A não ser que algo de muito extraordinário aconteça - e vivemos tempos em que temos de estar preparados para tudo -, Joe Biden será o nomeado presidencial do Partido Democrata e defrontará Donald Trump na eleição geral de Novembro. Apesar de Bernie Sanders ainda se manter na corrida, o resultado final está praticamente definido, tendo em conta a vitoriosa noite de Biden na passada Terça-feira.
Depois das vitórias do ex-vice-presidente na Carolina do Sul e na Super Tuesday, Sanders não tinha motivos para estar optimista e os resultados vieram tornar realidade as previsões mais negras para campanha do Senador pelo Vermont. Já se sabia que o Sul não era terreno favorável a Bernie, mas a derrota no Mississippi por 65 pontos percentuais foi, no mínimo, embaraçosa e pôs a nu, mais uma vez, as dificuldades de Sanders junto do eleitorado afro-americano. No Missouri, Joe Biden obteve mais uma vitória folgada, demonstrando que conta também com o apoio dos eleitores dos subúrbios e do heartland dos Estados Unidos. Também no Idaho, numa pequena primária que elegia apenas 20 delegados, foi Joe o vencedor, ainda que por uma margem mais curta, mas num estado que, há pouco tempo, parecia seguro para Bernie Sanders.
Contudo, o grande prémio da noite era o Michigan e, aí, num dos principais estados industriais da nação norte-americana, Joe Biden terá dado um verdadeiro tiro no porta-aviões da campanha de Sanders, com uma vitória clara e inequívoca que prova que Bernie, ao contrário de há quatro anos, não conta com uma maioria de apoiantes entre os blue collar workers da zona industrial dos Estados Unidos e que, como em 2016, poderão decidir a eleição geral de Novembro.
Como fraco prémio de consolação, Sanders conseguiu vencer no Dakota do Norte e está à frente no estado de Washington por 2% dos votos quando ainda faltam contar 5% do total de boletins. O equilíbrio da corrida neste último estado é a prova de que o senador do Vermont está em queda livre, pois será difícil encontrar um estado demograficamente mais favorável à sua candidatura - Washington é um dos Estados com uma população mais jovem, instruída, urbana e liberal da União.
Após estes resultados, não existe mais um percurso viável que se possa vislumbrar e que leve à nomeação de Bernie Sanders. A próxima ronda de primárias é-lhe particularmente desfavorável, dado que os quatro importantes estados (Florida, Ohio, Illinois e Arizona) que vão a votos na próxima terça-feira (se o Covid-19 deixar) devem cair todos para o lado de Biden. Assim, e se as primárias desta semana representaram o "cheque ao rei" para a campanha de Bernie, as próximas eleições deverão significar o "cheque-mate".
Todavia, o senador de 78 anos decidiu manter-se na corrida e participar no debate de Domingo. Com uma fiel e dedicada legião de apoiantes e com dinheiro ainda na conta bancária, Sanders não quererá desistir demasiado cedo de uma corrida que já deu uma grande reviravolta e num ambiente dominado pela incerteza que a crise do Covid-19 veio acentuar. Ainda assim, estará ciente que tem pela frente uma tarefa praticamente impossível e deverá começar a refrear o tom do seu discurso e a reduzir a crispação da campanha, de forma a preparar o seu eventual apoio a Joe Biden.
Sanders, que desdenha Donald Trump e até tem alguma simpatia pessoal por Biden, não quererá contribuir para a reeleição do actual presidente e terá de evitar o que aconteceu há quatro anos, quando os seus apoiantes se revoltaram contra a nomeada democrata, Hillary Clinton, chegando mesmo a perturbar a convenção nacional do partido. Por isso, os próximos tempos deverão ser de transição, de uma campanha activa para a gradual aproximação e inevitável endorsement a Joe Biden, de forma e unir o Partido Democrata e começar a derrotar Donald Trump.
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