teremos um ticket misto do lado democrata face à dupla WASP formada por Donald Trump e Mike Pence. Esta foi uma excelente manobra política do antigo vice-presidente, pois dominou a narrativa (Bernie Sanders foi atrás e disse que faria o mesmo), recebeu elogios por algo que era inevitável e reduziu drasticamente o leque de opções para a sua decisão, poupando, assim, tempo e recursos a vetar nomes masculinos que nunca seriam escolhidos.
Apesar de a importância dos vice-presidentes variar de administração para administração, consoante o portfolio que é atribuído ao Veep, a escolha de Joe Biden reveste-se de importância acrescida, pois um dos segredos mais mal guardados da sua candidatura é que, caso eleito, Biden apenas governará durante um mandato, abdicando de se recandidatar, em 2024, caso vença a eleição deste ano.
Assim sendo, caso o ticket democrata saia vencedor em Novembro, a vice-presidente de Joe estará, muito provavelmente, na pole position para as primárias democratas de 2024, partindo de uma excelente posição para suceder ao seu presidente. Assim, e não obstante ainda faltar algum tempo para conhecermos a candidata vice-presidencial democrata, importa começar a pensar nas principais potenciais candidatas a concorrerem em conjunto com Biden.
Na altura de escolherem o seu vice, os candidatos presidenciais procuram, por norma, figuras que os complementem, que possuam características que supram as suas fraquezas, que expandam o seu apelo eleitoral, seja por atraírem um determinado grupo eleitoral ou por trazerem um vanjatoso home effect num swing state.
Assim, candidatos com menos currículo costumam escolher políticos experientes (exemplos como os de JFK, Bush 43 ou Obama) e concorrentes mais velhos procuram um running mate que transmita juventude e vivacidade (recentemente, tivemos os casos de McCain ou Romney).
Por outro lado, também acontece que os candidatos procurem escolher vices que sejam de um espectro político-ideológico diferente e que complemente o seu apelo eleitoral. Não admira, por isso, que Trump tenha escolhido Mike Pence, uma figura do establishment republicano e que transmitiu segurança ao eleitorado evangélico, e foi, por isso, essencial para segurar a base do seu partido.
Na escolha vice-presidencial pode também ser tido em conta o home state do candidato, pois se o escolhido for oriundo de um estado decisivo isso pode dar um ímpeto decisivo para a vitória dos votos eleitorais atribuídos por esse mesmo estado.
Mais recentemente, os candidatos à Casa Branca veem a o género e a raça como factores importantes na escolha do seu parceiro na corrida, de forma a criarem um ticket multifacetado para passarem uma mensagem de inclusão e promoverem o voto da minoria respectiva. Este factor é, por norma, mais importante para os democratas e é o caso específico de Joe Biden.
Já sabemos, por isso, que a nomeada vice-presidencial democrata será uma mulher. Ainda não sabemos, porém, o nome da escolhida, o que não acontecerá antes do Verão. Isso não invalida que se comecem a fazer as primeiras previsões e a CNN apresenta uma lista do top-ten das principais candidatas. Concordo, em geral, com esta lista e em especial com as duas primeiras classificadas, que me parecem, de facto, as mais bem posicionadas para acompanharem Biden no ticket do Partido Democrata.
A Senadora Kamala Harris tem sido apontada, desde que desistiu da sua candidatura à Casa Branca, como a principal favorita ao lugar de Veep de Biden. É jovem, traz já a experiência da corrida deste ano, provou ser competente nos debates televisivos e, acima de tudo, é afro-americana. Ora, se houve coisa que ficou provada nas mais recentes eleições é que os democratas dependem muito da afluência às urnas em grande número dos eleitores afro-americanos. Por isso, a presença de uma negra no ticket democrata seria, sem dúvida, uma excelente motivação para que isso acontecesse.
Por sua vez, Gretchen Whitmer tem vindo a subir nas casas de apostas e é vista, agora, como uma possível nomeada vice-presidencial. A sua resposta à crise da COVID-19 enquanto governadora do estado do Michigan trouxe-a para a ribalta e os ataques constantes de que é alvo por parte de Donald Trump só fizeram subir o seu perfil mediático e a solidariedade democrata. A sua juventude é um bom contraponto aos 77 anos de Biden e a sua nomeação daria uma importante vantagem aos democratas no decisivo Michigan.
É óbvio que ainda é muito cedo para apontar com certeza a escolhida por Joe Biden, Contudo, se a escolha tivesse de ser feita hoje, ficaria muito surpreendido se a opção não recaísse numa destas duas mulheres.
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