Feita a minha previsão para os resultados das eleições norte-americanas, importa clarificar as minhas decisões e fazer um ponto de situação nos battleground states, aqueles onde os eleitores escolherão, na verdade, o próximo presidente dos Estados Unidos.
OS ESTADOS DECISIVOS
Flórida (29 votos eleitorais) - Sendo o derradeiro battleground state, a Florida tem sido, nas últimas décadas, o mais disputado dos estados em corridas presidenciais e, este ano, não é diferente. Com sondagens para todos os gostos, é muito difícil antever o vencedor no sunshine state. Se num primeiro momento, os democratas pareceram levar vantagem no voto antecipado, uma onda posterior de votantes do GOP, veio equilibrar as contas. Neste estado, o voto latino será decisivo, até porque existe um sub-grupo de eleitores, os cubano-americanos, que votam tendencialmente no GOP (ainda que essa tendência venha a esmorecer). Como habitualmente, o condado de Miami-Dade será decisivo, com Biden a ter que conseguir margens junto dos jovens e minorias nos centros urbanos para contrariar a força de Trump junto dos eleitores rurais. Sendo um estado muito envelhecido por ser destino de reforma para muitos idosos, a forma como o presidente geriu a pandemia pode favorecer Biden junto de uma facção do eleitorado que, há quatro anos, preferiu Trump a Hillary Clinton. Contudo, o histórico recente na Florida é favorável ao GOP, pelo que aposto, sem convicção, na sua vitória.
Pennsylvania (20 VE) - Provavelmente, será o tipping point state, ou seja, o estado que dará a vitória a um dos candidatos. Sem a Pennsylvania, Trump não tem chances de ser reeleito, mas, vencendo aqui, passa a ser o favorito à vitória. Para vencer, Joe Biden precisa de uma operação de turnout melhor do que a de Hillary há quatro anos, especialmente junto dos jovens e das minorias. Devido ao voto antecipado, pode demorar alguns dias até conhecermos o vencedor, particularmente se a corrida for muito equilibrada. As sondagens têm dado uma vantagem constante ao democrata, ainda que por uma margem relativamente curta. Aposto numa vitória Biden, já que Trump venceu por uma unha negra em 2016 e , este ano, num clima muito mais negativo para o actual presidente, duvido que consiga aguentar o seu score na Pennsylvania.
Georgia (16 VE) - Um sonho antigo para os democratas, que já tentaram vencer aqui em 2016, a Georgia parece agora verdadeiramente em jogo. Em 2018, a democrata Stacey Abrams perdeu a corrida para Governador por 1,2% e provou a competitividade democrata no estado. Depois disso, o partido de Biden manteve a sua estrutura intacta e continuou a registar eleitores. Numa eleição mais concorrida, e por isso mais propensa a atrair jovens e eleitores das minorias, o Partido Democrata tem hoje uma grande possibilidade de vencer num estado que lhe foge desde 1992. A crer nas sondagens, a corrida será disputada até ao último voto.
North Carolina (15 VE) - Este é porventura o estado globalmente mais importante da noite, dado que tem corridas competitivas para a eleição do Presidente, de um lugar no Senado e do cargo de Governador do estado. Por isso, muitos milhões de dólares foram gastos, pelos dois lados, nas campanhas da Carolina do Norte. Barack Obama venceu o estado em 2008, mas perdeu-o em 2012. Há quatro anos, Trump voltou a dar a vitória aos republicanos. Sendo um estado com grandes mudanças demográficas, teima em não seguir o caminho que fez a sua vizinha Virginia, rumo ao domínio democrata. Este ano, Joe Biden parece ligeiramente à frente, mas não seria uma surpresa assistir a um triunfo de Donald Trump.
Arizona (11 VE) - Depois de as sondagens terem dado, durante largas semanas, uma vantagem relativamente confortável a Joe Biden no Arizona, os últimos estudos de opinião parecem indicar uma ligeira recuperação do actual presidente. Contudo, os democratas parecem ter já um pé firme no estado e são favoritos à vitória, fruto da sua vantagem em Phoenix, o grande centro urbano do Arizona, e entre os eleitores hispânicos, que representam uma importante fatia do eleitorado. Uma vitória democrata neste estado, poderá ser decisiva, pois permite a Biden um caminho para os 270 votos eleitorais sem precisar dos 20 votos eleitorais da Pennsylvania.
OS ESTADOS LEANING BIDEN
Michigan (16 VE) e Wisconsin (10 VE) - Juntei estes dois estados, por terem muito em comum. São ambos da zona do midwest, com muitos blue collar works e deram a vitória a Trump, há quatro anos. Além disso, é muito provável que, desta vez, repitam a tendência e apostem no mesmo candidato. Segundo as sondagens, estes dois estados estão relativamente seguros para Joe Biden, que consegue melhores resultados com os eleitores brancos do que aqueles que Clinton alcançou há quatro anos. Em particular no Michigan, com uma forte comunidade afro-americana, a presença de Kamala Harris no ticket democrata pode ajudar a motivar os eleitores negros a comparecer às urnas e a votar democrata. Um triunfo de Trump nestes estados (ou apenas num), ainda que muito improvável, será, certamente, sinal que continuará na Casa Branca.
New Hampshire (4 VE) e Nevada (5 VE) - Dois estados pequenos, mas que são, por normal, muito importantes nas eleições presidenciais dos Estados Unidos. Ambos são early states nas primárias e ambos deverão atribuir os seus votos eleitorais aos democratas, como tem acontecido desde 2008. Contudo, as semelhanças acabam aí. O New Hampshire é um estado do nordeste, maioritariamente branco e com um eleitorado tendencialmente independente e moderado. Segundo as sondagens, Biden segue confortavelmente para a vitória. Ainda que no Nevada a corrida parece relativamente mais equilibrada, acredito que o eleitorado hispânico e a grande influência dos sindicatos de trabalhadores de casinos, aliados dos democratas, serão suficientes para garantir a vitória de Joe Biden.
OS ESTADOS LEANING TRUMP
Texas (38 VE) - Este será um dos estados mais interessantes de seguir, mais logo. Com uma grande comunidade hispânica e vários centros urbanos em rápido crescimento, o Texas já alguns ciclos eleitorais que vem sendo apontado, erroneamente, como possível battleground state. Parece, porém, que chegou finalmente a vez do The Lone Star State merecer esse título, pois as sondagens indicam uma clara aproximação de Joe Biden. Ainda antes de chegar o dia de hoje, já os texanos tinham batido os anteriores recordes de participação eleitoral, pelo que será muito difícil prever o resultado no Texas com base nos dados de eleições anteriores. A prudência diz-me para esperar uma vitória republicana, mas, se tivesse que apostar numa surpresa, seria no Texas que colocaria as minhas fichas.
Ohio (18 VE) e Iowa (6 VE) - O Ohio tem a fama de votar sempre no candidato que vence a eleição geral, mas poderá muito bem perder o título nesta eleição. Nos últimos anos, o estado tem virado à Direita, fruto do declínio dos seus centros urbanos e do ressentimento de muitos eleitores brancos pelo desaparecimento de postos de trabalho ligados à indústria e à extracção de recursos minerais. Esse ressentimento foi aproveitado por Donald Trump que, com o seu discurso proteccionista, atraiu muitos blue collar workers para as suas fileiras. Este ano, a corrida deverá ser mais apertada do que em 2016, mas Trump parte na frente. O Iowa, um estado predominantemente rural e branco, é terreno favorável para o perfil do Presidente, ainda que tenha perdido popularidade devido à sua gestão da pandemia, pois o Iowa tem sido especialmente fustigado pelo vírus nas últimas semanas. Contudo, se, no final da noite, Donald Trump não tiver vencido estes dois estados, então é porque deixará a Casa Branca em Janeiro de 2021.
E AINDA...
1 VE no Maine e 1 VE no Nebraska - O Maine e o Nebraska quebram o tradicional winner takes all e atribuem os seus votos eleitorais de uma forma mista: 2 votos ao vencedor no estado e 1 voto ao vencedor em cada distrito. Por isso, e apesar de os estados em si não parecerem estar em disputa, um distrito em cada um dos estados pode diferir do resultado do estado como um todo. No Nebraska, Joe Biden parece bem colocado para conquistar o voto eleitoral do 2º distrito do estado, que abrange a cidade de Omaha. No Maine, também no 2º distrito, existe um maior equilíbrio, mas eu atribuo melhores possibilidades para o candidato democrata. São apenas dois votos eleitorais, mas, numa corrida muito equilibrada, podem fazer a diferença.