quinta-feira, 5 de março de 2020

É oficial: Joe vs Bernie

Confirmou-se o cenário anunciado após os resultados da Super Tuesday: Michael Bloomberg e Elizabeth Warren desistiram e, agora, a corrida está entregue apenas a Joe Biden e Bernie Sanders - um deles será o nomeado democrata para a eleição presidencial de Novembro, ainda que Tusi Gabbard mantenha a sua (irrelevante) candidatura.
Bloomberg apostou todas as suas fichas na série de eleições primárias da passada Terça-feira, mas não colheu frutos dessa estratégia. Entrou tarde na corrida e utilizou uma táctica pouco ortodoxa de evitar os primeiros estados a irem a votos (até porque já não foi a tempo de se inscrever nessas eleições) e realizar uma verdadeira barragem de anúncios televisivos e investir num exército de staffers com que pretendia saturar os mercados dos estados da Super Tuesday com a sua mensagem: Trump só poderia ser derrotado por um moderado, experiente, mas, acima de tudo, por alguém que fez (muito) mais dinheiro no sector privado do que o actual presidente. Contudo, a pálida imagem que transmitiu no único debate televisivo em que participou minou a sua aura de combatividade e invencibilidade com que pretendia derrotar Trump. Depois, o triunfo esmagador de Biden na Carolina do Sul, reabilitou a figura do antigo Veep como um moderado com possibilidades de ser eleito e isso afastou muitos eleitores de Bloomberg. 
Sem surpresa, o multimilionário anunciou a suspensão da sua campanha e endereçou o seu apoio a Joe Biden. Este endorsement não traz qualquer surpresa, pois Bloomberg nunca escondeu que, além do objectivo prioritário de impedir um segundo mandato de Donald Trump, queria também evitar a nomeação de um representante da ala mais liberal do Partido Democrata. Em conjunto com o endorsement de Bloomberg, Biden poderá também contar com o seu apoio financeiro, que será importante para eliminar ou atenuar a vantagem monetária de Bernie Sanders. 
Um dia depois, hoje, foi a vez de Elizabeth Warren anunciar a sua desistência da corrida presidencial. A senadora pelo Massachusetts foi, desde a sua eleição para a câmara alta do Congresso norte-americano em 2012, umas das grandes figuras liberais dos Estados Unidos e era grande a expectativa em torno da sua candidatura. Durante o Outono de 2019, Warren alcançou mesmo o estatuto de frontrunner, surgindo recorrentemente no topo das sondagens, mas foi mais um exemplo de um candidato cujo pico de rendimento surgiu demasiado cedo, começando a perder fulgor pouco antes do caucus do Iowa, em detrimento de Sanders e de Pete Buttigieg. 
Ao comunicar a suspensão da sua campanha, Elizabeth Warren não declarou o apoio a qualquer dos candidatos restantes, mas é ainda possível que o faça, mais logo, quando realizar uma conferência de imprensa que já anunciou. Sanders será sempre o favorito a almejar o endorsement de Warren, mas não é certo que isso aconteça, já que a Senadora do Massachusetts, apesar de se encontrar no espectro mais liberal do Partido Democrata, tem bastantes mais ligações ao establishment democrata do que Sanders, um independente anti-sistema. É, por isso, possível que Warren opte por não apoiar nenhum dos candidatos, sendo menos crível que apoie oficialmente Biden.
A partir de agora, com o campo de candidatos "limpo", veremos verdadeiramente o que valem as candidaturas de Joe Biden e Bernie Sanders. Os resultados das próximas primárias, com destaque para as do Michigan, no dia 10, e da Florida, no dia 17, deverão ser verdadeiramente decisivas para o que resta da disputa pela nomeação. Com base nas últimas sondagens, Joe parece levar alguma vantagem, mas teremos de ver os efeitos das desistências dos últimos dias para termos uma melhor perspectiva sobre o estado da corrida, após assentar todo o pó deixado pela verdadeira tempestade de areia que representou a Super Tuesday.

6 comentários:

  1. Não é verdade que «agora, a corrida está entregue apenas a Joe Biden e Bernie Sanders»: Tulsi Gabbard não desistiu.

    ResponderEliminar
  2. Verdade, mas é totalmente irrelevante. De qualquer forma, vou colocar essa adenda. Obrigado, Octávio.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. «Totalmente irrelevante»?! Segundo as preferências, as prioridades que os democratas dizem preconizar, deveria ser o oposto: afinal, ela é mulher, (relativamente) jovem, pertence a uma minoria religiosa, é militar no activo, não é milionária... Completo contraste com os seus dois rivais, ricos, quase octogenários e com problemas de saúde (mentais um, cardíacos o outro).

      Eliminar
  3. É totalmente irrelevante para o desenrolar da corrida pela nomeação - dos 1337 delegados já atribuídos, ela tem 2! Eu sei que o Octávio me percebeu.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. E o João acredita, tem a certeza, de que o candidato democrata será um dos dois idosos doentes? Eu não.

      Eliminar
    2. Eu acredito. Até porque os democratas sabem que um qualquer golpe de teatro seria entregar a vitória a Donald Trump.

      Eliminar